Cidadania|Sesi taxa trabalhadores
Instituição que já recebe verbas públicas originadas de contribuições das indústrias diz que precisa cobrar para melhorar ensino
Por Krishma Carreira
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Caso tenha de pagar, Mairo terá de tirar Gabrielle do Sesi |
O metalúrgico Mairo Aparecido dos Santos passou os últimos três anos tranqüilo com relação à educação da filha Gabrielle, de 6 anos. A vaga numa escola do Serviço Social da Indústria (Sesi), em Diadema, Grande São Paulo, era garantia de ensino gratuito e de qualidade. Mas no final de outubro veio a má notícia: o Sesi vai passar a cobrar. Com salário de 500 reais e a mulher desempregada, Mairo, pai de outro filho, não tem como bancar os estudos da pequena. “Eu fico chateado em ter de tirar minha filha dessa escola. E ninguém explica nada direito”, desabafa. O Sesi alega que tem problemas no caixa da instituição e precisa cobrar para melhorar a qualidade da educação. A Revista do Brasil encaminhou pedido de entrevista ao presidente do Conselho Regional, Paulo Skaf, mas não obteve resposta. Na internet, o Sesi regional SP informa que a taxa escolar vai cobrir cerca de 30% das despesas com a educação infantil e o ensino fundamental.
Em reunião solicitada pelo Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, dados apresentados pelo Conselho Nacional do Sesi descartam a hipótese de caixa deficitário. Em São Paulo, houve superávit em 2003, 2004 e 2005 – ano em que as receitas somaram 599 mil reais e as despesas, 451 mil. Ninguém no Sesi garante que as taxas, uma vez criadas, não passem a ter aumentos sucessivos. “No próximo ano ela vai cobrir 30% das despesas com ensino, no outro pode ser 40%, depois, ninguém sabe onde isso vai parar. Pode se igualar à rede privada?”, questiona o secretário-geral do sindicato, Rafael Marques.
O Sesi tem como função promover a qualidade de vida do trabalhador. Desenvolve ações nas áreas de saúde e segurança no trabalho, meio ambiente, esporte, lazer, cultura e educação básica. Oferece educação infantil, ensino fundamental e médio, algumas vezes em parceria com prefeituras. As vagas são prioritariamente dos filhos de trabalhadores da indústria e distribuídas por sorteio. No estado de São Paulo há 116 mil alunos.
O chamado Sistema S reúne 11 instituições similares mantidas por contribuições feitas pelas empresas com base em sua folha de pagamentos – os trabalhadores associados também contribuem, mas geralmente com valores irrisórios. O governo recebe o dinheiro das empresas e o repassa para as instituições do sistema. As indústrias, por exemplo, recolhem 3,1% sobre sua folha salarial para o Sesi – cujas escolas são, portanto, direito do trabalhador.
“Cobrar mensalidade, independentemente do valor, é absurdo e configura bitributação”, afirma José Lopez Feijóo, presidente do sindicato. Federações de trabalhadores ligadas à CUT e à Força Sindical prometem fazer barulho entre autoridades e opinião pública para pressionar o Sesi a voltar atrás.
O Sesi quer cobrar (por ano)
Educação infantil: R$ 700
Fundamental parcial: R$ 300 a R$ 500
Fundamen