Classe média na favela sobe de 33% para 65% em 10 anos, diz pesquisa
Renato Meirelles, presidente do Data Popular (em pé), e Celso Athayde, fundador da Cufa
Pesquisados usam vários chips de celular e fazem ´vaquinha´ para wi-fi.
94% dos moradores de comunidades se declaram felizes.
Quem canta “Eu só quero é ser feliz, viver tranquilamente na favela onde eu nasci” está fora da realidade. A grande maioria dos moradores de favelas no Brasil se declara feliz na favela onde nasceu e vive, segundo a pesquisa “Radiografia da Nova Favela Brasileira”, lançada nesta segunda-feira (4) no Copacabana Palace Hotel, na Zona sul do Rio. De acordo com um dos responsáveis pela pesquisa, Renato Meirelles, presidente do Data Popular, instituto de pesquisas que existe há 12 anos focado nas classes C e D, o contingente de 94% de moradores de comunidades brasileiras que se diz feliz fica no mesmo patamar dos brasileiros de modo geral – 95% se declaram felizes.
A pesquisa “Radiografia da Nova Favela Brasileira” é a primeira do Data Favela, instituto de pesquisas voltado para as comunidades criado por Meirelles e Celso Athayde, fundador da Central Única das Favelas (Cufa). Ao longo de 2013, o trabalho ouviu 2 mil moradores de 63 comunidades brasileiras. A pesquisa mostra ainda que 81% dos entrevistados gostam de viver na comunidade, 60% não têm vergonha de morar na favela, e 62% têm orgulho. E 66% dos entrevistados não quer sair da favela, diz a pesquisa; 51% acham que favela melhorou e 76% acreditam que ainda vai melhorar mais.
Muito desse resultado, segundo Meirelles, vem da ascensão desses moradores à classe média. Enquanto em 2003 apenas 33% dos moradores de favelas se enquadravam na classe média, em 2013, dez anos depois, o percentual subiu para 65%. Na mesma comparação, os moradores das favelas de classe baixa em 2003 eram 65%; em 2013, são 32%. O percentual de moradores de classe alta ficou estável: 2% em 2003 e 3% em 2013.
A renda média de R$ 910 dos moradores de comunidades, segundo apurado pela pesquisa, permitiu à população mais acesso a bens de consumo: 85% dos moradores têm celular e 50% têm acesso à internet, sendo que 41% acessam a internet pelo celular. Meirelles achou curioso o modo como os moradores tentam tornar a telefonia celular mais acessível a seus bolsos: têm chips de diferentes operadores que usam de acordo com o chip da pessoa para quem vão ligar. E chegam a colocar na agenda do celular o nome da pessoa mais o nome da operadora que ela usa como sobrenome.
Outro dado que ele ressaltou é que 25% dos moradores conhecem alguém que compartilha sinal de internet.
“Fazem uma ´vaquinha´ para pagar o wi-fi. E quem saiu do Orkut achando que era coisa de pobre, vai ter que se conformar: 85% dos moradores de comunidades estão no Facebook e 4% já estão no LinkedIn”, brincou ele sobre um dos resultados da pesquisa.
Quinto estado em população
Os moradores em comunidades no Brasil somam 11,7 milhões de pessoas, contingente que poderia formar o quinto estado brasileiro em população. A renda anual desses moradores soma R$ 63,2 bilhões, equivalente ao consumo total das famílias de países como Bolívia e Paraguai. Segundo a pesquisa, 40% dos lares em comunidades são chefiados por mulheres, e metade delas são mães solteiras; 24% recebem Bolsa Família. “Mas Bolsa Família não levou à acomodação na favela, disse Meirelles.
Nas comunidades, 46% dos moradores têm TV de plasma led ou LCD; 47% têm computador – 38% desktop e 20% notebook; 99% têm geladeira; 91%, ferro de passar roupa; 69%, máquina de lavar; 55%, micro-ondas; 38%, freezer; 61%, chuveiro elétrico; 49%, secador de cabelo ou chapinha; 17%, forno elétrico; 14%, ar-condicionado; 3%, aquecedor. E 28% têm TV a cabo. E embora em 38% dos lares não haja um livro, sete em cada dez jovens vêem no estudo um alicerce para progredir, afirma a pesquisa.
Do G1