Clipping 15 de outubro de 2021

Manchetes

Militares são condenados a 28 anos por fuzilar músico no Rio (Folha de SP)

Governo quer R$ 20 bi para construir usinas a carvão; BNDES resiste (Estadão)

Blindagem de políticos une rivais e avança no Congresso (O Globo)

PEC dos precatórios pode adiar R$ 347 bi até 2030 (Valor)


AutoData

Após 13 dias de greve, GM volta a produzir em São Caetano

Marcada por desencontros. Assim foi a volta ao trabalho após treze dias de greve na planta da General Motors em São Caetano do Sul, SP. O sindicato dos metalúrgicos local realizou duas assembleias na quinta-feira, 14, para informar aos trabalhadores da decisão do TRT-2, o Tribunal Regional do Trabalho da 2ª Região, que orientava o retorno sob pena de multa de R$ 50 mil por dia de descumprimento.

No entanto o fim da paralisação foi aprovado por minoria presente, pois a maior parte se manifestou por meio de vaias, gritos e rejeição ao que determinou o TRT. O pleito dos operários era por melhores condições de salário e benefícios. Eles reclamavam pelo fato de terem de encerrar a paralisação sem conseguir vale alimentação, aumento real nos salários e pelo fato de a cláusula 42, embora tivesse sido mantida, garantindo a estabilidade aos funcionários que sofreram acidente de trabalho, ainda excluía aqueles que ingressaram na fábrica depois de 2017.

“Fomos jogados às jaulas dos leões. O sindicato, que tem de defender os direitos dos trabalhadores, mais uma vez mostrou a que veio, defendendo os interesses da empresa. Não é porque um juiz deu uma decisão mandando a gente voltar que temos de cumprir. O juiz não está na nossa pele. As perdas salariais, os desgastes do dia a dia, a insegurança, tantos anos sem aumento. E está havendo pressão das lideranças e do RH para que voltemos a trabalhar”, desabafou um dos funcionários que preferiu manter o anonimato.

O presidente do sindicato, Aparecido Inácio da Silva, o Cidão, disse a eles que não havia o que ser feito diante da decisão do TRT e que, se a paralisação continuasse, poderia ser considerada abusiva e implicar demissões: “Apesar de descontentes e de não terem aprovado a volta ao trabalho, eles acabaram entendendo e foram voltando aos poucos. Os que foram embora só terão o dia descontado”. O sindicalista não acredita em retaliação aos que não retornaram.

No início da noite a GM informou que parte dos empregados do primeiro e segundo turnos havia voltado aos seus postos de trabalho, respeitando a decisão do TRT, e que a fábrica operou parcialmente: “A GM espera pelo retorno das suas operações integrais nas próximas horas”.

Ao todo atuam no chão de fábrica da planta de São Caetano, de onde saem os modelos Joy, Joy Plus, Spin e Tracker, cerca de 4,2 mil operários. Eles conseguiram reajuste de 10,4%, conforme o INPC acumulado nos doze meses encerrados em 31 de agosto. A correção será retroativa a 1º de setembro e a diferença da não aplicação do índice será paga no dia 18. Cidão voltou a afirmar que brigará pelo vale alimentação: “Conversarei com a diretoria. Não deixarei esfriar a discussão em torno desse benefício, fundamental para ajudar na recomposição do poder de compra dos funcionários”.

A empresa também informou, mais uma vez, “que diante do atual cenário econômico e dos impactos provocados pela pandemia, que vem ocasionando longas paradas nas fábricas por falta de componentes, a GM tem feito todos os esforços possíveis para manter a produção e os empregos”. Pelo menos 5,6 mil veículos deixaram de ser produzidos nesses dias de fábrica parada. A greve teve início em 1º de outubro.

Automotive Business (artigo)

Mercedes-Benz inicia produção do caminhão elétrico eActros

Modelo produzido na Alemanha será vendido em primeiro momento na Europa

A Mercedes-Benz anunciou na quinta-feira (14) que saiu da linha de produção da fábrica de Wörth, na Alemanha, a primeira unidade do caminhão elétrico eActros, apresentado ao mercado pela primeira vez em junho. A produção do veículo número um marcou o início de sua produção em série na unidade.

Em uma primeira etapa, o modelo de série do eActros estará disponível na Alemanha, Áustria, Suíça, Itália, Espanha, França, Holanda, Bélgica, Grã-Bretanha, Dinamarca, Noruega e Suécia.

A montadora informou, ainda, que a produção em série do eEconic, desenvolvido para aplicação urbana, está programada para começar no segundo semestre de 2022. Já o eActros LongHaul, para transporte em longas distâncias, está programado para ficar pronto para a produção em série em 2024.

“O início da produção em série do eActros é uma prova muito concreta de que levamos a sério o transporte livre de emissões”, disse Karin Rådström, membro do conselho de administração da Daimler Truck e responsável pela Mercedes-Benz Trucks a partir deste ano.

De acordo com a fabricante, o eActros é montado em uma linha existente ao lado de outra onde são produzidos caminhões com sistemas de propulsão convencionais. De lá ele segue para outra edificação, chamada Future Truck Center, onde ocorre o processo de eletrificação do veículo, com a instalação da bateria e sistemas.

Desde 2018, mais de 2,5 mil funcionários da fábrica receberam treinamento adicional quanto ao manejo de veículos e seus componentes de alta voltagem.

O powertrain do eActros é formado por dois motores elétricos integrados, incluindo uma transmissão de duas velocidades. Dependendo da versão, o modelo obtém sua energia de três ou quatro baterias e pode atingir uma autonomia de até 400 quilômetros. Para carregar o conjunto em até 80% é necessário pouco mais de uma hora em estação de 400 amperes, informou a empresa.

O veículo tem a MirrorCam, câmera que substitui os retrovisores, S1R Turning Assistant, o assistente para fazer curvas, e o Active Brake Assist, sistema ativo de freios de quinta geração com detecção de pedestres.

Exame (Por Estadão Conteúdo)

Após decidir unificar produção, Honda abre programa de demissões

Montadora abriu um programa de demissão voluntária nas fábricas de Sumaré e Itirapina, no interior de São Paulo, que empregam cerca de 3 mil funcionários

Em meio à crise da falta de componentes eletrônicos para a produção de veículos, a Honda decidiu abrir um programa de demissão voluntária (PDV) nas fábricas de Sumaré e Itirapina, ambas no interior de São Paulo. Juntas elas empregam cerca de 3 mil funcionários.

A Honda alega que, além do cenário de incertezas, vai concluir, em dezembro, a transferência de toda a produção de automóveis da unidade de Sumaré para a de Itirapina, processo iniciado em 2019.

A Honda informou que, no momento, não trabalha com uma meta de adesão ao PDV. “O foco é atender os colaboradores que têm enfrentado dificuldades para a transferência ou não se adaptaram à região de Itirapina (um grupo já havia sido transferido para a outra fábrica nos últimos meses)”, disse.

A empresa oferece 12 salários extras para quem aderir, valor referente a 12 meses de plano de saúde, cartão vale alimentação de R$ 250 ao mês por seis meses e três meses de orientação profissional assistida.

“A empresa não tem necessidade de fazer o PDV”, afirma Sidelino Orsi Junior, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Campinas e Região. “A empresa está aproveitando para fazer uma reestruturação para reduzir salários, pois a média salarial em Sumaré é de R$ 5 mil, enquanto em Itirapina é muito menos”, diz.

A entidade é contrária ao PDV e realiza nesta quinta, 14, às 5h10, assembleia com os trabalhadores da unidade de Sumaré. Nesta sexta, 15, será a assembleia em Itirapina, comandada pelo Sindicato dos Metalúrgicos de Limeira e Região.

Em nota, a Honda diz que vem reestruturando suas atividades produtivas desde 2019, com o objetivo de aumentar a competitividade e a sustentabilidade da operação no longo prazo. Inaugurada em março de 2019, depois de ficar fechada por três anos, a fábrica já produz os modelos WRV, HRT e parte do Fit. Ainda faltam transferir a produção de Civic, City e parte do Fit.

“A última etapa do plano de transferência ocorre em um novo cenário, em que a indústria automotiva vem sendo impactada pela pandemia de covid-19. A desvalorização do real, a inflação de matérias-primas e a crise no abastecimento de componentes reduziram os volumes de produção em 2020 e em 2021, criando ociosidade em toda a indústria, e o cenário futuro ainda apresenta incertezas”.

Greve na GM

Os mais de 4 mil trabalhadores da General Motors de São Caetano do Sul, no ABC paulista, em greve há sete dias, devem retomar atividades hoje. Nesta quarta, 13, a greve foi julgada não abusiva pelo Tribunal Regional do Trabalho (TRT) que determinou, contudo, a volta ao trabalho para hoje. Se a decisão não for cumprida, o TRT pode reverter a decisão para greve abusiva e o Sindicato dos Metalúrgicos terá de pagar multa de R$ 50 mil por dia parado.

Segundo o presidente da entidade, Aparecido Inácio da Silva, os trabalhadores conquistaram, entre outros itens, correção integral da inflação, de 10,4%, retroativos aos salários de setembro e a manutenção da cláusula que assegura estabilidade aos empregados portadores de doenças ocupacionais. Hoje, às 6h, haverá assembleia para que os funcionários decidam se voltam ou não.

Diário do Comércio

Um terço das empresas têm dificuldades para reunir documentos e podem perder incentivos do Rota 2030

As empresas da cadeia automobilística que aderiram ao programa federal Rota 2030, criado em 2018 com o objetivo de atrair investimentos para o setor automobilístico no Brasil, deverão entregar, até o final de outubro, os documentos que comprovam os aportes em pesquisas e desenvolvimento de tecnologias que tornam os veículos mais seguros e com maior eficiência energética.

A exigência ainda é um gargalo para parte das empresas, que encontram dificuldades em reunir os arquivos e testes que comprovam os avanços. As indústrias que não cumprirem as regras do governo podem perder os incentivos e ter que reembolsar os cofres públicos.

De acordo com o sócio da PwC Brasil, Geovani Fagunde, o Rota 2030 é um programa importante tanto para as indústrias da cadeia automobilística, quanto para a economia do Brasil, para a sociedade e o meio ambiente.

Com incentivos tributários, como descontos no Imposto de Renda (IR) e isenção do imposto de importação, por exemplo, as montadoras e a cadeia de fornecedores de auto partes participantes precisam desenvolver pesquisas e tecnologias que tornem os veículos mais seguros e com maior eficiência energética, incluindo tecnologias para carros híbridos e elétricos. O objetivo do programa é atrair os investimentos para o País, já que a cadeia produtiva do setor é mundial e incentivos para os aportes podem fazer a diferença frente a outros países concorrentes.

Com a atração dos investimentos, a economia é estimulada, há atração de mão de obra capacitada e são geradas tecnologias que podem aumentar a segurança e reduzir a emissão de gases poluentes, tornando a produção automobilística mais sustentável e beneficiando o meio ambiente.

Desafio

Em contrapartida, as empresas participantes precisam prestar contas ao governo, comprovando os investimentos e os resultados alcançados. A primeira prestação de contas será ainda este mês e é referente aos projetos desenvolvidos em 2019. “Até o final do mês, as empresas precisam prestar contas dos projetos desenvolvidos. O programa Rota 2030 é uma forma de incentivo do governo, não é doação. Ele incentiva a cadeia automobilística a trazer para o País os investimentos em inovação e pesquisas e os aportes precisam ser comprovados com uma série de documentos auditados”, explicou.

Ainda segundo Fagunde, uma parcela das empresas, cerca de 30%, está com dificuldades em reunir os documentos e testes realizados ao longo de 2019 e que são essenciais para comprovar os aportes e os resultados estipulados pelo governo. As empresas também precisam contratar uma auditoria que confirme ao Ministério da Economia que a documentação está adequada.

“Parte das empresas estão com dificuldades de prestar contas porque não houve uma organização dos documentos ao longo do tempo. Outras estão com receio dos avanços não serem suficientes para manter os benefícios. Todas as empresas que usaram os benefícios necessitam de um auditor para confirmar ao ministério que a documentação está adequada”, destacou.

Ainda segundo Fagunde, a documentação exigida é muito extensa e é necessário comprovar, com testes, os avanços para garantir que a nova versão é mais eficiente em termos energéticos e de segurança.

“Caso não comprove, a empresa pode perder os incentivos e ter que ressarcir todo benefício utilizado ao governo. Como é a primeira vez que serão prestadas as contas, os critérios ainda têm muita subjetividade, mas, a partir de 2ª ou 3ª comprovação, a tendência é que o processo entre na normalidade”.

Fagunde explica que o projeto é interessante e pode trazer grande desenvolvimento para a cadeia automobilística instalada no Brasil. Com as tecnologias e pesquisas desenvolvidas no País, pode ocorrer o desenvolvimento de carros híbridos e elétricos, que em alta escala de produção podem tornar os preços dos veículos mais acessíveis. Além de menos poluentes, estes veículos tendem a apresentar menor custo de manutenção, já que exigem menos peças.

Automotive Business (artigo)

Chinesas invadem o Brasil de novo, agora pelo andar de cima

Great Wall e BYD vão estrear no mercado com modelos que vão de R$ 150 mil e R$ 300 mil

Leonardo Felix

Final da década de 2000. O Brasil vivia uma espécie de “mini-boom” econômico, embalado pela aposta do então governo Lula de ampliar o crédito interno em meio ao colapso financeiro global que assolava os países mais ricos do mundo.

Enquanto capas de revistas internacionais mostravam o agora nonagenário Cristo Redentor decolando, as classes mais baixas ascendiam e despertavam interesse das empresas nos mais diversos setores. Um deles era o automotivo.

Muitas empresas se mostravam otimistas com o futuro do país e dispostas a explorar o desejo do brasileiro por ter seu primeiro carro zero-quilômetro na garagem. Foi nesse ambiente que as ainda pouco experientes fabricantes chinesas tentaram o primeiro movimento coletivo de “invasão” do mercado brasileiro.

Na esteira do Inovar-Auto

Com produtos de baixo custo e, em alguns casos, baixa qualidade, elas queriam fazer sucesso nos segmentos de entrada, vendendo veículos a preços mais acessíveis. Veio o protecionismo do Inovar-Auto, depois a sucessão de crises econômicas e quase nenhuma delas restou para contar história. Operações como Lifan, Effa e JAC (que ainda tenta respirar com seus produtos 100% elétricos) sucumbiram a esse período de mudanças profundas e vorazes no perfil de consumo do brasileiro.

Em um país mais desigual, as camadas baixas da população perdem poder de compra, principalmente quando se trata de um bem tão caro para nossa realidade quanto um automóvel.

Sobra espaço apenas para quem tem mais dinheiro, mas quem o tem não quer saber de carros de pequenos e pelados, mas sim de produtos com mais porte, tecnologia, desempenho e, obviamente, status.

Nesse sentido, a Chery foi a primeira chinesa a virar a chave, quando também já se encontrava perto de jogar a toalha. No caso dela, mais pela sorte de ter obtido na hora certa uma sociedade local com a Caoa, a grande responsável por alavancar a marca no país, do que algum tipo de estratégia antecipada.

Vendo o sucesso da joint venture sino-brasileira, outras marcas da terra de Mao Tse Tung resolveram também fazer suas apostas em segmentos mais abastados do setor automotivo nacional.

A Great Wall, por exemplo, adquiriu a fábrica da Mercedes-Benz em Iracemápolis (SP) não para fazer carros compactos ou populares, mas sim dois SUVs de porte médio com uma plataforma sofisticada, chamada Lemon, chamados Jolion e H6, que deve ser comercializados no país a preços entre R$ 150 mil e R$ 300 mil. Talvez pinte também uma picape média rival da Toyota Hilux, chamada Poer ou Série P, certamente acima dos R$ 200 mil.

Soluções elétricas no mercado B2B

Por sua vez, a BYD, que já opera localmente com fabricação e comercialização de veículos de trabalho e outras soluções elétricas no mercado B2B, iniciará no primeiro semestre de 2022 as vendas para pessoas físicas de dois automóveis 100% elétricos de grande porte: o SUV de sete lugares Tang e o sedã esportivo Han.

Ambos certamente serão posicionados como modelos de luxo e oferecidos por mais de R$ 300 mil. A intenção da marca é até mais ambiciosa: oferecê-los em pacotes nos quais os compradores poderão instalar painéis fotovoltaicos e bancos de bateria residenciais, a fim de usar a energia solar armazenada em casa para carregar seus veículos.

Além de Tang e Han, o SUV cupê Song Plus e o sedã Qin, ambos com porte médio e motorização híbrida, devem pintar no segundo semestre para brigar com Toyota RAV4, Corolla Cross e Corolla sedã também no intervalo de R$ 150 mil a R$ 300 mil e com pitada de modelos premium.

Como se vê, as chinesas já adquiriram a expertise necessária para se adaptar aos tempos mais exclusivos (na acepção pura do termo, ou seja, menos inclusivos) do Brasil. Desta vez, a invasão será pelo andar de cima. Será que a concorrência estará pronta para segurá-la?

Valor

Brasil ruma a inflação alta e PIB fraco nos próximos trimestres, diz Capital Economics

Consultoria afirma que economia está perdendo ímpeto “mais cedo e com mais rapidez do que havíamos previsto”

A economia brasileira parece destinada a um período de inflação alta e crescimento fraco – ou inexistente – nos próximos trimestres, ainda que isso deva ser temporário, avalia a Capital Economics em um relatório intitulado “Brasil: sinais de estagflação”. Embora tal situação possa colocar bancos centrais em uma situação difícil, no caso do Brasil, há poucas dúvidas de que a autoridade monetária permanecerá focada nos riscos inflacionários, escreve William Jackson, economista-chefe para mercados emergentes, projetando uma Selic de 9% no início de 2022.

A Capital Economics revisou ontem suas previsões para o crescimento do Brasil em 2022 de 3% para 1,3% e de 2% para 1,8% em 2023. Segundo o economista, isso significa que o PIB do país estaria, no período, ainda 3% a 3,5% abaixo da tendência anterior à pandemia. A economia brasileira se recuperou fortemente em junho e julho deste ano, à medida que novos casos de covid-19 caíram e a maioria das restrições foi suspensa, diz Jackson.

Com a forte “herança estatística” gerada, o crescimento do PIB no terceiro trimestre, em relação aos três meses imediatamente anteriores, “provavelmente será muito bom, talvez em torno de 0,8%”, afirma o economista.

As perspectivas à frente, no entanto, estão ficando piores conforme restrições de oferta causam – ou causarão – um enfraquecimento no ímpeto da economia brasileira, avalia Jackson. Isso ocorre, segundo ele, por três canais principais. Primeiro, o choque nos preços dos alimentos no país e o aumento da conta de luz, induzido pela falta de chuvas, elevaram drasticamente a inflação, pesando sobre os gastos do consumidor.

“A inflação atingiu 10,2% em 12 meses até setembro, e o aumento mensal nos preços ao consumidor, de 1,2%, foi o mais alto para qualquer setembro desde 1994, quando o Brasil estava saindo da hiperinflação”, lembra Jackson.

Embora o resultado do mês passado, provavelmente, tenha sido o pico da inflação acumulada, “a taxa permanecerá extremamente alta em 7%-10% no próximo ano”, diz o economista. A situação, por sua vez, corrói o poder de compra das famílias. Embora as vendas no varejo tenham aumentado acentuadamente em termos nominais ao longo deste ano, elas caíram em termos reais, observa Jackson.

“Em agosto, elas ficaram 4,3% abaixo do pico em novembro do ano passado. Isso sugere que preços mais altos estão impedindo as vendas. A queda acentuada na confiança do consumidor em setembro indica que essa tendência, provavelmente, continuou no mês passado. É provável que a alta inflação continue pesando sobre a renda real e o consumo nos próximos trimestres”, afirma ele.

Em segundo lugar, Jackson reforça que o forte aumento da inflação levou o Banco Central do Brasil a apertar a política monetária de forma agressiva, o que ainda está em curso. “Isso reduz a probabilidade de que as altas taxas de inflação atuais aumentem (ainda mais) as expectativas e façam com que o problema da inflação se enraíze. Mas pode contribuir para reduzir os empréstimos bancários e, por extensão, os investimentos. Embora ainda não haja sinais de taxas de juros mais altas causando desaceleração no crescimento do crédito, no passado isso tendia a ocorrer com atraso”, diz o economista.

Em terceiro, Jackson cita que a escassez de peças e componentes está pesando sobre a produção do setor automotivo e diz parecer improvável que esses problemas de oferta sejam atenuados no curto prazo. “A situação poderia ser ainda pior se a atual seca e seus efeitos na geração de energia hidrelétrica resultassem em um período de racionamento de energia obrigatório. Isso aumentaria a inflação (por meio de tarifas de eletricidade ainda mais altas), provocaria uma nova resposta hawkish [contrária a estímulos] do Banco Central e interromperia a atividade em uma variedade de setores, especialmente a indústria”, afirma Jackson.

Além das questões de abastecimento, outras forças devem pesar negativamente sobre a recuperação do Brasil. Por exemplo, o pano de fundo externo está mudando de um “vento favorável” para um “vento contrário”, diz o economista. “Os preços de algumas das exportações de commodities do Brasil, principalmente minério de ferro, já começaram a cair e esperamos que isso continue. A perda resultante de receitas de exportação pesará sobre a demanda interna.”

No fim, o resultado é que a economia do Brasil está perdendo ímpeto “mais cedo e com mais rapidez do que havíamos previsto”, resume Jackson. Assim, após “um forte terceiro trimestre”, a expectativa é que o ritmo de recuperação desacelerará. “Nossa hipótese de trabalho é que o PIB ficará estável em termos trimestrais no quarto trimestre e se expandirá por meros 0,2% a 0,3% ao longo dos trimestres subsequentes”, estima o economista. A atividade fraca no fim de 2021 reduz a “herança estatística” para 2022, o que também ajuda a explicar a revisão na projeção da consultoria.

Folha de SP (coluna Toda Mídia)

Brasil ‘afunda na pobreza extrema’, reporta Le Monde

Mas o país é ‘a próxima fronteira de tecnologia’, aposta Financial Times, prevendo avaliação de US$ 50 bi para banco digital

No francês Le Monde, em relato do correspondente no Rio, “Brasil afunda na pobreza extrema”. Em suma, “o número de moradores de rua continua aumentando nas megalópoles brasileiras. Carne, arroz, feijão … os preços dos alimentos disparam, arrastando milhões para uma grave insegurança alimentar”.

E na agência de notícias Reuters, com chamada no portal americano Drudge Report, “Recorde de brasileiros migrando para os Estados Unidos: contrabandista ganha dinheiro”.

Por outro lado, o Financial Times garante que a “América Latina se tornou a próxima grande fronteira da tecnologia”, com destaque para o brasileiro Nubank, que “poderá ser avaliado em US$ 50 bilhões” no IPO que está preparando. Em despacho da Reuters, o banco “apoiado por Warren Buffett” até anunciou o primeiro lucro de seus oito anos de história.

Valor (opinião)

Guedes fica enquanto prevalecer o teto de gasto

Expectativa do governo é de que a inflação comece a cair e, para isso, é preciso afirmar o controle do gasto público como contribuição à política monetária

CLAUDIA SAFATLE

O ministro da Economia, Paulo Guedes, mesmo sob fogo cruzado, não pretende deixar o governo. Para seus principais assessores, porém, ele já demarcou até onde poderá ir e não ficará no cargo se, porventura, houver a decisão de furar a lei do teto do gasto público. Pela lei, o Orçamento anual não pode contemplar aumento real de despesa. Esta será corrigida tão somente pela inflação, medida pela variação do IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) acumulada em 12 meses até o mês de junho de cada ano.

O ministro entende que estourar o teto de gasto será um flagelo para a economia e para o país, que se traduzirá em mais inflação. A inflação é uma maneira muito cara para a população resolver o conflito distributivo. Depois de aumentar 1,16% em setembro – a maior variação para um mês de setembro desde 1994, ano da edição do Plano Real, o IPCA acumula inflação de dois dígitos em 12 meses: 10,25%. “Estamos no limite da responsabilidade”, afirma uma fonte.

A estratégia que o ministro pretende seguir continua sendo a da aprovação da reforma do Imposto de Renda e dos precatórios. Só assim ele terá as condições objetivas para a criação do Auxílio Brasil, substituto do Bolsa Família, que nasceria com o valor de R$ 300 e que começaria a ser pago ainda neste ano.

 Trata-se de uma missão delicada, pois o Senado não quer aprovar o projeto de lei do Imposto de Renda de afogadilho. Caberia ao Executivo convencer os senadores de que essa é a bandeira branca que deveria ser erguida. E o Senado não poderia, dada a urgência do assunto, mexer no projeto aprovado na Câmara, que, diga-se de passagem, é muito ruim. A

 expectativa do governo é que a inflação comece a cair e, para que isso ocorra, é preciso afirmar o controle do gasto público como contribuição à política monetária. Caso contrário, os preços tenderão a subir mais, exigindo maior dose de aperto monetário. Hoje ela é uma inflação de custos. Tem aumento de preços com redução do nível de atividade que patina, se arrasta.

O quadro clássico de uma inflação de custos é de aumentar os preços e reduzir as quantidades produzidas. E há a esperança de que, na falta de demanda, o processo inflacionário se esgote. Em meio a isso, Guedes e Roberto Campos, presidente do Banco Central, enfrentam a denúncia de que ambos têm uma empresa “offshore” em que colocam uma parcela do seu patrimônio protegido da desvalorização cambial.

A assessoria do ministro entende que o centrão está usando essa informação para lhe dar um susto e ver se ele abre a bolsa. Mas o fato é que ele está sendo convocado a dar explicações no plenário da Câmara, em data a ser definida. A disputa por verbas do Orçamento colocou o ministro da Economia sob fogo cruzado. “Estamos no limite da responsabilidade”, disse uma fonte, parafraseando o então ministro das Comunicações Luiz Carlos Mendonça de Barros, no escândalo do grampo do BNDES, ocorrido durante o governo de FHC.

Referindo ao processo de privatização do sistema Telebras, que ocorreu em julho de 1998, durante a fase de habilitação dos consórcios que disputariam o leilão, Mendonça de Barros usou essa frase em conversa telefônica com o então presidente do BNDES, André Lara Resende. Discutia-se, ali, a formação de um consórcio alternativo.

Agora é o teto do gasto que está no limite da responsabilidade. De um lado estão os representantes do centrão – núcleo de partidos que operam com a “governabilidade”, se mantêm próximos ao Poder Executivo para obter vantagens e distribuir privilégios.

O centrão tem como aliados ministros militares próximos ao presidente Jair Bolsonaro, que condenam a política econômica conduzida pelo ministro da Economia que não está levando o país a crescer. Eles gostariam de abrir os cofres públicos para gastar mais sobretudo no ano que vem, quando haverá eleições. Nesse caso, seria um maná para os políticos elevar o Auxílio Brasil para a faixa dos R$ 600.

Do outro lado, estão os evangélicos que querem cargos e pressionam o governo para recriar o velho Ministério da Indústria e do Comércio, absorvido pela pasta da Economia. Guedes é a fonte de racionalidade no jogo eleitoral, cuja principal função é dizer “não”.

Orestes Quércia, ex-governador de São Paulo, dizia “eu quebro o Banespa mas elejo o Fleury”. Foi dito e feito. Na lógica da irracionalidade, Luiz Antônio Fleury Filho foi eleito governador de São Paulo e o Banco do Estado de São Paulo acabou sofrendo intervenção do Banco Central em 1994 e foi privatizado em 2000, em leilão arrematado pelo Santander.

O ministro da Economia acredita, portanto, que ainda tem uma missão a cumprir, que é manter a responsabilidade fiscal – que hoje tem como âncora a lei do teto de gastos – como a principal contribuição para o controle da inflação. Falta, também, resolver como vai se manter um auxílio emergencial aos mais pobres.

Pelo caminho escolhido por Guedes, o Auxílio Brasil, programa sucedâneo do Bolsa Família, está vinculado à reforma do Imposto de Renda. Mas o Senado não gostaria de examinar esse projeto de lei de maneira açodada. Há, portanto, uma questão de prazo para que não haja interrupção dos programas de transferência de renda. Uma confusão implementada apenas para se acabar com o Bolsa Família, programa identificado com o PT de Lula, principal adversário de Bolsonaro na corrida pela reeleição.

Ainda há um caminho a percorrer até ficar claro se as demandas políticas e sociais cabem no teto do gasto. Assessores do ministério da Economia garantem que não haverá estouro do teto, mas esta é uma das fontes de incerteza que corroem as expectativas dos agentes econômicos.

Trabalhou na Gazeta Mercantil por 18 anos, foi repórter especial da Folha, diretora do JB, assessora do Banco Central e diretora-adjunta de redação do Valor

Valor

Bolsonaro diz que energia voltará à bandeira normal

Em entrevista a uma rádio, presidente diz que vai consultar a equipe econômica sobre a privatização da Petrobras

O presidente Jair Bolsonaro disse ontem que determinará o retorno à bandeira tarifária “normal” nas contas de luz a partir de novembro. Ele fez a afirmação ao discursar em um evento da Igreja Evangélica Comunidade das Nações, em Brasília. O Brasil se encontra atualmente em bandeira tarifária de escassez hídrica, criado neste ano pelo governo dada a falta de água nos reservatórios do Centro-Sul do país.

“Meu bom Deus nos ajudou agora com chuva. Estávamos na iminência de um colapso. Não podíamos transmitir pânico à sociedade. Dói a gente autorizar o ministro Bento [Albuquerque] das Minas e Energia por bandeira vermelha. Dói no coração, dói, a gente sabe a dificuldade da energia elétrica”, disse Bolsonaro. “Vou pedir para ele [Bento]. Pedir, não, determinar que ele volte à bandeira normal a partir do mês que vem”, afirmou.

O país vive uma crise hídrica de grandes proporções, o que levou ao acionamento de usinas térmicas, que produzem energia mais cara. Com isso, houve reflexos nas contas de luz, que também tiveram alta. A crise deste ano foi tão severa que levou o governo a criar a bandeira tarifária de escassez hídrica, com impacto de R$ 14,20 a cada 100 kWh consumidos na conta de luz. À época do lançamento, a previsão do governo era que essa faixa durasse até abril de 2022.

O índice mais elevado previsto pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) corresponde à para a bandeira vermelha patamar 2, em que são cobrados R$ 9,492 por 100 kWh consumidos. Na bandeira vermelha patamar um, o adicional é de R$ 3,971 por 100 kWh. Há ainda a bandeira amarela, em que se cobra 1,874 por 100 kWh consumido. Na bandeira verde, quando a situação é de normalidade nos reservatórios, não há nenhum acréscimo nas contas de luz.

Bolsonaro participou ontem da Conferência Global. O evento é promovido há uma década pela Comunidade das Nações, igreja liderada pelos bispos JB Carvalho e Dirce Carvalho. No evento, ele se queixou novamente das críticas que vem recebendo por conta das altas dos preços dos combustíveis. E falou em privatizar a Petrobras.

“Eu não mando na Petrobras. Toda vez que aumenta o preço do combustível, a culpa cai em mim. Será que temos que privatizar a Petrobras ou não? Vamos fazer o que tem que fazer”, afirmou. Horas antes, o presidente havia declarado que irá consultar a equipe econômica sobre o assunto. O chefe do Executivo não entrou em detalhes e não esclareceu se a ideia será incluída, de forma concreta, em sua agenda.

“Tenho vontade, vou ver com a equipe econômica o que a gente pode fazer. Por que o que acontece? Eu não posso… Não é controlar, eu não posso melhor direcionar o preço do combustível, mas quando aumenta a culpa é minha. Aumenta o gás de cozinha e a culpa é minha, apesar de ter zerado o imposto federal, coisa que não acontece por parte de muitos governadores”, argumentou, em entrevista a uma rádio religiosa de Pernambuco. “Eu posso interferir na Petrobras? Posso, mas não devo. Se interferir, vou responder por crime de responsabilidade”, afirmou.

Folha de SP

Lula prevê 1º turno isolado à esquerda e aposta em aliados só no 2º

Em rodadas de conversas, partidos de centro veem presidente ansioso com salto alto do PT

Com uma dianteira expressiva nas pesquisas eleitorais, Luiz Inácio Lula da Silva (PT) não conta com alianças ao centro para a disputa na qual pretende desalojar Jair Bolsonaro (sem partido) da cadeira de presidente da República em 2022.

Após uma rodada considerada bem-sucedida pelos petistas de conversas com líderes de potenciais siglas aliadas no ano que vem em Brasília, o ex-presidente saiu convencido de que apoios só virão com diversas condicionantes.

Isso traz alguns dilemas importantes para o PT, que já não contava com aliança com Ciro Gomes (PDT) mesmo antes da barulhenta altercação entre o ex-ministro e figuras petistas como a ex-presidente Dilma Rousseff, a presidente da sigla, Gleisi Hoffmann, e o próprio líder máximo da agremiação.

Nas contas de Lula, seu arco de alianças será reduzido e à esquerda. Nele estarão o eterno escudeiro PC do B e, a definir detalhes, o PSB e o PSOL.

No caso dos pessebistas, arestas regionais importantes se colocam, como o fato de que o partido estará com Geraldo Alckmin em São Paulo —se o hoje ex-governador tucano for candidato pelo PSD ou pela União Brasil (DEM e PSL em fusão).

O nó com o PSOL também é paulista: Guilherme Boulos quer ser o candidato do partido a governador, amparado no bom desempenho no pleito na capital em 2020, quando foi derrotado no segundo turno pelo PSDB.

Só que o PT quer o ex-prefeito paulistano Fernando Haddad, ora mais bem colocado em pesquisas, na disputa. Os petistas namoram Boulos com um acordo tácito para integrar um eventual governo Lula e, depois, voltar a disputar São Paulo em 2024. É algo incerto.

Seja como for, é um universo irrelevante eleitoralmente do ponto de vista nacional, mas com um impacto simbólico importante: Lula busca ser um candidato de união nacional, após quatro anos de radicalização inaudita sob Bolsonaro.

Está difícil, não menos porque os mais recentes levantamentos o colocam refluindo levemente do que parece ser seu teto —inferior aos 50% mais um para matar a fatura no primeiro turno.

O petista esteve com líderes do MDB em jantar ofertado pelo seu ex-ministro Eunício Oliveira, com o mandachuva do PSD, Gilberto Kassab, e com o chefe do PL, Valdemar da Costa Neto, além de deputados, senadores e governadores na semana retrasada em Brasília e São Paulo.

O cômputo geral, segundo a Folha ouviu de participantes das conversas de ambos os lados, foi o de que Lula ouviu e compreendeu as razões de todos os potenciais aliados num segundo turno.

Todos os partidos, por óbvio, buscam montar bancadas fortes para ter uma boa posição de negociação a partir de 2023.

Petistas insistem em que a conversa com Kassab, altamente antecipada no meio político, foi um sucesso porque sinalizou uma aliança no segundo turno se o adversário for Bolsonaro. Aliados do presidente do PSD, contudo, afirmam que a reafirmação do apoio dele ao nome de Rodrigo Pacheco (DEM, de saída para o PSD-MG) à Presidência foi um balde de água fria em Lula.

No caso do MDB, observadores notaram a ausência do ex-presidente José Sarney e do senador Renan Calheiros (AL) no jantar com Lula. É fato, e Eunício hoje tem peso relativo baixo, mas o que faltou dizer é que o ex-presidente já havia sido visitado por Lula e estava com a mulher doente em casa.

Já o relator da CPI da Covid combinou de encontrar o petista com outros integrantes do comando da comissão, assim que for votado na quarta (20) o relatório final sob sua responsabilidade.

Seja como for, está colocado aí um impasse. É certo que toda a turma deverá apoiar Lula ante Bolsonaro num segundo turno. Mesmo o PL de Costa Neto, hoje na base governista, prefere o líder petista neste momento.

A questão é que o presidente enfrenta uma crise sistêmica que muitos veem como irreversível: suas ameaças autoritárias, em que pese a trégua atual com o Judiciário, a inflação, o desemprego, a crise energética à vista, o desgoverno na pandemia dos 600 mil mortos —a lista não cessa.

Isso se reflete nos 53% de rejeição aferidos pelo Datafolha em setembro e no ânimo decrescente daqueles que se dizem seus aliados no Congresso. Com efeito, no último mês o presidente da Câmara, o prócer do centrão Arthur Lira (PP-AL), dedicou-se a tentar bolar saídas para o alto preço dos combustíveis.

Ou seja, a situação de Bolsonaro é hoje frágil, e há uma bolsa de apostas sobre quem poderia ir em seu lugar enfrentar Lula num segundo turno, considerando aqui a manutenção dos mais de 45% de intenção de voto no petista recentes.

Segundo líderes de partidos centristas, do ponto de vista político algum candidato que galvanizasse o eleitorado mais conservador e não bolsonarista teria boas chances de surfar na rejeição ao lulismo, muito forte na classe média, e também na ojeriza ao presidente.

Com isso, o plano petista de ver os diversos centros, que no Brasil vão de quase a centro-esquerda até a direita pura e simples, unidos em torno de Lula contra Bolsonaro vai para o ralo.

Nas contas do PSD, uma chapa ideal para tanto seria encabeçada por Pacheco, o presidente do Senado, tendo como vice a empresária Luiza Trajano (Magalu). Ela não foi nem sondada sobre o tema, embora seja vista como ativa politicamente.

De forma alternativa, numa avaliação que é compartilhada por dirigentes do centrão, a vice de Pacheco ou de outro nome poderia ser ocupada por Eduardo Leite, o governador gaúcho que desafia o paulista João Doria pela indicação do PSDB.

Leite já negou que possa vir a ser vice de qualquer pessoa, mas esses políticos centristas acreditam que pode haver jogo com ele.

O mesmo não se diz, mesmo entre petistas, de Doria, que por outro lado pode crescer mesmo entre quem não o apoia hoje se for escolhido o candidato tucano pelo peso de sua cadeira e de sua ambição.

De todo modo, são apenas alternativas hipotéticas hoje. Para Lula, esse isolamento à esquerda prejudica um tanto sua intenção de se mostrar conciliador, por mais que na prática seus governos (2003-10) tenham sido compostos pelas mesmas figuras com as quais conversa agora.

Com tudo isso, os aliados potenciais de Lula veem o petista ansioso, ajustando a modulação em temas como a regulação da mídia, enquanto seus companheiros creem que isso é só um chamado para evitar o salto alto no PT e deixar a situação solta nos estados.

Folha de SP

Em novo bate-boca, Lula diz que Covid pode ter afetado cérebro de Ciro, que fala em sequela moral de petista

Um dia antes, Ciro afirmou que o ex-presidente conspirou pelo impeachment de Dilma Rousseff (PT)

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) respondeu nesta quinta-feira (14) à fala do também presidenciável Ciro Gomes (PDT) de que o petista teria conspirado pelo impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff (PT). A fala de Ciro na quarta-feira (13) desencadeou um bate-boca com Dilma no Twitter, apesar de o pedetista ter sugerido uma trégua com o PT em nome do impeachment de Jair Bolsonaro.

Membros de PT e PDT minimizaram o efeito da nova briga sobre a formação de uma frente ampla, mas o episódio afastou ainda mais as alas da esquerda. Nesta quinta, Lula rebateu Ciro, que respondeu logo em seguida.

“Eu não vou falar do Ciro. O que ele fez ontem [quarta-feora] foi tão banal, foi tão grosseiro, que às vezes eu fico pensando, como Jesus Cristo na cruz dizia: ‘Pai, perdoai os ignorantes, eles não sabem o que fazem'”, disse Lula à rádio Grande FM de Dourados (MS).

“Eu às vezes fico pensando, não sei se o Ciro teve Covid ou não, mas me disseram que quem tem Covid tem problemas de sequelas, alguns têm problema no cérebro, de esquecimento, eu não sei. Mas não é possível que um homem que pleiteia a Presidência da República possa falar as baixarias que ele falou ontem”, continuou o ex-presidente.”Eu só lamento profundamente que seja assim. Eu só não sei o que ele está querendo, mas quem planta vento colhe tempestade”, completou o petista.

Na mesma entrevista, Lula foi cobrado pelos entrevistadores a admitir erros do PT. “Pra que eu vou fazer autocrítica se vocês podem me criticar? É mais saudável. Se eu ficar me criticando o que vai sobrar pros outros falarem?”, respondeu o ex-presidente. Ciro teve Covid em outubro de 2020. Segundo divulgou na época, após apresentar sintomas leves de gripe, o pedetista fez o teste e teve resultado positivo.

O pedetista enviou à Folha uma nota de resposta a Lula, afirmando não ter tido sequelas. “Já tive [Covid] em outubro do ano passado. Estou bem e não fiquei com sequelas. Mas trágico mesmo seria ter uma sequela moral, como a do notório Lula, que com este comentário infame acaba de agredir milhões de mortos e sobreviventes da Covid”, afirmou Ciro.

Na nota, o pedetista volta a lembrar as reuniões de Lula com nomes do MDB, algo que para ele evidencia a conspiração de Lula pelo impeachment de Dilma. “Agora, sem zuada, gritaria ou fuga pseudo-engraçada, [Lula] pode explicar ao povo brasileiro o acordo com Renan [Calheiros. MDB], Eunicio [Oliveira, MDB], Jucá [MDB], Geddel [MDB], Eduardo Cunha [MDB] e Sergio Cabral [sem partido] para assaltar de novo o Brasil?”, segue Ciro.

Também nesta quinta, Ciro divulgou um vídeo em que comenta a discussão com Dilma e volta a criticar o PT, mais especificamente “a corrupção do governo Lula e a incompetência do governo Dilma”.

Segundo Ciro, após o que chamou de “cutucada”, o PT revelou medo, arrogância e hipocrisia. “Eu disse de passagem, numa entrevista, que vendo os fatos de trás para diante, tenho hoje a convicção de que Lula foi um dos principais responsáveis pela queda de Dilma. Disse também que os principais responsáveis por essa pavorosa tragédia que nos ameaça hoje, esse governo criminoso de Bolsonaro, foram a corrupção e a incompetência do PT”, disse o pedetista.

Folha de SP (opinião)

Embate com Lula e Bolsonaro não deve ser suficiente para Ciro em 2022

Estratégia só funciona se pedetista mostrar que pode vencer rivais nos dois turnos

BRUNO BOGHOSSIAN

Ciro Gomes deu um passo determinante em sua estratégia para 2022. O pedetista percebeu que ganha mais atenção quando ataca Lula do que nas críticas que faz a Jair Bolsonaro. Ainda que tente encontrar um espaço no eleitorado entre os dois, ele já decidiu aumentar o calibre dos tiros disparados contra o petista.

Depois de protagonizar uma sequência de bate-bocas com Lula e Dilma Rousseff, Ciro disse que pretendia “alertar para o risco” que seria a volta do petista ao poder. Num vídeo divulgado nesta quinta (14), o ex-governador do Ceará afirmou que vai “combater os erros do PT e os erros de Bolsonaro”, mas insinuou que Lula está a postos para reeditar escândalos de corrupção.

Os movimentos de Ciro são 50% táticos e 50% viscerais. O tom hostil a Lula reflete as mágoas acumuladas em décadas de relações turbulentas na esquerda, mas é também uma aposta do ex-governador para absorver um sentimento antipetista e desbancar Bolsonaro.

A dose da investida mais recente pode criar algumas dificuldades nesse caminho. Entre eleitores de esquerda, Lula não é uma divindade inatacável, mas o tom do pedetista certamente aumenta sua rejeição numa fatia considerável desse grupo, simpática ao ex-presidente.

Com isso, o potencial de crescimento de Ciro deve se concentrar cada vez mais num nicho de eleitores de direita e centro-direita, que pode ficar congestionado por nomes como João Doria ou Eduardo Leite, Sergio Moro e o próprio Bolsonaro.

Outro problema é que um embate com Bolsonaro e Lula pode não ser suficiente. Numa disputa peculiar, com líderes com altas taxas de conhecimento e rejeição, um terceiro candidato precisaria mostrar capacidade de derrotar ao menos um dos dois —algo que Ciro ainda não tem.

O pedetista só deve conquistar votos na esquerda se mostrar que pode ultrapassar Bolsonaro no primeiro turno e só deve ganhar eleitores na direita se convencê-los de que pode bater Lula no segundo. O espaço de Ciro ainda é estreito.

O Globo (opinião)

Ciro e as verdades indigestas para o PT

VERA MAGALHÃES

Ciro Gomes tocou em feridas que ainda purgam para o PT e para Lula, mas que a narrativa de que tudo que se viu na Lava-Jato foi uma armação para levar ao impeachment de Dilma Rousseff e à prisão de seu padrinho e antecessor tenta esconder debaixo do tapete.

Num vídeo de quase seis minutos, em que se percebe a pena, a vivência e o talento de João Santana, ex-marqueteiro de Lula e Dilma hoje com o pedetista, um Ciro com semblante sereno pontua muitos aspectos profundos e importantes que nos trouxeram até aqui, mas que são verdades indigestas ao lulopetismo.

Desde que o Supremo Tribunal Federal anulou as condenações de Lula, ele e o partido não aceitam menos que capitulação por parte da imprensa e dos analistas em geral. Se você escrever que as penas de Lula foram anuladas, mas ele não foi absolvido, será alvo de uma saraivada de ataques.

Qualquer crítica, atual ou pretérita, que se faça a Lula e ao PT é prontamente catalogada como “falsa simetria” com o descalabro que é o governo Bolsonaro. Não importa que se esteja falando de coisas absolutamente diversas.

Ciro atingiu Lula a ponto de fazê-lo se despir do figurino do pacificador nacional e proferir uma grosseria a seu ex-ministro, dizendo que ele deve sofrer de sequelas da Covid-19 pelas críticas que faz. Ciro tem lugar de fala. E Lula e Dilma sabem disso.

É fato que o Instituto Lula era, no primeiro mandato de Dilma, um local de romaria pelo “volta, Lula”. Foi um movimento explícito, vocalizado por lideranças petistas.

Também não é segredo que próceres do PT atribuíam a Dilma boa parte da responsabilidade pelos dissabores do partido, seja por sua condução da economia, seja pelas mudanças que promoveu na Petrobras e que deixaram descontentes pelo caminho. A queixa de que ela não controlava a Polícia Federal também era corrente quando o petrolão começou a ser investigado.

O PT pretende aproveitar a dianteira tranquila de Lula nas pesquisas para passar o processo eleitoral todo sem enfrentar o debate sério sobre a corrupção que grassou no seu período. Como se os erros de condução da Lava-Jato, como a relação incabível entre Sergio Moro e os procuradores da força-tarefa, que foram graves e vieram à tona em 2019, simplesmente transformassem todo o esquema que restou comprovado em história da carochinha.

Resta saber se essa estratégia será sustentável por um ano. Ciro, pela esquerda, está francamente disposto a colocar o dedo nessa ferida. É uma tática de tudo ou nada, porque parte da constatação de que sua viabilidade eleitoral depende de disputar com o hoje imbatível Lula um lugar no segundo turno.

Em 2020, em sua primeira entrevista depois de preso, ao “Roda viva”, João Santana disse sonhar com uma chapa em que Ciro seria candidato a presidente, tendo Lula como vice. A realidade não poderia tê-los tornado mais distantes um do outro, mas a predição serviu para aproximar o marqueteiro do pedetista.

Ambos estão arriscando tudo e trazendo à tona um debate que tem muito de catarse pessoal, mas também escancara um passado que o lulopetismo nunca se dispôs a encarar.

Se, para se eleger em 2002, Lula precisou fazer uma Carta ao Povo Brasileiro, ideia de outro gênio caído da escola baiana de marketing político, Duda Mendonça, a esperança do caudilho e do partido é que, em 2022, a urgência de livrar o país da chaga que é Bolsonaro os livre da necessidade de novo mea-culpa. Até aqui parece ter funcionado, e de fato a maioria dos que prezam a civilização e a democracia se mostra disposta a votar em Lula para evitar um mal (muito) maior. Mas, se as coisas apertarem, como parece ser a aposta e a determinação de Ciro, pode ser necessário deixar as feridas purgarem em público. Na verdade, seria salutar.

O Globo

Em oito dias, Ciro propõe trégua e rasga a bandeira branca

Por Bernardo Mello Franco

Durou só oito dias a “trégua de Natal” que Ciro Gomes propôs ao PT. Na segunda-feira, o ex-ministro rasgou a bandeira branca e divulgou um vídeo com ataques a Lula. Na manhã seguinte, voltou à carga contra o que chamou de “lulopetismo corrompido e neoliberal”.

Em entrevista ao Estadão, Ciro acusou o ex-presidente de ter conspirado pelo impeachment de Dilma Rousseff. A provocação não tinha lastro factual, mas o ex-ministro parece ter conseguido o que queria. Os petistas morderam a isca, e ele foi alçado de volta às manchetes.

Irritada, Dilma afirmou que Ciro “mente de maneira descarada” e está mergulhando no “fundo do poço”. O ex-ministro reagiu com mais agressividade, chamando-a de “incompetente”, “inapetente” e “presunçosa”. Num revide abaixo da cintura, Lula sugeriu que a Covid-19 teria deixado sequelas no cérebro do pedetista.

Depois de três tentativas frustradas, Ciro prepara a quarta candidatura ao Planalto. Ele imaginava chegar a 2022 como o principal adversário de Jair Bolsonaro. O plano foi por água abaixo quando Lula recuperou os direitos políticos e assumiu a dianteira nas pequisas.

Emparedado, Ciro contratou o marqueteiro João Santana para repaginar o discurso. Abandonou propostas identificadas com a esquerda e passou a cortejar o eleitorado conservador. Chegou a gravar um vídeo de propaganda com a Bíblia na mão, de olho no voto evangélico.

A guinada tem certa lógica. Se o petista mantiver a liderança folgada, restará a Ciro disputar a outra vaga no segundo turno. Para isso, ele precisará competir com Bolsonaro pelo papel de “anti-Lula”. O desafio é operar essa mágica sem atirar no próprio pé.

Em 2018, o pedetista decepcionou parte de seus eleitores ao negar apoio a Fernando Haddad e viajar para Paris na reta final da eleição. Ele é cobrado até hoje pela atitude, que implodiu os esforços por uma frente ampla contra Bolsonaro.

Três anos depois, Ciro se mostra mais empenhado em atacar o PT do que em combater a extrema direita no poder. “O egocentrismo político sempre foi e continua sendo a característica marcante de Lula”, disparou ontem. Pode ser, mas o ex-ministro não parece muito longe dessa descrição.

Folha de SP

Arthur Lira afirma que presidentes de associações de integrantes do Ministério Público não têm palavra

Presidente da Câmara diz que não vai mais negociar com Ubiratan Cazetta e Manoel Murrieta, que teriam sinalizado apoio à PEC do CNMP

O presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), disse ao Painel que Ubiratan Cazetta, presidente da Associação Nacional dos Procuradores da República (ANPR), e Manoel Murrieta, da Associação Nacional dos Membros do Ministério Público (Conamp), não têm palavra e que os deputados não vão mais sentar à mesa com eles para negociar mudanças na PEC que modifica a composição do Conselho Nacional do Ministério Público.

A Câmara iniciou nesta quinta (14) o debate para votação da Proposta de Emenda à Constituição. Lira, após receber um telefonema da presidente do Conselho Nacional de Procuradores-Gerais do Ministério Público dos Estados e da União (CNPG), afirmou que havia um acordo com os integrantes do MP.

Após a fala do deputado, Cazetta negou qualquer acordo em uma postagem no Twitter. “A ANPR não realizou acordo sobre a PEC 05 e mantém a posição oficial contrária à PEC 05. O CNPG não fala em nome das associações”, disse ele.

Em resposta a Lira, Manoel Murrieta divulgou uma nota em que afirma que a “liberdade de opinião garantida aos cidadãos e estendida aos membros do Congresso” é uma conquista da democracia. Segundo ele, mesmo com a “intensa discussão” sobre o texto da PEC não há consenso e acordo sobre o texto final debatido pela Câmara.

O Globo

Bolsonaro veta homenagem a João Goulart, presidente deposto por militares no golpe de 1964

Na justificativa, presidente afirmou que proposta era inspirada por práticas dissonantes da democracia

O presidente Jair Bolsonaro vetou nesta quinta-feira um projeto de lei que nomeava a BR-153 como Rodovia Presidente João Goulart. Em seu veto, Bolsonaro justificou que homenagens a personalidades da história do país podem ser feitas em âmbito nacional desde que “não seja inspirada por práticas dissonantes das ambições de um Estado democrático”. João Goulart foi o presidente deposto por militares no golpe de 1964, que instaurou uma ditadura no Brasil que duraria até 1985.

O projeto de lei foi proposto em 2011 no Senado pelo então senador Aloysio Nunes Ferreira, do PSDB. Segundo o presidente, a proposta “contraria o interesse público” porque o trecho passa por diversos estados. Assim, não consideraria as “especificidades e peculiaridades” de cada Estado.

“Além disso, entende-se que escolher homenagear apenas uma figura histórica poderia representar descompasso com os anseios e as expectativas da população de cada unidade federativa abrangida pela Rodovia”, afirmou o presidente na mensagem enviada ao Congresso.

Bolsonaro afirmou ainda que outro motivo para o veto seria o fato da homenagem ser, alegadamente, “inspirada por práticas dissonantes das ambições de um Estado democrático”.

João Goulart era o presidente do Brasil em 1964. Em meio à alta polarização política, Goulart foi deposto em um golpe militar que o afastou da Presidência. Nos anos seguintes, o Congresso Nacional chegou a ser fechado e, até 1989, não houve eleições diretas para presidente no Brasil.

Após a redemocratização, iniciativas como a Comissão da Verdade comprovaram os abusos cometidos pelo regime. Em 2013, a Câmara dos Deputados anulou a sessão de abril de 1964 que considerou vago o cargo da Presidência e abriu caminho para a ditadura. Ainda como deputado, Jair Bolsonaro votou contra o projeto.

Dias após o golpe, foi divulgada uma lista de cassados, que incluía 102 nomes, dentre eles 40 congressistas, militares, governadores, sindicalistas, diplomatas e ministros de João Goulart.

Em 1968, foi editado o Ato Institucional nº 5 que, entre outras medidas, fechou o Congresso Nacional e as Assembleias Legislativas e autorizou o presidente da República a suspender os direitos políticos de qualquer cidadão por até dez anos, além de cassar mandatos eletivos federais, estaduais e municipais.

“As investigações realizadas comprovaram que a ditadura instaurada através do golpe de Estado de 1964 foi responsável pela ocorrência de graves violações de direitos humanos, perpetradas de forma sistemática e em função de decisões que envolveram a cúpula dos sucessivos governos do período”, concluiu a Comissão em seu relatório final, publicado em 2011.

Segundo o relatório final da Comissão da verdade, foram punidas, com perda de direitos políticos, cassação de mandato, aposentadoria compulsória ou demissão, 4.841 pessoas, e foram aposentados ou demitidos 3.783 funcionários públicos, entre eles 72 professores universitários.

“No âmbito desse quadro de graves violações de direitos humanos, a Comissão teve condições de confirmar 434 mortes e desaparecimentos de vítimas do regime militar, sendo 191 os mortos, 210 os desaparecidos e 33 os desaparecidos cujos corpos tiveram seu paradeiro posteriormente localizado, um deles no curso do trabalho da Comissão. Esses números certamente não correspondem ao total de mortos e desaparecidos, mas apenas ao de casos cuja comprovação foi possível em função do trabalho realizado, apesar dos obstáculos encontrados na investigação, em especial a falta de acesso à documentação produzida pelas Forças Armadas, oficialmente dada como destruída”, afirmou a Comissão.

Folha de SP

Brasil ultrapassa 150 milhões de pessoas com 1ª dose da vacina contra Covid

País também chegou a 602 mil de mortes por Covid e a mais 21,6 milhões de pessoas infectadas

O Brasil chegou, nesta quinta-feira (14), a 150.659.242 pessoas com a primeira dose da vacina contra a Covid. A marca foi alcançada um dia depois do país chegar a 100 milhões de pessoas com esquema vacinal completo, ou seja, aquelas que receberam as duas doses ou a dose única da Janssen. A imunização completa só ocorre, em média, 15 dias após a segunda dose.

Mais uma vez, o Brasil está em um pequeno grupo de países populosos a atingir tal marca. Somente a Índia, a China e os EUA aplicaram tantas primeiras doses —na verdade, números bem superiores.

A China já aplicou mais de 1,1 bilhão de primeiras doses, segundo dados do site Our World in Data. A Índia, por sua vez, tem mais de 690 milhões de aplicações. Já os EUA têm mais de 217 milhões com ao menos uma dose.

Os números consideravelmente superiores, porém, podem ser explicados, pelo menos em parte, pelo tamanho das populações dessas nações. A China tem mais de 1,4 bilhão de habitantes, a Índia, mais de 1,3 bilhão e os EUA, mais de 330 milhões —o Brasil tem pouco mais de 210 milhões. Já a também populosa Indonésia (com mais de 270 milhões de pessoas) passou recentemente a marca de 100 milhões de primeiras doses aplicadas.

O Japão, após um início lento de vacinação, também está próximo de 100 milhões doses iniciais, mas tem uma população consideravelmente menor (mais de 120 milhões), segundo dados do Our World in Data.

Os dados da vacinação contra a Covid-19, também coletados pelo consórcio, foram atualizados em 25 estados e no Distrito Federal.​ Os números brasileiros podem ser tido como animadores, principalmente ao se considerar a dificuldade inicial da vacinação e com afirmações constantes —que persistem até hoje— do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) colocando em dúvida, sem quaisquer motivos científicos, a eficácia e a segurança das vacinas.

No estado de São Paulo, por exemplo, pela primeira vez em um ano menos de 2.000 pessoas estão internadas em UTIs com Covid, considerando a média móvel de sete dias —o número desta quinta é de 1.982.

Considerando UTIs e leitos clínicos, o número de internados no estado ficou abaixo de 4.000 pela primeira vez em 557 dias, segundo a Secretaria de Estado da Saúde. Além disso, as internações em UTI no estado por conta da doença tem diminuído há quatro quatro meses.

Mesmo assim, o otimismo em relação à vacinação contra a Covid deve ser um pouco mais cauteloso, segundo Denise Garrett, epidemiologista e vice-presidente do Instituto Sabin. “Não existe um número mágico para a imunidade de rebanho”, diz a especialista. De acordo com ela, estimativas anteriores de que, com mais de 70% ou 80% da população vacinada a imunidade coletiva poderia ser alcançada, não são mais realistas.

Isso porque o descontrole da pandemia em diversas partes do mundo acabou dando origem a variantes com potencial de transmissão expressivamente maior, o que distancia a realidade da imunidade de rebanho.

“Ao que tudo indica, o vírus está aqui para ficar. Como isso vai se desenrolar, vai variar muito de país para país”, afirma Garrett, que aponta as incertezas em relação ao futuro da pandemia. Ela destaca também que a situação não é culpa das vacinas. “As vacinas são extraordinárias, excepcionais. São imunizantes que superaram toda e qualquer expectativa.”

O perigo de ficar esperando por atingir um percentual no qual supostamente tudo ficaria mais “seguro” é começar a baixar a guarda, o que poderia levar a novas ondas da doença no Brasil. “É momento de flexibilizar? Sim. Mas tem que ser uma flexibilização cautelosa, segura. E já sabemos o que fazer. Não há nada novo”, afirma Garrett.

O Brasil registrou 2.715.410 doses de vacinas contra Covid-19, nesta quinta. De acordo com dados das secretarias estaduais de Saúde, foram 708.252 primeiras doses e 1.334.465 segundas. Também foram registradas 2.541 doses únicas e 670.152 doses de reforço.

Ao todo, 97.587.264 pessoas já receberam a segunda dose do imunizante. Somadas as doses únicas da vacina da Janssen contra a Covid, já são 101.836.974 pessoas com esquema vacinal completo no país.​

Assim, o país já tem 70,63% da população com a 1ª dose e 47,74% dos brasileiros com esquema vacinal completo. Considerando somente a população adulta, os valores são, respectivamente, de 92,95% e 62,83%.

Mesmo quem completou o esquema vacinal com as duas doses deve manter cuidados básicos, como uso de máscara e distanciamento social, afirmam especialistas.

Os dados brasileiros, coletados até às 20h, são fruto de colaboração entre Folha, UOL, O Estado de S. Paulo, Extra, O Globo e G1 para reunir e divulgar os números relativos à pandemia do novo coronavírus. As informações são recolhidas pelo consórcio de veículos de imprensa diariamente com as Secretarias de Saúde estaduais.

Apesar dos números elevados de vacinação, o país também tem dados altos de mortes e casos por Covid. Com os 558 óbitos e as 14.813 infecções registradas nesta quinta-feira, o Brasil chegou a 602.201 vidas perdidas e a 21.611.552 pessoas infectadas pelo Sars-CoV-2, desde o início da pandemia.

Já as médias móveis agora são de 334 mortes por dia (queda de 35% em relação ao dado de duas semanas atrás) e de 11.335 casos diários (valor 32% menor do que o registrado há duas semanas).

A iniciativa do consórcio de veículos de imprensa ocorreu em resposta às atitudes do governo Bolsonaro, que ameaçou sonegar dados, atrasou boletins sobre a doença e tirou informações do ar, com a interrupção da divulgação dos totais de casos e mortes. Além disso, o governo divulgou dados conflitantes