Clipping 17 de novembro de 2021

Manchetes

Saúde indicará terceira dose contra Covid para todos os adultos (Folha de SP)

Plano do governo prevê dose de reforço a maiores de 18 anos (Estadão)

Sem espaço no orçamento, Bolsonaro promete reajuste a servidor (O Globo)

Cada 1 ponto de reajuste a servidor custaria até R$ 4 bi (Valor)

Automotive Business (artigo)

Montadoras perdem volumes, mas faturam mais

Preço médio de venda de veículos leves sobe a R$ 111 mil e compensa parte de queda em unidades

PEDRO KUTNEY

Quase batido o último prego no caixão de 2021, já é possível assegurar que será mais um ano perdido em volume de veículos vendidos. Em 2020 a pandemia de coronavírus fez o mercado brasileiro de automóveis e comerciais leves encolher 26,6%, baixando para perto de 2 milhões de unidades. Já este ano uma das sequelas da Covid-19 fez a produção parar abaixo da demanda por falta de componentes eletrônicos, estacionando as vendas no mesmo frustrante patamar para uma indústria que tem capacidade para produzir e vender mais de 3 milhões de unidades por ano.

O dano com a ociosidade das fábricas é grande e irreversível. Contudo, por mais paradoxal que pareça, houve forte recuperação de faturamento dos fabricantes. Ainda que receita maior não signifique necessariamente lucro, ajuda bastante a mitigar as perdas.

Isso se explica pelo aumento substancial do valor médio da gama de carros vendidos no Brasil, tanto para compensar os muitos aumentos de custos – que foram grandes – como para atender a legislação que exige veículos mais seguros e econômicos, o que eleva o volume de sistemas mais caros a bordo e leva a óbito os modelos mais baratos. Por um dos dois motivos ou ambos, o impacto no preço dos automóveis foi enorme.

Escalada do preço médio de venda

Acompanhamento regular da Bright Consulting revela uma forte escalada no valor de venda dos carros nos últimos dois anos. Nas contas da consultoria, o preço médio de transação de um veículo leve zero-quilômetro no Brasil subiu bastante acima da inflação que passa dos 10% em 12 meses. Segundo o estudo, hoje o valor médio de um carro vendido no Brasil é de quase R$ 111 mil, ou 18,3% acima do verificado em dezembro de 2020.

O ano passado terminou com valor médio de transação de R$ 93,7 mil, que também apresentou expressivo aumento de 11,8% na comparação com um ano antes, mais que o dobro da inflação anual de 4,5% medida pelo IPCA.

Essa variação foi bem menor em períodos que antecederam 2020, ano do início da pandemia, quando a média de preços de negociação de um veículo chegou a registrar queda de 1,3% na comparação entre a fotografia do fim de 2018 para 2019, de R$ 85 mil para R$ 84 mil.

Ainda que não seja possível analisar o desempenho dos fabricantes de veículos no Brasil, pois todos são multinacionais que escondem esses números por trás de balanços globais, o fato é que vendendo bem menos as empresas estão faturando mais.

Em uma conta simplificada, apenas para demonstrar a ordem de grandeza dessa escalada de preços, a venda estimada de 1,96 milhão de veículos este ano vai significar crescimento de volume igual a zero sobre 2020, mas essa quantidade de carros vendidos significa faturamento próximo de R$ 220 bilhões pelo preço médio de venda atual, valor que supera em 23% o obtido um ano antes, e fica menos de 2% abaixo das vendas faturadas em 2019.

Vender menos, faturar mais, acabar com carros baratos

Não é uma conta exata nem igual para todos os casos, mas é fato que a elevação dos preços médios de venda combinada com programas de corte de custos (essa indústria sempre encontra muita gordura para cortar) fez muito bem ao balanço de algumas empresas por aqui.

Exemplo disso foi dado pela operação latino-americana da Volkswagen, que anunciou o retorno do balanço ao azul, com fluxo de caixa positivo, após prejuízos que vinham se acumulando por quase uma década desde 2013. É um paradoxo, já que a fabricante está também sendo duramente afetada pela falta de semicondutores e já precisou paralisar diversas vezes suas fábricas no País.

Ou seja, vendendo menos por limitações da produção, a Volkswagen ainda assim conseguiu equilibrar as contas e escapar de mais um ano no vermelho, graças principalmente a uma gama de produtos de valor agregado muito superior ao que tinha no começo da década.

Quase todos os fabricantes de veículos estão adotando essa mesma estratégia. Luca De Meo, ao assumir o comando do Grupo Renault no ano passado – quando a empresa registrou prejuízo de US$ 9,2 bilhões –, refez os planos estratégicos para lançar uma linha de produtos focada muito mais em valor e muito menos em volumes.

O resultado prático dessa opção pelos mais ricos já é notado no balanço da empresa: mesmo abalada pela falta de semicondutores que deve reduzir em 500 mil veículos a produção estimada da Renault este ano, de janeiro a setembro o faturamento avançou 12,3%, para € 32,3 bilhões, na comparação com o mesmo período de 2020, enquanto o grupo produziu perto de 2 milhões de unidades, crescimento de apenas 2,6%.

Em visita ao Brasil na semana passada, De Meo afirmou que a Renault vai adotar a mesma estratégia aqui, abandonando o foco em veículos compactos e mais baratos. “Há 10 anos deu certo lançar modelos mais baratos da linha Dacia, mas o Brasil mudou, não é o mesmo de 10 anos atrás. Vamos em busca de valor”, decretou.

No meio ambiente em que se encontra a indústria automotiva, não há outra forma de apresentar resultados: já que não é mais possível vender muito, é preciso vender menos e faturar mais. É por isso que o antigo carro popular brasileiro entrou em extinção, conforme declarou no início deste mês Luiz Carlos Moraes, presidente da Anfavea, que integra os fabricantes de veículos instalados no País.

“Não existe mais essa figura do carro popular, esquece isso, é passado. O veículo que temos de vender hoje é muito diferente do que existia no fim da década de 1980. Hoje temos legislação com metas de eficiência energética e de adoção de sistemas de segurança que elevaram o nível tecnológico e de custos. Com isso, não dá para imaginar que teremos carros simples e baratos”, afirmou Luiz Carlo Moraes.

Sociedade fica à margem de benefícios tecnológicos

Diga-se que essa não é uma estratégia adotada no mercado brasileiro, é global. Em todo o mundo, a legislação de emissões e segurança está endurecendo, subindo o nível tecnológico e de custos dos carros. Tem de ser assim, é o caminho correto, mas isso faz o mercado mudar para o andar de cima – ou mais de dois acima. O problema é que, no caso de países de menor poder aquisitivo como o Brasil, os inexoráveis aumentos de preços expulsam mais consumidores para fora do mercado do que acontece na Europa ou América do Norte, onde há mais dinheiro para pagar pelos avanços.

Se do ponto de vista financeiro esse caminho parece fazer todo o sentido para as empresas, também limita os benefícios da evolução tecnológica à sociedade. Toda vez que o preço de veículos sobe pela adoção de novas tecnologias de segurança e redução de emissões, parte dos consumidores é expulsa do mercado de zero-quilômetro e alguns migram para comprar usados mais poluentes e inseguros.

Com isso, a tecnologia demora mais a ser absorvida pelo tecido social e não potencializa os efeitos positivos que traria se mais gente fosse beneficiada. É nesse ponto que o capitalismo não resolve as coisas, deve entrar em cena a mão regulatória dos governos, incentivando o que faz bem à sociedade e desincentivando o que faz mal.

A estratégia de vender menos por mais determina que carros particulares serão um bem cada vez mais para menos gente. Isso é justamente algo que parece custar muito a mudar no Brasil, onde a desigualdade social se perpetua e recrudesce em todos os segmentos de mercado, gerando mais um paradoxo: enquanto milhares de abastados fazem filas de espera por carros acima de R$ 100 mil, na média, alguns milhões têm dificuldades para pagar por sua mobilidade no único veículo popular que deve sobrar por aqui, o ônibus.

AutoIndustria

Scania aprimora trem de força dos caminhões da Nova Geração

Fabricante investiu € 2 bilhões para desenvolver motores a combustão mais eficientes, com promessa de 8% de economia

Cinco anos depois de introduzir uma geração inteiramente nova de caminhões na Europa, a Scania apresenta aprimoramentos em produtos que já tornaram reconhecidos pela eficiência.

A empresa investiu € 2 bilhões no desenvolvimento de motores que, a exemplo, do que ocorreu em 2016, com Nova Geração, também não houve transferências de projetos anteriores. É tudo novo, com a garantia de entregar mais 8% de economia de combustível, vida útil para 2 milhões de quilômetros e exigência de menos manutenção.

Com mais eficiência energética, a Scania persegue caminho nas etapas da descarbonização. Ainda que os motores ainda sejam movidos a diesel, os novos motores agora também aceitam combustíveis mais amigáveis ao meio ambiente, como HVO e biodiesel 100% renovável.

A evolução proporcionada pela Scania no trem de força responde por motores de 13 litros com 420, 460, 500 e 560 cv associados às mais novas caixas de transmissão automatizadas Opticruiser, lançada no ano passado. Em paralelo, novos eixos de tração atendem às inéditas especificações oferecidas. O objetivo é preservar eficiência nas baixas rotações, portanto, menos consumo e emissões.

“A indústria dos transportes é um dos setores que mais consome energia no mundo. Por isso, não podemos esperar para reduzir as suas emissões de carbono”, entende Stefan Dorski, vice-presidente sénior, responsável pela Scania Trucks. “O mundo ainda depende, em grande medida, do transporte por caminhões com motores a combustão. Isso destaca a importância das melhorias em eficiência de combustível que fornecemos com a nossa nova plataforma de motores.”

Além do trem de força, a Scania também ampliou as possibilidades de construção do veículo, com maior gama de reservatório de combustível, com capacidades de 165 a 700 litros, arquitetura modular do chassi e oferta de câmeras no lugar de espelhos retrovisores.

As novidades da Scania, por enquanto, beneficiam o transportador europeu. Cabe, no entanto, lembrar que a fabricante opera com sistema global de produção e, o Brasil, inserido nele. Portanto, não é difícil especular os novos motores por aqui em pouco.

Valor online (hoje, 10h37, do Financial Times)

Fabricante de veículos elétricos Rivian supera Volks em valor, enquanto Lucid passa a Ford

A Rivian e a Lucid são as primeiras na onda de startups de veículos elétricos que deverão abrir o capital, na aposta de conseguir emular a ascensão das ações da pioneira dos carros elétricos Tesla

A fabricante de veículos elétricos Rivian superou a Volkswagen em valor de mercado, enquanto a startup rival Lucid superou a Ford, uma vez que suas ações continuam nas alturas após as recentes estreias em bolsa, mesmo com suas operações ainda terem muito a provar.

A capitalização de mercado da Rivian, uma fabricante de picapes e furgões que tem a Amazon e a Ford entre os investidores, passou a da Volkswagen, depois de suas ações terem fechado em alta de 15%, cotadas a US$ 172, na terça-feira. O valor da Rivian dobrou para US$ 153 bilhões desde a abertura de capital em 10 de novembro.

A Volkswagen, maior montadora do mundo, teve um lucro líquido de 9,7 bilhões de euros em 2020 e vendeu 9,3 milhões de carros no mundo. Por sua vez, a Rivian, fundada em 2009, não tem receita significativa.

As ações da Lucid, uma fabricante de carros elétricos de luxo comandada por Peter Rawlinson, um ex-executivo da Tesla, valorizaram-se 24% na terça-feira, depois de a empresa ter anunciado que as encomendas para seu primeiro carro deram um salto e chegaram a 17 mil. A alta dos papéis deu à companhia um valor de mercado de US$ 91 bilhões, US$ 12 bilhões a mais que o da Ford.

A Lucid teve prejuízo de US$ 524 milhões no terceiro trimestre, segundo anúncio da empresa na segunda-feira à noite, em seu primeiro comunicado ao mercado sobre as ações desde o registro em bolsa, feito no verão americano por meio de uma fusão reversa. No mesmo trimestre, a Ford registrou lucro ajustado de US$ 3 bilhões, uma queda de 17%, influenciada pelo impacto nas vendas da falta mundial de chips.

A Rivian e a Lucid são as primeiras na onda de startups de veículos elétricos que deverão abrir o capital, na aposta de conseguir emular a ascensão das ações da pioneira dos carros elétricos Tesla, cujo valor superou a marca de US$ 1 trilhão em outubro.

Jessica Caldwell, da firma de dados Edmunds, considerou os valores das novas companhias “questionáveis”. “A Tesla tornou muitos investidores ricos e agora todos querem estar dentro da próxima grande novidade no espaço dos VEs [veículos elétricos]”, disse.“Infelizmente, uma companhia como a Tesla não surge com muita frequência e os valores dados à Rivian e à Lucid são questionáveis, particularmente em comparação às companhias automotivas existentes.”

Dan Ives, analista especializado nos setores automotivo e de tecnologia na corretora Wedbush, disse que os investidores têm “um imenso apetite por essas histórias de VEs, e a Tesla ter superado o US$ 1 trilhão em valor de mercado mudou o paradigma de valor no espaço dos VEs”. “Ford, GM e Volkswagen ainda estão sendo tratadas pelos investidores com nomes automotivos, enquanto Lucid está sendo untada como a nova miniTesla”, disse

Valor

Ministério da Saúde promete 3ª dose para todos acima de 18 anos

Expectativa é que todos os adultos recebam reforço até maio de 2022

O Ministério da Saúde anunciou ontem a extensão da terceira dose da vacina contra a covid-19 para toda a população com mais de 18 anos. Até então, o reforço só estava disponível para idosos, pessoas com comorbidades e profissionais de saúde. Além da expansão do público, a pasta reduziu de seis meses para cinco meses o intervalo entre a segunda dose e o reforço. A expectativa é que todos os adultos sejam vacinados com a terceira dose até maio do ano que vem.

Segundo o ministro Marcelo Queiroga, a decisão de ampliar a oferta da dose de reforço foi tomada com base em dois estudos contratados pelo ministério, com a Fundação Oswaldo Cruz e com a Universidade de Oxford. Também foi alterado o esquema para as pessoas que foram imunizadas com a vacina da Janssen, desenvolvida para ser aplicada em dose única.

Esse público, agora, terá que receber a segunda dose oito semanas após a primeira e depois, o reforço. A ideia é que todas as pessoas tomem a terceira dose com uma vacina diferente da utilizada nas duas primeiras. Ainda há, entretanto, dúvidas se essa regra também valerá para a vacina Pfizer.

O anúncio foi feito durante lançamento de uma megacampanha de vacinação, pela qual o ministério pretende incentivar a população a tomar a segunda dose. Atualmente, 21 milhões de pessoas aptas a tomar a segunda dose ainda não apareceram. Queiroga chamou a atenção para a importância do ciclo vacinal completo e mencionou o repique de casos de covid-19 na Europa com um fator de atenção. De acordo com a pasta, apenas no público entre 25 e 39 anos há quase 10 milhões de pessoas com a segunda dose atrasada.

 A secretária especial da Covid, Rosana Leite, atribuiu a “propagandas que acontecem” o fato de muitos jovens terem medo da vacina. Recentemente, o presidente Jair Bolsonaro usou as redes sociais para divulgar notícias falsas sobre a vacinação. Ele apresentou um suposto estudo que ligaria a pessoas vacinadas a casos positivos de HIV e teve a conta suspensa por duas plataformas.

Questionado sobre a disponibilidade de vacinas para garantir o reforço nos adultos, Queiroga garantiu que há segurança na oferta. Novos contratos devem ser assinados em breve para ampliar a aquisição de vacinas das farmacêuticas Pfizer e AstraZeneca. Conforme revelado em setembro pelo Valor, a Coronavac deve ficar de fora.

A secretária da Covid também disse que ainda não há evidência científica sobre a necessidade de doses anuais de reforço nem em relação à inclusão do público infantil no plano da terceira dose. Ela pediu para que os Estados e municípios acompanhem o calendário do Programa Nacional de Imunizações (PNI) para não afetar o planejamento do país como um todo.

O cronograma prevê o pico da aplicação do reforço será em março, com quase 30 milhões de doses previstas. A decisão do ministério ainda não recebeu o respaldo da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Isso não quer dizer, entretanto, que o reforço não poderá ser aplicado.

Em nota, a autarquia ressaltou a diferença entre o esquema o vacinal previsto em bula e a estratégia de imunização do governo federal. “O esquema previsto em bula e aprovado pela Anvisa (quantidade de doses e intervalos) indica a forma de uso da vacina que, segundo os estudos, produzem os melhores resultados de imunização”, informou o órgão.

Valor

Bolsonaro diz que PEC dos Precatórios abre caminho para aumento de “todos” os servidores

Líder do governo no Senado diz que presidente precisa escolher prioridades

O presidente Jair Bolsonaro disse ontem que o governo estuda conceder reajuste para “todos” os servidores públicos, caso a proposta de emenda à Constituição (PEC) dos Precatórios seja aprovada pelo Congresso Nacional. O aceno ao funcionalismo público ocorre a menos de um ano das eleições presidenciais de 2022, mas não deve ganhar força no Senado, onde a proposta tramita neste momento. Nos bastidores, até mesmo parlamentares governistas admitem que não há consenso para qualquer aumento de salário neste instante.

Bolsonaro falou sobre o assunto durante entrevista coletiva no Oriente Médio, onde cumpre uma série de agendas internacionais. “Eu conversei com Paulo Guedes [ministro da Economia]. Em passando a PEC dos Precatórios, tem que ter algum espaço para dar algum reajuste. Não é o que eles merecem, mas é o que podemos dar. Todos os servidores federais [serão beneficiados], sem exceção”, afirmou ele.

De acordo com os cálculos da equipe econômica, a PEC dos Precatórios deve abrir um espaço fiscal de aproximadamente R$ 91 bilhões, o que poderia custear, em parte, esse reajuste aos servidores. O problema é que os senadores consideram o montante como “excessivo”. O assunto motivou os líderes do governo, inclusive, a abrirem uma negociação com bancadas que demonstram certa resistência ao texto aprovado pela Câmara.

Questionado sobre o assunto, o relator da PEC dos Precatórios, Fernando Bezerra Coelho (MDB-PE), que também é líder do governo no Senado, disse que Bolsonaro precisa “escolher” quais serão as prioridades do Executivo para 2022.

Na avaliação dele, o espaço dentro do Orçamento “está muito apertado” e o aumento de servidores pressiona as despesas discricionárias. “O presidente sempre vai ter que escolher [quais são as prioridades] porque as despesas discricionárias e as obrigatórias estão muito apertadas. É possível, sim, conceder reajustes a partir do próximo ano. O que a gente entende nas leituras que estamos fazendo é que o espaço dentro do orçamento público está muito escasso e as prioridades precisarão ser definidas”, defendeu.

O ministro da Cidadania, João Roma, também não endossou diretamente o desejo do presidente. Ao comentar o assunto, ele preferiu enfatizar que o objetivo da PEC é viabilizar o Auxílio Brasil, programa que irá substituir o Bolsa Família. “Isso [aumento para servidores] não está no nosso elenco. A PEC, o recurso dessa PEC, está sendo destinado para a área social do governo. Ela estabelece justamente a viabilização do pagamento de R$ 400 mínimo para cada beneficiário do Auxílio Brasil”, respondeu.

Em caráter reservado, os próprios senadores da base do governo argumentam que não há espaço fiscal suficiente para mais esse gasto. Além disso, dizem, a pressão no Senado é justamente para diminuir o espaço e não ampliá-lo, como deseja Bolsonaro. “Não podemos dar esse auxílio como desculpa para fazer outras coisas, dar aumento de salário, fazer uma série de benesses eleitoreiras. Isso que a gente quer evitar”, defendeu o senador Oriovisto Guimarães (Podemos-PR).

Enquanto Bolsonaro fala em reajustes, Bezerra está buscando apoio da equipe econômica para tentar reverter a resistência de alguns senadores. Ontem, Bezerra promoveu uma reunião entre o secretário do Tesouro, Esteves Colnago, e parlamentares que já apresentam propostas alternativas à PEC do governo.

Participaram do encontro os senadores José Aníbal (PSDB-SP), Alessandro Vieira (Cidadania-SE) e, por fim, Oriovisto Guimarães. Todos eles têm PECs que concorrem com a proposta patrocinada pelo Palácio do Planalto. A avaliação dos parlamentares que participaram da negociação é que “está claro” que a PEC deve sofrer modificações e retornar à Câmara dos Deputados.

O próprio governo, disseram, estaria oferecendo algumas alternativas de ajuste no texto. Por ser uma PEC, o texto só é aprovado com o aval das duas Casas, ao contrário de projetos ordinários, em que quem inicia a tramitação dá a palavra final. “A chance de essa PEC voltar à Câmara é muito grande”, resumiu Oriovisto. “O governo sabe que, neste momento, não tem os votos necessários para aprovar”, complementou Aníbal.

Bezerra e os senadores devem voltar a se reunir nesta quarta-feira para tentar construir um entendimento sobre o texto. A alteração no cálculo do teto de gastos é uma das objeções dos senadores. Antes corrigido pela inflação registrada em 12 meses até junho do ano anterior, o limite das despesas públicas passará a ser atualizado com base no valor realizado até junho do IPCA (Índice de Preços ao Consumidor-Amplo) e o valor estimado até dezembro deste mesmo ano. “É uma esculhambação. Isso não dá para aceitar”, apontou Aníbal.

Outra demanda que está na mesa de negociação é que não haja “calote” no pagamento dos precatórios. Por conta disso, Oriovisto sugere, entre outras mudanças, a reclassificação dos precatórios do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação (Fundeb).

Desta forma, essas dívidas judiciais ficariam fora do teto de gastos. Todas essas mudanças podem atrasar ainda mais a aprovação do texto, o que tende a impedir o pagamento do benefício de R$ 400 ainda este ano. Diante disso, o ministro João Roma voltou a pedir que o Senado aprove, se possível, a PEC ainda no mês de novembro. Ele afirmou que tem explicado tanto ao presidente da Casa, Rodrigo Pacheco (PSDMG), como ao relator da matéria, Fernando Bezerra Coelho, sobre a “gravidade da situação” e enfatizou que está “muito preocupado”

Folha de SP

Covid-19 ainda é um grande problema

Quanto mais o vírus circula, maior a chance de surgirem variantes ameaçadoras

Países que acreditaram ter controlado a Covid-19 por meio da vacinação se veem engolfados em novas ondas de contaminação. Meu propósito aqui não é deprimir o leitor.

As novas ondas são substancialmente menos letais que as anteriores e atingem mais o público que escolheu não imunizar-se. São, ainda assim, um problema. O fato de um indivíduo ser tolo não é razão suficiente para que o poder público perca o interesse em preservar sua vida.

Quando a circulação do vírus aumenta, aumenta também a morbimortalidade entre os que fizeram tudo certinho, mas tiveram a infelicidade de não responder tão bem ao biofármaco —em geral idosos e imunossuprimidos.

Mesmo que ninguém mais morresse de Covid, novas ondas provocam lotação nos hospitais, o que compromete o atendimento a portadores de outras moléstias, que já fora represado pela epidemia. Por fim, quanto mais o vírus circula, maior a chance de surgirem variantes mais ameaçadoras, talvez até com escape vacinal.

Não estou afirmando que o Brasil vai necessariamente enfrentar uma nova onda. Muitos prognosticaram que a delta faria um enorme estrago aqui e isso não ocorreu. Com a Covid, a única forma de acertar as previsões é abstendo-se de fazê-las. O que estou dizendo é que a aparência de controle pode ser ilusória. Epidemias têm sua dinâmica ditada por inúmeros fatores, biológicos, geográficos e sociais, e diferentes interações entre eles produzem resultados muito diferentes.

O que me parece seguro afirmar é que precisaremos revacinar a população logo. A imunidade mais robusta, próxima à esterilizante, proporcionada pelos anticorpos neutralizantes não dura muito mais que cinco ou seis meses. Depois disso as vacinas continuam protegendo contra quadros graves e mortes, mas não reduzem tanto a circulação do vírus. Essa é uma má notícia para os países pobres, que, por falta de imunizantes, ainda engatinham na primeira dose.

Folha de SP (artigo)

Ideia de chapa Lula-Alckmin reacende dilema do PT para 2022

Petistas ainda calculam movimentos para alargar base eleitoral do ex-presidente

BRUNO BOGHOSSIAN

Lula e Geraldo Alckmin decidiram trocar gentilezas em público depois que circularam planos para a formação de uma chapa entre os dois no ano que vem. O tucano afirmou na semana passada que o ex-presidente tem apreço pela democracia. O petista retribuiu e disse que tem uma “extraordinária relação de respeito” com o ex-governador paulista.

Famoso por dar declarações ensaboadas quando quer escapar de assuntos espinhosos, Alckmin fez questão de deixar a porta aberta para conversar. Lula, que costuma fazer piada quando surgem especulações sobre candidatos a vice, preferiu dançar em torno do tema e fez um aceno ao dizer que não há nada que não possa “ser reconciliado”.

Além de mostrar que nenhum dos dois descarta a dobradinha, o episódio reacende um dilema que deve acompanhar o PT até a eleição. Embora lidere as pesquisas, o grupo de Lula entende que a corrida deve se acirrar e que será preciso fazer um movimento contundente para alargar a base eleitoral do petista.

Segundo os cálculos dessa ala, o baile com um tucano convicto como Alckmin manda aos eleitores fora da esquerda um sinal de que Lula pode ser uma opção de voto em alguma etapa da disputa. Mesmo que a chapa não se concretize, os acenos retribuídos pelo ex-governador paulista ajudariam a pavimentar a formação de uma frente num eventual segundo turno contra Bolsonaro.

Nem todos os correligionários de Lula pensam assim. Alguns petistas acreditam que a força demonstrada nas pesquisas pelo ex-presidente deve bastar para empurrá-lo para a vitória com uma coalizão restrita à esquerda. Para eles, uma caminhada em direção ao centro tornaria aguada a candidatura petista.

Nos EUA, apesar do entusiasmo produzido por nomes como Bernie Sanders, os democratas deram uma guinada e escolheram o insosso Joe Biden como candidato para enfrentar Donald Trump em 2020. Mesmo sem Alckmin em sua chapa, Lula também pode precisar de um pouco de chuchu no ano que vem.

FSP (Mônica Bérgamo)

Lideranças do PT temem que mercado tente derrubar Lula para colocar Alckmin no lugar

Tucano seria um nome palatável para a ‘direita’ e para o mercado financeiro, segundo petistas

A possibilidade de Geraldo Alckmin (PSDB-SP) ser vice de Lula numa chapa para concorrer à sucessão de Jair Bolsonaro em 2022 gera temor em algumas lideranças do PT: elas veem a possibilidade de a presença do ex-governador estimular tentativas de derrubada de um eventual futuro governo.

De acordo com esse raciocínio, Alckmin é confiável e não faria movimentos para derrubar Lula. Mas o tucano seria um nome palatável para a “direita” e o mercado financeiro, o que facilitaria a movimentação pela queda de Lula caso o governo enfrente uma grave crise.

PIOR SEM ELE

Setores do partido acreditam que o impeachment de Jair Bolsonaro (sem partido) não prosperou, em parte, porque o vice-presidente Hamilton Mourão poderia assumir a Presidência. Seria pior ter o general no comando do país do que suportar Bolsonaro.

CHEGADA

Já lideranças que apoiam a chapa Lula/Alckmin afirmam que, para cair, é preciso estar em pé. Ou seja, para enfrentar ameaça de impeachment, o petista primeiro precisa se eleger, e a aliança ajudaria a liquidar a fatura até mesmo no primeiro turno.

No dia 3 de novembro, a coluna revelou que lideranças do PT e do PSB tentam viabilizar uma chapa que una Lula e Alckmin para disputar a Presidência da República.

Segundo interlocutores, Lula já afirmou que, com o tucano de vice, poderia dormir tranquilo: Alckmin, que foi quatro vezes governador, teria experiência e estatura política. Ajudaria a governabilidade. E não transformaria a vice em um centro de conspiração e sabotagem para desestabilizar o governo.

Estadão

‘Pronto para liderar esse projeto’, assume Moro sobre candidatura à presidência da República em 2022

Ex-ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro foi o convidado do programa Conversa com Bial, da madrugada desta terça-feira, 16. Recém-filiado ao Podemos, o ex-juiz da Operação Lava Jato disse estar preparado para ser candidato à presidência da República em 2022. “Estou pronto para liderar esse projeto consistente com o povo brasileiro. Se o povo brasileiro tiver essa confiança, o projeto segue adiante”, declarou.

Porém, informou que também aceitaria renunciar ser “cabeça de chapa”. “Nunca tive a ambição de cargo político. Existem outros nomes que têm se habilitado para fugir dos extremos. Então, se tiverem outras lideranças, não tem nenhum problema de conversarmos. Temos que ter o desprendimento necessário para nos unirmos em algum momento”, apontou.

Ao ser questionado pelo apresentador Pedro Bial se isso seria o anúncio da candidatura, enfatizou: “Essa jornada começa agora com a filiação. Estamos aberto para colocar o Brasil nos trilhos. Vai muito além do combate à corrupção. Precisamos nos tornar o país do futuro finalmente. Estou sim preparado”.

Logo na abertura da conversa, o jornalista transportou Moro de “herói nacional” para “vilão ao se tornar avalista moral do presidente Jair Bolsonaro”. “Gostei da introdução, todo mundo gosta de um bom filme. Não sei se concordo com a característica de vilão”, ponderou. Ao ser indagado se o problema seria apontar o vilão ou procurar os heróis, respondeu: “Precisamos de bons líderes, mas que construam instituições que incentivem a construção de grandes líderes”.

Bial então citou uma entrevista dada ao Estadão em 2016, em que ele respondeu que “jamais seria candidato”. Na época, Moro afirmou ser “um homem da Justiça”. “Naquele momento, o que vimos foi um Brasil vencendo a corrupção. Estávamos virando o jogo. Estava focado no meu trabalho e acreditava que o jogo iria virar”, defendeu-se.

“No entanto, em 2018, tive a oportunidade de virar ministro da Justiça e encarava como missão por um propósito maior. Porém, quando o governo boicotou o projeto de combate à corrupção, passou a adotar um comportamento de, ao invés de coibir, interferir, saí do governo. Estamos perdendo o que construímos a duras penas na Operação Lava Jato”, reforçou.

Moro argumentou que foi convidado pelo Podemos para liderar um projeto de País e recuperar o que chama de “sonhos perdidos”. “Não faltei com a verdade naquele momento, mas o contexto mudou completamente”. Para ele a decisão pela filiação surgiu após uma palestra nos EUA em que ouviu de um participante que “abandou o Brasil”. “Foi um tiro no meu coração. Estava cogitando há muito tempo”.

Indagado novamente se será candidato, declarou: “O que eu disse no meu discurso é que não me omitirei. Estou preparado para assumir a liderança desse projeto. Sinto-me habilitado a construir esse projeto”, insistiu.

A entrada no partido ocorreu no último dia 10 de novembro. Na cerimônia, o ex-ministro da Justiça prometeu ainda criar uma nova força-tarefa para o combate à pobreza, defendeu a liberdade de imprensa e reforçou a necessidade de reformas – especialmente a tributária – e a privatização de estatais ineficientes.

Afastado do debate nacional desde que deixou Ministério da Justiça em abril de 2020 quando foi atuar em uma empresa de consultoria nos Estados Unidos, o ex-juiz tenta agora conseguir apoio nas bases “lavajatistas”, incluindo grupos que lideraram as manifestações pelo impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff (PT), como o Vem Pra Rua e o Movimento Brasil Livre (MBL).

Bial perguntou também de que forma ele tem feito esta movimentação no bastidor político. Moro explicou que tem apoio de um grupo de especialistas e que as conversas estão voltadas principalmente à economia.

“O problema é que esse projeto ainda está sendo construído e a partir do momento em que se revelam nomes, as pessoas ficam sob uma pressão terrível. Eu vou revelar um, e vou pedir escusas para não revelar outros: no nível macroeconômico quem tem me ajudado é um economista de renome, um dos melhores nomes do país, alguém que eu conheço há muito tempo, que é o Affonso Celso Pastore”, disse.

Pastore é doutor em economia, colunista do Estadão e foi presidente do Banco Central de 1983 até 1985, período da Ditadura Militar. Recentemente, lançou o livro “Erros do passado, soluções para o futuro: A herança das políticas econômicas brasileiras do século XX”.

Interferência em 2018

No papo, Moro voltou a negar interferência no processo eleitoral de 2018 e reafirmou que aceitou o cargo de ministro da Justiça e Segurança Pública do governo Bolsonaro acreditando “ser a chance de ajudar o povo brasileiro”. Pontuou ainda não ter uma “questão pessoal” com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. “Fiz meu papel de juiz e apliquei a lei”.

Quanto a anulação das condenações criminais de Lula na Operação Lava-Jato pelo ministro Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal (STF), em março deste ano, ele considerou que a mudança de jurisprudência do STF “infelizmente enfraqueceu o combate à corrupção”. “Mas não muda o mérito. O que existe, muitas vezes, é um apego ao formalismo, que faz com que criminosos sejam soltos. Não acredito em processos alternativos. A verdade é uma só: ‘Mensalão’ e ‘Petrolão’. E agora ‘Rachadinha'”, elencou.

Em um “bate-bola”, falou que para controlar o aumento do preço dos combustíveis é preciso a institucionalização de políticas certas. “A responsabilidade está muito clara que é do governo”. E em relação às terras indígenas, Moro reforçou ser necessário garantir a autonomia destes para decidam seus próprios destinos. “Não devem ser encarados como dependentes do Estado. Precisam de amparo e proteção, mas com soluções específicas para cada situação. As terras indígenas pertencem aos indígenas”, finalizou.

A entrevista fez parte da série e entrevistas que a atração global está promovendo com personagens importantes para o pleito do ano que vem. Já passaram pelo programa personalidades como Fernando Haddad e Ciro Gomes.