Clipping 19 de julho de 2021
Manchetes
Máquina federal tem enxugamento de pessoal e gastos (Folha)
Pagamento de multa ambiental cai 93% no governo Bolsonaro (Estadão)
Reforma eleitoral reduz fiscalização sobre partidos (O Globo)
Lucro vem forte no 2º tri, mas inflação e energia preocupam (Valor)
Valor
Acordo com UE reduz alíquota de carro em 50%
Redução tarifária deve beneficiar café solúvel brasileiro, que deixa de pagar 9% após 4 anos
O Brasil abrirá uma cota de importação anual de 32 mil veículos da Europa com tarifa de 17,5%, ou seja metade da alíquota normal, por sete anos, a partir do momento em que o acordo Mercosul-União Europeia (UE) entrar em vigor. Depois dos sete anos com cota, começará a desgravação (mecanismo de redução) da tarifa até chegar a zero nos oito anos seguintes nesse setor.
A área automotiva é considerada uma das mais importantes no acordo. Por sua vez, o café solúvel brasileiro, que é muito exportado para a Europa, terá acesso sem tarifa nos 27 países da UE quatro anos depois da entrada em vigor do acordo birregional. A tarifa atualmente é de 9%, muito alta para os padrões europeus. E, com sua eliminação, o produto brasileiro com valor agregado poderá ganhar mercado.
Essas informações foram detalhadas na sexta-feira, pela primeira vez, ao mesmo tempo pelos países do Mercosul e pela União Europeia, com a publicação dos cronogramas de redução tarifária e dos compromissos em matéria de serviços e compras públicas pelo acordo birregional.
O objetivo claramente é de buscar algum “movimento” e que não pareça que o acordo está paralisado, apesar da resistência de alguns Estados-membros europeus, que se dizem inquietos com os problemas ambientais no Brasil. A União Europeia e o Mercosul querem mostrar que há enormes oportunidades de negócios no acordo birregional e que não podem ser perdidas.
O exemplo do ganho para os produtores de veículos europeus ilustra isso. A liberalização no Mercosul será em 15 anos no total. Nos primeiros sete anos, o bloco dará cota para entrada de 50 mil veículos europeus com uma vantagem preferencial de 50%. Ou seja, o carro europeu (dentro da cota) será submetido à alíquota de 17,5%, enquanto o carro dos EUA ou do Japão vai continuar pagando 35%.
Essa cota de 50 mil foi distribuída entre os países do Mercosul de acordo com o comércio histórico. É por isso que a cota brasileira é maior, de 32 mil veículos. A Argentina dará cota de 15,5 mil, o Uruguai, de 1.750, e o Paraguai, de 750 veículos. As importações fora da cota continuarão com tarifa de 35%, até que comece a desgravação. De outro lado, a cota de 99 mil toneladas para exportação de carne bovina do Mercosul para a UE é conhecida. O que é menos é o ganho para produtos já bastante comercializados, como o café solúvel para o Brasil, e que, portanto, tendem a aumentar mais seu faturamento.
Além disso, o potencial é significativo para frutas brasileiras, um nicho do comércio internacional que tem um dos maiores potenciais de crescimento. Para uva de mesa procedente do Mercosul, por exemplo, a eliminação da tarifa na UE será imediata.
Acordo significa troca recíproca, queda de tarifas para as empresas de cada bloco. Por isso, uma coalizão de 13 importantes associações industriais da Europa recentemente levantou a voz conclamando os governos europeus a uma ratificação rápida do acordo comercial com o Mercosul. As associações alertaram que um fiasco na ratificação do acordo deixaria a UE e o Mercosul “com menos instrumentos para construir confiança mútua e cooperar para enfrentar o maior desafio do nosso tempo”. E que a não ratificação levará Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai, os sócios do Mercosul, a continuar ou mesmo a expandir seu comércio com outros parceiros com padrões ambientais e trabalhistas substancialmente mais baixos.
A manifestação ilustra o temor de a Europa perder mais negócios em proveito da China na região. Em comunicado, o Itamaraty diz que, em razão do interesse público nas negociações concluídas entre o Mercosul e a União Europeia, os dois lados decidiram publicar os cronogramas de liberalização recíproca. Ressalva que os documentos não são definitivos e poderão sofrer modificações adicionais em decorrência do processo de revisão formal e jurídica, ainda em andamento.
O acordo será vinculante para as partes, conforme o direito internacional, somente após a conclusão dos procedimentos legais internos necessários para a entrada em vigor. Na prática, um movimento pode ser esperado do lado da UE depois da eleição presidencial francesa do ano que vem. Os detalhes da desgravação estão na página do Ministério das Relações Exteriores: www.gov.br/mre
Automotive Business
Volkswagen estende férias coletivas em Taubaté
Grupo formado por 800 funcionários ficará mais dez dias em férias por causa da falta de semicondutores
A Volkswagen prorrogou por mais dez dias as férias coletivas de parte do quadro de funcionários da fábrica de Taubaté (SP). O anúncio foi feito pelo sindicato dos metalúrgicos do município na sexta-feira, 16. As coletivas começaram no dia 12 de julho, por um período de 20 dias, para cerca de 2 mil trabalhadores. Já a extensão de dez dias será para aproximadamente 800 trabalhadores, informou o sindicato.
A interrupção na produção acontece por falta de semicondutores, que afetou, na unidade, a produção dos modelos Volkswagen Gol e Voyage. Este é o segundo período de férias concedido por falta de componentes no ano. O primeiro foi de 7 a 16 de junho. A fábrica está sendo preparada para produzir um novo modelo sobre o chassi modular MQB. Por causa dessas adaptações, houve uma parada técnica na unidade entre 3 e 12 de maio.
Afora Taubaté, a unidade Anchieta, em São Bernardo do Campo (SP), também será paralisada por falta de semicondutores a partir do dia 19 de julho, por 20 dias. Naquela unidade são produzidos os modelos Nivus, Polo, Virtus e Saveiro.
Automotive Business
Com fábricas paradas, julho tem pior quinzena do ano
Foram emplacados apenas 75,7 mil veículos leves, em queda de 6%
Com muitas fábricas paradas ou em ritmo reduzido por causa da falta de componentes eletrônicos, o mercado de veículos leves registrou sua pior primeira quinzena do ano, com apenas 75.743 emplacamentos registrados, segundo números repassados pela Autoinforme e Bright Consulting. O volume representa queda de 6% na comparação com o mesmo intervalo de 11 dias úteis de junho. A média diária de licenciamentos no período também é a mais baixa de 2021 até gora, de 6.886 por dia útil – média menor do que esta só foi registrada em junho de 2020 (5.507/dia no mês todo).
Se continuar assim, a Bright projeta que julho tende a fechar com o total de 156,6 mil automóveis e comerciais leves emplacados, o que será o pior resultado mensal do ano, comprometendo as expectativas de recuperação do mercado após o impacto da pandemia em 2020.
A paralisação de fábricas por falta de semicondutores está diretamente ligada ao resultado fraco da primeira quinzena de junho. Dois dos três maiores fabricantes, General Motors e Volkswagen, estão com quase todas as suas linhas de produção de paradas. Com menos interrupções em suas plantas no País, as marcas do Grupo Stellantis, principalmente Fiat e Jeep, saltaram à frente da concorrência.
FIAT AUMENTA DOMÍNIO, GM E VW DESPENCAM
Com isso, a Fiat dominou quase 26% dos emplacamentos, 3,6 pontos porcentuais acima do market share acumulado no primeiro semestre de 22,2%, e vendeu o dobro da Volkswagen na primeira quinzena de julho, 19.536 carros contra 9.294. A marca alemã segue em segundo no ranking, mas perdeu quatro pontos porcentuais de participação, ficando com 12,4% das vendas, contra 16,6% na soma janeiro-junho.
Gerenciando melhor a crise e sem interrupções significativas na produção, a marca que mais ganhou participação de mercado na primeira quinzena foi a Toyota, quatro pontos porcentuais, subindo a 11,8% e ao terceiro lugar em vendas com 8.920 emplacamentos, na comparação com o share de 7,8% e sexto lugar no primeiro semestre.
Quem mais perdeu até agora foi a GM, com sua fábrica de Gravataí (RS) parada desde março e a de São Caetano do Sul com produção interrompida por seis semanas desde o fim de junho. A fabricante está na sétima posição do ranking da primeira quinzena de julho, com apenas 7% de participação e 5.292 emplacamentos.
Apesar das paralisações e cortes de turnos na fábrica de Piracicaba (SP), a Hyundai ganhou 0,6 ponto porcentual de participação nos primeiros 15 dias de julho, com 7.329 carros vendidos e 10,1% das vendas totais, ficando na quarta posição entre as marcas mais vendidas no período. A Hyundai tende a ganhar tração e recuperar terreno com a retomada da produção em três turnos na segunda quinzena do mês.
A Jeep ficou estável na quinta posição do ranking quinzenal com 7,3% das vendas e 5.507 emplacamentos, seguida de perto pela Renault com 5.406 e 7,1%. Depois da GM em sétimo, fecham a lista de 10 marcas mais vendidas na primeira meta de julho a Honda (2.729), Nissan (2.301) e Caoa Chery (1.664).
Confira abaixo as 10 marcas mais vendidas da primeira quinzena de julho:
1º Fiat – 19.536 / 2º Volkswagen – 9.294 / 3º Toyota – 8.920 /4º Hyundai – 7.329 / 5º Jeep – 5.507 / 6º Renault – 5.406 / 7ºGM – 5.292 / 8º Honda – 2.729 / 9º Nissan 2.301 / 10º Caoa Chery – 1.664
Automotive Business
Hyundai volta a produzir em 3 turnos antes do previsto
Fábrica de Piracicaba (SP) vai retomar ritmo de operação uma semana antes do programado
Um dia após anunciar a volta ao trabalho em apenas um turno, a Hyundai Motor Brasil emitiu novo comunicado, por meio do qual informa que vai retomar a operação da fábrica de Piracicaba (SP) em três turnos a partir da segunda-feira, 19, uma semana antes do previsto inicialmente.
Apesar da medida, a fabricante deixou claro que não estão descartadas outras interrupções no futuro, como informou em texto enviado à imprensa especializada: “A empresa segue monitorando a situação de instabilidade no fornecimento de componentes eletrônicos e tomará as medidas necessárias para adaptar, sempre que necessário, os volumes de sua produção”.
Vale lembrar que o Hyundai HB20 segue como um dos automóveis mais vendidos no País, tendo sido o segundo modelo mais emplacado em junho, com 7,6 mil unidades e o líder em licenciamentos no acumulado de janeiro a junho, com mais de 45 mil exemplares comercializados. Já o Creta, o SUV compacto que também é produzido na unidade de Piracicaba, foi o sétimo tanto no ranking mensal quanto no do semestre.
Veja abaixo o comunicado oficial divulgado pela Hyundai nesta sexta-feira, 16.
“A Hyundai Motor Brasil antecipa o retorno da produção dos 2º e 3º turnos de sua fábrica em Piracicaba (SP) de 26 de julho para 19 de julho. O 1º turno já havia retornado em 15 de julho. A empresa segue monitorando a situação de instabilidade no fornecimento de componentes eletrônicos e tomará as medidas necessárias para adaptar, sempre que necessário, os volumes de sua produção.”
UOL Carros (Coluna Primeira Classe)
Como Ford foi de grande montadora a marca de nicho em seis meses
Rafaela Borges
O início do ano marcou uma reviravolta na história da Ford no Brasil. Uma das marcas mais antigas a produzir carros no País, a norte-americana decidiu fechar todas as suas fábricas locais, e se tornar uma importadora de veículos.
As vendas da Ford eram baseadas, até então, em três modelos do segmento compacto: o hatch Ka, o três-volumes Ka Sedan e o SUV EcoSport. O primeiro era um dos veículos mais emplacados do Brasil, enquanto os outros dois também tinham desempenho bem relevantes.
Porém, eles deixaram de ser produzidos com o fechamento das fábricas, e a Ford iniciou um processo de reposicionamento no mercado brasileiro. Afinal, apenas com importados, a empresa de modelos populares passou a ter a missão de se transformar em uma importadora de modelos caros.
Atualmente, o Ford mais em conta à venda no Brasil é a Ranger, cuja versão mais em conta sai por R$ 180 mil. Um valor muito distante do cobrado pelo Ka, que concorria no segmento de carros de entrada, com tabela inicial em torno de R$ 50 mil. Seis meses após o início dessa transformação, já dá para tirar algumas conclusões sobre a primeira fase dessa nova Ford.
Queda acentuada
A queda de participação no ranking de vendas já era esperada, mas não deixa de ser um choque. Até o início da década passada, a Ford tinha uma firme posição como uma das chamadas quatro grandes montadoras do Brasil.
Desse grupo fazem parte também a Fiat, a Volkswagen e a Chevrolet. No decorrer da década passada, a quarta posição da Ford já não era mais garantida. A primeira a superá-la foi a Hyundai, e depois a Toyota e a Renault também passaram a brigar com a norte-americana por essa colocação. Ainda assim, a Ford continuou nessa briga e, em alguns anos, chegou a ocupar novamente o quarto lugar. Em 2020, a empresa foi a quinta marca que mais vendeu carros no mercado brasileiro.
Encerrado o primeiro semestre do ano, a Ford caiu para a décima colocação. No entanto, essa posição ainda não reflete a nova realidade da marca, pois soma os estoques de Ka, Ka Sedan e EcoSport vendidos em alto volume nos dois primeiros meses de 2021. A posição mais real é a obtida em junho: 13ª. Isso porque atualmente o carro da Ford mais vendido não chega a mil unidades mensais. Trata-se da Ranger, que somou 747 emplacamentos no mês passado.
O segundo mais vendido é o Territory (432). O Ka, ainda com unidades em estoques, somou 370 unidades, enquanto o Bronco Sport teve 250 emplacamentos – com potencial para melhorar, já que o carro é recém-lançado. Além de Ranger, Territory e Bronco Sport, a Ford vende no Brasil o Edge ST e o Mustang Mach 1.
Qual é a principal rival
A nova ordem mundial da Ford é investir em SUVs e picape, e a linha disponível no Brasil vai seguir essa linha. Com exceção do Mustang, os demais modelos são dessas categorias. No ranking de junho, a Ford ficou atrás de Peugeot e Citroën, e uma posição à frente da Mitsubishi, quase em um empate técnico. Foram 1.974 unidades para a norte-americana e 1.842 para a japonesa.
Ambas não estão distantes da marca de luxo BMW, que somou pouco mais de 1.400 emplacamentos no mês passado. Mas dificilmente a Ford vai concorrer nessa nova fase com a alemã e outras marcas de luxo, como Mercedes-Benz, Audi, Volvo e Jaguar Land Rover.
Mundialmente, essas montadoras são especializadas em modelos de luxo e, embora os Ford agora disponíveis estejam requintadas, o posicionamento histórico da norte-americana não é premium. Por isso, pela linha de produtos e posição no ranking, a principal adversária da Ford daqui em diante deverá ser a Mitsubishi. A japonesa monta carros no Brasil, mas não tem preços muito diferentes dos da norte-americana.
Além disso, a linha da Mitsubishi é formada por SUVs e picapes, com bastante foco no 4×4. O lançamento do Bronco Sport deixou claro que, em sua nova linha, a Ford também pretende investir pesado no universo off-road. Até o fechamento desta reportagem, a marca ainda não havia respondido as questões sobre seu novo posicionamento.
Os próximos passos
Por enquanto, a Ford confirmou que seu próximo lançamento será a van Transit. Mas, extra-oficialmente, três outros modelos já têm passaporte carimbado. Um deles é o Bronco, o Wrangler da Ford. Enquanto a versão Sport é menor, e tem tanto características para o fora de estrada quanto para o uso confortável no dia a dia, o Bronco é um modelo mais preparado para o fora de estrada pesado, como o Jeep.
Outro carro que estará em breve no mercado nacional é a emblemática F-150, veículo mais vendido nos Estados Unidos. Por aqui, a missão será concorrer com a Ram 1500. Também está a caminho o primeiro carro elétrico da Ford, o SUV Mustang Mach-E.
Automotive Business
Venda de carros cresce mais de 18% na Europa
Números de junho mostram que a crise dos semicondutores parece ainda não ter afetado o setor; no semestre, avanço foi ainda maior, de quase 25%
De acordo com o balanço mensal divulgado pela Acea – associação das montadoras europeias, o setor por lá não tem muito do que reclamar em termos de vendas, já que as fabricantes da região (União Europeia, Reino Unido e Efta – Islândia, Liechtenstein, Noruega e Suécia) contabilizaram crescimento de 18,3% no número de veículos de passeio comercializados em junho, com 1,282 milhão de unidades, contra 1,084 milhão que foram vendidos em maio.
O total de automóveis licenciados no mercado europeu no primeiro semestre apresentou números ainda melhores, com alta de quase 25% na comparação com o mesmo período do ano passado – que, vale lembrar, foi bastante impactado pela pandemia. Ainda assim, os números chamam a atenção, com 6,486 milhões de exemplares emplacados de janeiro a junho deste ano, frente aos 5,204 milhões registrados nos seis primeiros meses de 2020.
Em relação às montadoras, o grupo Volkswagen continua no topo do ranking, com 26,9% de participação nas vendas no Velho Continente, mantendo boa vantagem sobre a Stellantis, segunda colocada com 20,2%. Renault (9,9%), Hyundai (8,2%) e BMW (6,9%) completam a relação dos cinco maiores grupos de montadoras em vendas no mercado europeu em junho.
Valor
Fábrica na Bahia ganha espaço no plano global da Bridgestone
Unidade de Camaçari poderá produzir todo portfólio do grupo
A transição do setor automotivo dos motores a combustão para os carros elétricos criou grandes desafios para os fornecedores. Na fabricante japonesa de pneus Bridgestone significou a busca por produtos mais tecnológicos que atendam esses novos veículos, mas sem abandonar a oferta dos produtos tradicionais durante este período de mudança.
Se já é possível ver os veículos elétricos nas ruas da China ou dos países da Europa, na América do Sul eles ainda são raros. Isso obriga a manter uma gama maior de produtos e gera custos. Nesse contexto, a produtividade e a flexibilidade das fábricas se tornou um diferencial para receber novos investimentos. Foi isso que pesou na decisão da matriz ao destinar R$ 700 milhões para ampliação e modernização da unidade de Camaçari, na Bahia, anunciada no fim de junho. No Brasil, a empresa tem outra fábrica de pneus em Santo André (SP) e duas de bandas de rodagem, em Campinas (SP) e Mafra (SC).
O presidente da Bridgestone para a América do Sul, Fabio Fossen, conta que a fábrica baiana disputou novos investimentos do grupo com outras unidades no mundo. A decisão final foi tomada ainda em 2020, em meio às incertezas da pandemia, dentro de uma estratégia de longo prazo do grupo. Com isso, Camaçari entra na lista de fábricas aptas a produzir e exportar qualquer pneu oferecido pelo grupo, para qualquer veículo.
“A fábrica de Camaçari está entre as três mais produtivas das Américas, incluindo Estados Unidos e Canadá. É uma unidade que nasceu com o conceito 4.0 quando nem se falava neste termo. Tem grande grau de automação e conseguimos reduzir o consumo de água e energia e a emissão de CO2”, afirma Fossen.
A unidade foi inaugurada em 2006 e sua capacidade de produção vai passar de 3,5 milhões para 4,3 milhões de pneus por ano, 23% de aumento. A fábrica de Santo André foi construída na década de 40. Com passagem por empresas de consumo como Ambev e Coca-Cola Femsa e a consultoria Booz Company, Fossen chegou à Bridgestone do Brasil em 2014 justamente com o objetivo de reestruturar a companhia para as transformações que as montadoras anunciavam. “Em 2015, apenas 15% do nosso portfólio tinha menos de três anos de lançamento. Em 2018 o índice já estava em 90%”, conta.
Foi também em 2018 que ele assumiu o comando dos negócios na América do Sul, que inclui uma fábrica na Argentina. Fossen faz coro a outros presidentes de multinacionais instaladas no país e admite que “vender” o Brasil para as matrizes e aprovar investimentos nem sempre é tão simples. Um dos principais entraves continua sendo a estrutura fiscal e tributária, considerada complexa e que sofre mudanças constantes. “Temos de disponibilizar recursos e tempo para atividades que não agregam valor”, lamenta.
A operação brasileira também enfrentou neste ano o mesmo aumento de insumos que o restante das operações da Bridgestone no mundo, com a alta das commodities elevando preços da borracha, do aço e dos produtos químicos. Mas essa inflação, no país, lembra o executivo, acabou sendo agravada pela desvalorização do real no primeiro semestre e “quem paga a conta no final do dia” é sempre o consumidor.
Por outro lado, o executivo desta que um país com 220 milhões de habitantes tem potencial de consumo muito grande. “Qualquer melhora de renda provoca uma forte reação de consumo.” Fossen afirma que a produção em Camaçari já estava no limite desde 2016, o que reforçava a necessidade da expansão.
Como são as montadoras que indicam o caminho para a Bridgestone, a empresa mantém três centros de pesquisa – Japão, Estados Unidos e Itália – para atender as necessidades do setor automotivo. Na unidade de Santo André existe um braço de pesquisa que responde ao centro instalado nos Estados Unidos.
Fossen admite que os modelos elétricos e os autônomos abrem desafios, mas ressalta que o objetivo será sempre o mesmo independente do que impulsione um carro, caminhão ou ônibus: fazer o veículo rodar. “Afinal, produzimos o único componente que liga a máquina ao chão.”
Folha de SP
Máquina federal tem enxugamento inédito de servidores
Taxa de reposição de funcionários é a menor da série histórica
A máquina pública federal clássica no Brasil, que inclui ministérios, fundações e agências reguladoras, além órgãos tradicionais como INSS, IBGE, Ibama e Incra, entre outros, passa por um fase inédita de enxugamento. A taxa de reposição dos funcionários que se aposentam é a menor da série histórica. Na média dos últimos três anos, apenas 11,6 mil novos servidores foram contratados.
Participam hoje dessa engrenagem 208 mil servidores públicos estatutários. No auge, em 2007, eles eram 333,1 mil, com direito a estabilidade e planos de progressão automática em suas carreiras, segundo dados do Painel Estatístico de Pessoal (PEP), do governo federal.
A diminuição se acentuou nos últimos anos, com a aprovação do teto de gastos, em 2015, e no governo Jair Bolsonaro (sem partido), que restringiu as contratações e congelou os vencimentos dos servidores. A partir do governo Michel Temer (2016-2018), que instituiu o teto de gastos, houve redução no ritmo de aumento da despesa anual com servidores.
No governo Bolsonaro, de modo inédito, a despesa com servidores civis na ativa está caindo, embora o presidente acene com algum reajuste antes da eleição, em 2022, e tenha dado aumento aos militares, sua base de apoio, a partir de 2019.
Os salários e encargos do funcionalismo federal civil ativo e inativo neste ano somam R$ 335,4 bilhões, R$ 2 bilhões a menos do que no primeiro ano de Bolsonaro, segundo dados da Secretaria do Tesouro Nacional corrigidos pela inflação.
Nos últimos sete anos, áreas importantes como Ministério da Saúde, INSS, IBGE e Ibama perderam entre um terço e a metade dos servidores. “A máquina federal foi obrigada a ganhar mais eficiência e a se informatizar, compensando a falta de pessoal em algumas áreas”, afirma Cláudio Hamilton dos Santos, economista do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), órgão que perdeu 30% dos servidores em sete anos.
Outras áreas importantes, como o Ibama (-40% funcionários em sete anos) e o INSS (-50%), no entanto, têm registrado gargalos. A fila de pedidos para aposentadoria e outros benefícios no INSS chega a 1,9 milhão de pessoas, incluindo mais de 400 mil com restrições na documentação.
“A não reposição neste momento se explica pela expectativa de aprovação da reforma administrativa, que possibilitaria contratar servidores com regras menos rígidas do que as atuais, que incluem estabilidade, salários iniciais elevados e progressões automáticas na carreira”, diz Santos.
O encolhimento da máquina acelerou durante a tramitação da reforma da Previdência, aprovada em 2019, e que levou a uma onda de aposentadorias no setor público. Nos últimos sete anos, o total de inativos na folha de pagamento federal saltou de 384,2 mil para 426,5 mil.
A única área do governo federal que cresceu no período, mas que não participa diretamente da máquina administrativa, é a das universidades e institutos técnicos federais. Voltado à educação e à formação técnica, o setor cresceu a partir do início do governo Dilma Rousseff, em 2011, ganhando cerca de 30% mais servidores estatutários desde então.
Para Simon Schwartzman, pesquisador associado do Instituto de Estudos de Política Econômica e ex-presidente do IBGE, houve inchaço além do necessário nessa área, em termos de pessoal estatutário, além de desvirtuamento, à medida em que muitos institutos técnicos passaram a atuar como faculdades.
Em sua opinião, muitas das contratações, sobretudo de pessoal administrativo, poderiam ter sido feitas via organizações sociais (OS) ou em regime de CLT, a exemplo de escolas técnicas estaduais, como as Fatecs e Etecs paulistas.
Universidades e institutos técnicos federais têm hoje 269,7 mil funcionários, mais do que a máquina pública federal tradicional (208 mil), que toca o dia a dia do país. “Os institutos federais passaram a ser um equívoco, com pressões para que se tornem universidades, com gastos concentrados em salários, mas com pouca verba de custeio e equipamentos em mal estado”, diz Schwartzman.
Somando-se os funcionários da máquina pública clássica e os das universidades e institutos técnicos, o Brasil tem hoje 477,8 mil servidores permanentes na ativa. Mesmo assim, eles são 10% menos do que há sete anos —sobretudo devido ao enxugamento da máquina tradicional.
O economista Luiz Carlos Bresser-Pereira, ex-ministro da Administração Federal e Reforma do Estado (1995-1998), diz que o aumento da oferta de cursos técnicos foi positivo. “Mas é pena que isso tenha sido feito via servidores estatutários.” Em sua opinião, é fundamental que o Brasil reduza a diferença nas vantagens e na remuneração dos funcionários públicos em relação aos privados.
Segundo o relatório “Um Ajuste Justo: Análise da eficiência e equidade do gasto público no Brasil” (2017), do Banco Mundial, o prêmio salarial para os servidores federais no país, na comparação com seus equivalentes (inclusive por escolaridade) no setor privado chega a 67%. A diferença é menor para os servidores estaduais (31%) e irrelevante no caso dos municipais.
O Banco Mundial enfatiza que o Brasil não apresenta necessariamente um número excessivo de funcionários públicos na comparação internacional, mas que o problema são as vantagens que eles têm em relação aos demais trabalhadores.
Para Roberto Olinto, ex-presidente do IBGE, o ideal seria que muitas áreas do setor público tivessem um corpo estatutário protegido pela estabilidade, servindo de núcleo, e que contratasse outros funcionários de modo mais flexível. Na prática, com o enxugamento da máquina, isso já vem ocorrendo em algumas áreas.
No IBGE, cerca de 5.000 funcionários são contratados há mais de uma década por períodos máximos de três anos para realizar pesquisas. “Mas há carência de concursados em áreas estratégicas. Em 2018, tentei abrir 1.800 vagas para repor pessoal. Não consegui”, afirma Olinto.
O economista Marcos Mendes, pesquisador associado do Insper, afirma, porém, que a contenção nos aumentos de salários e nas contratações de servidores não deve ser sustentável. “Isso anda em ondas, com dois ou três anos de represamento para depois haver uma recomposição”, afirma. “A pressão por reajustes refluiu diante da prioridade no combate à Covid, mas tende a voltar com força no ano eleitoral.”
Na quinta (15), a Comissão Mista de Orçamento aprovou o relatório do projeto de Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) para 2022. Nele, foi mantido dispositivo que autoriza o governo a conceder, se quiser, reajuste a servidores federais no ano que vem.
Segundo Luís Cláudio de Santana, secretário de Comunicação da Condsef (Confederação dos Trabalhadores no Serviço Público Federal), vários setores do funcionalismo já se organizam para pleitear aumentos em 2022.
Com o slogan “Cancela a Reforma Já”, a Condsef é contra a reforma administrativa proposta pelo governo Bolsonaro, que prevê, entre as mudanças, o fim da estabilidade para novos servidores. “O que deveria estar em discussão é como melhorar a eficiência do serviço público”, afirma Santana. “Existem 255 carreiras e planos de cargos e 301 tabelas salariais. Isso é ineficiente e desnecessário, mas não é o que está sendo discutido na reforma, que deixaria isso para depois, via projeto de lei.”
Sobre a forte diminuição nas contratações nos últimos anos, Santana diz que a digitalização da burocracia no serviço público não compensou a falta de servidores na maioria dos órgãos, e que novos concursos públicos deveriam ser realizados.
Valor
Covid-19 para de cair em sete capitais e sobe em quatro
Quadro preocupa e especialistas alertam para fato de que menos de 20% da população foi totalmente imunizada
Os indicadores da covid-19 têm arrefecido em meio ao avanço da vacinação, mas duas análises divulgadas na última semana apontam que o país ainda passa por um momento de incerteza sobre o futuro da pandemia. A estabilização do número de casos e mortes em algumas regiões do país acende um alerta, afirmam pesquisadores, na medida em que a imunização com a segunda dose ainda atinge menos de 20% da população e enquanto aumentam os casos de circulação da variante Delta.
De acordo com o boletim InfoGripe, da Fiocruz, embora o quadro no país seja de predomínio de queda ou estabilidade nos casos e óbitos por Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG), quatro capitais – Manaus, Macapá, Porto Alegre e Vitória – registram alta nesses indicadores, enquanto outras sete – Brasília, Florianópolis, João Pessoa, Recife, Rio Branco, Rio de Janeiro e Teresina – indicam interrupção da tendência de queda ou manutenção de platô.
A análise foi feita com dados coletados até o dia 12 de julho. Cerca de 98% dos casos de SRAG são de covid-19. Segundo o InfoGripe, 12 das capitais estão em macrorregiões de saúde em que o nível de transmissão do coronavírus é muito alto, dez registram nível extremamente alto, e cinco, nível alto.
Os dados são preocupantes, diz o boletim. O pesquisador Marcelo Gomes, coordenador do InfoGripe, alertou que essa situação deve manter o número de hospitalizações e óbitos em patamares altos, mobilização por parte das autoridades e população com tendência de agravamento nas próximas semanas caso não haja nova.
“Mesmo com essa redução [de casos e mortes], ainda temos a imensa maioria do território em situação gravíssima. Todos os Estados apresentam macrorregiões em nível alto ou superior [de transmissão de coronavírus], sendo que 12 Estados e o Distrito Federal apresentam macrorregiões em nível extremamente elevado”, afirmou Gomes em nota. “Isso evidencia a necessidade de manutenção de medidas de mitigação da transmissão”, conclui o texto do pesquisador.
Gomes destacou a necessidade de reavaliar as flexibilizações já implementadas nos Estados com sinal de retomada do crescimento ou estabilização ainda em patamares elevados. Em outra análise sobre a tendência da pandemia, o coordenador de dados da Rede Análise Covid-19, Isaac Schrarstzhaupt, afirma que alguns locais apontam indícios de reversão de tendência de casos. Espírito Santo, Mato Grosso e Bahia são os Estados que mais apontam nessa direção. O Rio de Janeiro apresenta uma estabilização, mas num nível alto.
O cálculo feito pelo especialista leva em conta a média móvel de sete dias da taxa de crescimento de casos e óbitos. “Estamos vendo indícios bem iniciais de reversão e emitimos um alerta por precaução”, afirma Schrarstzhaupt. Ele pondera que em ocasiões anteriores o movimento começou com desaceleração da queda, estabilização e aumento de casos e mortes, mas há um elemento novo agora: o avanço da vacinação é o principal, que muda a proporção entre casos e mortes vista anteriormente.
As vacinas barram o agravamento da doença nas pessoas infectadas e reduzem as mortes por covid. Por outro lado, há o fator Delta. Na sexta-feira, a Secretaria da Saúde do Estado de São Paulo informou que dois pacientes do interior de São Paulo foram diagnosticados com a variante. São três os casos confirmados da nova cepa no Estado.
No país, o número se aproxima de cem. Os novos casos foram confirmados em um homem, de 44 anos, que mora em Pindamonhangaba, e em uma mulher, de 30 anos, de Guaratinguetá. Os dois tiveram apenas sintomas leves. Os municípios e o governo estadual ainda estudam se houve transmissão comunitária nesses casos. Na semana passada, o Rio de Janeiro também confirmou a transmissão comunitária da variante Delta no Estado – são 74 casos confirmados.
Folha de SP
Bolsonaro defende Pazuello sobre reunião com intermediária e diz que ‘propina, é pelado dentro da piscina’
Folha revelou que, fora da agenda, general prometeu comprar 30 milhões de doses da vacina chinesa Coronavac
Em entrevista neste domingo (18) logo após ter recebido alta hospitalar, o presidente Jair Bolsonaro culpou os lobistas e disse que “lá em Brasília não falta gente tentando vender lote na lua” para defender o general Eduardo Pazuello, seu ex-ministro da Saúde.
“Quando fala em propina, é pelado dentro da piscina”, e não gravando vídeo de um encontro com representantes que diziam ter 30 milhões de doses da chinesa Coronavac para vender, afirmou o presidente em São Paulo.
Reportagem da Folha nesta sexta (16) revelou que, em reunião fora da agenda, Pazuello prometeu a um grupo de intermediadores adquirir o lote dos imunizantes que foram formalmente oferecidos ao governo federal, mas por quase o triplo do preço estabelecido pelo Instituto Butantan.
Apesar de Pazuello ter dito na gravação que havia assinado um memorando de entendimento para a compra, a negociação não prosperou. “O Élcio [Franco, coronel e então secretário-executivo do ministério] trabalhou muito bem nessa questão, não tem um centavo nosso despendido com essas pessoas que foram lá vender vacina”, disse o chefe do Executivo nacional. “Brasília é o paraíso dos lobistas, dos espertalhões. Ou não é?”
Questionado se não era estranho um ministro topar conversar com representantes que se dizem autorizados a vender imunizantes, Bolsonaro afirmou que, se estivesse no ministério, “teria apertado a mão daqueles caras todos”. “Ele não estava sentado à mesa. Geralmente, tira fotografia sentado na mesa negociando. E se fosse propina não dava entrevista, meu Deus do céu, não faria aquele vídeo. Dá para você entender isso aí?”
Bolsonaro disse a jornalistas de São Paulo que todo repórter de Brasília sabe do lobby que se passa na capital federal. “Todos vocês da mídia nos pressionavam por vacinas, então muitas pessoas foram recebidas lá no ministério”, afirmou. “Se você ver o próprio traje do Pazuello, ele tá sem paletó, aquele pessoal se reuniu com o diretor responsável por possíveis compras no ministério, e na saída ele conversou com o pessoal.” “Agora, aquele vídeo… Se fosse algo secreto, negociado superfaturado, ele estaria dando entrevista, meu Deus do céu? Ou estaria escondidinho lá no porão do ministério? É só analisar isso aí.”
Na saída do hospital, sem máscara, Bolsonaro disse que esqueceu o nome do policial militar Luiz Paulo Dominghetti Pereira, que, em entrevista à Folha e depois em depoimento à CPI da Covid, acusou um diretor do ministério de pedir propina de US$ 1 por cada uma das 400 milhões de doses que ofertava da AstraZeneca.
A negociação, considerada fantasma já que nunca houve garantia de conseguir o produto para o governo, resultou na demissão de Roberto Ferreira Dias horas após a entrevista à Folha. “São pessoas que não têm credibilidade nenhuma”, segundo Bolsonaro. “É motivo de orgulho para mim saber que todos esses possíveis contratos não deram mais que um passo.”
A negociação de 11 de março, com Pazuello e tratada por Bolsonaro na entrevista, teve o desfecho registrado em um vídeo em que o general da ativa do Exército aparece ao lado de quatro pessoas que representariam a World Brands, empresa de Santa Catarina que lida com comércio exterior.
A Folha também obteve a proposta da World Brands. Ela oferece os 30 milhões de doses da vacina do laboratório chinês Sinovac pelo preço unitário de US$ 28 a dose, com depósito de metade do valor total da compra (R$ 4,65 bilhões, considerando a cotação do dólar à época) até dois dias após a assinatura do contrato.
Naquela data, o governo brasileiro já havia anunciado fazia dois meses a aquisição de 100 milhões de doses da Coronavac via Butantan, pelo preço de US$ 10 cada. A demissão de Pazuello seria tornada pública quatro dias depois desse encontro.
Além da discrepância no preço, o encontro fora da agenda contradiz o que Pazuello afirmou à CPI, em 19 de maio. Aos senadores o general disse que não liderou as negociações com a Pfizer sob o argumento de que um ministro jamais deve receber ou negociar com uma empresa. “Pela simples razão de que eu sou o dirigente máximo, eu sou o ‘decisor’, eu não posso negociar com a empresa. Quem negocia com a empresa é o nível administrativo”, disse o general à CPI.
No vídeo, um empresário que Pazuello identifica como “John” agradece a oportunidade e diz que podem ser feitas outras parcerias “com tanta porta aberta que o ministro nos propôs”. A reunião dos empresários foi marcada com o gabinete de Elcio Franco.
Segundo ex-assessores da pasta, Pazuello foi chamado à sala, ouviu o relato da reunião e fez o vídeo. Segundo um ex-auxiliar do então ministro, a ideia era propagandear nas redes sociais o avanço em uma negociação, no momento em que o governo era pressionado a ampliar o portfólio de vacinas.
O general da ativa enviou uma nota à Folha na qual afirma que, no período à frente da pasta, “em momento algum” negociou a obtenção de vacinas com empresários, “fato que já foi reiteradamente informado na CPI da Pandemia e em outras instâncias judicantes”.
Encaminhada como “Notificação Extrajudicial”, com pedido de direito de resposta, a nota foi publicada na sequência a toda a imprensa pela Secom (Secretaria de Comunicação Social). A Folha negará. A secretaria afirmou que o mesmo procedimento seria adotado em relação à CNN Brasil e ao jornal O Globo.
Bolsonaro deixou o hospital Vila Nova Star, unidade de elite, acompanhado do apóstolo Valdemiro Santiago (Igreja Mundial do Poder de Deus), aliado evangélico conhecido por usar roupas de caubói. Saiu com disposição de atacar a CPI da Covid (“será que não entenderam que só Deus me tira daquela cadeira?”) e um de seus rivais prediletos, o governador paulista, João Doria. Alfinetou o tucano, que se reinfectou com Covid mesmo tendo se imunizado com a vacina na qual apostou, a Coronavac.
Divulgou sua nova coqueluche contra a Covid, a proxalutamida, um bloqueador de hormônios masculinos (antiandrógeno). Ainda em desenvolvimento, o remédio não tem liberação de uso em nenhum lugar do mundo até o momento. “Nós temos que tentar, como já sempre disse. Na guerra do Pacífico, não tinha sangue para os soldados, e resolveram botar água de coco e deu certo”, acrescentou o mandatário.”
O presidente também foi na jugular do presidente do Tribunal Superior Eleitoral, Luís Roberto Barroso, que desdenha de uma bandeira bolsonarista: o voto impresso. “A tecnologia que está aí é dos anos 1990. Por que essa vontade doida do ministro Barroso de buscar uma maneira de manter o sistema como está?”
Bolsonaro sustenta, sem nunca ter apresentado provas, que a urna eletrônica hoje adotada para as eleições é prato cheio para um pleito fraudulento. Vem dizendo que vai mostrar evidências, mas, até hoje, nada. “Peço aí a Deus que o cidadão que vai demonstrar a vocês a fraude nas eleições esteja bem, ele está com Covid”, disse no domingo.
Ignorando apelos que já partem de sua própria equipe, o mandatário afastou de novo a possibilidade de se vacinar contra a doença pandêmica. Será o último da fila, disse. “Ei como chefe… Aprendi no Exército, primeiro os subordinados, primeiro quem tá atrás de mim. Depois que todos se vacinarem, aí vai chegar a minha vez.”
A fala não tem respaldo científico, já que o presidente, além de ser idoso, e portanto teoricamente mais vulnerável, pode não só adoecer, mas ser um transmissor do coronavírus. Talvez por um “milagre de Deus”, ele não precisou se submeter a uma cirurgia, disse. Não prometeu seguir a dieta recomendada pelo cirurgião Antonio Macedo, líder da equipe que cuidou do quadro de obstrução intestinal que o levou a ser hospitalizado na quarta (14). Diz que “não é exemplo para ninguém” nesse quesito. “Espero, em 10 dias, estar comendo um churrasquinho de costela.”
Também neste domingo, o presidente da CPI da Covid, Omar Aziz (PSD-AM), afirmou que “mentir virou coisa natural no Brasil”, em particular vindo do presidente da República. O senador também elevou o tom e chamou de “assassinos” alguns dos responsáveis pelo enfrentamento da pandemia, especialmente pela omissão no caso do Amazonas. Sobre Bolsonaro, em particular, disse que mentir para ele é “é normal, ele é contumaz nisso, ele prevarica, desfaz fatos e cria versões”.
Aziz também disse que o vídeo com Pazuello deixa claro que ele mentiu para a CPI, uma vez que havia afirmado não negociar imunizantes. Acrescenta que o presidente aceita esse tipo de comportamento, tanto que os nomeou —também o ex-secretário-executivo Elcio Franco— para cargos na Casa Civil.
“Um ministro da Saúde pode mentir, não tem problema nenhum, porque o presidente perdoa, passa a mão por cima, mantém lá do lado dele, no gabinete ao lado dele o general Pazuello e o coronel Élcio [Franco], que estavam negociando vacinas.”
Valor
Aliados veem perda de apoio a Bolsonaro na Baixada Fluminense
Cabos eleitorais de Bolsonaro, prefeitos de Nova Iguaçu e de Belford Roxo relatam mudança no eleitorado, com maior rejeição ao Planalto e apoio a Lula
Reeleitos com folga, já no primeiro turno na corrida municipal do ano passado, respectivamente com 62% e 80% dos votos válidos, os prefeitos de Nova Iguaçu, Rogério Lisboa (PP), e de Belford Roxo, Waguinho (PSL), são considerados cabos eleitorais importantes em 2022 na Baixada Fluminense tanto para o governador quanto para Jair Bolsonaro. Os dois, no entanto, relatam que veem mudanças no humor do eleitorado em suas bases, num sentimento de rejeição à reeleição do presidente da República. “Tem sim, em Nova Iguaçu já arrisco a dizer que Lula está na frente, por todas essas crises e o comportamento do presidente diante da pandemia”, afirma Lisboa, embora ressalte que “governo federal é governo federal”.
Para Waguinho, “a mudança é nítida” na preferência em seu município, o que está em linha com pesquisas que mostram a perda de apoio de Bolsonaro na periferia das regiões metropolitanas. “Quem entregou mais? O governo federal fez a leitura errada na pandemia. Por enquanto está perdendo a batalha”, diz. O prefeito de Belford Roxo afirma que não será um traidor. “Não costumo abandonar o barco. E depois é aquilo: os adversários de hoje são os aliados de amanhã”, diz.
No ano passado, Waguinho formou uma coligação heterodoxa, que incluía bolsonaristas e o PT – adesão decidida no diretório nacional petista pelo placar de 40 votos a 36. A aliança local deixa as portas abertas para ambos os lados. Mas a percepção é a de que, numa campanha de comparações, Lula levará vantagem. “Um exemplo clássico é o PAC [Programa de Aceleração do Crescimento]. Onde funcionou teve êxito muito grande. A assistência social também era muito forte. O Minha Casa Minha Vida parou. O Fies acabou. O Bolsa Família nem digo tanto. Foi preservado e até fortalecido”, afirma.
Waguinho diz que vai seguir com Bolsonaro já que o presidente terá o apoio do governador e porque precisa dos benefícios das duas esferas administrativas. Menos de 10% da arrecadação de Belford Roxo é própria. “Não somos bolsonaristas raiz. Agora, temos visão da cidade”, justifica.
Recém-filiado ao PSL, onde assumiu a direção regional, o prefeito acredita que o partido ficará neutro na eleição presidencial, liberando os Estados para fazer a aliança mais conveniente. Mais crítico ao Planalto, apesar de seu partido, o PP, ser um grande aliado de Bolsonaro, Rogério Lisboa queixa-se de que o “governo federal não passa um real” para Nova Iguaçu. A prefeitura, relata, tem assumido sozinha obras que eram em parceria. Para Lisboa, o descontentamento na região “é geral.
Em entrevista ao Valor, há 20 dias, o prefeito de Duque de Caxias, Washington Reis (MDB), reconhecia ser um “sacrifício” ser cabo eleitoral de Bolsonaro, mas que não o trairia, porque os projetos com o governo federal estavam andando. “O Washington é pré-candidato ao Senado. A eleição dele vai passar pela de presidente. Não pode desagradar. No meu [município] está ruim”, diz Lisboa.
O prefeito conta ter votado em Fernando Haddad no segundo turno de 2018, não por ideologia, mas por ter convicção de que Bolsonaro, a quem conhecia como deputado, “não estava preparado”. “Foi uma grande onda, não tinha estrutura. O governo patina o tempo todo. A pandemia revelou a fragilidade ainda maior como gestor”.
Valor
Consórcio de imprensa investiga espionagem global
Spyware Pegasus, da empresa israelense NSO, teria sido usado para espionar smartphones de jornalistas, ativistas de direitos humanos e executivos
Uma investigação feita por um consórcio mundial de meios de comunicação mostra evidências de que spyware Pegasus, da empresa israelense NSO, foi usado para espionar smartphones pertencentes a jornalistas, ativistas de direitos humanos e executivos em todo o mundo. A partir de uma lista de mais de 50 mil números de celular, os jornalistas foram capazes de identificar mais de mil pessoas em 50 países que parecem ter sido selecionadas por clientes do NSO para possível vigilância.
A lista foi obtida pelo Forbidden Stories, um grupo de jornalismo sem fins lucrativos com sede em Paris, e pelo grupo de defesa dos direitos humanos Anistia Internacional, e compartilhada com 16 organizações de meios de comunicação. Entre as pessoas identificadas estão 189 jornalistas, mais de 600 políticos e funcionários de governos, pelo menos 65 executivos de empresas, 85 ativistas de direitos humanos e vários chefes de Estado, de acordo com o jornal “The Washington Post”, um dos membros do consórcio.
Os jornalistas trabalham para grupos como “Associated Press”, “Reuters”, “CNN”, “The Wall Street Journal”, “Le Monde”, “The Financial Times”. A Anistia Internacional também informou que seus pesquisadores determinaram que o spyware do Grupo NSO, o Pegasus, fora instalado no telefone de Hatice Cengiz, noiva do jornalista do “The Washington Post”, Jamal Khashoggi, apenas quatro dias depois de ele ter sido morto no Consulado da Arábia Saudita em Istambul, em 2018.
O grupo NSO negou, em um comunicado enviado por e-mail, que os dados nos quais o relatório se baseou tenham vazado de seus servidores, “já que tais dados nunca existiram em nenhum de nossos servidores”. Segundo o NSO, a reportagem do Forbidden Stories está “cheia de suposições erradas”. A empresa reiterou sua alegação de que só vende dados para governos, para uso contra terroristas e grandes criminosos.
Seus críticos classificam essas alegações de desonestas e dizem que o abuso repetido do spyware Pegasus destaca a quase completa falta de regulamentação do setor mundial de vigilância privada. A fonte do vazamento — e a forma como se verificou sua autenticidade – não foi divulgada. Embora a presença de um número de telefone nos dados não signifique que foi feita uma tentativa de hackeá-lo, o consórcio explicou que acredita que os dados representavam alvos potenciais dos clientes governamentais do NSO.
O “The Washington Post” informou que identificou 37 smartphones hackeados na lista. O “The Guardian”, outro membro do consórcio, noticiou que a Anistia Internacional encontrou traços de infecção pelo Pegasus nos celulares de 15 jornalistas. A maioria dos números da lista, 15 mil, é de celulares mexicanos, mas há grande presença de números do Oriente Médio. A Arábia Saudita é um dos supostos clientes do NSO.
Também constam da lista telefones de países como França, Hungria, Índia, Azerbaidjão, Cazaquistão e Paquistão. “O número de jornalistas identificados como alvos ilustra claramente como o Pegasus é usado como ferramenta para intimidar os meios de comunicação críticos. Trata-se de controlar a narrativa pública e suprimir qualquer voz dissidente”, declarou a Anistia Internacional, citando sua secretária-geral, Agnes Callamard.
As descobertas do consórcio aprofundam o extenso trabalho de pesquisadores de segurança cibernética, principalmente do grupo de monitoramento da Universidade de Toronto. Os alvos do NSO identificados por esses pesquisadores desde 2016 incluem dezenas de jornalistas e executivos da Al-Jazeera, o chefe da sucursal do “The New York Times” em Beirute, Ben Hubbard, o jornalista e ativista marroquino Omar Radi e a repórter mexicana Carmen Aristegui, famosa por seu trabalho contra a corrupção. O “The Washington Post” relatou que o número da repórter está na lista.
Entre os mais de 20 alvos mexicanos estão proponentes de um imposto sobre os refrigerantes, políticos da oposição, ativistas de direitos humanos que investigam um desaparecimento em massa e a viúva de um jornalista assassinado. No Oriente Médio, as vítimas, na maioria, são jornalistas e dissidentes, supostamente alvos dos governos da Arábia Saudita e dos Emirados Árabes Unidos.
O relatório do consórcio reforça as acusações de que não apenas regimes autocráticos, mas também governos democráticos, como a Índia e o México, têm usado o spyware Pegasus do Grupo NSO para fins políticos. Os membros do consórcio, entre eles o “Le Monde” e o “Sueddeutsche Zeitung”, da Alemanha, prometem publicar uma série de reportagens com base no vazamento. O Pegasus se infiltra em telefones para capturar dados pessoais e de localização e controlar os microfones e câmeras dos smartphones. No caso de jornalistas, isso permite que os hackers espionem as comunicações dos repórteres com suas fontes.
OBS: Em maio, UOL publicou matéria sobre a intervenção de Carlos Bolsonaro na compra deste mesmo aparelho espião, que teria, segundo a reportagem criado uma “crise militar”. Abaixo, resumo da reportagem.
“Uma licitação para a aquisição de uma ferramenta de espionagem expôs a disputa entre o alto comando militar e o vereador carioca Carlos Bolsonaro (Republicanos), o filho “02” do presidente da República, Jair Bolsonaro (sem partido). Diferentemente de editais semelhantes lançados em outras ocasiões, desta vez órgãos oficiais de investigação que seriam beneficiados diretamente pela ferramenta, como o GSI (Gabinete de Segurança Institucional) e a Abin (Agência Brasileira de Inteligência), não estão envolvidos nas tratativas.
A licitação em questão é a de nº 03/21, do Ministério da Justiça, no valor de R$ 25,4 milhões, prevista para acontecer nesta quarta-feira (19). O objetivo é contratar o avançado (e polêmico) programa de espionagem Pegasus, desenvolvido pela empresa israelense NSO Group.
O Pegasus já foi usado para espionar celulares e computadores de jornalistas e críticos de governos ao redor do mundo. Em junho de 2017, por exemplo, o jornal The New York Times revelou que o software estava sendo usado pelo governo do México, ainda sob a gestão de Enrique Peña Nieto, para espionar ativistas contrários à sua gestão. Segundo informações do veículo norte-americano, o governo daquele país chegou a gastar cerca de US$ 80 milhões para o uso da ferramenta desde 2011.
“Abin paralela” – Segundo fontes ouvidas pelo UOL sob a condição de não terem seus nomes e cargos revelados, o político carioca tenta diminuir o poder dos militares na área de inteligência. Para tanto, articulou junto ao novo ministro da Justiça, Anderson Torres, para excluir o GSI da licitação. O órgão, que é responsável pela Abin, é chefiado pelo general Augusto Heleno e tem muitos militares em seu quadro. De acordo com as mesmas fontes, o objetivo final de Carlos Bolsonaro é usar as estruturas do Ministério da Justiça e da PF (Polícia Federal) para expandir uma “Abin paralela”, na qual tenha grande influência.
O UOL procurou o gabinete do vereador Carlos Bolsonaro, mas não obteve resposta oficial. Horas após a publicação desta reportagem, ele postou no Twitter uma foto do personagem Seiya de Pégaso, do desenho animado japonês Cavaleiros do Zodíaco, com a seguinte mensagem: “O único Pégasus que conheço. Quando moleque, assistia sempre! Deve ser isso que confundiram! Agora tudo faz sentido!”.
Folha de SP
MDB quer lançar Simone Tebet pré-candidata à Presidência, e partidos testam nomes para 3ª via
Nove partidos formaram grupo de WhatsApp e estudam se unir em torno de alternativa para 2022
Em meio à busca por uma alternativa ao ex-presidente Lula e a Jair Bolsonaro, a cúpula do MDB está decidida a lançar ainda neste ano a senadora Simone Tebet (MDB-MS) como pré-candidata à Presidência da República. O movimento é feito em paralelo ao de outros partidos que se classificam como de centro, que resolveram colocar já, a pouco mais de um ano das eleições de 2022, o nome de seus pré-candidatos na rua como forma de testar qual deles poderia representar uma “terceira via” viável.
Nos bastidores, o MDB articula lançar o nome de Tebet perto do fim da CPI da Covid, onde a senadora tem tido atuação cada vez mais forte. A ideia é não misturar a participação dela na comissão com a possibilidade de ela entrar na disputa presidencial.
Embora não referendado oficialmente pela executiva partidária, a decisão de lançar Tebet tem consenso entre variados grupos do MDB. Oficialmente, o presidente do partido, o deputado Baleia Rossi (MDB-SP), diz que a parlamentar é um dos nomes favoritos para representar o projeto político que a sigla quer lançar, embora evite cravar o anúncio do nome dela.
Segundo Baleia, o MDB apresentará no final de agosto um documento elaborado pela Fundação Ulysses Guimarães junto a outros especialistas com propostas para 2022 e que se intitulará “Ponto de Equilíbrio”. “O nome que vamos apresentar vai defender esse projeto de país e um dos nomes favoritos para defende-lo é o da Simone [Tebet]”, afirma Baleia.
À Folha Tebet também disse que a decisão sobre lançar candidatura próprio será tomada em meados de agosto. Apesar da cautela, o martelo sobre o nome da senadora já foi batido. O MDB faz parte de um grupo de nove partidos que formaram um grupo no WhatsApp para debater a conjuntura eleitoral e buscar uma opção que fuja à polarização Lula-Bolsonaro. São parte do conjunto de legendas: MDB, DEM, Solidariedade, PV, Podemos, PSL, Cidadania, PSDB e Novo.
Dirigentes de algumas dessas siglas propõem que no ano que vem todos se unam em torno do nome que se mostrar mais competitivo antes da disputa no primeiro turno. O objetivo é propagar desde logo as possibilidades que poderiam se contrapor a Lula e a Bolsonaro já que pesquisas sugerem que a população tem rejeitado o termo centro e que será um desafio romper a polarização entre o petista e o presidente.
Pesquisa Datafolha deste mês mostra, por exemplo, que o único dos nomes aventados por partidos que aparecem com intenções de voto na pesquisa espontânea é o de Ciro Gomes (PDT-CE). A partir de agora, de acordo com Baleia, as reuniões entre os presidentes dessas siglas devem se tornar mais frequentes.
Em paralelo ao nome de Tebet, o PSL, partido que abrigou Bolsonaro no pleito de 2018, filiou José Luiz Datena e o lançou como pré-candidato. A aposta da legenda é na capilaridade do apresentador. Levantamentos feitos por institutos de pesquisa a pedido do PSL mostram que Datena aparece bem posicionado tanto no primeiro turno como num eventual segundo turno contra Bolsonaro.
O DEM, também amparado em pesquisas próprias, anunciará oficialmente o ex-ministro Luiz Henrique Mandetta como pré-candidato, como mostrou o Painel, da Folha. A ideia é confirmar a pré-candidatura até setembro. A cúpula da legenda avalia que ele tem o perfil desejado pela população como presidente.
Entre os outros partidos que compõem o grupo dos nove no WhatsApp, o PSDB realizará prévias para decidir se lançará o governador João Doria (PSDB-SP) ou o governador Eduardo Leite (PSDB-RS) ao Palácio do Planalto. Como a vitória de Doria nesta disputa é vista com certo ceticismo dentro do meio tucano, dirigentes de outras legendas vislumbram a hipótese de ele se desfiliar do PSDB no futuro. Neste caso, a avaliação é a de que o Podemos poderia abrigá-lo.
Embora tenha afirmado não querer disputar a Presidência, a candidatura do ex-juiz e ex-ministro da Justiça Sergio Moro ainda é estimulada por uma ala de políticos —especialmente os defensores da operação Lava Jato. Neste cenário, integrantes do Podemos também sonham em recebê-lo na sigla. Uma terceira hipótese seria lançar o senador Alvaro Dias (PR).
Em outra frente, fora do grupo de siglas que articulam juntas para 2022, o PSD ainda tenta atrair o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), ao partido, com a expectativa de lançá-lo ao Planalto. Embora o mineiro afirme não ter nada resolvido, no PSD, o casamento é tratado como certo.
“Não é uma terceira via. Eu defendo que o PSD tenha candidato próprio para representar suas ideias, seu programa. O partido tem tamanho para ter uma candidatura que ofereça boas condições ao país e a Rodrigo [Pacheco] representa muito bem as aspirações do partido”, disse Gilberto Kassab, presidente do partido.
Kassab vem falando publicamente em Pacheco como possível nome do partido na disputa ao Planalto, o que nos bastidores da política tem causado embaraços ao presidente do Senado. A interlocutores Pacheco sempre relata que o ministro da Casa Civil, Luiz Eduardo Ramos, o cobra nos encontros sobre sua possível candidatura em um momento de tensão política no enfrentamento da pandemia.
O senador por Minas geralmente diz que não trata de 2022 e que não responde pelo que os comandantes dos partidos vem falando publicamente. Ele também teria sido sondado pelo PP, sem sucesso. Pacheco vem ganhando destaque desde o início de seu mandato na presidência do Senado, em fevereiro.
Embora evite confrontos diretos com Bolsonaro, sempre preferindo uma relação mais conciliadora, ele ganhou proeminência, principalmente em comparação com a postura mais fechada do presidente da Câmara Arthur Lira (PP-AL) —este sim próximo ao chefe do Executivo.
Pacheco ainda conseguiu avançar na articulação para destravar a compra das vacinas, ao ser o autor de uma proposta de lei que viabilizou a compra da Pfizer, que estava travada pela resistência do Planalto em assumir as cláusulas impostas pela empresa.