Clipping 1º de Junho de 2021
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Com alerta de terceira onda, Bolsonaro aceita Copa América (O Globo)
Otimismo domina bolsa apesar de risco elétrico (Valor)
Automotive Business
Nissan decide parar 5 dias por escassez de eletrônicos
Montadora vai suspender produção na fábrica de Resende (RJ) a partir da semana que vem
No mesmo dia em que a Volkswagen anunciou que vai paralisar duas de suas fábricas no Brasil por falta de semicondutores, a Nissan confirmou que planeja suspender sua produção na fábrica de Resende (RJ) por 5 dias pela mesma razão.
Apesar de a decisão já ter sido tomada pela direção, a empresa ainda não definiu as datas da paralisação, pois elas estariam condicionadas ao volume exato de componentes eletrônicos que estão chegando ao País nos próximas dias. O que já se sabe, porém, é que a suspensão da linha de montagem se dará em dias alternados, e não concentrados em uma única semana.
Como haverá o feriado de Corpus Christi na próxima quinta-feira, 3 de junho, a Nissan não precisará iniciar a paralisação nesta semana. Oficialmente a assessoria de comunicação da marca diz apenas que serão 5 dias de interrupção da linha de montagem ao longo do mês de junho.
Atualmente, o complexo industrial de Resende produz apenas dois modelos da Nissan, o sedã V-Drive (a antiga geração do Versa) e o SUV recém-renovado Kicks, que hoje é responsável por 75% da produção brasileira. Segundo fontes da montadora, a demanda do SUV hoje está bem maior do que as vendas, que só não são maiores devido à falta de componentes necessários para aumentar a produção.
Outra montadora nacional que também anunciou a paralisação de produção devido à crise dos semicondutores é a GM, que na semana passada divulgou que teria de parar as atividades na unidade de São Caetano do Sul em parte por falta de peças, em parte para fazer a preparação do complexo industrial para a chegada da nova picape da Chevrolet, confirmada pela marca no último dia 10.
Automotive Business
Volkswagen paralisa duas fábricas por falta de semicondutores
Unidades de Taubaté (SP) e São José dos Pinhais (PR) terão produção suspensa por 10 dias
A Volkswagen anunciou nesta segunda-feira, 31, a paralisação da produção em duas de suas fábricas por falta de componentes semicondutores utilizados na montagem dos seus automóveis. A montadora decidiu que vai interromper por 10 dias as atividades nas unidades de São José dos Pinhais (PR) e de Taubaté (SP).
Em comunicado oficial, a VW diz que está trabalhando em parceria com a matriz para reduzir os efeitos da crise global de semicondutores, que tem afetado a indústria automotiva mundial. Apenas na semana passada, por exemplo, os principais fabricantes de veículos dos Estados Unidos, México e Europa precisaram reduzir ou suspender a produção (leia aqui).
No Brasil, a onda de paralisações também têm crescido. No último dia 26, a GM confirmou que vai parar a fábrica de São Caetano do Sul (SP) por seis semanas devido à falta de componentes eletrônicos e, neste caso, também para preparar a linha de montagem para a chegada da nova picape. Mas a unidade de Gravataí (RS), onde é produzido o Onix, até então o carro mais vendido do Brasil, continua parada desde março por falta de semicondutores.
De acordo com a Volkswagen, esta é a primeira vez que a empresa precisou interromper sua produção por falta de componentes. A paralisação começa a partir do dia 7 de junho e vai afetar as linhas de montagem de Gol e Voyage, que são fabricados em Taubaté, e as de Fox e T-Cross, produzidos em São José dos Pinhais.
Leia abaixo íntegra do comunicado oficial divulgado pela Volkswagen nesta segunda-feira:
“Uma escassez significativa de capacidades de semicondutores está levando a vários gargalos de fornecimento em muitas indústrias globalmente. Isso também gerou problemas no abastecimento da indústria automotiva ao redor do mundo desde a virada do ano. O resultado são adaptações em toda a indústria na produção de automóveis, o que também afeta as marcas do Grupo Volkswagen. Nos últimos meses, o time da Volkswagen do Brasil tem trabalhado intensamente e com sucesso, internamente e em parceria com a nossa matriz, para minimizar os efeitos da escassez de semicondutores para a produção em suas fábricas no Brasil.
Até hoje, as nossas unidades no País não foram afetadas em maior escala. Entretanto, com o agravamento do cenário e com base na situação atual, presumimos que o fornecimento de semicondutores continuará a ser limitado ao longo das próximas semanas. Por essa razão, as fábricas da Volkswagen em São José dos Pinhais, no Paraná, e em Taubaté, em São Paulo, suspenderão as suas operações por 10 dias, a partir de 7 de junho.
Infomoney
Montadoras vs. locadoras: carro por assinatura é nova fonte de receita e traz mais competição
Em meio à pandemia e à falta de peças, carros por assinatura podem representar uma nova fase do setor automotivo; veja como o serviço funciona
Felipe Kanegae, bancário, juntou dinheiro para comprar um carro à vista. Porém, ao fazer uma pesquisa optou por fechar um modelo de carro por assinatura. “Na prática, eu não tive dor de cabeça com nenhum outro custo: IPVA, seguro, entre outros. Além disso, achei os preços dos carros novos e usados caros. Por isso, olhando os prós e contras decidi fazer a assinatura mensal de um SUV”, conta.
O diferencial do carro por assinatura é que é uma prestação de serviço: em vez de comprar o carro, o consumidor aluga por um, dois ou mesmo três anos o modelo e no fim do contrato devolve o carro podendo renovar a assinatura com o mesmo modelo ou outro. “A ideia do modelo de negócio do carro por assinatura é ser um serviço de mobilidade e não um ativo. Assim, a pessoa assina um contrato por um determinado período no qual poderá usufruir de um serviço, no caso o uso do carro, com praticamente todos os custos inclusos, com exceção de combustível e multas”, explica Ana Renata, diretora geral da Cox Automotive, grupo dono da Kelley Blue Book (KBB), consultoria automotiva.
Hoje no Brasil montadoras como Fiat, Jeep, Volkswagen, Renault, Caoa Cherry, e locadoras como Movida, Localiza, Unidas e a seguradora Porto Seguro já possuem a opção ofertada aos clientes. E outras, como a Toyota, já têm planos definidos para trazer a modalidade ainda neste ano. Das nove montadoras com a maior participação de mercado, divulgadas pela Fenabrave, Chevrolet, Hyundai, Honda e Nissan não possuem serviços desse tipo no país. Mas enquanto o serviço vai ficando conhecido entre os usuários, as montadoras e locadoras estão vendo uma oportunidade de negócio com muito potencial.
O InfoMoney contatou especialistas e falou com as principais marcas que possuem o serviço no Brasil para entender como o modelo de carro por assinatura pode ser estratégico para os próximos anos e como vai aumentar a competição entre os players do setor. Das empresas contatadas, apenas a Caoa não respondeu às solicitações de entrevista até o momento de publicação desta matéria.
Assinatura é fonte de receita para montadoras …
O modelo de carro por assinatura ainda é novo no Brasil e a maioria das opções disponíveis hoje por aqui foram desenvolvidas ano passado, em meio à crise gerada pela pandemia. No setor automotivo, em especial, os problemas que se iniciaram ano passado com até 99% da produção paralisada em abril, vêm se arrastando para 2021: faltam peças ao redor do mundo, como os semicondutores, e todo o processo de fabricação está mais lento que o normal.
No Brasil, em meados de abril, dez fábricas chegaram a ficar fechadas temporariamente devido aos problemas no ritmo de produção. Entre as principais consequências está o aumento de preços dos carros novos e seminovos. Por isso, consumidores como Kanegae entendem que o modelo por assinatura pode ser vantajoso.
Raphael Galante, economista que trabalha no setor automotivo há 17 anos e é consultor na Oikonomia Consultoria Automotiva, explica que esse segmento pode trazer bons resultados para as montadoras. “Sem dúvidas o modelo é uma nova fonte de receita. O ideal, do ponto de vista da fabricante, é estar presente em todos os elos da cadeia do setor automotivo. Estar presente em um segmento de locação, que antes era dominado pelas locadoras, é uma possibilidade a mais de rentabilizar o negócio”, explica Raphael Galante, economista que trabalha no setor automotivo há 17 anos e é consultor na Oikonomia Consultoria Automotiva.
Ana Renata, da KBB, pontua que esse novo modelo tem muito potencial justamente porque não gera conflito com o modelo de venda tradicional. “Os perfis de clientes são diferentes tanto na comparação com a venda tradicional, seja à vista ou financiamento, quanto no aluguel diário ou de curto prazo. Por isso, os negócios tendem a não se canibalizar entre si e se tornar mais uma forma das montadoras e locadoras buscarem ganhos”, diz.
Do ponto de vista, do cliente, segundo ela, o desenvolvimento desse negócio é uma boa notícia. “É uma opção a mais para quem quer ou precisa do carro e agora não tem a necessidade de comprar. O consumidor pode ser atendido com mais um serviço”, avalia.
Das empresas que oferecem o serviço e responderam às solicitações de entrevista do InfoMoney, há um consenso de que o carro por assinatura será parte importante do negócio como um todo. “Estar presente nesse segmento é estar presente no futuro do mercado automotivo. É um serviço que em outros países está muito mais maduro e que aqui o Brasil podemos construir e observar como vai se desenvolver. Uma parte da população quer esse tipo de serviço. Ou seja, tem interesse no uso do carro e na praticidade que esse modelo oferece”, afirma Romain Darmon, gerente geral da Renault on Demand. A montadora começou a oferecer o produto em janeiro e até a segunda quinzena de maio já fechou 1.500 contratos ao redor do país.
Fabio Siracusa, head de operações de Flua!, que é do Grupo Stellantis, e engloba Fiat, Jeep, Peugeot, Citroen, entre outras, pontua que a participação da locação no mercado automotivo como um todo vem ganhando espaço. Em 2020, a frota total das locadoras de veículos do Brasil atingiu 1.007.221 veículos, maior índice já registrado na história, segundo dados da Abla (Associação Brasileira das Locadoras de Automóveis). “O mercado oscilou bastante com a crise, mas a locação vem crescendo. É uma tendência que todas as montadoras queiram entrar. E a estratégia aqui na Flua! é ser um player relevante nesse mercado”, diz Siracusa. A Flua! está presente em 14 estados hoje.
…e também para as locadoras tradicionais
As locadoras também entendem que o negócio tem um grande potencial. No caso da Porto Seguro, o Carro Fácil, como ficou chamado o serviço vem apresentando crescimento. “Nos tornamos um agente importante nas soluções de mobilidade da Porto Seguro.
Em 2020, registramos um crescimento de 36,2% comparado ao ano anterior, e já atingimos o break even, fase que o negócio começa a gerar lucro para a empresa”, explica David Pereira, gerente do Porto Seguro Carro Fácil. Ele conta que o serviço está disponível em São Paulo (capital e interior), na Região Metropolitana do Rio de Janeiro, e Curitiba. No segundo semestre, deve chegar à Belo Horizonte.
“Os consumidores estão migrando cada vez mais da posse para o uso do serviço. Essa é uma mudança cultural que envolve novos hábitos de consumo em diversos setores, como o do entretenimento por exemplo. No setor de mobilidade, esse movimento ocorre por diversos fatores, como o cenário econômico, instabilidade financeira e alta do dólar, que eleva os custos de aquisição e manutenção do veículo próprio. Esse cenário ficou ainda mais evidente neste momento de pandemia e isolamento social, em que manter o veículo estacionado na garagem, gerando despesas e depreciando o seu valor, faz menos sentido ainda. Nesse contexto, o modelo de veículos por assinatura representa um pilar estratégico e deve crescer bastante nos próximos anos”, avalia Breno Davis Campolina, head de frotas e projetos da Unidas.
“É com certeza uma das que tem maior potencial de crescimento, motivado inclusive pelo aculturamento do consumidor que está cada vez mais conhecendo as vantagens de usar um carro ao invés de possuir um. Criamos o Movida Zero km e houve uma grande adesão ao modelo, pois o consumidor começou a perceber que as vantagens da locação de longo prazo vão bem além do aspecto financeiro favorável. Os efeitos da pandemia potencializaram a comercialização desses produtos”, acrescenta Marcelo Rosal, diretor de produtos da Movida.
Galante pontua que 2021 será uma espécie de ano teste para todas montadoras e locadoras. “O negócio tem um potencial grande e já vem funcionando, mas ainda não dá para dizer que está consolidado. Todas as empresas estão aprendendo e estudando os melhores formatos para o negócio ser rentável, entendendo os desejos desse perfil de cliente. É um processo que tem tudo para dar certo, mas não é rápido”, avalia o economista.
Frota seminova é importante
Milad Kalume Neto, diretor de novos negócios, da consultoria automotiva Jato Dynamics, ressalta que além desse crescimento de demanda e sucesso no exterior, o carro por assinatura também alimenta o ciclo de renovação de frotas para montadoras e locadoras.
“Os carros seminovos são uma parte importante para as montadoras e ainda mais cruciais para as locadoras. E o serviço de assinatura vai fornecer de forma recorrente uma frota de carros nessas condições. Os carro de assinatura são sempre zero, mas depois que o cliente devolve eles se tornam seminovos em ótimas condições para as montadoras repassarem a rede concessionária, para as locadoras redirecionarem os modelos para outras categorias de aluguel e também pare vender o seminovos, e ainda, em alguns casos os clientes que fecharam a assinatura poderão comprar o modelo no fim do contrato. É também mais uma maneira de retroalimentar toda a cadeia de veículos disponíveis”, explica Neto.
Até mesmo a Toyota, que ainda não lançou o serviço por assinatura no Brasil, já considera essa reciclagem de frota muito importante. “Quando o carro for devolvido pelo cliente, poderemos usá-lo no Kinto Share, que é nossa modalidade de alguém por hora, ou mesmo na gestão de frotas para empresas, além de revender o modelo. O carro por assinatura é um coringa e onde tivermos demanda a gente realocaremos o veículo”, explica Roger Armellini, diretor de mobilidade da Toyota. A empresa deve lançar o Kinto Flex, serviço de assinatura, ainda neste ano, mas segue desenvolvendo o produto.
“Quando os carros são devolvidos no fim do período da assinatura, eles são disponibilizados para venda pelo Porto Seguro Carro Fácil Seminovos. Com isso, procuramos atender tanto quem foca no conceito de uso e busca uma alternativa para a compra do zero quilometro, como o público tradicional que ainda prefere adquirir um automóvel e que, em média, faz uso de um mesmo veículo por mais de 2 anos”, explica Pereira, gerente do Porto.
A lógica é a mesma na Localiza, que conta com o programa Localiza Meoo, ao fim do contrato, o carro utilizado é desativado para depois ser vendido. “A Localiza Seminovos integra a plataforma de negócios da Localiza e permite dar sequência ao ciclo de utilização de carros e atendimento aos clientes. A venda de seminovos tem como objetivo a constante renovação da frota destinada à locação, garantindo carros sempre novos e de boa qualidade”, explica João Andrade, diretor executivo da Localiza Gestão de Frotas.
Na Renault há uma prioridade que é a renovação do serviço. “Quando a data do fim do contrato se aproxima, nós fazemos uma oferta de renovação. A pessoa devolve o carro e já pega um novo 0 km. E o concessionário que cuida desse veículo e faz revenda. Nosso produto não tem opção de compra ao fim do contrato, queremos que o cliente renove e continue com a gente. Além disso, é um seminovo em ótimas condições e a revenda desse carro é uma fatia de rentabilidade para a empresa”, afirma Darmon, da Renault.
Novo cliente
Uma tendência que vem se observando é o perfil de cliente do carro por assinatura. Ao InfoMoney, as empresas explicaram que o perfil do consumidor que vem buscando a opção é diferente do comprador tradicional ou da pessoa que vai alugar durante alguns dias. “Nossos clientes são jovens e de classe mais alta, A e B. São pessoas que tem interesse no uso e não na posse, que buscam praticidade sem burocracia e o benefício de ter tudo incluso. Basicamente paga o combustível”, afirma Darmon, da Renault.
Esse perfil do consumidor mais jovem é compartilhado por Siracusa, da Flua! e também por Armellini, da Toyota. “O foco é sempre em trazer novos clientes. A assinatura quebra algumas barreiras de entrada, já que não precisa de uma entrada, nem ter o dinheiro total à vista. É um modelo flexível”, comenta.
Já nas locadoras, há uma diversificação maior. “O perfil dos clientes varia conforme a escolha da categoria entre os veículos disponíveis. Os veículos da categoria de hatch compacto, por exemplo, atende aos clientes de uma faixa etária mais jovem, que não possuem veículo próprio e buscam um meio de locomoção pontual no fim de semana, ou para fazer uma viagem de curta distância. Já os veículos premium são procurados tanto por pessoas físicas quanto jurídicas. Os consumidores desse segmento procuram modelos seguros, confortáveis e com tecnologia embarcada”, diz Campolina, da Unidas.
Na Movida, um movimento vem sendo observado. “No início, o cliente por assinatura era aquele consumidor que já estava acostumado com o aluguel de carro eventual e sabia das suas vantagens. Experimentou o aluguel mensal e depois optou pelo de mais longo prazo. Mas com o amadurecimento da cultura do aluguel, novos consumidores começaram a optar pelo aluguel de longo prazo diretamente. Hoje existem clientes que contratam o Movida Zero km pela primeira vez e que nunca alugaram um carro antes”, afirma Rosal. Ele acrescenta que a média de idade gira em torno de 38 anos e atualmente há uma porcentagem de consumidores da classe C alugando carros nessa modalidade.
A Porto Seguro compartilhou que a maioria dos assinantes (34%) tem entre 31 a 40 anos de idade. “Observamos que pessoas com perfil investidor são as que mais têm procurado pelo serviço, pois encontram no carro por assinatura uma alternativa financeiramente atrativa para ter um veículo. Nesse modelo, o cliente sabe o valor que pagará pelo automóvel, sem desembolsar nada a mais, garantindo uma maior previsibilidade financeira, enquanto evita a taxa juros de um eventual financiamento. Este modelo também chama a atenção de quem está acostumado a realizar a compra à vista, pois não existe o valor de depreciação do bem, que pode chegar a até 40% nos dois primeiros anos”, explica Pereira.
Devido à diversidade de perfis, todos os players contatados concordam que não há nenhum tipo de canibalização previsto entre as vertentes de negócios. “Não estamos observando correlação negativa entre assinatura e as vendas. São negócios diferentes que estão abarcando diferentes públicos”, comenta Siracusa, da Flua!.
Armellini, da Toyota, pontua que o mercado está começando a desenvolver. “Queremos aumentar a pizza e não a dividir. A assinatura pode tornar o carro mais acessível para mais pessoas”, avalia. “São modalidades que oferecem soluções distintas: enquanto a locação regular atende a necessidades pontuais dos clientes, como viagens e passeios, o modelo de aluguel por assinatura atende ao consumidor que utiliza o veículo com frequência e necessita dele para o deslocamento diário. Enxergamos ambos os serviços como complementares”, acrescenta Campolina, da Unidas.
A ideia é compartilhada pelos especialistas também, como a Ana Renata, da KBB. “Essas modalidades não vão se canibalizar entre si. Esses modelos vão conviver no mercado brasileiro e solidificar seus nichos de clientes. O carro por assinatura vem para atender um público que precisa desse tipo de serviço, o que vai consolidar a alternativa no Brasil”, explica a executiva.
Galante, no entanto, alerta que esse perfil de público é diferente para os segmentos hoje. “Acredito que no longo prazo esse processo pode se inverter, com as novas gerações chegando. É um exercício de futurologia, mas é um ponto para ficar alerta: os novos consumidores de carros nos próximos anos vão preferir o serviço ao produto? É para ficar de olho”, diz.
Montadoras vs. locadoras
Apesar do interesse generalizado nos carros por assinaturas, os especialistas entendem que as montadoras podem ter certas vantagens frentes às locadoras. “As montadoras possuem uma infraestrutura gigantesca e detém o poder de produção, são elas que repassam para as locadoras. Ou seja, a locadora depende da montadora para disponibilizar carros para o seu negócio. E compra em grandes quantidades: 900, 1000 carros de uma vez, por exemplo. Por isso, geralmente, a montadora negocia descontos para vender tantos veículos de uma vez”, explica Antonio Jorge Martins, diretor e coordenador acadêmico executivo da FGV.
“Porém, há uma questão importante no cenário atual: a produção está reduzida devido à falta de peças e pandemia. Quando a situação se normalizar, as montadoras vão voltar a produzir. Mas se tiverem um braço novo de negócio que está dando certo, vão preferir direcionar seus veículos produzidos para esse segmento. Dessa maneira, vão negociar descontos menores para as locadoras, já que estão usando veículos, que antes precisavam ser vendidos para as locadoras para ganharem dinheiro, em braços de negócios próprios, o que é mais vantajoso”, diz Martins.
Neto, da Jato Dynamics, complementa. “Se esse desconto era de 12%, por exemplo, e a montadora tem um serviço por assinatura, passa a considerar reduzir esse desconto para 4%. As locadoras precisam dos veículos, mas a montadora passa a ter uma independência maior com esse novo negócio. Além disso, as locadoras também estão nesse ramo de serviço por assinatura. Nada está definido, mas é uma dinâmica que deve acontecer, podendo mudar um pouco a relação entre locadoras e montadoras. Mas no fim, quem ganha é o consumidor que vai ter mais opções de serviços”, avalia Neto.
Eles não acreditam, porém, que as montadoras vão parar de fornecer carros. “Eu acho que nem haverá uma diminuição no ritmo de oferta, mas a venda para as locadoras começará a ser feita sem os grandes descontos que hoje se vê. A concorrência vai aumentar. Sem contar, que em praticamente todas as montadoras, há empresas criadas para fazer isso. Não é a Fiat ou Jeep que tem o carro por assinatura, é a Flua!. Ou seja, no limite, a empresa pode comprar carro de si própria”, afirma Martins.
O InfoMoney questionou todas as montadoras sobre essa dinâmica, e por ora, nenhuma afirmou que pensa em reduzir os descontos nas vendas, nem mesmo mudar a dinâmica. Ricardo Casagrande, diretor de Vendas da Volkswagen do Brasil, afirma que as vendas para locadoras fazem parte de uma estratégia corporativa. “Já, no programa VW Sign&Drive, estamos focados em oferecer conveniência e mobilidade para os clientes que não querem ter a propriedade do veículo”, diz.
A Unidas, por exemplo, explicou que o consumo crescente de produtos e serviços por demanda é uma tendência global e vê naturalidade a entrada das fabricantes de veículos nesse modelo de negócios. “Acreditamos que a chegada desses novos players seja essencial para tornar o mercado mais competitivo e aumentar a demanda por esse tipo de serviço, além de ampliar o catálogo de opções disponíveis aos consumidores. A Unidas possui uma ampla expertise no setor. Durante a pandemia, a nossa estrutura e a capacidade de planejamento foram essenciais para encarar de frente a nova realidade, identificando oportunidades, ampliando o portfólio de serviços e trazendo soluções inovadoras ao público. Acreditamos que a rentabilidade do negócio é fruto desses fatores somados aos esforços conjuntos de nossa equipe altamente qualificada, à coesão da rede e à expertise na operacionalização do negócio”, explicou Campolina.
“O mercado de locação ainda é bem subpenetrado no Brasil, ou seja, existe muito espaço para crescer e para a entrada de novos players. Neste sentido, a Movida já possui uma operação altamente estruturada, com tecnologia embarcada e amplo sistema de atendimento, que trazem vantagens competitivas”, acrescenta Marcelo Rosal, diretor de produtos da Movida.
Por outro lado, a empresa entende que as montadoras continuarão precisando vender seus carros para garantir a rentabilidade da sua linha de produção, e as locadoras continuarão sendo um excelente parceiro para dar resiliência aos fabricantes.
A Porto Seguro, embora não seja uma locadora, comentou que a produção de veículos zero não tende a ser canibalizada entre venda e disponibilização de veículos para assinatura e que este mercado tem muito para crescer no Brasil. “Existe espaço para todos, inclusive enxergamos com bons olhos os novos entrantes, pois colaboram para o desenvolvimento deste ecossistema”, afirmou Pereira.
A Localiza acrescentou que em seu caso o bom relacionamento com as montadoras pode ajudar a manter uma relação produtiva nesse novo cenário. “A Localiza mantém um relacionamento de longo prazo com as montadoras e trabalha com um planejamento estruturado, que leva em conta todas as dinâmicas do mercado. O carro por assinatura é uma demanda que vem das novas necessidades e desejos dos consumidores. Mundialmente, este mercado é atendido por players de diversos segmentos, como empresas de leasing, montadoras e startups. A entrada de novas companhias nesse negócio gera valor para toda a cadeia do setor e também para os clientes, que têm a seu dispor diferentes soluções de mobilidade”, diz Andrade.
Diário Regional
Novo BEm tem 28,2 mil reduções de salário ou contratos suspensos no ABC
Um mês após a publicação da Medida Provisória 1.045/21, que recriou o Programa Emergencial de Manutenção do Emprego e da Renda (BEm), ao menos 28,2 mil acordos de suspensão do contrato de trabalho ou de redução de jornada e salário foram assinados no ABC. Esses acordos englobam 27.392 trabalhadores e 6.064 empregadores.
Os dados foram extraídos do painel do BEm – mantido pelo Programa de Disseminação das Estatísticas do Trabalho (PDET), do Ministério da Economia – e compilados pelo Diário Regional. Válido por até 120 dias, o programa oferece parcela do seguro-desemprego como compensação pela redução do salário ou suspensão do contrato. No ano passado, o BEm vigorou por oito meses, durante os quais foram assinados 466 mil acordos na região.
O novo BEm mantém as mesmas regras do programa que vigorou em 2020. Os trabalhadores têm a garantia do emprego pelo mesmo período de vigência do acordo quando o salário é recomposto. Do total de acordos assinados neste ano nos sete municípios, 62,1% (17.556) preveem redução de jornada e salário em 25% (5.099), 50% (5.466) e 70% (6.991). Nessa modalidade, o trabalhador recebe parcela (de 25%, 50% ou 70%) do seguro-desemprego a que teria direito caso fosse demitido.
Outros 10.699 acordos firmados (37,9% do total) preveem a suspensão do contrato de trabalho. Nessa modalidade, o governo banca 100% do seguro-desemprego a que o trabalhador tem direito, no caso de empresas com receita bruta anual até R$ 4,8 milhões. Acima desse valor, o governo banca 70% e o empregador, o restante.
Os dados mostram ainda que o setor de serviços é que o mais aderiu à reabertura do BEm até o momento no ABC, com 15.349 acordos (54,3% do total). Na sequência aparecem o comércio, com 6.665 acordos (23,6%); a indústria, com 5.707 (20,2%); e a construção, com 534 (1,9%).
PRAZO – O empregador deve comunicar ao Ministério da Economia as condições pactuadas, bem como a conta bancária do trabalhador, em até dez dias, contados da data da celebração do acordo, pelo site servicos.mte.gov.br/bem/#empregador. Ao todo, o trabalhador poderá receber até quatro parcelas. A primeira delas é paga no prazo de 30 dias contados da data de início da vigência do acordo.
Valor
Prorrogação de mandato deflagra guerra na CNI
Presidente da Fiemg faz ataques e ameaça ir à Justiça contra permanência de Robson Andrade no cargo
O presidente da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg), Flavio Roscoe, agitou o setor empresarial ao gravar um vídeo com ataques à decisão do conselho de representantes da Confederação Nacional da Indústria (CNI) de prorrogar o mandato da sua atual diretoria, incluindo o presidente, Robson Andrade. Na manifestação enviada aos líderes industriais, Roscoe diz que a medida, aprovada por 23 federações estaduais, é um “subterfúgio para evitar a eleição”, prevista para 2022, e uma “burla à lei e ao próprio estatuto da CNI”, pois sem essa manobra, Andrade, que não é mais delegado por Minas Gerais, não poderia se eleger após o fim do seu atual mandato.
O Valor apurou que o Roscoe sinalizou a colegas que pode entrar com ação judicial contra a medida. Antes da reunião no dia 25, que aprovou em primeiro turno a prorrogação por um ano, ou seja, até 2023, as federações da região Sudeste (São Paulo, Rio de Janeiro, Espírito Santo, além de Minas) já haviam se posicionado contrariamente à ideia que seria levada à votação.
Fontes ligadas à Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), presidida por Paulo Skaf, avaliam que a tentativa de descasar as eleições do setor industrial das eleições gerais no país vai acabar gerando um enfraquecimento da CNI na relação com o futuro governo.
Ao Valor Roscoe reiterou o teor do vídeo e reforçou a mensagem de que não cabe mudar o estatuto para prorrogar mandato, que, nesse caso, o voto teria que ser secreto pelos conselheiros (por estar associado a uma eleição). O empresário também se coloca como candidato para suceder Andrade. A dura fala do titular da federação mineira que circulou entre os empresários foi rebatida por algumas lideranças industriais, como Synesio Batista, presidente da Abrinq (Associação Brasileira dos Fabricantes de Brinquedos) e membro suplente do conselho, e por José Carlos Lyra, presidente da federação alagoana (Fiea), em mensagens no grupo de empresários obtidas pelo Valor.
Synesio, no texto enviado aos seus pares, destaca que houve um amplo debate prévio à deliberação da proposta. “Foram mais de duas horas de discussão”, disse, apontando que todos puderam falar. “Assisti a uma reunião organizada, com discussão franca e respeitosa, em que todos os conselheiros que pediram a palavra puderam falar pelo tempo que quiseram. A meu ver, democracia é isso. É respeitar as diferenças, as opiniões divergentes, é garantir a liberdade de expressão, mas é também aceitar e se sujeitar à vontade da maioria.”
Lyra, aliado de Andrade, disse também em carta aos seus colegas que recebeu a manifestação de Roscoe com “tristeza”. “A reforma estatutária pretendida pela ampla maioria dos conselheiros além de legítima, pois efetivada dentro de sua competência, foi objeto de cuidadosa e prévia reflexão, levando em conta os interesses maiores da indústria”, afirmou Lyra.
O presidente da federação de Mato Grosso, Gustavo Oliveira, disse que faz sentido descolar as eleições empresariais do pleito geral do país. “Tivemos uma discussão ampla e o ponto de convergência foi pela extensão por um ano, que tem benefícios de quebrar eleição em ano eleitoral geral e repõe mandato prejudicado por corte de recursos do Sistema S em decorrência da pandemia”, afirmou.
O presidente da CNI, Robson Andrade, disse ao Valor que a proposta de prorrogação por um ano veio da parte de 20 representantes industriais, com base em duas premissas: completar a implantação do sistema que atende à lei geral de proteção de dados e também de compliance, que estão sendo levados às federações para atuar de forma sistêmica, com apoio da CNI. Isso deve estar concluído no início de 2023.
Andrade afirmou que o outro motivo foi separar a eleição da CNI das eleições no país. No ano passado, ele tinha dito à reportagem do Valor ser contrário a articulações nesse sentido, defendendo um processo de renovação no setor. Andrade explicou que aquela posição se referia às articulações para renovar por dois anos, que ele rejeitou. “Para um ano e com esses argumentos, eu me mostrei favorável”, disse. Andrade garantiu que não aceitará outra prorrogação. “Essa é única e definitiva, até porque tem três candidatos à minha sucessão.”
Valor online
PIB brasileiro avança 1,2% no 1º trimestre, aponta IBGE
Projeção das instituições financeiras procuradas pelo Valor Data era de crescimento de 0,7% no período
O Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro cresceu 1,2% no primeiro trimestre de 2021, em relação aos três meses anteriores, informou nesta terça-feira o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Na comparação com o mesmo período de 2020 houve crescimento de 1%.
O primeiro trimestre foi marcado pelo recrudescimento da pandemia e o aumento das medidas de restrição em diferentes locais do país, especialmente em março. Apesar de um impacto maior em perdas de vida, a segunda onda de covid-19 teve efeito menor na atividade econômica, diante de regras menos rígidas de distanciamento.
A mediana das estimativas do Valor Data apontava para alta de 0,7% nos três primeiros meses de 2021, perante o último trimestre de 2020, na série com ajuste sazonal — com intervalo entre estabilidade e 2,4% entre as 55 consultorias e instituições financeiras ouvidas. Na comparação com o trimestre inicial de 2020, a expectativa era de avanço de 0,5%.
A variação na série com ajuste sazonal veio abaixo do Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br), considerado uma prévia do PIB, que subiu 2,30% no primeiro trimestre de 2021, frente ao último trimestre de 2020. Para a comparação com o primeiro trimestre de 2020, o IBC-Br tinha apontado avanço de 2,27%. No quarto trimestre de 2020, o PIB cresceu 3,2% sobre o terceiro trimestre, feito o ajuste sazonal. No acumulado nos quatro trimestres terminados em março de 2021, o PIB caiu 3,8%, comparado aos quatro trimestres imediatamente anteriores.
Valor online
Análise: PIB vai bem no agregado, mas ainda mostra estragos da pandemia
Leitura é de que a economia resistiu bem ao início da segunda onda da covid-19 no país
O crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) de 1,2% no primeiro trimestre ficou acima da mediana das estimativas de economistas, de 0,7%. Pode ser considerado um bom número, até porque, até meados de maio, as expectativas do Boletim Focus apontavam um recuo na comparação com o mesmo período do ano passado, e o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostrou avanço de 1% nessa comparação, também acima do esperado.
Assim, a leitura é de que a economia resistiu bem ao início da chamada segunda onda da pandemia de covid-19 no país, que neste momento, pouco mais de dois meses depois, ainda produz quase dois mil mortos por dia.
Alguns pontos denunciam os estragos da pandemia. No lado da demanda, o consumo das famílias caiu 0,1% sobre o quarto trimestre, num período de aumento do desemprego e do desalento e de ausência do auxílio emergencial, que voltou apenas em abril. Na oferta, a indústria de transformação, às voltas com aumento de custos e falta de insumos, caiu 0,5% na comparação com o quarto trimestre do ano passado, quando cresceu 4,7%. Mas o agregado “indústria” do PIB, porém, cresceu 0,7%, puxado pela indústria extrativa e pela construção.
O segmento “outros serviços”, que chegou a cair 17% no segundo trimestre do ano passado, durante a primeira onda da doença, teve uma recuperação parcial no terceiro e quarto trimestres (com altas de 7,1% e 5,6%, na série com ajuste sazonal, respectivamente), mas ficou praticamente estável nos três primeiros meses deste ano. É ali onde estão pequenos serviços, bastante ligados ao consumo das famílias, que representam cerca de 20% do PIB do setor e que empregam muita mão de obra.
No total, os sete segmentos que compõem o setor de serviços cresceram 0,4% no primeiro trimestre ante o último quarto de 2020, mostrando que, ao final, as restrições impostas à circulação na segunda onda afetaram menos essa parte do PIB do que no ano passado. Ainda no lado da oferta, o PIB agropecuário se beneficiou de preços em alta nas commodities e uma produção recorde e cresceu 5,7%.
Analistas têm observado que, após um período ruim em abril, em meio ao colapso dos hospitais e números recordes da pandemia, houve uma volta mais forte da Fonte: IBGE. Elaboração: Valor Data PIBsetorial Trimestre contra trimestre do ano anterior, em atividade em maio, algo que indicadores como as vendas por meio de cartão de crédito têm mostrado. A confiança, indicador antecedente de atividade, também voltou a crescer.
A economia parece ter resistido a mais uma onda no período, o que levou muita gente a reajustar as estimativas para o PIB deste ano. A ameaça no horizonte – além de todas as demais já colocadas (inflação, risco fiscal, terceira onda etc.) – pode ser a crise hídrica, que pode afetar de forma relevante a oferta de energia e, por extensão, a economia, ainda este ano. Saber como estará a atividade ao fim de 2021, se melhor, se pior, ainda é uma corrida de muitos obstáculos.
Valor
Decisão da Anvisa sobre vacina é adiada por STF
Nova liminar posterga reunião que poderia liberar até 95 milhões de doses de imunizantes russo e indiano
Após mais uma ação do Supremo Tribunal Federal (STF), a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) adiou uma decisão que poderia representar a liberação de até 95 milhões de doses de vacina contra a covid-19. Uma reunião de diretoria, programada para hoje, iria deliberar sobre os pedidos de importação das vacinas Sputnik V, da Rússia, e Covaxin, da Índia. Os técnicos e diretores da agência reguladora estão trabalhando na documentação complementar encaminhada pelos representantes das duas vacinas.
Segundo apurou o Valor, até ontem a situação era mais favorável para a Covaxin e um pouco mais complicada para a Sputnik. A reunião da diretoria estava prevista para acontecer às 17 horas de hoje, mas no meio da tarde surgiu uma nova liminar do ministro Ricardo Lewandowski. Ele atendeu a um pedido do governo do Maranhão e deu prazo de cinco dias úteis para a Anvisa se manifestar sobre a autorização de importação pelo Estado.
A medida irritou diretores da agência, que discordam da recorrente atuação do STF para apressar decisões técnicas. Dessa vez, no entanto, a liminar acabou dando um fôlego maior para o trabalho da Anvisa. “Ganhamos esses cinco dias pra continuar a análise”, disse ao Valor um integrante da agência reguladora.
O mesmo expediente aconteceu em abril, quando a Anvisa atendeu ao prazo dado por Lewandowski, mas acabou barrando a importação da vacina russa. No último dia 21, o Maranhão encaminhou um novo relatório técnico, mas o documento não esclareceu todas as dúvidas. Diante disso, novos documentos foram encaminhados e até ontem ainda havia material chegando à agência.
Na última vez em que se manifestou, a Anvisa apontou falta de garantias sobre a segurança da vacina russa, o que irritou políticos interessados em agilizar a compra da Sputnik. Diferentemente do que aconteceu em abril, no entanto, dessa vez não há consenso entre os técnicos sobre a relação entre o risco e o benefício de liberar a importação da vacina. Governadores de Norte, Nordeste e Centro-Oeste têm acordo para compra de 65 milhões de doses, enquanto o Ministério da Saúde se comprometeu com outras 10 milhões.
O veto à importação dessas doses resultou em uma crescente pressão política sobre a Anvisa, que recebeu duras críticas de senadores durante a CPI da Covid. Por isso, uma eventual nova rejeição – sem unanimidade entre os técnicos – poderia acentuar o tom dos questionamentos. O governo federal também tem acordo para a compra de 20 milhões de doses do imunizante indiano, desenvolvido pelo laboratório Bharat Biotech. A empresa esbarrou no primeiro pedido de certificação de boas práticas farmacêuticas, mas essa questão já teria sido superada, restando apenas alguns dados técnicos.
O cronograma oficial do Ministério da Saúde prevê pelo menos 42 milhões de doses entregues no mês de junho, mas a aprovação de novos lotes de vacinas ajudaria o governo a acelerar o ritmo da imunização no país. Além de eventuais atrasos, há a possibilidade de ampliação da população vacinável.
Ontem, veio a público a informação de que a farmacêutica americana Pfizer solicitou à Anvisa a redução da faixa etária do público de sua vacina, que passaria de 16 anos de idade para 12 anos. Também ontem, o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, disse “ter certeza de que toda a população será imunizada até o fim deste ano”. Ele fez um curto discurso na abertura do Fórum de Investimentos Brasil 2021.
Queiroga citou estudos que mostram que, para cada dez pontos percentuais de população vacinada, o PIB cresce 0,13%. Atualmente o Brasil tem pouco mais de 10% de sua população total imunizada com as duas doses. O STF também homologou um acordo com o governo para que sejam enviadas doses de vacina aos profissionais de educação. A iniciativa já deve ocorrer na próxima remessa, programada para ser enviada a partir de amanhã.
Folha de SP
Governo Bolsonaro não confirma Copa América e estabelece condições, incluindo atletas vacinados
Ministro da Casa Civil diz que evento deverá seguir protocolos sanitários caso seja realizado no país
O ministro Luiz Eduardo Ramos (Casa Civil) afirmou na noite desta segunda-feira (31) que a realização da Copa América no Brasil ainda não está definida, mas disse que o evento, caso ocorra no país, seguirá protocolos sanitários como a vacinação de atletas e comitivas. “Não tem nada certo. Estamos no meio do processo, mas não vamos nos furtar a uma demanda, caso seja possível atender”, declarou o ministro.
Ramos fez uma declaração à imprensa ao lado do secretário especial de Esporte, Marcelo Reis Magalhães. Ele afirmou que na manhã desta segunda recebeu uma ligação de Walter Feldman, secretário-geral da CBF (Confederação Brasileira de Futebol), que lhe consultou sobre a organização do evento no Brasil. Nas palavras de Ramos, tratou-se de uma “demanda” levantada por Feldman.
Ainda de acordo com Ramos, o tema foi debatido em reunião no Planalto, por orientação do presidente Jair Bolsonaro, mas o martelo ainda não foi batido. O ministro detalhou ainda condições sanitárias que devem ser estabelecidas caso o torneio de fato ocorra no Brasil, entre elas a de que atletas e comitivas estejam vacinados.
“Esse evento, caso se realize, não terá público. No momento são 10 times. No máximo, já foi acordado nessa reunião com a nossa presença e a CBF (Confederação Brasileira de Futebol), são dez times, com dois grupos; 65 pessoas em cada delegação. Todos vacinados. [É] imposição que nós tratamos com a CBF. Até agora não há documento firmado, apenas essas tratativas”, afirmou.
Caberá à CBF, segundo o secretário Magalhães, negociar diretamente com os estados e municípios para escolher as sedes do torneio. Pela tabela original, os jogos ocorrerão entre 13 de junho e 10 de julho. Neste calendário, é inviável um atleta receber, por exemplo, duas doses da Coronavac, no intervalo recomendado de 28 dias entre cada aplicação, antes da primeira rodada. O governo não explicou se as datas das partidas poderão ser alterada ou se aceitará atletas que receberam apenas uma dose da vacina, o que não garantiria a eficácia do imunizante.
Auxiliares do governo Bolsonaro relataram surpresa com o anúncio de que o torneio seria realizado no Brasil. No Ministério da Saúde, interlocutores disseram reservadamente que souberam do tema apenas na manhã desta segunda. Alguns governadores de estados cotados para receber partidas —como Pernambuco e Rio Grande do Norte— já afirmaram que não têm condições sanitárias para isso. Outros disseram que não foram procurados pelo governo.
Os comentários de Ramos contradizem manifestação da Conmebol (Confederação Sul-Americana de Futebol), que em suas contas oficiais afirmou que o Brasil sediaria o evento. A entidade fez um agradecimento nominal ao presidente Jair Bolsonaro. “O Brasil receberá a Copa América 2021! O melhor futebol do mundo levará alegria e paixão a milhões de sul-americanos. A Conmebol agradece ao presidente Jair Bolsonaro e sua equipe, assim como à Confederação Brasileira de Futebol”, disse a Conmebol, no Twitter.
Apesar de ter destacado a situação de indefinição, Ramos rebateu críticas contra a realização do campeonato no Brasil por conta da crise da pandemia da Covid. Até o momento, mais de 460 mil pessoas morreram da doença no país. “Por que o Brasil vai sediar a Copa América durante uma pandemia? Senhores, primeiro que foi uma demanda que foi realizada via CBF, pela Conmebol. Estamos em plena pandemia, com situação difícil, só que o Campeonato Brasileiro envolve 20 times na Série A e 20 times na Série B”.
“Ou seja, estão ocorrendo jogos em todo o Brasil. Fora esse detalhe, acabaram na semana passada os campeonatos estaduais. Então, com a realização dos jogos da Copa América, que serão poucos, não sei por que algumas pessoas se pronunciaram contra o evento, se há jogos do Campeonato Brasileiro, dos estaduais, e da Libertadores”, disse.
Magalhães, por sua vez, ressaltou que a Copa América é um evento privado. “A gente teve a demanda da CBF hoje pela manhã e estamos fazendo esforços para, caso a gente venha realizar a Copa América, que a CBF, por se tratar de evento totalmente privado —é bom deixar claro: é evento privado —, que a CBF negocie com os estados e municípios onde vão ser as sedes. O governo federal apenas dará toda a parte de estrutura para a entrada dessas equipes no país, basicamente isso”, afirmou. Ramos disse que governo deve decidir na terça (1) se o evento será feito no Brasil. “Vou ainda fazer ligações com a CBF. Amanhã, se Deus quiser, nós teremos uma posição final”, afirmou o ministro.
A Copa América seria realizada na Colômbia e Argentina. O primeiro país foi descartado no último dia 20, em razão da turbulência política que vive. O segundo, no domingo (30), por causa da crise sanitária. O Brasil avalia receber os jogos, mesmo com a pandemia descontrolada e sob alertas de possível nova onda da doença. Os governadores de São Paulo, João Doria (PSDB), do Distrito Federal, Ibaneis Rocha (MDB), e do Amazonas, Wilson Lima (PSC), afirmaram que não vão se opor.
Lima disse à Folha que não é “insensível” receber o torneio em plena crise sanitária, e meses após o Amazonas enfrentar colapso pela falta de oxigênio. Ele afirmou que a Copa América é oportunidade de movimentar a economia. “Os números [no estado] estão estáveis, o que nos dá tranquilidade para conversar sobre a vinda dos jogos”, disse o governador do Amazonas. Ele afirma que foi pego de surpresa pelo anúncio da Conmebol.
O governador Eduardo Leite (PSDB) disse considerar “inoportuno” realizar partidas do torneio no Rio Grande do Sul, mas que, se houver algum convite, vai “levar o assunto para discussão com os outros Poderes e entidades que representam a sociedade gaúcha”.
Estadão
‘Há prova suficiente para indiciamento’, afirma presidente da CPI
A cúpula da CPI da Covid avalia já haver provas suficientes de que o governo de Jair Bolsonaro não quis comprar vacinas para combater o novo coronavírus. O presidente da comissão, senador Omar Aziz (PSD-AM), disse que, com um mês de funcionamento, o colegiado conseguiu reunir evidências de que Bolsonaro seguia orientações de um “gabinete paralelo” ao Ministério da Saúde e agiu de forma “deliberada” para atrasar a compra dos imunizantes, apostando na chamada “imunidade de rebanho”.
Para Aziz, a CPI já tem motivos para pedir ao Ministério Público o indiciamento de agentes públicos por crime sanitário e contra a vida. “Já temos provas suficientes de que o Brasil não quis comprar vacina”, disse o presidente da CPI, ao Estadão/Broadcast Político. “Isso não tem mais o que provar. Tenha a certeza de que a CPI não vai dar em pizza.” Embora sem dizer os nomes de quem deverá ser apontado como cúmplice da crise no País, sob o argumento de que, no comando da comissão, não pode fazer esse tipo de comentário, o senador afirmou ser impossível não responsabilizar Bolsonaro.
Na avaliação do senador, as ações do presidente contrárias ao isolamento social e ao uso de máscara de proteção mostram que ele apostava na imunidade de rebanho e no tratamento precoce com medicamentos sem eficácia comprovada, como a cloroquina. “Essas duas coisas estão diretamente ligadas a ele. Não tem jeito. Ele (Bolsonaro) foi quem falou diretamente sobre cloroquina”, destacou.
Após ouvir dez depoimentos, Aziz está convencido de que a posição de Bolsonaro tem por trás as orientações de integrantes de um “gabinete paralelo” na pandemia, formado por médicos e auxiliares do governo defensores de medicamentos sem respaldo da comunidade científica.
“Ele se reunia muito mais com o ‘gabinete paralelo’ do que com o ministro da Saúde”, observou o presidente da CPI. “Comportamento atípico em relação a qualquer líder mundial. Nem em uma republiqueta, que não tem absolutamente nada, o líder fica sem máscara, fica falando esse tipo de coisa. Vocês lembram que o Pazuello disse que se reunia com o presidente uma vez por semana, quiçá de 15 em 15 dias? Não se reunia com o ministro, mas se reunia naquele ‘gabinete paralelo’ diariamente”, emendou o senador, numa referência ao depoimento do ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello, que foi novamente convocado.
Conhecido como G7, por abrigar sete dos 11 integrantes da CPI, o grupo de senadores de oposição e independentes diz que documentos em posse da comissão não deixam dúvidas sobre a atuação desse “gabinete paralelo”. As reuniões para aconselhamento do presidente fora do Ministério da Saúde contavam com a presença do vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ), do então secretário de Comunicação, Fábio Wajngarten, do assessor especial da Presidência Tércio Arnaud Tomaz, do empresário Carlos Wizard, do deputado Osmar Terra (MDB-RS) e da médica Nise Yamaguchi.
Defensora do tratamento precoce, a oncologista e imunologista Nise prestará depoimento hoje à CPI. “A doutora Nise não tem por que mentir. Ela não faz parte do governo. Alguém a indicou para o presidente, não foi ela que foi lá e bateu na porta do Palácio do Planalto”, disse Aziz.
Governadores de 17 Estados e do Distrito Federal entraram na sexta-feira com ação no Supremo Tribunal Federal em busca de salvo-conduto para não depor à CPI. Até agora, a comissão convocou nove governadores. Aziz afirmou que eventual aval do STF para chamar os governadores abrirá precedente para que o próprio Bolsonaro seja ouvido na comissão.
Embora não caiba à CPI determinar punições, ao fim dos trabalhos o resultado da investigação parlamentar será enviado ao Ministério Público Federal, recomendando a responsabilização de agentes públicos. A CPI tem prazo de 90 dias para apresentar conclusões, mas esse período é prorrogável.
À CPI, o ex-presidente da Pfizer no Brasil Carlos Murillo informou aos senadores que nove ofertas de vacinas, feitas em cinco datas diferentes, ficaram sem resposta. Segundo Murillo, que hoje responde pelo comando da empresa na América Latina, o Brasil deixou de receber ao menos 4 milhões de doses no primeiro semestre deste ano por causa da demora do governo Bolsonaro em fechar negócio, firmado apenas em março.
Na semana passada, o diretor do Instituto Butantan, Dimas Covas, relatou que três propostas para compra de vacinas, apresentadas ao Ministério da Saúde, foram ignoradas. Se tivessem sido aceitas, o País poderia ter recebido 52 milhões de doses a mais da Coronavac. Bolsonaro chamava a Coronavac de “vacina chinesa” do Doria, numa provocação ao governador João Doria (PSDB), seu adversário.
Valor (coluna)
O risco de Bolsonaro capitalizar protesto
Presidente da República é ao mesmo tempo maior causa e principal risco das manifestações
Maria Cristina Fernandes
Nos Estados Unidos, o “Black Lives Matter” uniu os jovens, os moderados do Partido Democrata e arrancou até um pedido de desculpas e a solidariedade do Estado-Maior Conjunto das Forças Armadas. No Chile, as manifestações de rua ensejaram uma Constituinte com diversidade inédita e, finalmente, na Colômbia as pessoas foram às ruas contra a “boiada” de uma reforma tributária regressiva. Tudo isso em plena pandemia.
Os eventos ocorridos nos três países já seriam precedentes suficientes para a manifestação que aconteceu no sábado em mais de 200 cidades brasileiras. Em nenhum daqueles países houve mais motivos para protestos do que hoje os há no Brasil. Nenhum deles, porém, é governado por Jair Bolsonaro. No país em que havia um congênere, Donald Trump, o processo eleitoral já em curso canalizou a blindagem em defesa da manifestação.
No Brasil, o presidente da República é ao mesmo tempo a causa maior e o principal fator de risco da onda de manifestações de oposição que ora se inicia. A adesão maior do que os organizadores imaginavam sugere que os protestos de sábado sejam apenas os primeiros de uma série. Já não há mais como colocar a pasta de volta no tubo, mas resta saber como a oposição vai se prevenir para evitar que o bolsonarismo seja o maior favorecido por esses eventos.
Foi isso que aconteceu com a onda de manifestações de rua de 2013 para cá. É bem verdade que produziram grupos de renovação da política, mas o grande beneficiário do grito antissistema, de longe, foi o populismo digital de direita que desabrochou no impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff e, dois anos depois, encontrou no bolsonarismo seu berço esplêndido.
Que o presidente use as manifestações do sábado para tentar se blindar contra o discurso de que ele, Jair Bolsonaro, é o maior provocador de aglomerações, é do jogo e já estava na conta. O risco maior está nos algoritmos do gabinete do ódio e na tensão hoje existente com as Forças Armadas. Foram esses algoritmos que transformaram o “#EleNão” da campanha eleitoral numa manifestação de mulheres lascivas contra Bolsonaro.
Desta vez, o presidente já deu a deixa. Ao dizer que os protestos do sábado só não foram maiores porque “faltou erva”, sugeriu que as ruas foram lotadas por maconheiros. O roteiro está pronto. Em breve vão encontrar fotos de jovens com cigarros de maconha, dizer que estavam nas manifestações e contrapô-los a postos de vacinação com cartazes de exaltação ao governo federal. “Não importa que seja ‘fake’. É a pura verdade”, reza a cartilha de Olavo de Carvalho.
Basta ver como mentem os bolsonaristas na Comissão Parlamentar de Inquérito da Pandemia para atestar que a produção de “fatos alternativos” está de vento em popa. Tanto que lideranças mais calejadas como o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, preferiram colocar as barbas de molho. Num sinal de que é cedo para apostar no que pode sair das ruas, Lula divulgou ontem imagens de encontros virtuais com governadores de seu partido para a discussão da vacinação nos Estados e da lotação dos hospitais.
Por isso é cedo demais para dizer que o impeachment ficou mais próximo. A entrevista do presidente do PP, o senador Ciro Nogueira (PI), ao Valor, ontem, mostrou como o partido que comanda a Câmara tem sido beneficiário deste governo e não pretende mexer em jogo que está ganhando a um preço cada dia mais alto para o erário. Tampouco o procurador-geral da República, Augusto Aras, tem dado sinais de que esteja mais disposto a denunciar o presidente do que esteve ao longo desses 29 meses de incúria.
Enquanto isso, a pós-verdade bolsonarista ruma para se blindar no Congresso, onde tramitam projetos que proíbem que as plataformas de rede social os cancelem, e conta com a modorrenta tramitação dos inquéritos das “fake news” no Supremo. Pró-ativo na denúncia contra o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, o relator do caso no STF, o ministro Alexandre de Moraes, parece mais sossegado na condução do inquérito que atinge o gabinete do ódio.
O potencial de estrago dessa fábrica de notícias falsas se agiganta pelo momento de tensão nas relações com as Forças Armadas. Em Pernambuco, Estado em que houve a reação policial mais violenta contra manifestantes, cegando com balas de borracha duas pessoas que dela não participavam e jogando spray de pimenta contra a vereadora do PT, Liana Cirne, cruzam-se todas as esquinas do imponderável.
O Estado é governado por um partido-chave na articulação da oposição, o PSB, e tem, como presidente local do PTB, o ex-coronel da Polícia Militar, Luiz Meira. Ex-comandante do Batalhão de Polícia Militar do Choque, Meira foi colocado no comando do partido por intervenção do presidente nacional, Roberto Jefferson, e atua em dobradinha com o ministro do Turismo, Gilson Machado, na oposição ao governo local. Há estrutura local, portanto, para amplificar o desgaste entre governador e PMs.
O governador Paulo Câmara anunciou de imediato a apuração de responsabilidades e a indenização dos manifestantes feridos, mas é nos desdobramentos sobre a punição dos envolvidos que se verá a efetividade de seu poder sobre a Polícia Militar. Além de vídeos divulgados em blogs não oficiais da PM associando a manifestação ao comunismo, a associação local de cabos e soldados soltou nota atribuindo a “partidos de esquerda e supostos defensores das classes menos favorecidas” o apedrejamento de ônibus e o “pânico” causado na população. A nota repudia a punição dos PMs e diz que eles agiram para defender, inclusive, o Palácio do Campo das Princesas, sede do governo.
A capacidade de Bolsonaro de incitar insatisfações entre policiais pôde ser medida pelo aumento concedido à Polícia Militar do Distrito Federal às vésperas do congelamento de salário dos servidores. O aumento à PM-DF, que está pendurada no Orçamento da União, deflagrou demandas de isonomia no país.
A faísca no palheiro da Polícia Militar de Pernambuco é a combustão que o presidente da República precisa para embaralhar as cartas que hoje lhe são desfavoráveis na apuração, pelo Exército, das transgressões do general Pazuello. Baderna não é colocar um general de Exército num palanque de um presidente que nem partido tem, é um governador não ter comando de sua polícia. Mentira? Com certeza, mas a oposição ainda tem que se mostrar capaz de rebatê-la.