Clipping 24 de novembro de 2021

Manchetes

46% das ações policiais no RJ não fora informadas ao MP (Folha de SP)

Inflação e Juros devem tirar R$ 44,7 bi do comércio no fim do ano (Estadão)

Governo propõe tornar Auxílio despesa obrigatória (O Globo)

Setor petroquímico investe R$ 5,3 bi em energia limpa (Valor)


Reuters

Preços de aço para montadoras podem subir entre 50% e 60% no próximo ano

As siderúrgicas seguem negociando contratos de preços de longo prazo com montadoras de veículos neste final de ano. Os valores a serem definidos para 2022 podem ser 50% a 60% maiores que os deste ano, afirmou ontem o presidente do instituto que reúne distribuidores de aços planos, Inda.

As siderúrgicas seguem negociando contratos de preços de longo prazo com montadoras de veículos neste final de ano. Os valores a serem definidos para 2022 podem ser 50% a 60% maiores que os deste ano, afirmou ontem o presidente do instituto que reúne distribuidores de aços planos, Inda.

“O pessoal ainda está negociando…Acredito em um aumento de no mínimo ao redor de 50% a 60%”, afirmou Carlos Loureiro, presidente do Inda, em entrevista coletiva a jornalistas. A intensidade do reajuste deve-se ao fato de que os contratos com as montadoras, que normalmente entram em vigor no começo de cada ano, passaram boa parte de 2021 sem os aumentos aplicados para outros setores ao longo do ano.

A entidade divulgou mais cedo que os distribuidores de aços planos em outubro tiveram alta de 0,6% nas vendas ante setembro, para 293,4 mil toneladas, mas queda de 21,1% na comparação com outubro do ano passado, quando a demanda interna ainda se recuperava do baque causado pelas primeiras medidas de isolamento social por causa da Covid-19.

As compras do setor, responsável por cerca de um terço do consumo do aço produzido pelas usinas nacionais, tiveram alta de 3,5% em outubro na comparação mensal e queda de 17,4% na relação anual, para 286,3 mil toneladas.

Com isso, os estoques do setor terminaram o mês passado em 826,2 mil toneladas, equivalente a 2,8 meses de venda. A previsão do Inda para novembro é que a venda caia 3% ante outubro e, com isso, os estoques subirão para 2,9 meses de comercialização, segundo Loureiro.

Luz amarela – Na avaliação de analistas do Safra, os números divulgados pelo Inda foram “bons num primeiro momento”. “Tanto compra como venda dos distribuidores subiram mês a mês, contra expectativa de queda ante setembro”, afirmaram. Os analistas acrescentaram que, por um lado, a queda nos estoques pode dar sustentação aos preços do aço plano no mercado interno, mas “por outro lado, acende luz amarela sobre interesse de empresas manterem volumes elevados num cenário mais conturbado”.

Segundo os números do Inda, as importações de aços planos em outubro caíram 31,5% ante setembro, para 114,7 mil toneladas, mas isso não representaria toda a realidade, uma vez que os dados obtidos por meio dos números da Secretaria de Comércio Exterior (Secex) consideram apenas o material que é internalizado, não o estocado nos portos.

Loureiro citou que um “volume considerável” das importações de aços planos feita nos últimos meses a preços maiores do que os atuais já chegou ao País, mas ainda não foi internalizada. Segundo ele, o porto de São Francisco do Sul (SC) pode ter material importado estocado em um volume de ordem de “150 mil a 400 mil toneladas”.

“O pessoal (importadores) não quer divulgar o número certo de material no porto porque isso pode pressionar os preços para baixo”, disse Loureiro. “Diante disso, as usinas fizeram algumas concessões (de preços). Hoje, o preço está sendo negociado 6% a 10% abaixo do que foi o preço mais alto. A paridade chegou a ficar negativa e agora já está positiva ao redor de 10%”.

Automotive Business

Brasil precisa priorizar reforma tributária, afirma presidente da Toyota

O #ABX21 debate como o país pode enfrentar o sistema tributário e os desafios de descarbonização para avançar no cenário global

O futuro do setor automotivo brasileiro no mercado global dependerá da capacidade do país de enfrentar desafios de longa data: altas taxas tributárias, o chamado custo Brasil e a descarbonização da mobilidade, segundo o presidente da Toyota, Rafael Chang. O executivo e Geovani Fagunde, sócio líder para a área automotiva da PwC, participaram nesta terça-feira (23/11) do #ABX21, promovido online por Automotive Business.

“A reforma tributária tem que ser uma prioridade do país para simplificar os tributos e ajudar na recuperação de crédito pelas empresas. O sistema tributário brasileiro é um problema para melhorar o protagonismo do país no mercado global”, afirmou Chang. “Temos capacidade para exportar mais. O Corola Cross híbrido flex começamos a exportar para 22 países da América Latina.”

Para Fagunde, a carga tributária é o principal fator para a falta de competitividade do Brasil. “Por mais que tenhamos o Rota 2030, a carga tributária ainda é muito pesada para ter um nível de competitividade comparado globalmente. Dentro do nosso mercado de América Latina somos competitivos, mas são poucos exemplos de projetos que tem uma plataforma global atendida pelo Brasil em outros lugares do mundo”.

Outro desafio para os próximos anos é a descarbonização do transporte. Segundo o presidente da Toyta, esse processo considerar as diversas tecnologias disponíveis (como os híbridos, plug in, elétricos e os veículos de célula de combustível de hidrogênio) e adaptá-las de acordo com a necessidade de cada local. A montadora conta com mais de 25 mil carros híbridos flex.

“Vai sempre depender do desenvolvimento da infraestrutura e das rotas tecnológicas disponíveis. As diferentes tecnologias podem conviver no mesmo momento a fim de oferecer o conceito de mobilidade cada vez mais integrado”, afirmou Chang. “O Brasil tem potencial muito grande com o etanol e o hidrogênio verde, vamos ter que ver a competitividade e escala desse hidrogênio, fatores determinantes para atrair investimentos.”

Na visão de Fagunde, a integração de diferentes rotas tecnológicas é uma estratégia importante para acelerar a descarbonização do transporte no país. “Precisamos também definir qual será a estratégia para fazer a migração para os elétricos. Alguns países estão fazendo a transição para a mobilidade elétrica mais rápida por causa da law enforcement e do investimento em infraestrutura. No Brasil, a renovação da frota demora mais e não tem infraestrutura para isso agora.”

Valor

Crise de chips revela baixa maturidade da indústria

Pesquisa da Accenture mostrou o estágio de vários segmentos da economia em relação ao que eles chamam de “maturidade operacional”

A falta de semicondutores hoje no mundo para atender segmentos tão distintos como eletroeletrônicos e montadoras se tornou o ícone dos problemas enfrentados pela indústria na cadeia de fornecedores. Mas ao apontar a pandemia da covid-19 como a grande responsável pelo caos logístico, muitas empresas acabam escondendo suas ineficiências internas e erros de estratégias.

Pesquisa realizada pela Accenture mostrou o estágio de vários segmentos da economia em relação ao que eles chamam de “maturidade operacional”, que inclui os critérios adotados na hora de definir de quem e de onde virão seus insumos e componentes. Quais os riscos de concentrar sua estratégia apenas nos custos, de não saber compartilhar informações com seus fornecedores e de ignorar os dados que são gerados diariamente nos diversos setores das empresas foram pontos abordados na pesquisa.

Flávia Couto, diretora de operações da Accenture, entende que o desequilíbrio no fornecimento de semicondutores já existia e a pandemia apenas acelerou e deu visibilidade ao problema. “Faltou (para as empresas que utilizam esse componente) mapear o risco”, diz. Elas falharam ao concentrarem em apenas uma região a produção de praticamente todos os semicondutores e de não preverem quais e em que estágio estavam seus concorrentes pelo mesmo insumo.

A pesquisa dividiu em quatro estágios o grau de maturidade das empresas: estável, eficiente, preditivo e preparadas para o futuro. Na média, o estudo indicou que apenas 7% das empresas estão “preparadas para o futuro”. Mesmo entre os setores com melhor desempenho, como seguros e alta tecnologia, esse indicador não passa de 10%.

Na outra ponta, entre os setores com pior desempenho, estão comunicações, saúde e mídia. Couto afirma que a estratégia de estoques das empresas precisa mudar, assim como os critérios na definição de quem, de onde e quando comprar. “Não se pode mais dar importância apenas ao custo. É preciso ficar atento também ao ambiente social onde o insumo é produzido”, diz.

Na avaliação da diretora da Accenture, os novos desafios na cadeia de fornecedores exigem investimento em tecnologia e pessoas. Nesse ponto, ela destaca a importância de as lideranças comandarem esse processo e a necessidade de formação de profissionais. “É necessários formar mais profissionais para as necessidades futuras. Não vejo ainda problemas com oferta de profissionais, mas pode surgir em breve”, afirma a executiva.

Outro pilar importante é o uso dos dados. Mais da metade das empresas classificadas como “preparadas para o futuro” utilizam “analytics” na tomada de decisões. “Experiência e intuição são vitais e insubstituíveis… também a obtenção de dados amplos e de alta qualidade para apoiar a tomada de decisões se tornou crucial”, destaca o estudo.

Folha de SP (coluna Paine S.A)

Sindicalistas prometem pressionar parlamentares contra minirreforma trabalhista

Manifesto das centrais diz que prepara protestos contra a medida

As centrais sindicais se reúnem nesta terça (23) para enviar ao governo um manifesto contra a nova tentativa de votar a minirreforma trabalhista. O projeto para flexibilizar regras como a contratação de jovens e pessoas de baixa renda foi barrado no Senado, mas o governo quer insistir na ideia, argumentando que pode favorecer os trabalhadores informais. O texto reduzia ou retirava obrigações como o pagamento do FGTS.

O novo manifesto, assinado por CUT, Força Sindical, UGT, CSB, NCST, CTB e outras, diz que os representantes dos trabalhadores vão pressionar parlamentares e organizar protestos contra a medida.

“É mais uma manobra que insiste em aprofundar a reforma de Michel Temer. Uma reforma que conduziu o Brasil à crise que eles mentirosamente dizem tentar resolver: aumento recorde do desemprego e da miséria”, afirma o documento, que será divulgado nesta semana.

Valor

Relatório da FAO mostra aumento do número de brasileiros com fome

Dados de 2018 confirmados em 2020 indicam 29 milhões de pessoas sem acesso a dieta saudável

A fome aumentou no Brasil, país que é um dos maiores exportadores líquidos de alimentos do mundo, constata a FAO, agência da ONU para a Agricultura e Alimentação, que publicou ontem novo relatório sobre a resiliência dos sistemas agrícolas nacionais.

A avaliação da FAO é de que a maioria dos países tem suficiente diversidade em seus sistemas agrícolas para atravessar choques. Ou seja, alimentos existem, o problema é o acesso a eles por falta de dinheiro. É isso que acontece no Brasil, por exemplo, sinaliza o economista-chefe da FAO, Maximo Torero.

Segundo o relatório, 14% da população brasileira, ou 29 milhões de pessoas, já não tinham condições de acesso a uma dieta saudável pelos dados de 2018, mas que teriam sido confirmados em 2020. E, no caso de choques que resultem em perda de um terço da renda pessoal, mais 10% da população brasileira, ou 21 milhões de pessoas, entram nesse grupo dos que não terão acesso a alimentação saudável.

“O Brasil tem política muito boa de expansão de safety nets [rede de proteção], o que foi capaz de reduzir a pobreza durante a covid-19, mas a fome aumentou’’, afirmou Torero. Isso porque os programas de proteção continuaram focados durante a pandemia nas pessoas já cobertas por eles, enquanto outras pessoas passaram a ter dificuldades na esteira da recessão, desemprego e perda de renda, argumentou.

A FAO aponta outros desafios para o Brasil. Nota que o país tem uma agricultura diversificada, mas em termos de valor realiza 60% de suas exportações com apenas um parceiro comercial – uma referência à China. “O Brasil é um país muito robusto em termos de agricultura, mas produtores de fato enfrentam um risco de exportação”, disse o economista Andrea Cattaneo, principal autor do relatório

Para a FAO, tanto o Brasil como a Argentina dependem fortemente das exportações e de um número relativamente pequeno de parceiros comerciais. “’Se algo acontece, como aconteceu com a indústria de carne [a China manteve por várias semanas o embargo à carne bovina brasileira] nesse grande país importador, tem efeito substancial’’, disse Torero.

Cattaneo notou também que o fato de um país ser aberto no comércio agrícola e possuir vantagem comparativa não aumenta necessariamente a flexibilidade da produção. Exemplifica que no Brasil e na Argentina mais de 70% do valor proteico provêm de dois produtos, a soja e o milho.

Outro desafio para o sistema agroalimentar brasileiro (produção, fornecedores, consumo final) é a deficiência da rede de transportes interno para carregar os produtos agrícolas. Globalmente, o estudo da FAO constata que em 90 países o fechamento de estradas centrais aumentaria o tempo das viagens das mercadorias em 20%. Nesse caso o tempo no transporte aumenta 30% no Brasil.

O país está na mesma situação de Bangladesh, Haiti, Madagáscar, Niger, Filipinas, Congo, Senegal e Sudão, segundo a FAO. “O Brasil tem enfrentando problemas nas redes de transporte para carregar os alimentos para os portos”, notou Torero, em referência a greve e ameaças de paralisação de caminhoneiros. “O Brasil é um grande exportador agrícola global, e quando qualquer coisa acontece em termos de disrupção no Brasil, isso afetará o mercado de alimentos no mundo.”

Mesmo antes da pandemia de covid-19, o mundo não estava no caminho certo para cumprir seu compromisso de acabar com a fome e a desnutrição até 2030. Além de extremos climáticos, conflitos armados ou aumentos nos preços globais dos alimentos, a frequência e a gravidade desses choques está em ascensão, alerta a FAO.

Os sistemas agroalimentares produzem 11 bilhões de toneladas de alimentos por ano. E o setor agroalimentar é responsável por um terço das emissões de gases antropogênicas (resultado da ação humana) que causam mudança climática.

Folha de SP

Número de mortes por Covid volta a aumentar em São Paulo

No restante do Brasil, a melhoria perdeu força

Não é um repique, não é uma onda, mas o número de mortes por Covid em São Paulo voltou a aumentar. Não se dá muita atenção porque se trata de um alta da casa de 60 vítimas por dia para a casa dos 70. No restante do Brasil, a melhoria perdeu força. O ritmo do morticínio está entre queda ligeira e quase estabilidade.

A situação paulista é pior, segundo os registros oficiais (isto é, se a subnotificação não aumentou em outros estados). Desde fins de outubro, parou de despiorar. Fica agora ainda mais evidente a ficção do dia de “morte zero”, alardeada faz umas duas semanas. Era bobagem propagandística precipitada, um erro estatístico e uma interpretação errada dos registros administrativos.

O número de mortes em São Paulo ainda era de 300 por dia no final de julho, havia sido de 800 por dia em abril. Entende-se, portanto, que pouca gente preste atenção ao problema recente, ainda mais porque faz tempo há saturação com o assunto e porque a vacina dá uma sensação maior de segurança. Mas entende-se também o motivo de um em cada nove municípios paulistas terem cancelado também o Carnaval de rua de 2022. A epidemia ainda não acabou.

O aumento do número de mortes não é lá surpreendente. Desde outubro, acabaram quase todas as restrições de aglomeração. Os estádios de futebol estão cheios, embora o transporte público na região metropolitana de São Paulo ainda esteja com um movimento 30% abaixo do normal (ou, pelo menos, 30% menor do que se registrava em outubro de 2019). O que vai acontecer quando trens e ônibus estiverem de novo tão lotados quanto antes, “AP”, Antes da Pandemia? Aliás, vão voltar a lotar ou a vida nas cidades mudou?

O Carnaval está longe, mas o primeiro Natal com vacina está logo aí. Até lá, a situação pode melhorar, da vacinação inclusive. A campanha tem sido um sucesso, uma demonstração da capacidade do sistema nacional de imunização e um sinal de esperança, pois os brasileiros tomam as injeções, apesar do governo monstruoso.

No entanto, apesar desse progresso, a doença resiste. No estado de São Paulo, 99,7% das pessoas com 12 anos ou mais tomaram a primeira dose; 87% estão completamente vacinadas; 10% tomaram a dose de reforço. O número diário de novas internações em UTI continua caindo. Estão na casa de 320 por dia. Em fins de julho, eram 1.200. Em abril, passaram de 3 mil por dia.

No Brasil, descontado São Paulo, 87% dos maiores de 12 anos tomaram a dose 1; 68,8% estão vacinados. É um outro mundo, é evidente. O risco imediato é menor, mas o vírus ainda circula e mata.

Até o Natal, a vacinação terá avançado ainda mais. No momento, em São Paulo e no Brasil se aplicam por dia mais doses de reforço do que doses 1. Mas o final de ano de reuniões e viagens é ocasião para o espalhamento do vírus. É preciso que o país chegue até a época de festas com a cobertura de vacinação tão completa quanto possível. Pode reduzir muito mais o risco. Quem sabe, pode haver Carnaval, embora seja esquisito pensar em Carnaval neste país tão arrasado.

Países da Europa passam por surtos preocupantes, mas não é bem esse o motivo de ligar o sinal amarelo por aqui. O saldo das epidemias é agora muito diferente. O Brasil foi muito mais devastado por contaminações e mortes, tem vacinação cada vez mais extensa e começou a dar as injeções bem mais tarde. Por bem ou por mal, é possível que tenhamos mais gente resistente ao vírus, pelo menos no momento. Não é motivo para relaxar e darmos chance ao azar de uma mutação: estamos em uma pandemia e um mutante pode vir da Europa para o Brasil em 12 horas.

Valor

Covid-19: Vacinação só não basta e Carnaval preocupa, diz OMS

Para a brasileira Mariângela Simão, Europa é exemplo da necessidade de mais medidas contra covid-19

A diretora-geral assistente da Organização Mundial de Saúde (OMS), Mariângela Simão, alertou ontem que a nova onda de covid-19 na Europa é uma ilustração de que só a vacinação não é suficiente, numa sinalização ao Brasil sobre a importância de outras medidas sanitárias para cortar a transmissão do vírus. LEIA MAIS: Ao Valor a brasileira com o posto mais alto na governança global de saúde observou que “o que está acontecendo em países que têm maior cobertura vacinal é extremamente importante neste momento”, em referência à nova onda de contaminação em países europeus.

 “A ressurgência de casos na Europa após a flexibilização das medidas sociais e de saúde pública é uma realidade inescapável”, acrescentou. “Só a vacinação não basta; com certeza diminui hospitalizações e mortes pelo Sars-CoV2, mas não diminui a transmissão a ponto de eliminar a circulação do vírus.”

Para Mariângela, continuam sendo da maior importância o uso de máscara, distanciamento social, lavar as mãos etc. Na Europa, vários países em situação quase de pânico impõem ou planejam restrições sanitárias mais rigorosas, como reduzir o deslocamento de pessoas nos centros comerciais, desencorajar as viagens e multidões nos restaurantes, bares, estações de esqui

Além disso, países como a Suíça estudam tornar obrigatório o uso da máscara no cinema, teatro, restaurante e escolas. Também pode encorajar de novo o home office. O passaporte vacinal poderá não ser dado mais a quem faz só testes negativos, e sim a quem se vacina.

Em conferência na abertura do Congresso Brasileiro de Epidemiologia, Mariângela Simão observou que as Américas vêm tendo um comportamento de transmissão comunitária continuada, com ondas repetidas de infecção, segundo relato da Agência Brasil.

Com relação ao Brasil, ela considerou que o programa de vacinação contra covid19 continua bem. Mas, levando em conta o que acontece na Europa, não escondeu a preocupação com a evolução da pandemia no país com o Carnaval. “Me preocupa quando vejo no Brasil a discussão sobre o Carnaval. É uma condição extremamente propícia para aumento da transmissão comunitária. Precisamos planejar as ações para 2022”, disse Mariângela, segundo a Agência Brasil.

No evento, ela declarou que o futuro da pandemia depende de alguns fatores: a imunidade populacional, resultante da vacinação e da imunização natural; o acesso a medicamentos; como irão se comportar as variantes de preocupação e do quão transmissíveis elas serão; e a adoção de medidas sociais de saúde pública e a aderência da população a essas políticas. “Onde medidas de saúde pública são usadas de forma inconsistente os surtos continuarão a ocorrer em populações suscetíveis”, afirmou ela.

A experiência no exterior mostra ao Brasil que não dá para as autoridades se contentarem com o “booster”, a terceira dose vacina contra o vírus. A própria OMS mantém uma recomendação restrita em relação à terceira dose, basicamente para pessoas mais vulneráveis e idosas. No entanto, mais países adotam a dose de reforço.

A Swissmedic, autoridade reguladora na Suíça, recomendou ontem a dose de reforço para pessoas a partir de 16 anos de idade. A mais recente avaliação da consultoria de saúde Airfinity é que na Europa a Hungria, a Bélgica e a Holanda são os países que correm maior risco de futuros lockdowns, com a quarta grande onda de covid-19.

A alta transmissibilidade da variante Delta combinada com temperaturas mais baixas está empurrando os níveis de infecção para cima, aumentando hospitalizações e mortes. A Áustria tornou-se a primeira democracia ocidental a anunciar a imposição de vacinação obrigatória para toda a sua população adulta. O país entrou em confinamento geral desde segunda-feira. Tudo isso vem depois de estabelecer imposto aos não vacinados, que lideram os casos de novas infecções.

Ao mesmo tempo, grupos duros de resistência a novas restrições têm aumentado o uso de violência. Mas as autoridades dizem que não dá para ficar sem reagir fortemente. O diretor para a Europa da OMS, Hans Kluge, já deu mais de uma vez o sinal de alerta de que, pela trajetória atual das infecções, a Europa poderia ter 500 mil mortes por covid até o primeiro trimestre do ano que vem.

Folha de SP

Europa pode ter mais 700 mil mortes por Covid até março, diz OMS

Segundo diretor da entidade, é preciso vacinar mais, usar máscaras e manter distanciamento para evitar marco sombrio

O número de mortos por Covid na Europa pode crescer em 700 mil e chegar ao total de 2,2 milhões em março do ano que vem, afirmou nesta terça (23) Hans Kluge, diretor para o continente da OMS (Organização Mundial da Saúde), se mantidas as tendências atuais.

Escapar desse “marco sombrio” exige adotar uma atitude de “vacina mais [outras medidas]”, afirmou Kluge. “Isso significa ser vacinado, tomar o reforço se oferecido e ao mesmo tempo usar máscaras, manter distância, ventilar espaços internos, lavar as mãos e espirrar no cotovelo.”

Por causa da quarta onda, Letônia, Holanda e Áustria reimpuseram esquemas de confinamento para seus cidadãos, e outros países apertaram medidas, provocando também insatisfação e protestos —alguns deles terminaram em violência nos últimos dias.

Desde o começo da pandemia, 1,5 milhão de europeus morreram por causa do coronavírus nos 53 países acompanhados pela entidade. A média de óbitos diários vem crescendo desde o final do verão europeu e, de acordo com a OMS, dobrou: passou de 2.100 no final de setembro para 4.200 na semana passada.

Segundo levantamento do Instituto de Métricas e Avaliação em Saúde, a Covid é hoje a principal causa de mortes na Europa e na Ásia Central, e as estimativas são de que a pressão sobre hospitais fique alta ou extrema em 25 dos 53 países, entre este final de mês e 1º de março.

A perspectiva para as UTIs é ainda mais preocupante: a pressão alta ou extrema só não é esperada em quatro países —Malta, Suíça, Cazaquistão e Israel, que estão na área acompanhada pela seção europeia da OMS.

De acordo com a entidade, há três principais fatores que impulsionam a alta transmissão atual de Covid. O primeiro é a dominância da variante delta, altamente transmissível e presente em mais de 99% dos sequenciamentos feitos no continente, sem que nenhum país reporte mais de 1% de qualquer outra variante.

Em segundo lugar, “muitos países indicaram às suas populações que a Covid não era mais uma ameaça, ao aliviar medidas como o uso de máscaras e o distanciamento físico em espaços confinados”, intensificando o contágio.

O levantamento aponta que menos da metade (48%) das pessoas na região usam máscara ao sair de casa, embora estudos indiquem que o equipamento de produção pode reduzir em 53% a incidência de Covid. Se a porcentagem dos que adotam o item de proteção subisse a 95%, mais de 160 mil mortes seriam evitadas durante o inverno, para a OMS.

O terceiro motivo é o de que um grande número de pessoas ainda não estão vacinadas —e, por consequência, se mantêm desprotegidas contra doenças graves e mortes. Ao mesmo tempo, a imunização perde, com o tempo, seu poder de evitar infecções, daí a importância da

O diretor da OMS afirmou que as imunizações são vitais para evitar internações e reduzir a pressão nos sistemas de saúde. A porcentagem de cidadãos completamente imunizados, porém, ainda é baixa (53,5%, na média do continente) e esconde grande desigualdade.

Há países em que menos de 10% receberam as doses necessárias, como a Armênia, enquanto outros superam 80%, como Portugal.

“Está claro que na maioria dos países os leitos de terapia intensiva agora são ocupados principalmente por pacientes que não foram vacinados ou que estão apenas parcialmente vacinados”, disse em discurso nesta terça a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen.

Ela ressaltou que a taxa de morte por habitantes nos países com maior taxa de vacinação, como Portugal e Espanha, é muito menor que nos países da União Europeia que não avançaram na imunização.

“Se olharmos para as taxas de hospitalização e mortalidade, estaremos lidando principalmente com uma pandemia de pessoas não vacinadas. É por isso que nossa principal prioridade é e continua a ser avançar com a vacinação”, afirmou.

Kluge pediu aos europeus que se vacinem e adotem as medidas básicas de proteção para evitar lockdowns e fechamentos de escolas: “Sabemos por experiência amarga que isso tem consequências econômicas extensas e um impacto negativo generalizado na saúde mental, facilita a violência interpessoal e é prejudicial ao bem-estar e ao aprendizado das crianças”.

Estadão

Negacionismo de Lula sobre ditaduras impõe ‘vidraça extra’ ao PT nas eleições

As declarações de Luiz Inácio Lula da Silva sobre a reeleição do ditador Daniel Ortega, na Nicarágua, e as ações da polícia cubana para debelar protestos da oposição na Ilha trazem para o PT uma “vidraça” extra nas eleições de 2022. Além das explicações sobre os escândalos de corrupção, Lula poderá alvo de “pedradas” pelas posições a respeito de regimes autocratas latino-americanas.

Aliados do petista ficaram contrariados com as declarações de Lula ainda mais porque a defesa da democracia é o denominador comum das forças que se opõem a Jair Bolsonaro. A insatisfação, no entanto, não foi suficiente para que a maioria dos dirigentes do PSB, PSOL e até deputados do próprio PT ouvidos pela reportagem se pronunciassem abertamente. Todos, no entanto, avaliavam que o caso servirá de munição aos adversários na campanha.

Já na tarde desta terça-feira, 23, o ex-juiz Sérgio Moro (Podemos) compartilhou o vídeo da entrevista de Lula e escreveu em sua conta no Twitter: “É o PT com a ‘democracia’ de Ortega que queremos para o Brasil?!”

Foi em uma entrevista ao jornal espanhol El País que Lula comparou os 16 anos de governo de Ortega, na Nicarágua, ao tempo que a conservadora Angela Merkel lidera a Alemanha (desde 2005) ou que o socialista Felipe González dirigiu a Espanha (1982-1996). Confrontado em razão do paralelo entre um regime ditatorial (Ortega) e governos democráticos (Merkel e González), Lula lembrou das prisões de sete candidatos à Presidência oposicionistas e comparou esse fato – que ele condenou – à sua prisão por corrupção na Lava Jato.

O consenso entre os aliados de Lula é que o petista deu um “tiro no pé”, que sua fala “pegou muito mal”. Ao contrário de Cuba, que ainda goza de prestígio na esquerda, o regime da Nicarágua perdeu apoio após denúncias de perseguições a adversários. Na segunda-feira, foi detido Edgard Parrales, ex-embaixador da Nicarágua na Organização dos Estados Americanos (OEA). No total, é o 41º opositor encarcerado neste ano.

Não tenho acompanhado essa questão do Lula, mas vemos com preocupação o continuísmo dele (Ortega), da família. Temos uma visão crítica”, disse o deputado federal Ivan Valente (PSOL-SP). O ex-presidenciável Guilherme Boulos (PSOL-SP) se esquivou. “Não vou comentar a entrevista ou a Nicarágua, mas é descabido equivaler Lula e Bolsonaro no desapego à democracia.”

Apoio mesmo Lula recebeu só do PCdoB, alinhado aos sandinistas (apoiadores de Ortega). “Concordo com Lula. Existem dois pesos e duas medidas sobre os governos da América Latina. O PCdoB respeita as eleições na Nicarágua”, disse Ana Prestes, da comissão de Relações Internacionais do Comitê Central do partido.

Para Aloysio Nunes Ferreira (PSDB), ex-chanceler do governo de Michel Temer, não convém Lula comparar “uma tirania corrupta e sanguinária de Ortega com o governo democrático de Merkel”. Aloysio disse não ter dúvidas de que o tema estará presente nas eleições de 2022.

“A questão democrática não comporta ambiguidades; é uma questão de princípio, e o princípio tem de ser universal, não vale só aqui no Brasil. Alguém com a ressonância mundial que o Lula tem, quando trata desse tema, deve fazê-lo com uma responsabilidade que vai além do companheirismo no interior do PT”, afirmou.

Para Aloysio, a responsabilidade de Lula é maior em razão do momento, pois é a defesa da democracia e das instituições que une a oposição a Bolsonaro. Para ele, o petista precisa dialogar mais outras correntes democráticas a respeito desse tema. “Para termos, em relação a isso – como temos na oposição a Bolsonaro – uma harmonização de posições, independentemente de apoio em eleições.”

O ex-chanceler lembra que o momento na América do Sul é de ascensão de forças da extrema-direita, como José Antônio Kast, que disputará o segundo turno da eleição presidencial no Chile contra o esquerdista Gabriel Boric. Ali, há dez dias, Kast aproveitou uma nota do Partido Comunista em defesa de Ortega para atacar Boric. O PC chileno faz parte da frente que apoia Boric. “Kast usou isso para se pôr como o defensor da ordem”, contou o historiador Alberto Aggio, especialista em história da América Latina.

Não seria diferente aqui. O ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional, Augusto Heleno, publicou no Twitter que Lula “debocha da inteligência da população e do regime democrático”. O caso movimentou as redes sociais. A deputada Joice Hasselmann (PSDB-SP) ironizou. “Imagino o desespero do PT quando Lula resolve comentar sobre os seus velhos amigos.”

Antes de Lula, o secretário de Relações Internacionais do PT, Romênio Pereira, divulgara nota na qual celebrava a vitória de Ortega e classificava a eleição no país como “uma grande manifestação popular e democrática”. Diante da repercussão negativa, a presidente do partido, Gleisi Hoffmann (PR), afirmou que a nota não havia sido submetida à direção partidária. O documento foi suprimido do site do PT, como se o tema estivesse superado.

Na terça-feira, a assessoria do ex-presidente disse ser “falso e de má-fé afirmar dizer que Lula teria apoiado ‘ditaduras de esquerda’ ou igualado a primeira-ministra Angela Merkel ao presidente Daniel Ortega”. Segundo ela, Lula reafirmou defender a alternância de poder, considerar errado e antidemocrático prender opositores para impedir que disputem eleições e crer que na autodeterminação dos povos deve ser respeitada.

Ficou, porém, a impressão para a maioria dos que leram a entrevista de que a ambiguidade petista em relação às ditadursa esquerdistas está viva. “Dizer que foi preso quando estava virtualmente eleito é uma artimanha em vez de tratar da defesa da democracia como princípio universal”, disse Aggio.

Folha de SP (análise)

Lula e PT se amarram a um abacaxi para a campanha de 2022

Petistas insistem no erro de declarações generosas sobre Cuba, Venezuela e Nicarágua

BRUNO BOGHOSSIAN

Se a Alemanha não fosse uma democracia, o grupo de Angela Merkel não teria sido derrotado nas eleições, após 16 anos no poder. Também não teria ocorrido o recente encontro entre Lula e o futuro chanceler alemão, de um partido adversário.

Se a Nicarágua fosse uma democracia, Lula não teria dito, há poucos meses, que as coisas “não andam nada bem por lá”. Além disso, o ex-presidente não teria aconselhado Daniel Ortega a defender a liberdade no país, e o PT não teria apagado uma nota que celebrava a vitória governista numa eleição marcada pela prisão de opositores do regime.

Lula conhece essas diferenças, mas encaixou uma comparação descabida numa entrevista ao jornal espanhol El País: “Por que Angela Merkel pode ficar 16 anos no poder, e Daniel Ortega, não?”, questionou.

O petista se referia à permanência de políticos no poder por longos períodos, não ao processo de escolha desses líderes. Uma das entrevistadoras, no entanto, precisou lembrar que, ao contrário da alemã, Ortega havia encarcerado seus potenciais adversários. Lula fez uma emenda e disse que, se isso ocorreu, o nicaraguense “está totalmente errado”.

A hesitação contínua do ex-presidente em condenar avanços autoritários pelo mundo não revela nenhuma tentação ditatorial. Mas o episódio mostra que, em nome de seus laços internacionais, Lula e o PT estão dispostos a contratar um problema desnecessário para 2022.

Os petistas sabem que rivais vão explorar as declarações generosas de Lula sobre os regimes de Cuba, Venezuela e Nicarágua para pintar uma falsa imagem de descompromisso com a democracia. O partido diz que os críticos desvirtuam as opiniões do ex-presidente, mas também se recusa a produzir uma mensagem consistente sobre os abusos cometidos nesses países.

Aliados de Lula acreditam que a eleição será definida por questões econômicas, não por um debate sobre a saúde da democracia em outros países. Para não frustrar seus militantes, o PT prefere insistir no erro.

Estadão

Moro defende aumento de auxílio e faz aceno ao PSDB

O ex-ministro da Justiça Sérgio Moro (Podemos) subiu o tom do discurso de campanha ao Palácio do Planalto e criticou os governos de Jair Bolsonaro e do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, seus principais adversários. Moro esteve nesta terça-feira, 23, no Senado e, ao lado da bancada do Podemos, partido ao qual se filiou recentemente, defendeu a proposta alternativa à PEC dos precatórios.

“É perfeitamente possível realizar o incremento do Auxílio Brasil sem derrubar o teto de gastos”, afirmou Moro, numa referência PEC que abre caminho para a criação do novo programa social. “É possível conciliar responsabilidade social com responsabilidade fiscal.”

Ao mesmo tempo em que atacava o governo, o ex-juiz da Lava Jato fazia acenos a outros partidos. De olho em uma aliança com o PSDB, Moro minimizou, por exemplo, os conflitos nas prévias presidenciais dos tucanos.

“O PSDB é um grande partido”, elogiou. “Tem que respeitar. Eles vão tomar a decisão no tempo deles”, disse. Os governadores João Doria (São Paulo), Eduardo Leite (Rio Grande do Sul) e o ex-prefeito de Manaus Arthur Virgílio concorrem na eleição interna que vai escolher o candidato do PSDB ao Planalto.

O resultado das prévias estava previsto para ser divulgado no domingo, 21. Problemas no aplicativo de votação, porém, obrigaram o partido a suspender a consulta. A intenção é que as eleições sejam concluídas até o próximo domingo, 28.

Após se reunir com integrantes do Podemos, Moro destacou que a proposta alternativa da PEC dos precatórios, de autoria dos senadores Oriovisto Guimarães (Podemos-PR), José Aníbal (PSDB-SP) e Alessandro Vieira (Cidadania-SE) permite a criação do Auxílio Brasil “sem rombo” nas contas públicas.

“O Podemos não pode compactuar com o desemprego dos trabalhadores brasileiros e gerar situações ainda mais difíceis, sob o argumento de que isso seria necessário para combater a pobreza”, observou o ex-ministro.

Não faltaram críticas ao PT. “O teto de gastos, quando foi criado, em 2016, resultou em uma imediata queda dos juros. Isso impulsionou a recuperação da economia que vinha da recessão criada pelo governo do Partido dos Trabalhadores”, afirmou Moro.

A entrada do ex-ministro na pauta econômica marca a estratégia de sua pré-campanha para evitar sua associação somente com o combate à corrupção. Recentemente, Moro anunciou que o economista Affonso Celso Pastore, ex-presidente do Banco Central, é seu conselheiro econômico.

Quando era juiz da Lava Jato, Moro personificou o discurso antipolítica. Agora, ele tenta equilibrar sua atuação no julgamento de casos de corrupção com a recente entrada na vida partidária. O Supremo Tribunal Federal (STF) considerou Moro parcial na condenação do ex-presidente Lula.

Folha de SP

Falas de Lula preocupam aliados que querem petista moderado em 2022

Descontadas como escorregões, posições sobre Nicarágua e imprensa causam ruído no lulismo

Igor Gielow

Aliados de Luiz Inácio Lula da Silva que apostam numa versão moderada do petista para a disputa do Planalto em 2022 ligaram os sinais de alerta com as mais recentes falas do ex-presidente. O mais novo ponto de contenda é a ditadura nicaraguense de Daniel Ortega, que acaba de ganhar um quarto mandato como presidente de fachada, com vários rivais encarcerados no processo.

Em entrevista no fim de semana ao jornal espanhol El País, Lula comparou o tempo de Ortega no poder (13 até aqui) aos termos de Angela Merkel como chanceler alemã. “Por que Angela Merkel pode ficar 16 anos no poder e Daniel Ortega não? Por que o Felipe González [primeiro-ministro da Espanha de 1982 a 1996] pode ficar 14 anos no poder? Qual é a lógica?”, questionou.

Lula está em um giro europeu, no qual buscou estabelecer suas diferenças com Jair Bolsonaro e encontrou-se com o presidente francês Emmanuel Macron, e volta ao Brasil nesta semana.

O caso não é isolado e tem garantido água ao moinho bolsonarista e de outros rivais em redes sociais. A ele se soma a constante defesa de outra ditadura de esquerda, a cubana, particularmente a omissão de Lula em relação aos protestos contra o regime, alvo de dura repressão neste ano.

Há outros temas no pacote, como a questão da regulamentação dos meios de comunicação, que desde seu primeiro mandato é uma obsessão petista como a tentativa de criação do Conselho Federal de Jornalismo em 2004 exemplifica.

A relação do PT, Lula em especial, sempre foi arestosa com a imprensa. Piorou ao longo do processo de impeachment de Dilma Rousseff, em 2016, e na cobertura das descobertas de corrupção em seus governos pela Operação Lava Jato. Os petistas se dizem perseguidos ideologicamente.

Em um artigo publicado na Folha em setembro, a presidente do PT, Gleisi Hoffmann, voltou ao tema com tintas mais técnicas. No mês seguinte, foi a vez de Lula tentar tirar o bode da sala, dizendo que a regulamentação era assunto para o Congresso.

Esses repentes do “velho Lula” traem seu DNA político e servem como discurso interno para os setores do PT que ainda adotam a visão de mundo anterior à queda do muro de Berlim. A fala de Dilma nesta semana defendendo a ditadura chinesa como uma “luz” em meio à “decadência e escuridão” do Ocidente foi outro sinal desse atavismo esquerdista da sigla.

Mas alguns destes aliados se mostram de toda maneira preocupados com o que chamam de amplificação negativa, em particular no mundo virtual que não existia desta forma quando Lula foi presidente de 2003 a 2010.

Para eles, o Lula de 2022 deve ser o que se mostrou em um jantar no dia 30 de outubro na casa do advogado Pedro Serrano, em São Paulo. Ali, ante uma plateia com cerca de 50 estrelas de bancas da capital, o petista discursou como um moderado.

Prometeu lutar pela reunificação do país e disse que irá conversar com empresários e com a imprensa. De forma mais simbólica, disse que seus 580 dias na cadeia foram uma injustiça causada pelo ex-juiz Sergio Moro e a Lava Jato, mas que não poderia pautar seu governo por vingança.

Os ouvintes eram majoritariamente simpáticos ao PT, muitos deles como o anfitrião integrantes do influente grupo de advogados Prerrogativas, ponta de lança no embate com Moro —que, a considerar seu discurso de entrada na disputa de 2022, vai tentar carimbar como uma luta contra defensores da corrupção. Mas havia também elementos neutros, que relataram a mesma impressão.

O tema Moro é um assunto pontuado em conversas de petistas. Se há os que o consideram na eleição algo bom porque reforçaria o discurso de Lula após o Supremo Tribunal Federal ter julgado o ex-juiz parcial, outros temem o óbvio: o tema dos malfeitos em seus mandatos seria novamente esmiuçado.

Esses petistas mais moderados reconhecem que há um público interno mais radical no PT, mas consideram que as falas de Lula são escorregões de fácil correção. Ressaltam que, ao El País, ele também disse que Ortega estaria totalmente errado se as prisões de rivais fossem políticas. E que foi Lula quem mandou Gleisi desautorizar nota da Secretaria de Relações Internacionais da sigla que exaltou a vitória eleitoral do ditador.

Sobre Cuba, os argumentos são menos persuasivos e sempre se voltam à desbotada tese de que tudo o que se passa de ruim na ilha caribenha é culpa do embargo imposto pelos americanos há seis décadas.

Por fim, dentro do PT, há as correntes que rechaçam o que consideram concessões para governar. Essa pressão mais radical pode não ser majoritária, mas existe e se ampara no potencial eleitoral do petista.

Tal dinâmica de tensão perpassou os governos federais petistas e remonta às origens do partido como administrador importante, na conturbada gestão na Prefeitura de São Paulo de 1989 a 1992.

Para dois líderes de partidos próximos de Lula, há um ônus desses episódios óbvio, a famosa casca de banana procurada do outro lado da rua, embora achem que haja exagero da imprensa.

Por outro lado, ponderam, é difícil tirar um rótulo em tempos de comunicação imediata, ainda que Lula tenha se esmerado em sair pela tangente acerca de temas complexos desde que ascendeu à condição de favorito para o pleito do ano que vem.

Um deles cita a ambiguidade do petista ante o impeachment de Bolsonaro. Se o PT assinou o pedido de impedimento e Lula sinalizou apoio à ideia, é um segredo de polichinelo que o líder não foi às ruas ou se mobilizou de fato porque compartilha da leitura de que o presidente enfraquecido é seu adversário ideal.

Outro ponto lembrado é o Auxílio Brasil, defendido por Lula apesar de o PT ter votado contra as gambiarras fiscais para custear a transferência de renda na PEC dos Precatórios. Aí, contudo, não há o que fazer retoricamente: o petista é associado ao programa anterior, o Bolsa Família, e economia está no coração da campanha de 2022.

POSIÇÕES DE LULA QUE CAUSAM RUÍDO

Defesa de ditaduras na América Latina Em entrevista no fim de semana ao jornal espanhol El País, Lula comparou o tempo de Daniel Ortega no poder na Nicarágua (13 até aqui) aos termos de Angela Merkel como chanceler alemã. “Por que Angela Merkel pode ficar 16 anos no poder e Daniel Ortega não? Por que o Felipe González [primeiro-ministro da Espanha de 1982 a 1996] pode ficar 14 anos no poder? Qual é a lógica?”, questionou.

Mas petistas moderados ressaltam que o ex-presidente afirmou ainda que Ortega estaria totalmente errado se as prisões de rivais fossem políticas. O PT também já defendeu diversas vezes a ditadura cubana. Lula se omitiu em relação aos protestos contra o regime, alvo de dura repressão neste ano

Regulamentação dos meios de comunicação O tema é uma obsessão petista desde o primeiro mandato de Lula. Em artigo publicado na Folha em setembro, a presidente do partido, Gleisi Hoffmann, defendeu a regulamentação. Um mês depois, Lula afirmou que era um assunto para o Congresso.

Mas antes, em agosto, o ex-presidente voltou a afirmar que pretende regular a mídia caso seja eleito. “(…) Tem alguns setores da imprensa que não querem que eu volte a ser candidato. Porque se eu voltar [à Presidência] eu vou regular os meios de comunicação deste país”

Ambiguidade em relação ao impeachment de Bolsonaro O PT assinou o pedido de impedimento e Lula sinalizou apoio à ideia, mas o líder não foi às ruas ou se mobilizou de fato porque compartilha da leitura de que o presidente enfraquecido é seu adversário ideal

Auxílio Brasil O programa foi defendido por Lula apesar de o PT ter votado contra as gambiarras fiscais para custear a transferência de renda na PEC dos Precatórios. O petista é associado ao programa anterior, o Bolsa Família, e economia está no coração da campanha de 2022

Folha de SP

Moro coloca em risco candidatura de Ciro Gomes, avaliam políticos e pedetistas

Para eles, ex-juiz ocupa posição de crítico de Lula e Bolsonaro que presidenciável do PDT tenta cavar

Para lideranças partidárias, o avanço da possível candidatura de Sergio Moro (Podemos) atinge o núcleo da campanha de Ciro Gomes (PDT) e pode feri-la de morte. De acordo com essa leitura, compartilhada inclusive por pedetistas ouvidos pelo Painel, o ex-juiz ocupa o espaço que Gomes tenta cavar para si: o de crítico de Lula (PT) e de Jair Bolsonaro.

Como mostrou a coluna em junho, pessoas próximas de Gomes, como o presidente Carlos Lupi, e pedetistas como Túlio Gadêlha, tentaram convencê-lo a concentrar ataques em Bolsonaro e deixar Lula de lado. Até o momento não tiveram sucesso.

Em caráter reservado, aliados do pré-candidato dizem não concordar que a candidatura de Moro seja prejudicial a ele. O principal prejudicado será Bolsonaro, dizem, que perderá votos para seu ex-ministro da Justiça.