Clipping 25 de junho de 2021
Manchetes
Acuado, governo Bolsonaro avalia desistir de Covaxin (Folha)
Lula tem 49% das intenções de voto e Bolsonaro, 23% (Estadão)
Documento que Onyx chamou de falso está no sistema da Saúde (O Globo)
Garimpo ilegal ameaça energia de Belo Monte (Valor)
Valor
Anfavea questiona redução tarifária
“Com capacidade de produção sobrando no mundo todos vão querer exportar para o Brasil se o imposto baixar”, diz presidente da Anfavea, sobre proposta do governo de redução da tarifa comum do Mercosul
A falta de consenso entre os governos dos países que compõem o Mercosul em torno do Imposto de Importação sobre produtos de outros países levou o governo brasileiro a cogitar, recentemente, a aplicação unilateral da sua proposta de reduzir a Tarifa Externa Comum (TEC) em 20%. A ameaça, que já provocou polêmica e descontentamento de parte do setor produtivo, ganha, agora, o reforço da indústria automobilística.
Para o presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), Luiz Carlos Moraes, a medida pode não apenas “implodir” o Mercosul como representa um risco à continuidade dos investimentos e do emprego nas fábricas que o setor mantém no bloco. Apoiado no discurso liberal que mantém desde a campanha presidencial, o governo aponta a redução da TEC como forma de aumentar a participação do Brasil no comércio internacional.
Moraes afirma, no entanto, que isso provocará um efeito contrário. Ele prevê que a simples redução das alíquotas do imposto, sem uma contrapartida para incrementar a venda dos produtos brasileiros no exterior, só servirá para aumentar a importação. E, no caso da indústria automobilística, as empresas, prevê o dirigente, tendem a trazer de outros países veículos que poderiam ser feitos no Brasil.
Para Moraes, é incorreto atribuir ao bloco a culpa pela falta de competitividade do Brasil. “Não podemos passar ao Mercosul a conta de uma lição de casa que o país tem que fazer”, destaca. A incapacidade do Brasil de participar mais ativamente do comércio internacional é uma consequência, afirma, “das próprias crises do país e do atraso nas reformas”.
A proposta do Brasil, que encontra resistência da Argentina, é um corte de 20% em todas as tarifas de importação de produtos fora do bloco, dividido em duas etapas – 10% agora e mais 10% em dezembro. “Entendemos que negociar [acordos] separadamente, por país significaria a implosão do Mercosul”, avalia Moraes.
As alíquotas da TEC variam entre 14% e 35% em produtos industrializados. No caso dos veículos incide o percentual mais elevado, de 35%. Isso significa que, pela proposta do governo, o imposto seria reduzido em sete pontos percentuais até o fim do ano. O governo brasileiro está disposto a não medir esforços para mostrar que continua comprometido com a abertura comercial.
O ministro da Economia, Paulo Guedes, tem reiterado que as tarifas na região são muito altas. A união aduaneira do bloco foi criada em 1995. Desde então, não houve, praticamente, nenhuma alteração e os sócios têm todos adotado as mesmas alíquotas, de maneira uniforme. O governo brasileiro acredita ter chegado a hora de mudar e já pediu que os parceiros o autorizem a reduzir suas alíquotas para, posteriormente, cada um decidir o que fazer.
O presidente da Anfavea argumenta que, no caso da indústria automobilística, o afrouxamento da proteção provocará aumento de concorrência com fábricas das próprias montadoras em outros países. A situação se agrava, destaca ele, num momento em que a queda de demanda global, provocada pela pandemia, elevou a ociosidade do setor em todo o mundo.
O pico da produção mundial de veículos, que alcançou 97 milhões de unidades em 2017, caiu para 78 milhões em 2020. Esse encolhimento de vendas no planeta equivale, diz Moraes, a oito vezes o que Brasil produz. “Com capacidade de produção sobrando no mundo, todos vão querer exportar para o Brasil se o imposto baixar”, destaca o presidente da Anfavea. Em 2020, o Brasil importou 211.629 veículos. Desse total, 61% vieram de dois parceiros do Mercosul: Argentina, sobretudo, e do Uruguai. Os importados representaram 10,28% das vendas de veículos no Brasil.
Para Moraes, a redução das tarifas dificultaria a já árdua tarefa de convencer as matrizes a seguir investindo no Brasil. Desde o ano passado, a Ford já fechou três fábricas aqui. A Mercedes-Benz desistiu de produzir automóveis em dezembro. Mais ou menos na mesma época, a Audi deixou de produzir carros numa fábrica que compartilhava com a Volkswagen no Paraná. A Audi ainda não decidiu se vale investir em alguma nova linha de produção no país.
O presidente da Anfavea diz sentir falta, também, no Brasil, de uma política voltada à exportação de produtos manufaturados. O último levantamento da Organização Internacional dos Fabricantes de Veículos (OICA na sigla em francês) mostra que em 2019 o Brasil ficou em 26º lugar, em receita, na lista dos exportadores de veículos. O total obtido com vendas de veículos brasileiros ao exterior naquele ano (US$ 5,8 bilhões) é muito inferior ao que exporta a Coreia do Sul, (em sexto lugar), com US$ 43,2 bilhões no mesmo ano.
Moraes diz que o problema afeta toda a indústria de transformação instalada no país. Ao fazer, esta semana, uma rápida pesquisa dos produtos mais exportados pelo Brasil, viu itens do agronegócio, como soja, algodão e café. Mas a lista inclui também atividades extrativistas de baixo valor agregado, como cascalho.
Entre os bens exportados a partir da transformação pela indústria, o quadro é mais desalentador: farelo de soja se destaca entre os semiacabados enviados ao exterior. “Se não cuidarmos de nossa indústria de transformação, continuaremos tendo uma balança vigorosa em saldo, mas pobre em valor agregado”, afirma. “Não somos contra a abertura comercial; mas isso tem de ser feito em paralelo com medidas que aumentem a competitividade brasileira.”
Diante do impasse em torno das tarifas, os países do Mercosul decidiram adiar uma reunião de ministros de Economia e de Relações Exteriores, que seria em 8 de junho. A ideia inicial era postergar o encontro para a segunda quinzena de junho. Mas até ontem nada havia sido agendado.
Moraes reconhece a necessidade de aprimorar o Mercosul. Mas defende, ao mesmo tempo, o fortalecimento do bloco para negociar acordos comerciais, como o que estava sendo fechado com a Europa, mas foi interrompido pelas restrições que os europeus colocam à política ambiental do Brasil.
A TEC transformou-se no grande ponto de desentendimento de todo o bloco. Mas as posições políticas de Brasil e Argentina também fazem parte desse enredo. Isso preocupa os dirigentes da indústria automotiva. Em 2020, o Brasil exportou o equivalente a US$ 11,92 bilhões em veículos, peças, máquinas agrícolas e outros itens automotivos para todo o mundo. Disso, US$ 3,46 bilhões foram com vendas desses produtos para a Argentina – que exportou para o Brasil o equivalente a US$ 2,84 bilhões em veículos e outros componentes automotivos.
Infomoney
Diante de falta de peças, busca por carro por assinatura dispara em 2021
Modelo é novo no Brasil e está ganhando popularidade, conforme o estudo exclusivo da Similarweb; entenda como funciona
Diante do cenário do setor automotivo, com falta de peças e fábricas paradas, uma nova modalidade de consumo vem ganhando força: o carro por assinatura. Entre janeiro e maio de 2021, as visitas em sites a partir da busca pelo termo “carro por assinatura” cresceu 457,9%, para 91.500 visitas, na comparação com o mesmo período de 2020, de acordo com um levantamento exclusivo feito pela Similarweb, empresa que fornece inteligência de mercado por meio de análises e monitoramento de comportamento online.
O modelo de carro por assinatura, também conhecido por carsharing, é novo no Brasil e vem se consolidando nos últimos dois anos. Na prática, funciona como um aluguel de longo prazo. Em vez de comprar o carro, o consumidor aluga por um, dois ou mesmo três anos o modelo e no fim do contrato devolve o carro podendo renovar a assinatura com o mesmo modelo ou outro. Em alguns casos é possível comprar o modelo ao fim do contrato.
Ainda, há mais sinais de que mais consumidores têm interesse na modalidade: considerando a categoria de aluguel de carros como um todo, o termo “carro por assinatura” é o mais buscado no mesmo período, acima de “alugar carro” ou mesmo “aluguel de carro”.
Rafael Consoni, gerente de vendas da Similarweb, acrescenta que o desabastecimento de matéria-prima e componentes que as montadoras estão enfrentando, tem dificultado a compra de carros novos. Esse cenário também impacta na busca por aluguel de veículos. O InfoMoney explicou essa dinâmica em uma reportagem recente.
De fato, a popularidade da modalidade de assinatura vem crescendo, inclusive, a procura pelo termo “aluguel anual de carros” registrou um aumento de 135% em maio na comparação com abril, enquanto “aluguel mensal de carros” caiu 9,6% neste período.
Segundo Consoni, os números podem indicar que o carro começa a ser percebido mais como um serviço, do que como um bem material. “Outro ponto é o investimento que a aquisição de um veículo novo demanda. Ou seja, são diversos fatores que podem justificar essa mudança gradual de comportamento e, por consequência, uma adequação do mercado a esses clientes”, diz.
De olho nesse mercado, grandes montadoras, como Fiat, Jeep, Volkswagen, Renault, locadoras, como Movida, Localiza e Unidas, e até mesmo seguradoras como a Porto Seguro, estão atentas a essa demanda crescente e oferecem a opção de carros por assinatura aos consumidores. O InfoMoney fez uma matéria que compara os custos do financiamento com os custos do carro por assinatura — saiba mais aqui.
Aluguel de carros
As visitas a sites de aluguéis de carros saltaram de 7,7 milhões, em abril e maio de 2020, para 12 milhões, no mesmo período de 2021, o que representa um avanço de 56,5%, segundo dados da Similarweb. Foram analisados 152 sites do país e considerados os acessos via desktop e mobile. No período mais amplo entre janeiro e maio de 2021, o aumento foi bem mais tímido de 8,4%.
Essa análise de procura por aluguel de carros inclui toda busca e visita a sites dessa categoria sem fazer distinção sobre qual tipo de aluguel o consumidor procura. Mas Consoni destacou uma das modalidades, que assim como carros por assinatura, pode ter impulsionado esse aumento. “Alguns fatores podem ajudar a explicar esse salto. Um deles é a retomada gradual do turismo e das atividades econômicas como um todo. Com o avanço da vacinação, muitas pessoas têm optado por viagens curtas, em território nacional”, explica Consoni.
Segundo ele, as chamadas Online Travel Agencies (OTA, na sigla em inglês), ou agências de turismo online que oferecem o serviço de aluguel de carros apresentaram uma boa retomada nas buscas e visitas em seus respectivos sites. Aqui entram empresas como Kayak, Decolar.com, Expedia, SkyScanner, entre outras, que oferecem aluguel de carros em destinos de viagens. “As pessoas alugam enquanto estão visitando um novo lugar durante férias, por exemplo”, disse Consoni.
Entre abril e maio deste ano houve um crescimento de 75,3% nas visitas em sites desse tipo buscando por aluguel de carros, para 229,3 mil. Considerando apenas o período entre janeiro e março deste ano, as visitas somaram 462,5 mil, cerca de 56,2% abaixo do observado no primeiro trimestre do ano passado. Assim, considerando abril e maio, a sinalização é de um aquecimento no movimento de buscas.
Vale lembrar, no entanto, que ao analisar os dados compilados do ano de 2021, os números ainda mostram os impactos da pandemia no setor de aluguel de carros, bem como no de turismo.
No acumulado de janeiro a maio de 2020, as visitas em sites de OTAs a partir de buscas por aluguel de carros foram de 1,2 milhão, enquanto no mesmo período em 2021 foram de 692 mil – cerca de 41,8% a menos.
Essas empresas lidam com sazonalidade do segmento, pontua Consoni. “Geralmente, entre dezembro e janeiro há picos de buscas em sites desse tipo porque mais pessoas viajam. De 2019 para 2020, o fluxo aconteceu conforme o esperado, enquanto na virada deste ano isso não aconteceu”, diz.
Apenas entre dezembro de 2019 e janeiro de 2020, as visitas em sites a partir do termo aluguel de carros foram de 1 milhão, enquanto no último mês do ano passado e janeiro deste ano foram de 445,4 mil. “O temor da segunda onda se aprofundou bem no período de férias, o que provavelmente impactou essas buscas – com menos pessoas viajando”, complementou Consoni.
Valor (coluna)
Dados sobre mercado de trabalho confundem
Substituição do Caged pelo eSocial penaliza as estatísticas de emprego
Claudia Safatle
A substituição do Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados) pelas estatísticas do eSocial (Sistema de Escrituração Fiscal Digital das Obrigações Fiscais, Previdenciárias e Trabalhistas), que está em fase de transição, obscureceu as informações sobre a real situação do mercado de trabalho no país, justamente neste momento em que políticas públicas estão sendo discutidas e desenhadas para minimizar o drama do desemprego recorde e da grave desigualdade de renda.
Até 2019 a prestação de contas do emprego formal, das empresas para o governo, era feita por um sistema próprio do Caged. Com a mudança, ela passou a ser feita através das informações colhidas pela plataforma única do eSocial. Essa era, aliás, uma antiga reivindicação das empresas que estavam obrigadas a preencher 13 diferentes documentos oficiais com as informações relativas às admissões e desligamentos de empregados. Nesse sentido, a substituição dessa coletânea por uma única plataforma seria bastante elogiável.
Dentre os problemas gerados, porém, está o fato de que nem todas as empresas aderiram a esse novo sistema e boa parte das que aderiram não informou os desligamentos, mas somente as admissões, segundo informações em notas técnicas oficiais. Algumas continuaram informando sobre as demissões no Caged tradicional e outras simplesmente não passaram essa informação para as estatísticas.
A Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios) Contínua, outra base de dados coletados pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), que revela a taxa oficial de desemprego do país, também enfrenta problemas. Um estudo feito em março pelo Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) apontou que, ao deixar de ser presencial para ser feita por telefone, por causa da pandemia, a pesquisa teria reduzido o número de entrevistas pela dificuldade do IBGE em obter um cadastro de telefones.
Tal suspeita decorre do fato de a queda estar concentrada, sobretudo, no grupo de indivíduos que seriam entrevistados pela primeira vez no segundo trimestre de 2020. O box “Estimativas da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua ajustadas para a redução da taxa de respostas na pandemia”, do relatório trimestral de inflação divulgado ontem pelo Banco Central, investigou os impactos da diminuição da taxa de respostas da Pnad Contínua em indicadores do mercado de trabalho.
Os resultados de dois métodos de ajuste indicam que o possível “viés de seleção em variáveis ligadas à demografia não parece ter implicado mudanças relevantes em estimativas agregadas de ocupação e participação no mercado de trabalho”, diz o texto. “Está bem complicado acompanhar as estatísticas do mercado de trabalho”, admite Bruno Ottoni, pesquisador da IDados, salientando a mudança na relação entre os dados do emprego e a atividade econômica.
Ottoni atribui a dificuldade à fase de transição de um sistema para outro e considera que o novo Caged, que será produzido com as informações do eSocial será mais tempestivo e facilitará a vida das empresas que vão operar em uma única plataforma.
O novo Caged será mais amplo do que o velho, pois vai levar em conta subgrupos celetistas a exemplo de bolsistas e microempresários individuais (MEIs), até então não contabilizados pelo cadastro geral. O Caged foi criado em 1965 com fins trabalhistas, enquanto o eSocial, criado em 2014, tem caráter tributário, previdenciário e trabalhista. Por esse motivo, o último sistema capta um volume de informações mais amplo que o Caged. Isso se a adesão das empresas for grande e se as informações forem preenchidas de forma correta.
Nota técnica da Secretaria do Trabalho do Ministério da Economia, de meados do ano passado, chama a atenção, como citado anteriormente, para o fato de parte relevante das empresas ter informado as contratações, mas não os desligamentos.
Informações da Pnad revelam que no último trimestre de 2020 o número de desocupados chegou a 13,92 milhões, comparados a 11,63 milhões de desocupados no último trimestre do ano anterior, antes, portanto, da pandemia. A população ocupada caiu de 94,55 milhões de pessoas em 2019 para 86,17 milhões em igual período de 2020.
A força de trabalho, portanto, que era de 106,18 milhões de pessoas em 2019, com a pandemia caiu para 100,10 milhões. Para Ottoni, será muito difícil, senão impossível, que a diferença de 6 milhões de pessoas seja absorvida pelo mercado de trabalho neste ano.
Claudia Safatle é jornalista da equipe de criou o Valor Econômico e escreve às sextas-feiras
Folha de SP
Desigualdade cresce e 1% no topo da pirâmide do Brasil concentra metade da riqueza
Número de milionários deve aumentar 74,4% até 2025, segundo relatório do Credit Suisse
Quase metade da riqueza total do Brasil, ou 49,6%, foi parar nas mãos do 1% mais rico no ano passado, mesmo durante a pandemia do novo coronavírus. Há 20 anos, o topo da pirâmide detinha 44,2%. Os dados fazem parte do relatório de Riqueza Global, que é publicado uma vez por ano pelo banco Credit Suisse.
Na comparação entre dez países, apenas o topo da pirâmide da Rússia conseguiu concentrar mais riqueza do que a elite no Brasil. Um movimento parecido ocorreu na maioria dos países analisados, sendo que apenas na França e na Alemanha a fatia concentrada pelo topo caiu. Segundo o relatório, durante a segunda e terceira ondas da pandemia, no fim de 2020 e início deste ano, o Brasil se destacou em número de casos, em comparação com a região e o resto do mundo.
O documento também aponta que o Brasil entrou na pandemia com uma dívida pública que corresponde a 87,7% do PIB (Produto Interno Bruto) em 2019 e viu um aumento para 98,9% do PIB no ano seguinte. “Apesar de ter um presidente cético [em relação ao vírus], o Brasil forneceu pagamentos de auxílio emergencial consideráveis para pessoas de baixa renda, empurrando seus gastos relacionados à pandemia para 7% do PIB.”
O relatório também recorda que a desigualdade de riqueza é alta na América Latina, especialmente no Brasil, que possui um dos maiores níveis de desigualdade no mundo. “O coeficiente de Gini do país [que mede a desigualdade] era quase cinco pontos acima do que era em 2000. E também é preocupante que a parcela de riqueza detida pelo 1% do topo agora é quase metade, ante 44,2% em 2000.”
Neste cenário, a maior parte dos brasileiros se diz favorável a aumentar a tributação para financiar políticas sociais, segundo uma pesquisa recente do Datafolha para a Oxfam Brasil, dado o crescimento da pobreza e da desigualdade, como reflexo da pandemia. Em quatro anos, o apoio ao aumento de impostos neste caso mais que dobrou, de 24% para 56%. Além disso, nove em cada dez defendem que a redução da desigualdade deve ser prioridade do governo.
Os dados do Credit Suisse também mostram que o número de milionários no Brasil deve aumentar 74,4% até 2025, subindo de 207 mil, em 2020, para 361 mil em cinco anos. Caso essa estimativa se confirme, o país só ganhará em número da Polônia em um ranking de 25 países.
Os autores do documento também estimam que cerca de metade dos adultos mais pobres possuíam, em conjunto, 1% da riqueza mundial no fim do ano passado. Por outro lado, os 10% mais ricos concentram 82% da riqueza global, e o topo da pirâmide (1%) tem quase metade (45%) de todos os bens.
Segundo o banco, os mais ricos foram relativamente pouco impactados pela queda da atividade econômica e levaram vantagem na queda dos juros. No topo da lista, aparecem os Estados Unidos, onde os milionários devem aumentar 28%, passando de quase 22 milhões para 28,5 milhões. Em seguida aparece a China, onde a alta prevista deve ser ainda mais impressionante, de 92,7%, Japão (aumento de 47,8%), França (mais 70,1%) e Canadá (77,2%). No total, o número de milionários no mundo, atualmente em 56,1 milhões deve aumentar em quase 28 milhões até 2025, para 84 milhões.
Um relatório recente da ONU (Organização das Nações Unidas) vê o agravamento da desigualdade com pandemia da Covid-19, aliado ao baixo crescimento do Brasil e de seus vizinhos latinos. Segundo o Pnud (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento), a América Latina está presa em uma espécie de “armadilha de desenvolvimento”.
Valor
Lira quer votar privatização dos Correios antes do recesso
Parecer deve ser apresentado na próxima semana
O presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), afirmou ontem que pretende votar a privatização dos Correios no plenário antes do recesso parlamentar, que começa em 17 de julho, e que o relator, deputado Gil Cutrim (Republicanos-MA), deve finalizar seu parecer nos próximos dias para apresentar aos líderes partidários em reunião na quinta-feira, 1º de julho.
“Ele virá no colégio de líderes e explicará o texto, receberá as críticas às mudanças. A partir daí, começará um périplo, um encaminhamento por todas as lideranças partidárias da Câmara. E, eu penso, até o último dia, antes do recesso de julho, que será dia 17, nós temos a oportunidade de discutirmos e votarmos no plenário da Câmara”, disse Lira durante live do portal “Jota”.
Lira não deu detalhes sobre as modificações no projeto, mas disse que a Câmara “terá o cuidado” de estabelecer um “texto-base” ou “marco de referência” de que quem ganhar a licitação terá que cumprir a obrigação dos Correios de levar o serviço para as áreas mais longínquas e de difícil acesso do país. Ele não explicou se essa licitação se referia ao modelo de venda da empresa ou à disputa na iniciativa privada pela concessão do serviço postal.
O projeto quebra o monopólio dos Correios sobre os serviços postais (entrega de cartas e boletos, por exemplo) em cinco anos e permite ao governo tornar empresa de economia mista (com entrada de capital privado nas ações com direito a voto), nos moldes do que já ocorreu com a Petrobras e a Eletrobras. Para manter o atendimento postal em todas as regiões do país, o governo poderá organizar concessões por região, com pagamento de outorga pela exclusividade.
Cutrim pouco tem falado sobre o projeto, que não passou por uma comissão especial e será votado direto no plenário. A proposta chegou a ser debatida em algumas comissões, como de Desenvolvimento Econômico, mas Lira retirou o projeto desses colegiados – a estratégia do governo era evitar a divulgação de pareceres conflitantes e centrar as discussões num único relator.
O anúncio de que a votação ocorrerá em duas semanas incomodou a oposição. “É uma quebra de acordo inadmissível que o presidente Arthur faça um negócio desses depois de nos garantir, quando votou a urgência, que o projeto seria exaustivamente discutido com as entidades e conosco”, afirmou o deputado André Figueiredo (PDT-CE), ex-ministro das Comunicações – Pasta a qual os Correios estão vinculados. “É uma proposta danosa para o país e vamos trabalhar para que não vá para a pauta”, disse o deputado Leonardo Monteiro (PT-MG), presidente da frente em “Defesa dos Correios”.
Cutrim disse ao Valor que não antecipará pontos do parecer, mas defendeu que o projeto busca alternativas para atrair investimentos que melhorem os serviços prestados. “O relatório está em sua fase final e elenquei os pontos como garantir a universalização do acesso aos serviços postais em todo território brasileiro, dar maior eficiência aos serviços e, consequentemente, um atendimento de excelência a toda população”, afirmou. O relator disse que está atento à proteção do emprego dos funcionários e que pretende valorizá-los com mais oportunidades junto com o crescimento da empresa.
Estadão
Lula tem 49% das intenções de voto e Bolsonaro, 23%, aponta pesquisa Ipec
Com 49% das intenções de voto, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva aparece, neste momento, como favorito para a próxima disputa pelo Palácio do Planalto. Segundo pesquisa do instituto Ipec, Lula tem mais que o dobro da taxa do presidente Jair Bolsonaro (23%). Com esse desempenho, e se as eleições fossem hoje, o petista venceria no primeiro turno.
Como ainda faltam 16 meses para as eleições, e o quadro de candidatos não está definido, a pesquisa está longe de antecipar resultados. A leitura dos números, porém, deixa claro que Lula é o nome da oposição que mais se fortalece com o desgaste de Bolsonaro, cujo governo está cada vez mais mal avaliado.
Atrás dos dois primeiros na corrida eleitoral estão Ciro Gomes, do PDT, com 7%, e João Doria, do PSDB, com 5%. Luiz Henrique Mandetta (DEM), que foi ministro da Saúde no início da pandemia, até ser demitido por Bolsonaro, tem 3%.
Lula lidera em todos os segmentos do eleitorado. No recorte geográfico, seu principal reduto continua sendo o Nordeste, onde tem 63% das preferências, com vantagem de 48 pontos porcentuais sobre Bolsonaro. A menor vantagem do petista ocorre no Sul (35% a 29%). No Sudeste, região que concentra o maior número de eleitores, o ex-presidente tem 47%, e seu principal rival, 24%.
Além de aparecer com taxa de intenção de votos superior à soma dos outros quatro potenciais candidatos testados na pesquisa, Lula teve ganho significativo em seu capital político nos últimos quatro meses.
O Ipec (Inteligência em Pesquisa e Consultoria, novo instituto da estatística Márcia Cavallari, ex-Ibope), não fez levantamentos de intenção de voto no passado. Em fevereiro e agora, porém, o instituto avaliou o potencial de votos de possíveis concorrentes ao Planalto. É esse indicador que demonstra a melhora de Lula e o recuo de Bolsonaro.
A pesquisa de potencial de votos estima o piso e o teto de cada candidato. Funciona assim: o entrevistador cita um nome de cada vez e pergunta se o eleitor votaria nele com certeza, se poderia votar, se não votaria de jeito nenhum ou se não o conhece suficientemente para responder. A soma das duas primeiras respostas – “votaria com certeza” e “poderia votar” – é o potencial de votos de cada presidenciável.
Em fevereiro, Lula aparecia com potencial de conquistar 50% do eleitorado. Na época, porém, o petista estava impedido de concorrer pela Lei da Ficha Limpa, pois tinha duas condenações penais proferidas por órgão colegiado. Em março, o Supremo Tribunal Federal anulou as condenações e restabeleceu a elegibilidade do ex-presidente. Desde então, o teto de votos de Lula subiu: seu potencial passou de 50% para 61%, segundo o Ipec.
Esse avanço coincidiu com uma deterioração das chances eleitorais de Bolsonaro. Nos últimos quatro meses, o potencial de votos do presidente caiu de 38% para 33%, enquanto a rejeição disparou. Nada menos que 62% dos eleitores afirmam que não votariam em Bolsonaro de jeito nenhum (eram 56% há quatro meses). No caso de Lula, essa taxa é de 36%.
Ciro Gomes também teve avanço em seu potencial de votos, mas em termos mais modestos: passou de 25% para 29% desde fevereiro. A rejeição ao ex-governador do Ceará caiu quatro pontos porcentuais, mas segue em patamar elevado: 49% dizem que não votariam nele de jeito nenhum.
Já o potencial de votos de Doria passou de 15% para 18%. O governador de São Paulo tem como obstáculo o fato de 56% do eleitorado afirmar que jamais o escolheria como presidente. O Ipec entrevistou, presencialmente, 2.002 eleitores em 141 cidades, entre 17 e 21 de junho. A margem de erro é de 2 pontos porcentuais.
O Globo
Gilmar amplia suspeição de Moro para todos os processos em que ex-juiz atuou sobre Lula
Ministro do STF atendeu a um pedido feito pela defesa do ex-presidente; Decisão atinge processos do sítio de Atibaia e Instituto Lula
O ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal (STF), ampliou os efeitos da decisão que declarou o ex-juiz Sergio Moro suspeito ao julgar o processo do triplex de Guarujá para os outros dois processos em que atuou contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva na 13ª Vara Federal de Curitiba.
A extensão concedida pelo ministro do STF atinge os processos do sítio de Atibaia e o da doação de um imóvel para o Instituto Lula. A decisão ocorre um dia após o plenário da Corte confirmar a parcialidade de Moro ao julgar o caso do triplex. A decisão anula os processos de forma irremediável.
Gilmar atendeu a um pedido dos advogados do ex-presidente, feito em abril, para que todos os atos decisórios do ex-magistrado nas ações fossem considerados nulos. A defesa sustentava que, uma vez declarada a suspeição do ex-juiz no processo do tríplex, se fazia necessária a revisão outros processos.
O ministro observou que por “isonomia e segurança jurídica, é dever deste Tribunal, por meio do Relator do feito, estender a decisão aos casos pertinentes, quando há identidade fática e jurídica”. Assim, determinou a anulação de “todos os atos decisórios emanados pelo magistrado, incluindo-se os atos praticados na fase pré- processual”.
Carlos Siqueira: ‘Quem tiver melhores condições de derrotar Bolsonaro terá o nosso apoio’, afirma presidente do PSB
“Além disso, diversos dos fatos ocorridos e que fundamentaram a decisão da Turma pelo reconhecimento da suspeição são compartilhados em todas as ações penais, como os abusos em conduções coercitivas e na decretação de interceptações telefônicas, o levantamento do sigilo da delação premiada de Antônio Palocci Filho com finalidades eleitorais em meio ao pleito em curso naquele momento, entre outros”, afirmou Gilmar.
Este pedido foi analisado por Gilmar depois que ele se tornou o relator do caso no lugar do ministro Edson Fachin, que ficou vencido na Segunda Turma.
O caso do tríplex do Guarujá já havia sido transferido da Justiça Federal do Paraná para o Distrito Federal. Também foram enviadas ao DF outras três ações contra o ex-presidente: a do sítio de Atibaia (SP) e duas envolvendo a sede do Instituto Lula e doações feitas à instituição.
Valor
CPI da Covid investiga relação entre Covaxin e demissão de Pazuello
Assunto deve ser abordado hoje durante o depoimento de Luis Miranda
A CPI da Covid irá apurar se houve uma relação entre as suspeitas a respeito das negociações para a compra da vacina Covaxin e a demissão do general Eduardo Pazuello do cargo de ministro da Saúde. O assunto deve ser abordado hoje, durante o depoimento do deputado federal Luis Miranda (DEM-DF) e de seu irmão, o servidor Luis Ricardo Fernandes Miranda, que envolveram o próprio presidente Jair Bolsonaro nas denúncias sobre um suposto esquema de corrupção.
Segundo documentos em posse da Comissão Parlamentar de Inquérito, pode ser traçada uma linha do tempo que começa em 18 de março deste ano, dia em que a Precisa Medicamentos, representante do laboratório indiano Bharat Biotec, enviou o primeiro “invoice” (recibo) para o Ministério da Saúde.
Esse primeiro recibo continha informações diferentes das previstas no contrato entre a empresa e o governo brasileiro. Uma das disparidades foi a previsão de um pagamento antecipado de aproximadamente US$ 45 milhões, algo que não estava estabelecido no acordo. Em relação às doses do imunizante, também havia divergência: o recibo estabelecia entrega inicial de apenas 300 mil doses – e não 4 milhões, como tinha sido acordado inicialmente entre as partes.
O responsável pela análise do recibo na pasta da Saúde foi justamente o servidor Luis Ricardo Fernandes Miranda, irmão do deputado, que relatou ao Ministério Público Federal (MPF) ter sofrido “pressão” para dar aval ao trâmite, mesmo com tais divergências. O detalhe é que na época da entrega desse recibo começou-se a especular sobre a saída de Pazuello do cargo.
No mesmo dia 18 de março, por exemplo, o presidente Jair Bolsonaro fez uma “live” nas redes sociais e anunciou que a exoneração de Pazuello sairia no dia seguinte. Apesar disso, em 19 de março a demissão não foi publicada no “Diário Oficial da União” e Pazuello continuou no cargo. Nessa mesma data, diante da resistência do servidor em assinar o recibo, a Precisa Medicamentos encaminhou um segundo “invoice” ao Ministério da Saúde.
Esta versão foi entregue com a quantidade de doses corretas, mas ainda mencionando o pagamento antecipado. Por conta disso, em 20 de março, Luis Miranda intercedeu em nome do irmão e procurou um auxiliar direto de Bolsonaro para denunciar o que seria um “esquema de corrupção pesado”.
“Avise o PR [presidente da República] que está rolando um esquema de corrupção pesado na aquisição das vacinas dentro do Ministério da Saúde. Tenho as provas e as testemunhas”, escreveu o parlamentar do DEM por meio de um aplicativo de mensagens. “Não esquece de avisar o PR [presidente da República]. Depois não quero ninguém dizendo que eu implodi a República. Ele [Bolsonaro] precisa saber e se antecipar”, complementou.
A estratégia do parlamentar parecia surtir efeito. No próprio 20 de março, os irmãos Miranda dirigiram-se ao Palácio da Alvorada para tratar do assunto com Bolsonaro. Na versão dos dois, Bolsonaro teria prometido levar o caso à Polícia Federal. Em vez disso, segundo os senadores governistas, o presidente teria consultado o próprio Pazuello sobre as acusações.
O então ministro, por sua vez, não teria encontrado elementos que sustentassem a denúncia. Porém, em 23 de março enfim o “Diário Oficial da União” trouxe a publicação da exoneração de Pazuello do cargo de ministro. Exatamente a mesma data em que a Precisa enviou uma terceira versão do “invoice”, que, desta vez, não trazia nenhum pagamento antecipado e nem dados distorcidos.
A próxima etapa da linha do tempo dá-se apenas um dia depois desses fatos. No dia 24 de março, Pazuello passou o cargo de ministro para o atual titular, Marcelo Queiroga, em cerimônia privada. No entanto, um vídeo foi divulgado e nele Pazuello insinua ter sido procurado por “lideranças políticas” que teriam pedido “um pixuleco no final do ano”.
Essa declaração, que ainda intriga senadores independentes e da oposição, ficou sem explicação até o seu depoimento à CPI, em maio. Aos integrantes da comissão, o ex-ministro disse que se referia apenas às sobras orçamentárias que ficaram sem destinação. Hoje, os parlamentares devem tentar colher subsídios para desmontar essa versão.
Integrantes da CPI também devem buscar saber se os irmãos Miranda demoraram a denunciar o suposto esquema e, se isso de fato ocorreu, o que teria motivado essa atitude. Fontes lembram que o deputado já se envolveu em outras polêmicas.
Em maio do ano passado, por exemplo, ele foi criticado por autoridades do governo ao tentar incluir no relatório de uma medida provisória a possibilidade de desconto de dívidas de bancos falidos. Miranda afirmou que o irmão já tinha um “desconforto” com as tratativas há semanas. “Não percebemos o esquema de corrupção do dia 18 para o dia 20 [de março]. Isso veio do desconforto de semanas do meu irmão”, pontuou. O Ministério da Saúde e a Secretaria de Comunicação Social da Presidência não comentaram
O Globo
Documento sobre Covaxin que Palácio do Planalto diz que não existe está em sistema do Ministério da Saúde
Material obtido pelo GLOBO contradiz versão apresentada pelo ministro Onyx Lorenzoni, da Secretaria-Geral da Presidência
O Palácio do Planalto contestou a existência e autenticidade de um recibo sobre a importação de doses da vacina Covaxin que foi apresentado por um servidor numa denúncia feita ao presidente Jair Bolsonaro. Mas o documento, obtido pelo GLOBO, está disponível no sistema do Ministério da Saúde, ao qual integrantes do governo têm acesso.
Em um pronunciamento sem direito a questionamentos, o ministro Onyx Lorenzoni, da Secretaria-Geral da Presidência, e o ex-secretário-executivo do Ministério da Saúde Élcio Franco levantaram suspeitas com relação a uma cópia de uma fatura de importação apresentada por Luis Ricardo Miranda e seu irmão, o deputado federal Luis Miranda (DEM-DF), sobre a compra da Covaxin. O servidor disse, em entrevista ao GLOBO, ter avisado o presidente Jair Bolsonaro das suspeitas em relação ao processo de importação.
No pronunciamento no Palácio do Planalto, Onyx e Élcio Franco afirmaram que há indícios de que a fatura apresentada pelos irmãos Miranda não era verdadeira ou teria sido forjada para prejudicar o presidente Bolsonaro. Com base nisso, o governo pediu uma investigação para Polícia Federal, a Procuradoria-Geral da República e a Controladoria-Geral da União (CGU).
— É evidente que vamos pedir que os peritos da PF façam a análise dos dois documentos. São evidentes as diferenças entre eles — alegou Onyx.
Primeira versão do documento
O documento contestado pelo ministro está disponível no sistema do Ministério da Saúde e pode ser acessado por integrantes do governo. O recibo tem a data de 19 de março de 2021 e, segundo Luis Ricardo Miranda, foi o motivo para que ele contrariasse seus chefes e se recusasse a dar aval ao processo.
O pagamento antecipado no valor de U$ 45 milhões era endereçado para a Madison Biotech, apontada como uma subsidiária da Bharat Biotech, fabricante da vacina Covaxin, que não constava do contrato assinado com o Ministério da Saúde. Além disso, a fatura previa a aquisição de 300 mil unidades da vacina. A Precisa afirmou se tratar de um “erro material” por estar se referindo a frascos, cada um com 10 doses de vacina.
Segunda versão
Após o envio do primeiro recibo, um novo documento foi encaminhado ao Ministério da Saúde. Desta vez, a Precisa corrigiu o total de doses de 300 mil para 3 milhões, mas ainda manteve a previsão de pagamento antecipado.
Segundo o relato de Miranda, no dia 20 de março, ele e seu irmão se reuniram com o presidente Jair Bolsonaro e o alertaram sobre as pressões que Luis Ricardo estaria sofrendo e sobre a previsão de pagamento adiantado à subsidiária da Bharat Biotech. Ainda de acordo com o servidor, Bolsonaro teria prometido que levaria o assunto à Polícia Federal.
Terceira versão
Três dias depois do encontro, em 23 de março, o Ministério da Saúde continuou o processo de importação da vacina. Em um e-mail, um servidor da pasta pediu a uma executiva da Precisa Medicamentos que a empresa retificasse a fatura justamente porque o documento ainda continha a previsão de pagamento adiantado. O funcionário enviou o e-mail às 22h35 do dia 23 de março, segundo documentos obtidos pelo GLOBO. A empresa respondeu às 22h54 informando que pediu a correção do documento e que o estava enviando naquele momento.
Procurada, a Precisa argumenta que corrigiu o “erro material” sobre o pagamento antecipado em 20 minutos após ser acionada pelo ministério. A empresa confirma a existência dos três documentos, contrariando a versão do governo. Questionado sobre o fato de o documento apresentado pelo servidor do ministério da Saúde ao presidente Bolsonaro ser idêntico àquele que consta no sistema do Ministério da Saúde, Onyx Lorenzoni não se manifestou.
Folha de SP (Painel)
Superpedido de impeachment contra Bolsonaro será protocolado na quarta (30) com ato em Brasília
Texto reúne mais de 100 pedidos, elaborados por opositores e ex-aliados do presidente
Líderes de partidos, de movimentos sociais e deputados decidiram em reunião nesta quinta-feira (24) que apresentarão na quarta-feira (30) o chamado superpedido de impeachment contra Jair Bolsonaro, que reúne mais de 100 pedidos feitos por siglas e grupos de oposição e parlamentares que se arrependeram de ter apoiado o presidente, como Joice Hasselmann (PSL-SP) e Alexandre Frota (PSDB-SP).
Presidentes de PSOL, PT, PC do B, PDT, PSB, Rede, UP, PV e Cidadania têm liderado as discussões. A expectativa é a de que por se tratar de iniciativa supraideológica o pedido tenda a ganhar força e elevar a pressão para que o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), analise as acusações.
A entrega dos pedidos contará também com um ato na Câmara dos Deputados, em Brasília, programado para as 14h30, com a presença de entidades que fazem parte da mobilização pelo superpedido, como UNE (União Nacional dos Estudantes) e MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra), além de parlamentares.
“Vamos presencialmente. Ainda que o sistema seja remoto, todas as entidades e partidos queremos que o ato seja de unidade nacional. É preciso que a voz das ruas ecoe no parlamento. Não é possível que o presidente Arthur Lira (PP-AL) silencie frente a essa voz das ruas que se avoluma. A crise se amplia, as denúncias se agravam, e o Congresso não pode ficar surdo. Os fatos da semana falam por si sós”, diz o deputado José Guimarães (PT-CE).
Para os envolvidos, o ato e a entrega do pedido vão dar início a um período decisivo de mobilização contra Bolsonaro. A campanha Fora, Bolsonaro, que encabeça os protestos nacionais contra o presidente, marcou para 24 de julho as próximas manifestações.
“Esse novo pedido é muito importante, primeiro porque vem com a força e mobilização permanente das ruas contra Bolsonaro, e também porque agora reúne todos pedidos anteriores, de movimentos sociais e partidos, e deverá reforçar ainda mais os próximos protestos”, diz Iago Montalvão, presidente da UNE. “Deixa mais pesada a artiharia contra o governo em um momento de desesperança e de letargia de maior parte da sociedade”, diz o deputado Kim Kataguiri (DEM-SP).
“Robustece o único pedido de impeachment, ainda mais agora com denúncias da Covaxin. Cada dia surge uma coisa nova, algum filho do presidente sendo investigado ou alguma vacina que ele se recusou a comprar, algum email que ele ignorou e que mostra que a gente podia ter iniciado nossa imunização em dezembro. Com essas novidades aparecendo acho importante manter a chama do impeachment acesa para criar momento para acolhimento do pedido”, completa o líder do MBL (Movimento Brasil Livre). Ele diz que não poderá participar presencialmente do ato na quarta-feira (30).
Como mostrou a Folha, o superpedido deverá apontar mais de 20 tipos de crimes contra a lei de responsabilidade. Para Fernanda Melchionna (RS), deputada do PSOL, autora de um dos primeiros pedidos de impeachment contra Bolsonaro, o superpedido mostra unidade de ação entre forças distintas e fortalece as mobilizações nas ruas —e também ganha força com elas. “Nenhum governo cai de podre, é preciso derrotá-lo. O novo calendário de mobilizações é fundamental para que ande a luta política para derrotar o Bolsonaro”, afirma.
Sobre as investigações a respeito de indícios de irregularidades no acordo de compra de doses da vacina indiana Covaxin pelo governo federal, Melchionna afirma que nada impede que um novo pedido relativo ao caso seja adendado posteriormente, mas que o grupo preferiu consolidar o superpedido com o material que já havia sido debatido e estava mais maduro para agilizar a mobilização.
Valor
Brasil vacina mais rápido que média sulamericana, mas aquém doideal
País está atrás apenas de Chile e Uruguai no continente no que diz respeito a percentual da população com duas doses
Apesar de estar pouco acima da média mundial, o Brasil aparece à frente da maior parte dos países sul-americanos quando se trata do percentual da população já inteiramente imunizada contra a covid-19. Com 11,6% da população vacinada com duas doses, o Brasil só perde na região para Chile (51%) e Uruguai (42,8%). Mas fica à frente de Colômbia (10,1%), Argentina (8,3%), Peru (8,1%) e Equador (7,1%), segundo dados compilados pelo site Our World in Data, ligado à Universidade de Oxford.
“Não se espera nenhum tipo de alívio [no Brasil] com esse nível de cobertura”, diz o professor Gonzalo Vecina, da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (USP), referindo-se ao patamar de imunizados com duas doses. “Não há expectativa de nenhuma queda importante no número de casos e mortes.” Para gerar esse efeito, seria necessário ter pelo menos metade da população vacinada com duas doses.
No mundo, o percentual de pessoas que receberam todas as doses necessárias à imunização estava ontem em 10,2%. Israel e o Bahrein, pequeno país insular situado no Golfo Pérsico, estão entre os países com maior percentual da população completamente imunizada até ontem: 59,5% e 54,7%, respectivamente. Imediatamente atrás deles, vinham a Mongólia (52,3%) e o Chile (51% em 22 de junho).
Residindo no Chile, a bióloga Beatriz Carniel atribui a alta porcentagem de vacinados com duas doses à preparação antecipada do governo. “Para mim, a grande diferença [entre Brasil e Chile] foi o planejamento”, diz a doutora em medicina tropical pela Liverpool School of Tropical Medicine.
No Chile, a maior parte das doses aplicadas foi até agora da Coronavac (78,3%). Mesmo com mais da metade de população imunizada, a média móvel de sete dias de mortes por covid-19 vem crescendo desde o fim de maio no país, de acordo com o Our World in Data. “O fato de usar uma vacina com eficácia menor, combinado com uma falsa segurança psicológica experimentada pelas pessoas que tomaram a primeira dose, ajuda a explicar o avanço da doença”, diz Beatriz, integrante do grupo independente de pesquisadores Ação Covid-19.
A Coronavac tem eficácia global de 50,83%, o que significa que quase metade dos vacinados com duas doses pode contrair o coronavírus, ainda que de forma branda ou assintomática. “Nós sabíamos o que estávamos aprovando: uma vacina com eficácia limítrofe”, diz Gonzalo Vecina, ex-diretor da Agência Nacional de Vigilância Sanitária, numa menção à Coronavac, lembrando que a eficácia mínima de 50% é diretriz geral baseada em outras vacinas.
No Brasil, a predominância inicial da Coronavac deu lugar à participação crescente da AstraZeneca e, agora, da Pfizer / BioNTech. Dados do Ministério da Saúde mostravam ontem que 47,6% das doses aplicadas no país eram da Coronavac, e 46,5%, da AstraZeneca. A Pfizer respondia pelos 5,9% restantes.
Beatriz acredita que o medo de efeitos adversos, principalmente entre os vacinados com AstraZeneca, pode estar contribuindo para a lacuna entre o percentual de brasileiros que tomaram a primeira e a segunda doses. Até a quarta-feira, 31,74% da população havia tomado uma dose, e 11,64%, duas doses.
A segurança, ainda que ilusória, trazida pela aplicação da primeira dose também ajuda a explicar essa distância, diz a bióloga. “Tem muita gente que não foi tomar a segunda dose por falta de campanha. É uma questão de comunicação de massa. Paramos de fazer campanha de vacinação em 2018, particularmente por causa das restrições impostas pela Emenda Constitucional 95”, acrescenta Gonzalo Vecina, numa referência à emenda do teto de gastos públicos para a União.
Valor
Quase 99% das mortes nos EUA são de não vacinados
Análise de dados oficiais disponíveis de maio, realizada pela AP, mostra que infecções “que derrubam a linha de defesa” em pessoas plenamente vacinadas responderam por 0,1% das mais de 853 mil hospitalizações por covid-19
Quase todas as mortes atuais por covid-19 nos EUA ocorrem entre pessoas que não foram vacinadas. Essa é uma demonstração descomunal do grau de eficácia das vacinas e um indício de que o número de mortes diário – atualmente inferior a 300 – poderia ser de praticamente zero se todas as pessoas aptas a serem vacinadas tomassem a vacina.
Uma análise de dados governamentais disponíveis de maio, realizada pela AP, mostra que infecções “que derrubam a linha de defesa” em pessoas plenamente vacinadas responderam por menos que 1.200, das mais de 853 mil hospitalizações por covid-19. Isso representa cerca de 0,1%. E apenas cerca de 150 dos mais de 18 mil óbitos por covid-19 registrados em maio ocorreram entre pessoas totalmente vacinadas. Isso representa cerca de 0,8%, ou cinco mortes diárias, em média.
A AP analisou números fornecidos pelo Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC, nas iniciais em inglês) dos EUA. O próprio CDC não estimou o percentual das internações e mortes entre pessoas totalmente vacinadas, atribuindo a omissão a limitações dos dados.
Só cerca de 45 dos 50 Estados americanos registraram esse tipo de infecção que rompe as linhas de defesa, e alguns são mais agressivos que outros na busca desses casos. Portanto, os números provavelmente subestimem essas infecções, segundo o CDC. Apesar disso, a tendência total que deriva dos dados corrobora o que muitas autoridades da área de saúde observam em todo o país e o que os especialistas mais graduados dizem.
No começo do mês, Andy Slavitt, ex-assessor em covid-19 do governo Biden, sugeriu que 98% a 99% dos americanos que estavam morrendo vítimas da doença eram de não vacinadas. A diretora do CDC, Rochelle Walensky, disse na terça-feira que a vacina é tão eficaz que “quase toda morte, principalmente entre adultos, causada por covid-19, é, neste momento, totalmente evitável”. Ela qualificou esses óbitos de “especialmente trágicos”.
As mortes nos EUA despencaram a partir do pico de mais de 3.400 mil ao dia, em média, registrado em meados de janeiro, depois de um mês de iniciada a campanha de vacinação. Cerca de 63% de todos os americanos aptos a serem vacinados – os de 12 anos ou mais – tomaram ao menos uma dose, e 53% estão plenamente vacinados, segundo o CDC.
Embora as vacinas continuem escassas em boa parte do mundo, sua oferta nos EUA é tão grande e a demanda caiu tanto que há muitas doses sem uso. Ross Bagne, pequeno empresário de 68 anos de Cheyenne, Wyoming, podia ter tomado a vacina em fevereiro, mas achou que não precisava, pois não saía de casa. Ele morreu no dia 4 de junho, infectado e não vacinado após passar mais de três semanas no hospital.
Os óbitos evitáveis vão continuar, preveem os especialistas, com bolsões de não vacinados do país vivenciando surtos no próximo outono (de setembro a dezembro) e inverno (de dezembro a março). Ali Mokdad, professor de ciência métrica de saúde da Universidade de Washington, campus de Seattle, disse que os modelos matemáticos sugerem que o país voltará a registrar 1.000 mortes por dia no ano que vem.
No Estado de Arkansas, que tem uma das mais baixas taxas de vacinação, com só 33% da população integralmente protegida, as internações e óbitos estão crescendo. “É triste ver alguém ir para o hospital ou morrer quando isso pode ser evitado”, tuitou o governador Asa Hutchinson, ao fazer um apelo para as pessoas se vacinarem.
No condado de King, em Seattle, o departamento de saúde pública encontrou apenas 3 óbitos durante recente período de 60 dias em pessoas integralmente vacinadas. Os demais, cerca de 95% de 62 mortes, ocorreram entre pessoas que não tomaram vacina ou que tomaram apenas uma dose. “São todas pais, avós, irmãos e amigos de alguém”, disse Mark Del Beccaro, médico que ajuda a comandar o programa de vacinação em King. “Ainda assim são muitas mortes, e são mortes evitáveis.”
Na área de St. Louis, Estado de Missouri, mais de 90% dos pacientes internados com covid-19 não tinham sido vacinados, disse Alex Garza, diretor do hospital que comanda a força-tarefa da doença para a área metropolitana. “A maioria deles manifesta algum arrependimento por não ter se vacinado”, disse Garza. “Esse é um refrão muito comum que ouvimos de pacientes de covid.”
As histórias de morte de pessoas não vacinadas poderão convencer algumas pessoas a ir se vacinar, mas jovens adultos – o grupo menos tendente a se vacinar – pode ser mais motivado pelo desejo de proteger seus entes queridos, disse o epidemiologista David Michaels, da Faculdade de Saúde Pública da Universidade George Washington. Outro obstáculo é a necessidade de parte dos trabalhadores de compensar a ausência para tomar a vacina e lidar com qualquer efeito colateral, disse Michaels.
O Departamento de Segurança Ocupacional e Saúde, órgão filiado ao Departamento do Trabalho dos EUA, começou neste mês a exigir que os empregadores da área de saúde, inclusive hospitais e casas de repouso, ofereçam esse tempo de folga. Mas Michaels, que comandou o departamento no governo Obama, diz que o órgão deveria ir além e aplicar a regra a unidades de beneficiamento de carnes e de processamento de alimentos, bem como a outros lugares com trabalhadores em risco.