Clipping 28 de outubro e 2021
Manchetes
SP supera EUA, Alemanha e Reino Unido em vacinação (Folha)
Após furo do teto, BC promove maior alta dos juros em 19 anos (Estadão)
Inflação e risco fiscal levam à maior alta dos juros desde 2002 (O Globo)
Copom eleva juro para 7,75% e indica nova alta de 1,5 ponto (Valor)
Automotive Business
Lucro da GM cai 40% devido à falta de chips
Crise de semicondutores provoca queda dos ganhos globais da montadora no terceiro trimestre
Uma semana depois que a Renault reportou queda de 13,5% no seu faturamento, a crise dos semicondutores atingiu os resultados de outra grande montadora. A General Motors divulgou na quarta-feira, 27, seu balanço do terceiro trimestre no qual revela uma redução no resultado líquido global de 40%.
A baixa produção por falta de componentes afetou as vendas no período, que provocaram uma forte retração no lucro, que caiu de US $ 4,05 bilhões no terceiro trimestre do ano passado para US$ 2,42 bilhões em 2021.
Quanto ao faturamento total, também foi anotada uma redução, caindo dos U$ 26,78 bilhões no mesmo período de 2020 para US$ 35,48 bilhões neste ano, o que representa uma baixa de 25%. Com isso, a margem ajustada caiu 4 pontos percentuais, estacionando agora em 10,9%.
Mary Barra, CEO da GM, disse em uma teleconferência a analistas e jornalistas que espera que a montadora recupere sua participação no mercado assim que a produção normalizar nas suas fábricas, já que a empresa prevê uma pequena melhoria no cenário de fornecimento dos semicondutores até o fim do ano.
“Há anos somos o líder de vendas número 1 nos Estados Unidos e estou confiante, com a linha de produtos que temos e alguns dos novos produtos que estão chegando, de que iremos recuperá-la assim que tivermos disponibilidade de suprimento”, comentou Barra.
Diante da estimativa de um aumento do fornecimento de chips nos próximos meses, a GM elevou sua projeção de lucro de 2021 para uma faixa entre US$ 8,1 bilhões e US$ 9,6 bilhões. No segundo trimestre, a previsão era fechar o ano com algo entre US$ 7,7 bilhões a US$ 9,2 bilhões.
Valor
Plano dos EUA para chips é ‘muito acanhado’
Fundador da TSMC, a maior fabricante de chips do mundo, critica os esforços de Washington para reconfigurar a cadeia de fabricação de semicondutores
Enquanto o Congresso dos Estados Unidos trabalha para aprovar investimentos de US$ 52 bilhões na indústria de chips americana, o fundador da Taiwan Semiconductor Manufacturing (TSMC), Morris Chang, disse considerar o plano muito acanhado para reconstruir uma cadeia de suprimentos completa no país.
Chang, um cidadão americano que fundou a empresa que agora é a fabricante de chips mais valiosa do mundo, diz que seria impossível para os Estados Unidos ter uma cadeia de suprimentos de chips completa em seu território, mesmo que gastasse muito mais – e que tal movimento pode não ser financeiramente desejável em qualquer caso.
“Se você deseja restabelecer uma cadeia completa de suprimentos de semicondutores nos Estados Unidos, não a verá como uma tarefa possível”, disse Chang em um fórum da indústria de tecnologia em Taipei na noite de terça-feira. “Mesmo depois de gastar centenas de bilhões de dólares, você ainda descobrirá que a cadeia de suprimentos está incompleta e que terá um custo muito alto, custos muito mais altos do que o que você tem atualmente.”
Os Estados Unidos eram responsáveis por 37% da fabricação global de semicondutores na década de 1990, mas hoje essa participação caiu para 12%, mostram os dados da Semiconductor Industry Association.
Washington está fazendo campanha para trazer mais produção de chips para solo americano, em meio à preocupação com o excesso de confiança em Taiwan. O Senado dos Estados Unidos aprovou este ano um gasto de US$ 52 bilhões para apoiar pesquisa, desenvolvimento e fabricação doméstica de semicondutores, embora o pacote ainda não tenha se tornado lei.
Chang, que se aposentou da TSMC em 2018, afirmou que algumas pessoas que defendem trazer a cadeia de suprimentos de chips para seu próprio país são motivadas por interesses próprios. O executivo-chefe (CEO) da Intel, Pat Gelsinger, defende mais manufatura nos Estados Unidos, já que “não é seguro em Taiwan e não é seguro na Coreia do Sul”, disse Chang, enquanto a Intel espera obter financiamento do pacote de subsídios de US$ 52 bilhões.
Repensar a cadeia de suprimentos será um desafio para todos, disse Chang. “No passado, as empresas nos Estados Unidos ou na Ásia estavam crescendo e prosperando graças à globalização e ao livre comércio”, disse ele.
Chang citou o livro de Thomas Friedman, “The World Is Flat”, no qual o editorialista do “The New York Times” analisa a globalização e as oportunidades que ela cria para as nações. “Bem, Thomas, o mundo não é mais plano”, disse ele. “Isso será um desafio para a indústria asiática de semicondutores e a indústria global de semicondutores, incluindo a Intel.”
Os comentários de Chang, na terça-feira, foram os primeiros em que ele questionou direta e publicamente os esforços de Washington para reconfigurar a cadeia de fabricação de semicondutores. Sua crítica vem apesar da decisão da TSMC de construir uma instalação avançada de chips no estado do Arizona, nos Estados Unidos, em resposta à campanha do governo americano. Anteriormente, Chang havia dito que os esforços do governo em todo o mundo para aumentar a produção de chips poderiam sair pela culatra, sem especificar quais países.
Sandra Oudkirk, diretora do Instituto Americano em Taiwan e principal diplomata dos Estados Unidos em Taipei, estava entre a audiência no fórum do setor. Europa, Japão e China também estão se preparando para aumentar a produção em casa, oferecendo ajuda governamental para garantir que os chips permaneçam em seus países.
A TSMC anunciou recentemente que a empresa construirá sua primeira instalação de chips no Japão, onde o primeiro-ministro, Fumio Kishida, disse que seu governo apoiará investimentos em larga escala do setor privado.
AutoData
Iniciativa automotiva lança movimento rumo à descarbonização
Quando se fala em futuro sustentável do setor automotivo o mundo todo parece caminhar para uma única direção: eletrificação. Profissionais brasileiros, contudo, cientes das dificuldades da falta de infraestrutura local e para preço final acessível, e ao mesmo tempo numa região dotada de fontes renováveis de energia, parecem ter encontrado uma terceira via na qual querem apostar e exportar: biomassa.
Iniciativa conjunta de Anfaeva, Sindipeças, Unica, SAE e AEA compõe o movimento MSBC, Mobilidade Sustentável de Baixo Carbono, lançado na quarta-feira, 27, cujo princípio é encontrar alternativas para que o País possa dar sua contribuição à redução global de emissões e estruture sua jornada de descarbonização.
O objetivo é combinar tecnologias viáveis economicamente para reduzir os gases estufa. E estabelecer caminho a ser seguido para que, em dez ou quinze anos, todo o setor, incluindo a cadeia automotiva e a de combustíveis, possa efetivamente minimizar a emissão de CO2.
Ricardo Abreu, consultor para mobilidade da Unica, ao apresentar as metas do MSBC, disse que “ouvimos que o mundo está abandonando o motor movido a combustão, mas eles equiparão, por muito tempo ainda, os veículos. Estudo da Anfavea em parceria com o BCG mostra participação de 18% de fontes alternativas de mobilidade até 2035. O resto, portanto, ainda será de combustão interna”.
Abreu garantiu que o Brasil tem a grande vantagem de produzir biocombustíveis e que, quando dizem que isso se trata de uma jabuticaba, algo exclusivo do País, ele discorda ao acreditar que é possível produzir em outros países e que “jabuticaba também se exporta”.
Exemplo é a Índia, que recentemente colocou o etanol como prioridade e criou plano para que, ainda na metade da década, aumente fortemente a utilização do biocombustível, abrindo espaço para a utilização de motorização flexfuel, mercado no qual empresas brasileiras já estão de olho.
Ao estruturar os passos para reduzir as emissões o MSBC pretende levar sugestões ao governo, para que sejam estabelecidas políticas públicas que incentivem esse processo. O movimento propõe a integração de programas existentes hoje no País, como RenovaBio, Rota 2030 e Proconve, como o caminho para combater o aquecimento global.
Outro ponto é que haverá artifícios para que as matrizes possam ser convencidas a investir em biomassa em paralelo à eletrificação. O presidente da Anfavea, Luiz Carlos Moraes, disse que cada empresa decidirá suas apostas e sua velocidade e quanto investir em tecnologias, mas que é possível mostrar que as opções se complementam: “Não queremos fazer projeto que só atenda a indústria local. Temos de pensar em volume de exportações de veículos e eventualmente de combustíveis ou de conhecimento ou de tecnologia para que tenhamos solução que ajude nosso planeta no fim do dia”.
De acordo com o presidente da AEA, Besaliel Botelho, se houver união das diferentes entidades é possível colocar a academia para pensar e para desenvolver novas soluções inovadoras: “Daqui a dez anos podemos ser protagonistas em inovações tecnológicas usando a biomassa, falando na segunda geração do etanol, assim como um dia desenvolvemos o biocombustível, o biodiesel e soluções para o gás natural”.
Valor
Queda da taxa de desemprego esconde precarização do mercado de trabalho
Recuo para 13,2% vem junto com aumento do número de trabalhadores informais e queda recorde da renda
O recuo mais intenso da taxa de desemprego no trimestre móvel encerrado em agosto, para 13,2%, divulgado ontem pela Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua, esconde um cenário de recuperação precária do mercado de trabalho, com aumento do número de trabalhadores informais e queda recorde da renda. As perspectivas no médio prazo são negativas, dizem economistas, diante de um cenário de menor atividade econômica, já estimado pelo mercado.
O desemprego observado ficou bem abaixo dos 14,6% do trimestre encerrado em maio e dos 14,4% de igual período do ano passado. Foi, inclusive, a primeira redução da taxa na comparação anual desde o início da pandemia. O mercado esperava desemprego de 13,5%, segundo mediana de estimativas compiladas pelo Valor Data.
Em agosto, a população ocupada chegou a 90,2 milhões de pessoas, 4% a mais em relação ao trimestre móvel anterior. Quase 70% desse aumento, no entanto, foi de vagas informais, como sem carteira de trabalho assinada ou por conta própria. Este último grupo, inclusive, atingiu novo recorde, de 25,409 milhões.
“Esses dados comprovam, mais uma vez, a retomada do mercado de trabalho por serviços e empregos sem carteira assinada. O movimento é puxado por empregos de baixa qualidade e muito em razão do retorno desses trabalhadores à força de trabalho”, afirma Tiago Barreira, economista da consultoria iDados. “Esse tipo de atividade urbana, de serviços e de baixa remuneração tende a crescer de maneira mais vigorosa em relação a outras atividades.”
Outro indicador de recuperação precária foi a queda do rendimento médio real dos trabalhadores (soma de todos os trabalhos), que foi de R$ 2.489 no trimestre móvel até agosto. O valor indica quedas recordes de 4,3% ante o trimestre móvel anterior (R$ 112 a menos) e de 10,2% (R$ 282 a menos) na comparação interanual.
Contribuíram para este movimento, segundo Adriana Beringuy, coordenadora de Trabalho e Rendimento do IBGE, tanto o maior contingente de trabalhadores informais no mercado quanto a própria inflação. “O rendimento caiu bastante. Ainda vamos ver um período de renda média bastante estagnada ou em queda”, diz Daniel Duque, do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV Ibre).
“Isso deve durar até voltarmos a uma normalidade econômica, à qual ainda não chegamos. Temos, antes, de absorver trabalhadores que ficaram fora do mercado na pandemia para, então, voltar ao período de normalidade. Isso vai levar no mínimo seis meses, se a economia tiver normalizada. Se cair o Produto Interno Bruto (PIB) cair no que vem, não há o que possa salvar a renda.”
Segundo Rodolfo Margato, economista da XP, “inflação persistentemente alta, ampla ociosidade no mercado de trabalho e mudanças na composição da população ocupada (com participação crescente das categorias de emprego informal que, em média, possuem rendimentos mais baixos) explicam a manutenção do rendimento médio da economia brasileira em níveis deprimidos”.
“É como se muitos informais estivessem voltando para o mercado de trabalho, mas precisando dividir o mesmo bolo de uma economia debilitada. Então, é uma deterioração grande do emprego que está voltando agora”, afirma Cosmo Donato, da LCA Consultores.
Segundo o economista, não deve haver melhoras desse cenário no médio prazo dadas as perspectivas de atividade econômica mais fraca nos próximos meses. “As notícias de desaceleração da economia dão indícios de que esse cenário [de recuperação] vai continuar ocorrendo, mas um pouco mais devagar do que estávamos antecipando. A economia talvez não permita pessoas entrarem no mercado na velocidade que poderiam se o ritmo da economia estivesse melhor. A economia mais fraca começa a se configurar como um obstáculo”, afirma Donato.
Segundo Donato, a expectativa anterior era que a população ocupada fosse retornar ao nível pré-pandemia no fim de 2021. “Mas isso talvez fique para o primeiro semestre de 2022”, diz. Ele prevê recuperação do mercado de trabalho até o fim deste ano, quando a queda da taxa de desemprego deve começar a desacelerar.
Em relatório enviado a clientes, Alberto Ramos, economista-chefe para América Latina do banco Goldman Sachs, afirmou que o mercado de trabalho deve permanecer fraco, dada a expectativa de baixo crescimento da economia.
Segundo Ramos, a taxa de desemprego provavelmente permanecerá na casa dos dois dígitos por um longo período de tempo, já que um número ainda considerável de pessoas fora da força de trabalho começa a procurar emprego e retorna à força de trabalho em um ritmo mais rápido do que o de criação de novas vagas. A XP projeta taxa de desemprego média de 13,7% para 2021 e de 12,4% para 2022. A estimativa da LCA é 12,8% para este ano.
Folha de SP
Taxa de desemprego cai, mas renda encolhe, aponta IBGE
Indicador recuou para 13,2%, puxado pelo setor informal
A taxa de desemprego no Brasil recuou para 13,2% no trimestre encerrado em agosto, informou o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) nesta quarta-feira (27). Conforme o instituto, a baixa foi puxada pelo aumento de pessoas ocupadas, principalmente em postos de trabalho informal. A abertura de vagas, contudo, veio acompanhada por quedas recordes, em termos percentuais, no rendimento médio.
Ou seja, houve maior geração de empregos, mas com uma renda inferior. Isso guarda relação com a volta do trabalho informal, que costuma registrar salários menores, e a inflação mais alta. No trimestre anterior, até maio, a taxa de desemprego estava em 14,6% (1,4 ponto percentual acima da mais recente). O indicador era de 14,4% no intervalo de junho a agosto de 2020.
Com o novo resultado, o número de desempregados foi estimado em 13,7 milhões no país. O resultado representa baixa de 7,7% (menos 1,1 milhão de pessoas) ante o trimestre terminado em maio e indica estabilidade na comparação anual. Os dados são da Pnad Contínua (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua). Pelas estatísticas oficiais, um trabalhador é considerado desocupado quando não está atuando e segue em busca de novas oportunidades, com ou sem carteira assinada ou CNPJ.
A taxa de desemprego até agosto (13,2%) veio um pouco abaixo do nível esperado pelo mercado. Analistas consultados pela agência Bloomberg projetavam indicador de 13,4%. No trimestre, a população ocupada chegou a 90,2 milhões de pessoas. A marca significa alta de 4% (mais 3,5 milhões de pessoas) ante maio e crescimento de 10,4% (mais 8,5 milhões) no ano. Dos 90,2 milhões de ocupados, 53,1 milhões (58,9%) trabalhavam de maneira formal. Os demais 37,1 milhões (41,1%) eram informais.
Em relação ao trimestre anterior, até maio, é possível observar um aumento mais consistente no grupo de trabalhadores sem carteira assinada ou CNPJ. A alta foi de 6,9% (mais 2,4 milhões). Na mesma base de comparação, o avanço foi de 2,1% entre os formais (acréscimo de 1,1 milhão).
De acordo com a pesquisadora Adriana Beringuy, coordenadora de trabalho e rendimento do IBGE, a vacinação contra a Covid-19 e a reabertura das atividades econômicas vêm estimulando a retomada da população ocupada. “A expansão da ocupação fez com que a taxa de desocupação cedesse.”
SITUAÇÃO DO EMPREGO NO BRASIL
Para o trimestre encerrado em agosto de 2021, segundo o IBGE
• 13,7 milhões estão desempregados
• 13,2% é a taxa de desemprego
• 90,2 milhões têm algum tipo de trabalho
• 25,4 milhões estão trabalhando por conta própria, com e sem CNPJ
• 53,1 milhões trabalham de maneira formal
• 37,1 milhões trabalham de maneira informal
A chegada da pandemia, em 2020, atingiu em cheio o mercado de trabalho. Com as restrições e a paralisação de empresas, houve destruição de vagas em diferentes setores, e mais brasileiros foram forçados a procurar emprego.
Na visão de analistas, a melhora consistente do quadro depende em grande parte do desempenho do setor de serviços. Esse segmento, o principal empregador do país, sofreu com as restrições na crise porque reúne atividades dependentes da circulação de clientes.
Bares, restaurantes, hotéis e eventos são exemplos de serviços prejudicados pelo coronavírus. As atividades, agora, têm expectativa mais positiva devido ao avanço da vacinação contra a Covid-19.
Contudo, o aquecimento da economia como um todo, necessário para a melhora do mercado de trabalho, é colocado em xeque por uma série de dificuldades. A preocupação de parte dos analistas com o cenário macroeconômico ganhou força na semana passada.
O motivo foi a decisão do governo Jair Bolsonaro (sem partido) de driblar o teto de gastos para pagar o Auxílio Brasil de R$ 400, entre outras despesas, como emendas parlamentares.
O ruído fiscal já derrubou projeções para o PIB (Produto Interno Bruto) do próximo ano. Analistas entendem que a incerteza com as contas públicas deve gerar reflexos na taxa de câmbio. Com o dólar mais alto, a tendência é de novas pressões sobre a inflação e a taxa de juros.
“De fato, ainda há um contingente de desempregados muito alto. São 13,7 milhões de pessoas. O quanto elas vão ser afetadas para conseguir ocupação vai depender da dinâmica da economia. A gente sabe que a questão do juro, da inflação, acaba comprometendo planos de expansão de investimentos”, comentou Adriana Beringuy, do IBGE.
Em meio ao ruído fiscal, o Itaú Unibanco, por exemplo, passou a estimar recessão em 2022, com baixa de 0,5% no PIB. A previsão anterior era de avanço de 0,5%. Essa contração da atividade econômica deve levar o país a uma taxa de desemprego de 13,3% ao fim do próximo ano, relatou o banco na segunda-feira (25). A marca é maior do que a projetada anteriormente pelo Itaú (12,6%).
O economista Rodolpho Tobler, do FGV Ibre, também chama atenção para os riscos trazidos pela piora no cenário macroeconômico. “No curto prazo, é possível imaginar novos resultados positivos no mercado de trabalho. Mas a sustentação dessa retomada depende muito da atividade econômica, e a gente tem visto uma série de revisões”, diz. “Um cenário de fragilidade econômica pode colocar em xeque a retomada do emprego. Isso liga o sinal de alerta.”
Valor
Instrumentos financeiros podem apoiar proteção social, afirma Banco Mundial
Estudo sugere alternativas para reduzir volatilidade de renda dos mais pobres
Em meio à discussão sobre o peso fiscal do aumento do valor do Auxílio Brasil para R$ 400, o Banco Mundial concluiu, em um amplo estudo antecipado ao Valor, um conjunto de sugestões de instrumentos financeiros e inovações para reduzir a vulnerabilidade das famílias de baixa renda no país.
O trabalho faz parte de uma série produzida dentro de um acordo de cooperação técnica com o Ministério da Cidadania, acertado em 2020, e busca alternativas de políticas para minimizar a volatilidade de renda das camadas mais pobres da população e ampliar a resiliência desse grupo.
O estudo “Aumentando a resiliência dos trabalhadores de baixa renda no Brasil: instrumentos financeiros e inovações” apresenta sugestões como programas de incentivo para poupança precaucional, como contas individuais, parcerias com instituições financeiras para acesso a dados do CadÚnico (para ajudar no conhecimento do histórico) e oferta de crédito, incentivos monetários (contribuição em contrapartida), educação financeira e seguros para situações extremas (como morte).
“Já existia toda uma discussão dos sistemas de proteção social, não só no Brasil como no mundo, e a necessidade de aumentar a capacidade de eles responderem melhor a crises, a momentos de choques, sejam eles climáticos, econômicos, de migração, de guerra…. Com a covid-19, esse debate se intensifica”, explica o especialista sênior do Banco Mundial Tiago Falcão, um dos autores do estudo, e responsável pela coordenação do programa Bolsa Família entre 2015 e 2020 no governo federal.
“Fica claro que uma parte da população não só no Brasil, mas em outros países, não está atendida pelos sistemas de proteção social tradicionais e também não está no escopo do trabalho formal. O pano de fundo é como os programas existentes podem se adaptar melhor para as situações de crise e como novos produtos e ações do governo podem ser disponibilizadas para este mundo que parece que será imprevisível”, acrescenta.
Um dos pontos de partida, lembra o economista sênior Matteo Morgandi, que trabalha na prática global de proteção social e emprego do banco para a região da América Latina e Caribe, é que as famílias de mais baixa renda apresentam alto nível de volatilidade de renda e exposição ao risco, além de baixa capacidade de obter recursos para momentos de emergência.
Ao mesmo tempo, a proteção social no país cobre riscos, mas o nível de proteção depende da natureza do emprego e está geralmente ligado ao trabalho formal. “A ideia é como aumentar a resiliência de todo o público que foi atendido pelo auxílio emergencial, que não vai caber no Bolsa Família. Há todo esse público amplo que poderia se beneficiar de outros instrumentos financeiros”, aponta Morgandi.
Para se ter uma ideia, em seu auge, em 2020, o auxílio emergencial foi pago a mais de 60 milhões de brasileiros. Agora, o contingente já é bem menor, de 34,4 milhões. Os números de beneficiados são muito superiores ao do Bolsa Família, que chega a 14,6 milhões de famílias. Mesmo o Auxílio Brasil, já ampliado, atingirá 17 milhões. Morgandi lembra que parte desse público já é bancarizado, mas são necessários esforços adicionais para atender ao grupo, que inicialmente pode não ser tão vantajoso para ser servido pelo setor financeiro. “Pode-se pensar em outros mecanismos de mercado e em estimular a concorrência”, diz.
O trabalho também cita experiências internacionais, como de Colômbia, México, Chile, Quênia e Ruanda. Embora de diferentes formatos, os instrumentos compartilham o objetivo de aumentar a inclusão financeira e a capacidade de acumulação de poupança. O público-alvo é em geral formado por trabalhadores informais e também os empreendedores, que em geral não têm direito a programas como seguro-desemprego.
No contexto da restrição fiscal do Brasil, Morgandi ressalta que parte das medidas não depende necessariamente de mais recursos, mas de políticas públicas. E esclarece que o estudo não olha para a questão do financiamento nem faz estimativa do custo fiscal de implementação dessas medidas. “Muitas das coisas não precisam necessariamente de um grande custo fiscal, mas sim de coordenação, de políticas, de liderança político-econômica. […] Algumas são mais custosas, outras menos”.
Falcão aponta, ainda, que esses novos instrumentos financeiros podem, inclusive, auxiliar na recuperação econômica. Falcão aponta, ainda, que esses novos instrumentos financeiros podem, inclusive, auxiliar na recuperação econômica. “São medidas que podem fortalecer o processo de recuperação, aumentando a capacidade de poupança, gerando maior estabilidade em termos de renda e reduzindo demandas futuras para programas sociais… É um processo mais longo, que deve ser adaptado ao longo da recuperação econômica no pós-crise”, afirma.
Folha de SP
Indústria diz que aumento da Selic é excessivo e prejudica recuperação; veja repercussão
Entidades que representam o setor produtivo e trabalhadores classificaram o aumento no ritmo de alta da taxa básica de juros anunciado nesta quarta-feira (27) pelo Banco Central como excessivo. Para elas, o movimento compromete a recuperação de uma economia ainda fragilizada. O Copom (Comitê de Política Monetária) elevou a taxa Selic em 1,50 ponto percentual, a 7,75% ao ano. Esta é a maior alta desde dezembro de 2002, quando os juros subiram 3 pontos percentuais —de 22% para 25% ao ano.
Economistas, no entanto, afirmam que a decisão do governo de furar o teto de gastos, para viabilizar um programa social mais robusto sem comprometer emendas parlamentares e o dinheiro do fundo eleitoral, coloca em risco o controle da inflação.
A CNI (Confederação Nacional da Indústria) disse que considera equivocada a decisão do Copom. “Os aumentos anteriores da taxa de juros já começaram a ter reflexos na economia. Percebemos que a atividade econômica dá sinais de desaquecimento e, nos próximos meses, os efeitos defasados do aumento da Selic vão continuar contribuindo para desestimular o consumo e desacelerar a inflação”, diz o presidente da CNI, Robson Braga de Andrade. Segundo ele, com novos aumentos expressivos da Selic, o Banco Central põe em risco a recuperação econômica e aumenta a probabilidade de uma recessão em 2022.
A Firjan (federação das indústrias do Rio de Janeiro) vai na mesma linha. “A Firjan entende que um aumento da Selic em 1,5 ponto percentual foi excessivo neste momento. O quadro inflacionário atual e as expectativas para a inflação, principalmente por conta da piora da situação fiscal e da recomposição da demanda, justificam a manutenção do ciclo de alta da taxa de juros. Porém, entendemos que acelerar o ritmo de aumento foi precipitado e poderá comprometer a recuperação de uma economia ainda fragilizada.”
“Para o comércio e todo o setor produtivo, a elevação da Selic implicará em custos maiores e em mais dificuldades de acesso ao crédito”, disse Ulisses Ruiz de Gamboa, economista da Associação Comercial de São Paulo. “O que se espera agora é que o Executivo e o Legislativo definam claramente a situação fiscal, o que contribuiria para a valorização do real e a queda dos preços.”
A Abrainc (Associação Brasileira de Incorporadoras Imobiliárias) disse que a decisão do Banco Central foi importante diante da necessidade de controle do processo inflacionário no Brasil. “Com essa medida, será possível estabilizar os juros futuros de longo prazo, condição essencial para o crescimento econômico do país, do setor e para a geração de empregos.”
A Força Sindical diz considerar um grave erro a decisão dos membros do Copom. “Com esta decisão equivocada, o Banco Central prejudica ainda mais a já fragilizada economia do nosso país e só beneficia banqueiros e especuladores.” Para a central, o aumento da taxa de juros tem se mostrado um instrumento muito pouco eficaz no combate à inflação.
Tatiana Nogueira, economista da XP, afirma que a parte mais polêmica do comunicado é a visão do Copom sobre o panorama fiscal, quando a instituição cita que “recentes questionamentos em relação ao arcabouço fiscal elevaram o risco de desancoragem das expectativas de inflação”. “O Copom ainda não vê que o quadro fiscal mudou, como nós e a maior parte do mercado vemos. Provavelmente por isso as projeções de inflação não mudaram muito”, diz.
“Isso pode ser interpretado como espaço para o Copom voltar a mudar sua estratégia, quando (e se) o risco fiscal se materializar (como grande parte do mercado acredita que acontecerá).” Para a economista, a decisão de hoje é consistente com o cenário de uma taxa Selic em 11% ao fim do ciclo de alta.
Étore Sanchez, economista-chefe da Ativa Investimentos, afirma que o novo ritmo é suficiente para promover a convergência da inflação para meta no horizonte relevante para política monetária. As expectativas do BC para o IPCA em 2022 subiram de 3,7% para 4,1%, o que exige um esforço adicional de 2 pontos percentuais nos juros. Para colocar a inflação no centro da meta (3,5%), seriam 3 pontos.
Ele espera uma Selic de 12% em meados de 2022, encerrando o próximo ano em 11%. “Apesar do desempenho mais positivo das contas públicas, o Comitê avalia que recentes questionamentos em relação ao arcabouço fiscal elevaram o risco de desancoragem das expectativas de inflação, aumentando a assimetria altista no balanço de riscos. Isso implica maior probabilidade de trajetórias para inflação acima do projetado de acordo com o cenário básico”, afirma.
O economista Gustavo Bertotti, head de Renda Variável da Messem Investimentos, diz que o BC terá que tomar medidas duras para conter a inflação até o primeiro trimestre de 2022, com a taxa Selic atingindo até 10,50% ao ano. Segundo Bertotti, as declarações do ministro Paulo Guedes de que iria furar o teto de gastos gerou a apreciação do dólar e consequente elevação das expectativas de inflação.
João Beck, economista e sócio da BRA, diz que a decisão unânime da diretoria do BC mostra comprometimento técnico e que o Banco Central não vai se deixar influenciar pelo governo. “No geral, comunicado firme, objetivo e passando a mensagem de que irresponsabilidade fiscal será remediado com mais juros. Foi um comunicado de um Banco Central independente e que persegue a meta de inflação.”
Valor
Em carta, centrais sindicais pedem renovação da desoneração da folha
Entidades argumentam que volta da taxação pode representar perda de 3 milhões de empregos
Seis centrais sindicais se manifestaram em defesa da renovação da desoneração da folha de pagamento como forma de ajudar na manutenção de empregos no país. A renovação desse mecanismo também tem sido pleiteada por setores empresariais que são grandes empregadores de mão de obra.
O assunto é objeto de um projeto de lei do deputado federal Efraim Filho (DEM/PB), que tem como relator o deputado Delegado Marcelo Freitas (PSL/MG). Em uma carta divulgada ontem, a Central Única dos Trabalhadores (CUT), a Força Sindical, a União Geral dos Trabalhadores (UGT), a Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB), a Central dos Sindicatos Brasileiros (CSB) e a Nova Central Sindical de Trabalhadores (NCST) mencionam o alto desemprego, o fechamento empresas e defendem que a desoneração perdure por mais dois anos, podendo ser revisto o prazo caso seja aprovada uma reforma tributária que trate do tema.
Dirigentes sindicais dizem que sem a desoneração, cerca de 3 milhões de trabalhadores poderão ser demitidos. “Nosso posicionamento busca responder ao grave problema do desemprego que foi agravado pela pandemia pela negligência governamental bem como em função dos reflexos adversos que a crise sanitária teve sobre muitos dos 17 setores abrangidos pela medida legislativa e que foram duramente atingidos”, afirmam as centrais.
Entre os 17 setores, lembra o documento, estão o da indústria, dos serviços, da agropecuária, da construção, dos transportes, call center, comunicação e tecnologia. Segundo o texto elaborado pelas centrais, ao todo esses setores são responsáveis por mais de 8 milhões de empregos diretos. “Nós achamos que a renovação da desoneração deve ser incondicional e é importantíssimo que isso seja resolvido logo, caso contrário a partir do começo do ano mais milhões de pessoas perderão seu emprego”, disse Ricardo Patah, presidente da UGT.
A vigência da atual regra de desoneração vence em dezembro. “Na atual situação do País, acabar com 3 milhões de empregos é uma maldade sem tamanho do governo. É isso que vai ocorrer se o Congresso não renovar a desoneração da folha”, acrescentou, por escrito, o presidente da CSB, Antonio Neto. “Achamos importante ajudar com bolsas quem está passando fome, mas é uma insanidade aumentar a tributação das empresas agora para ampliar a arrecadação”, prosseguiu.
O presidente da CUT, Sérgio Nobre, afirmou que o apoio da central à desoneração da folha se baseia em três pontos. Primeiro, que a medida não seja permanente, que seja voltada a setores que continuem impactados pela crise e, por fim, que setores que tenham a folha desonerada mantenham empregos.
As centrais sugerem que a nova rodada de desonerações dure por mais dois anos, prazo que para as entidades seria possível para aprovação de uma reforma tributária que contemplasse o assunto. O projeto de lei 2541/2021 de Efraim Filho fala em uma prorrogação até 2026. Além da carta, as centrais sindicais fizeram uma manifestação na segunda-feira, na Avenida Paulista, em frente ao Banco do Brasil, sede do governo federal em São Paulo.
Folha de SP
Estado de SP tem mais vacinados contra Covid que EUA, Reino Unido e Alemanha
Estado é líder de vacinação no país e tem desafio de diminuir diferença entre pessoas com uma e duas doses dos imunizantes, afirmam especialistas
A imunização contra a Covid-19 em São Paulo tem sido tão eficiente quanto em países ricos com alta cobertura vacinal. Em todo o estado, 87% da população adulta já foi completamente vacinada até esta quarta (27). Entre a população de 12 anos, que é o público-alvo da campanha atualmente, essa taxa fica em 78,5% segundo os dados até 26 de outubro —ou cerca de 4 em cada 5 moradores do estado.
No total, mais de 38 milhões de pessoas com 12 anos ou mais receberam pelo menos uma dose das vacinas, o que equivale a 98,1% da população nessa faixa etária. Ao considerar as duas doses da vacina ou dose única, são quase 31 milhões de pessoas que receberam as injeções. Isso coloca São Paulo em um mesmo patamar que países desenvolvidos que já chegaram próximo ou ultrapassaram a taxa de 80% da população com mais de 12 anos vacinada.
O levantamento feito pela Folha analisou a população com 12 anos ou mais, a taxa vacinal com pelo menos uma dose e aquela com duas doses nos seguintes países: Estados Unidos, Reino Unido, Alemanha, França, Itália, Espanha e Canadá.
Comparando com os países acima, São Paulo é o quinto no ranking de totalmente vacinados, atrás de Espanha, Canadá, França e Itália. As taxas de cobertura vacinal com duas doses desses países são de, respectivamente: 88%, 84%, 79% e 79%. Abaixo do estado estão Alemanha (75%), EUA e Reino Unido (ambos com 68%).
Apesar de ter começado a campanha de vacinação cerca de um mês depois do restante dos países analisados no levantamento —Canadá e EUA iniciaram a imunização na primeira quinzena de dezembro do ano passado; os países europeus, em 27 de dezembro de 2020—, o estado de São Paulo é hoje o líder em vacinação em todo território brasileiro, tanto em porcentagem da população vacinada quanto em pessoas com pelo menos uma dose dos imunizantes.
No Brasil, a vacinação contra Covid teve início no dia 17 de janeiro, em um evento simbólico no Hospital das Clínicas, na cidade de São Paulo, justamente o local que hoje tem a maior taxa de cobertura vacinal –92,2% dos paulistanos já receberam o esquema completo. Esse avanço da vacinação fez com que a quantidade de pessoas internadas por Covid no estado caísse para 3.500, a menor desde abril do ano passado.
Apesar disso, há ainda uma quantidade de pessoas que tomaram a primeira dose e não retornaram para a segunda dose.
Carlos Magno Fortaleza, infectologista e professor da Faculdade de Medicina da Unesp de Botucatu, no interior do estado, aponta que a diferença no Brasil como um todo entre pessoas com primeira dose do imunizante que ainda esperam para receber a segunda é menor do que nos EUA. “Em geral, os americanos que não tomaram a vacina é porque não querem e não vão tomar, e nós temos ainda um excedente de pessoas com a primeira dose aguardando a segunda por conta do prazo do intervalo”, explica.
Para tentar mitigar esse problema, o governo do estado optou por reduzir o intervalo das vacinas da AstraZeneca, de 12 para oito semanas –como fez também o governo federal no início de outubro—, e de oito semanas para três no caso da Pfizer.
A medida, em ambos os casos, pode ajudar a convencer o contingente de faltosos que já poderiam ter tomado a segunda dose, mas ainda não o fizeram, a retornar para enfim receber o imunizante, diz a infectologista do Instituto de Infectologia Emilio Ribas, Rosana Richtmann.
“É adequado reduzir o intervalo porque sabemos que, com a variante delta, precisamos ter o maior número possível de pessoas com duas doses da vacina, de 80% a 85%”, explica. Considerando apenas a população adulta, o estado já ultrapassou essa faixa, com 87%, nesta quarta (27).
Apesar disso, diz, São Paulo dá o exemplo com a elevada cobertura vacinal. “Estamos vendo com isso uma diminuição expressiva de hospitalização, internação em Unidades de Terapia Intensiva [UTIs] e mesmo na taxa de óbitos devido à vacinação”, afirma.
Para Brigina Kemp, doutora em saúde coletiva, ex-coordenadora do departamento de vigilância em saúde de Campinas e membro do Observatório Covid-19 BR, o maior desafio hoje que o estado enfrenta é exatamente aplicar a segunda dose nessas pessoas.
“Considerando a população acima de 40 anos, já estamos com mais de 90% da população totalmente vacinada, mas os números pioram abaixo de 20 anos. Isso pode ser porque há confusão com os intervalos ou mesmo falta uma campanha coordenada para dizer que você só está completamente imunizado com as duas doses da vacina”, afirma ela, que é também assessora técnica do Cosems (Conselho de Secretários Municipais de Saúde do estado de SP).
Para ela, as cidades do estado fizeram um grande esforço para conseguir realizar uma campanha de vacinação exitosa. “Os municípios se esforçaram muito, as equipes estão muito cansadas de tanto que trabalharam em meio a uma situação adversa que é, por um lado, o atendimento dos doentes com Covid na atenção básica, prontos-socorros e hospitais e, por outro lado, o combate às fake news e a tentativa de fazer uma campanha de vacinação nesse cenário”, pondera.
O mesmo trabalho e empenho dos funcionários da saúde é reconhecido pelo epidemiologista e professor titular da Faculdade de Medicina da USP, Paulo Lotufo. “Nós temos aqui uma tradição grande e um comprometimento com vacinação. A organização nos municípios [para a vacinação] foi louvável”, diz.
Lotufo reforça, assim como Ritchmann, a importância agora que será a próxima etapa, a de vacinação das crianças e adolescentes. A FDA (a agência americana que regula medicamentos) deve liberar em breve a aplicação da vacina da Pfizer em crianças de 5 a 11 anos, e a expectativa é que, na sequência, isso ocorra também no Brasil.
“O ideal seria se a gente conseguisse avançar na vacinação nos adultos e adolescentes até o final do ano e, em fevereiro, tivesse as crianças já vacinadas para o começo do ano letivo de 2022. Isso vai ser uma maravilha para reduzir a circulação do vírus”, diz Lotufo.
Folha de SP
Gabinete de Aras vê abundância de provas e conclusões temerárias em CPI da Covid
Auxiliares de PGR veem avanços e podem analisar inquéritos e desarquivamentos, apesar de crítica a barulho
O gabinete do procurador-geral da República, Augusto Aras, considera temerárias conclusões da CPI da Covid no Senado e vê muito barulho no curso da investigação parlamentar. No entanto o grupo também enxerga uma abundância de provas carreadas ao longo dos seis meses de apuração, em especial quebras de sigilo bancário, fiscal, telemático e telefônico.
Esta é a visão de auxiliares que atuam diretamente com Aras na PGR (Procuradoria-Geral da República) e que devem ter participação na análise e no destino do relatório final da CPI. Os auxiliares foram ouvidos pela Folha sob a condição de anonimato.
O relatório foi entregue a Aras na manhã desta quarta-feira (27), no prédio da PGR, pela cúpula da CPI e por outros senadores que controlaram as investigações, iniciadas em abril. Aos senadores o procurador-geral fez uma declaração em que reconheceu a existência de novidades na investigação parlamentar.
Ele prometeu atuar com a “agilidade necessária” para avançar nas apurações sobre crimes atribuídos a autoridades com foro privilegiado. O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) é uma delas. “A PGR dará a qualificação jurídica que porventura possamos encontrar e que seja civil, penalmente e administrativamente puníveis”, disse Aras, ao lado dos senadores e com o relatório de 1.200 páginas nas mãos.
Os congressistas temem uma inação ou arquivamentos automáticos por parte do procurador-geral, em razão de seu histórico de blindagem ao presidente e ao governo.
Auxiliares próximos a Aras consideram temerárias conclusões da CPI em razão de a pandemia ainda estar em curso. Isso impediria uma análise mais definitiva sobre os fatos, na visão desses integrantes da PGR.
O que ocorreu no Senado não encontra paralelo em outros países fortemente impactados pela pandemia, segundo essa análise. Outra consideração a respeito da investigação parlamentar é que a atuação dos senadores foi barulhenta e destinada a produzir notícias, conforme auxiliares diretos de Aras.
A crítica à CPI, porém, não impede o reconhecimento, pelo gabinete do procurador-geral, de que a comissão avançou, produziu provas em abundância e deverá alimentar procedimentos sobre atos de Bolsonaro, inclusive com possibilidade de desarquivamento.
O especial interesse de procuradores está em provas obtidas pela CPI particularmente nas quebras de sigilo feitas ao longo de seis meses. Integrantes da PGR apontam que a obtenção de quebras de sigilo na Justiça depende de pedidos embasados e se destina à fase final das investigações. Já a CPI obteve esses dados com facilidade, em distintos momentos da apuração e sem a necessidade de justificativas muito elaboradas.
O presidente da CPI, senador Omar Aziz (PSD-AM), já indicou que o Senado compartilhará com o MPF (Ministério Público Federal) e outros órgãos de controle todos os documentos sigilosos reunidos ao longo de seis meses de trabalho. Já havia pedidos pendentes antes mesmo da aprovação do relatório final, considerado por procuradores como uma peça de juízo político.
Além das quebras de sigilo, auxiliares de Aras veem avanços na investigação dos senadores sobre a suposta prevaricação por parte de Bolsonaro. O avanço seria superior ao trabalho feito pela Polícia Federal.
O presidente teria sido avisado, no Palácio da Alvorada, que o contrato para compra da vacina indiana Covaxin, no valor de R$ 1,6 bilhão, estava eivado de irregularidades. Bolsonaro teria prometido acionar a Polícia Federal, o que não ocorreu.
Os responsáveis pela denúncia foram os irmãos Miranda —Luís Ricardo Miranda, chefe do setor de importação do Ministério da Saúde, e Luís Miranda (DEM-DF), deputado federal. Eles foram recebidos por Bolsonaro no Alvorada. À CPI detalharam o que contaram ao presidente.
Prevaricação é um dos crimes imputados a Bolsonaro no relatório final. Toda a parte relacionada a essa acusação será destinada ao inquérito em curso na PF, aberto após provocação de senadores, pedido da PGR e autorização do STF (Supremo Tribunal Federal).
Outra possibilidade aventada, a depender das provas reunidas e apresentadas pela CPI, é o desarquivamento de uma representação contra Bolsonaro feita por ex-integrantes da cúpula da PGR, entre eles o ex-procurador-geral Claudio Fonteles.
O grupo acusou o presidente de cometer o crime de “favorecer disseminação de epidemia” e pediu atuação da PGR, que decidiu pelo arquivamento. O relatório final da CPI da Covid atribuiu a Bolsonaro o crime comum de epidemia com resultado de morte.
Ao todo, o documento da CPI lista nove crimes do presidente, como infração a medidas sanitárias preventivas, emprego irregular de verba pública, falsificação de documentos particulares, crime de responsabilidade e crimes contra a humanidade.
O entendimento de auxiliares de Aras é que o trabalho da CPI não poderá ser desprezado em razão da grande quantidade de material reunido, o que permitiria embasar novos inquéritos envolvendo autoridades com foro privilegiado.
Assim, segundo esses integrantes da PGR, o material da CPI vai além do costumeiramente usado para fundamentar procedimentos preliminares chamados de “notícias de fato”.
Uma notícia de fato antecede um inquérito e é um instrumento usado por Aras para lidar com acusações contra Bolsonaro que chegam à PGR.
O relatório final da CPI propõe o indiciamento de duas empresas e 78 pessoas, entre elas o presidente e quatro ministros de seu governo: Marcelo Queiroga (Saúde), Onyx Lorenzoni (Trabalho e Previdência), Walter Braga Netto (Defesa) e Wagner Rosário (CGU).
Todas essas autoridades têm foro privilegiado junto ao STF, e a atribuição de investigação criminal é da PGR. Também têm foro dois filhos do presidente que estão na lista de pedidos de indiciamento: o senador Flávio Bolsonaro (Patriota-RJ) e o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP).
A PGR já tem um levantamento de ações e áreas do MPF para onde pretende destinar fatias do relatório da CPI que dizem respeito a investigados sem foro privilegiado.
Integrantes da CPI afirmam que não abrirão mão da prerrogativa de fazer esse fatiamento e destinar as partes a p rocuradorias da República e outros órgãos de controle interessados nas provas reunidas pela comissão.
Estadão (opinião)
Ctrl + Alt + Del
WILLIAM WAACK
Ao receber o relatório final da CPI da Pandemia, o procurador-geral da República afirmou em rede social que o Ministério Público poderá agora “avançar” em investigações. Até aqui Augusto Aras não viu crime cometido por Jair Bolsonaro nas mais de mil páginas produzidas pela CPI, uma convicção que ele foi formando à medida que recebia os materiais da investigação feita pelos senadores (através do Giac, o Gabinete Integrado de Acompanhamento da Epidemia Covid-19, que ele mesmo coordena abrangendo todos os braços do Ministério Público).
À medida que o Giac encaminhava os materiais coletados pela CPI (que formam a base do relatório final), o PGR solidificava a percepção de que a investigação se dava num importante e legítimo palco da política, mas que não passava disso: de atividade inerente à política e com forte coloração eleitoral. E eventuais crimes de responsabilidade cometidos pelo presidente cabem ao Senado resolver, e não ao PGR.
Não é assim que seus próprios auxiliares leram o relatório final, considerado por eles devastador. Ao redor de Aras afirma-se que Bolsonaro encabeçava uma cadeia de comando responsável por omissões, decisões estapafúrdias, negligência e empenhada por razões políticas em condutas que se opunham ao que diziam órgãos técnicos e instituições científicas.
Dois motivos ajudam talvez a entender a postura até aqui de Augusto Aras. O primeiro, benigno ao PGR, seria de natureza “doutrinária”. Não caberia ao PGR colocar a República de pernas para o ar – em contraste com o que fizeram alguns de seus antecessores. No Brasil, segundo essa versão, corrente em setores influentes no STF, desaprendeu-se a separar o que é campo do Direito daquilo que é campo da política.
O segundo motivo são as ambições pessoais do PGR. O ombro dele ainda sente o tapinha repetido por Bolsonaro em várias ocasiões, prometendo a ele, Aras, a vaga que André Mendonça parece distante de ocupar no STF. Mais de um ministro do Supremo gosta da ideia, enquanto outros dizem que deveria haver uma quarentena para evitar que o PGR paute seu comportamento de olho na vaga vitalícia no STF.
O trabalho da CPI constitui um dos mais devastadores relatos na história brasileira sobre incompetência, ignorância e má-fé por parte de um presidente da República, não importa o que operadores do campo do Direito digam sobre tipificação de crimes. Em relação a Bolsonaro, Aras está a caminho de ser lembrado como autor de uma nova doutrina, já apelidada dentro do MPF de Ctrl + Alt + Del. Seleciona tudo e apaga.
*Jornalista e apresentador do Jornal da CNN
Folha de SP
Bolsonaro abandona entrevista após pergunta de humorista sobre rachadinha
André Marinho questionou presidente se quem pratica o crime deveria ser preso
O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) abandonou uma entrevista do programa Pânico da Jovem Pan, nesta quarta-feira (27), após ser cobrado pelo comediante André Marinho a responder a uma pergunta sobre “rachadinha” e em meio a um bate-boca dos participantes da transmissão.
O desentendimento começou porque Marinho havia perguntado antes, sem citar o senador Flávio Bolsonaro (Patriota-RJ), se quem pratica rachadinha deveria ser preso. Já irritado, o presidente disse que não iria responder nem cair em provocação. Bolsonaro participava da entrevista por vídeo, de Manaus.
O presidente afirmou ainda que o pai do comediante, o empresário Paulo Marinho, estaria interessado no cargo do senador. “Marinho, você sabe que eu sou presidente da República e eu respondo sobre os meus atos, tá ok? Então não vou aceitar provocação tua, você recolha-se aí ao teu jornalismo, não vou aceitar”, disse Bolsonaro. “O teu pai é o maior interessado na cadeira [no Senado] do Flávio Bolsonaro. O teu pai quer a cadeira do Flávio Bolsonaro…”
Paulo Marinho é suplente de Flávio Bolsonaro e foi um dos principais apoiadores do presidente em 2018. Depois, rompeu com o clã e se filiou ao PSDB. No ano passado, em entrevista à Folha, disse que o senador soube com antecedência que a Operação Furna da Onça, que atingiu a ele e Fabrício Queiroz, seria deflagrada.
Flávio foi acusado pelo Ministério Público fluminense de operar um esquema de devolução de salários em seu gabinete na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro. Em agosto, o ministro João Otávio de Noronha, do STJ (Superior Tribunal de Justiça), determinou a suspensão da investigação contra o senador, o policial militar aposentado Fabrício Queiroz e outros 15 investigados no caso.
Depois do episódio na Jovem Pan, Paulo Marinho divulgou nas suas redes sociais um vídeo endereçado a Bolsonaro. “Quem quer o mandato do Flávio é o Ministério Público, capitão, não sou eu”, disse.
O empresário lembrou ainda do ex-ministro Gustavo Bebianno, um dos homens fortes da campanha de 2018 com quem Bolsonaro acabou rompendo depois. Bebianno morreu em 2020. “Quando você estiver chorando no banheiro do Palácio [do Alvorada], lembra dele [do Bebianno], capitão. Ele não te esqueceu”, afirmou.
O vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ), filho 02 do presidente, também é investigado pelo Ministério Público do Rio por suspeita de “rachadinha”.
A insistência de Marinho para que Bolsonaro respondesse à pergunta sobre rachadinha levou a um bate-boca com o comentarista Adrilles Jorge. Bolsonarista, ele havia feito um questionamento anterior a Bolsonaro sobre como o mandatário consegue “enfrentar onda gigantesca de desinformação” contra ele da “hegemonia narrativa progressista”.
“O PT não pode voltar, então por favor responda a pergunta, cara, que eu te fiz. Você só quer pergunta de bajulador?”, disse André Marinho a Bolsonaro. Ele ainda debochou da recente fala em que o presidente disse por vezes chorar sozinho no banheiro. “O meu pai não chora no banheiro não”, afirmou o comediante.
Visivelmente irritado com a situação, o chefe do Executivo ameaçou abandonar a entrevista, mas seu áudio estava desligado no programa. Foi possível ouvir o que ele disse na transmissão feita pelo Facebook de Bolsonaro.
“Olha só, se o Marinho entrar novamente… Atenção, se o Marinho entrar novamente eu vou embora. Se o Marinho entrar na tela mais uma vez eu vou embora. Se o Marinho entrar na tela mais uma vez eu vou embora. Acabou”, disse o presidente, ao se levantar e deixar a tela.
A saída de Bolsonaro causou desconforto entre os participantes e Marinho foi acusado pelo apresentador Emílio Surita de querer “lacrar” no programa. Ele se queixou de que a entrevista, que ocorre na estreia da TV da Jovem Pan, vinha sendo negociada durante a semana e se desculpou à audiência.
A entrevista interrompida foi a segunda de Bolsonaro para a Jovem Pan nesta quarta-feira. Mais cedo, criticou ação que pede cassação de sua chapa com Mourão no TSE (Tribunal Superior Eleitoral) e disse que a Petrobrás só dava dor de cabeça.
Depois da entrevista interrompida, Paulo Marinho divulgou nas suas redes sociais um vídeo endereçado a Bolsonaro. “Quem quer o mandato do Flávio é o Ministério Público, capitão, não sou eu”, disse.
O empresário lembrou ainda do ex-ministro Gustavo Bebianno, um dos homens fortes da campanha de 2018 com quem Bolsonaro acabou rompendo depois. Bebianno morreu em 2020. “Quando você estiver chorando no banheiro do Palácio [do Alvorada], lembra dele [do Bebianno], capitão. Ele não te esqueceu”, afirmou.
O Globo
Em carta da prisão, Roberto Jefferson afirma que Bolsonaro e Flávio se viciaram em dinheiro público e diz que vai convidar Mourão para o PTB
Deputado federal está preso e, por isso, ‘de licença’ da presidência do partido. Sua substituta no comando da legenda diz que opinião é pessoal e nega rompimento com o presidente
Em uma carta escrita do complexo penitenciário de Bangu, na Zona Oeste do Rio, o ex-deputado federal Roberto Jefferson (atual presidente ‘licenciado’ do PTB por estar preso) criticou o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e seu filho, o senador Flávio Bolsonaro (Patriota-RJ) pelo que ele descreve como “vício nas facilidades do dinheiro público”. Ele diz que ao se aproximar de figuras do Centrão, como Ciro Nogueira e Valdemar da Costa Neto, Bolsonaro cercou-se de “viciados” e, consequemente, se tornou um deles: “Quem anda com lobo, lobo vira, lobo é. Vide Flávio”.
— O presidente tentou uma convivência impossível entre o bem e o mal. Acreditou nas facilidades do dinheiro público. Esse vício é pior que o vício em êxtase. Quem faz sexo com êxtase tem o maior orgasmo ou ejaculação que o corpo humano de Deus pode proporcionar. Gozou com êxtase, para sempre dependente dele. Desfrutou do prazer decorrente do dinheiro público, ganho com facilidade, nunca mais se abdica desse gozo paroxístico que ele proporpciona. Bolsonaro cercou-se com viciados em êxtase com dinheiro público; Farias, Valdemar, Ciro Nogueira, não voltará aos trilhos da austeridade de comportamento. Quem anda com lobo, lobo vira, lobo é. Vide Flávio — escreveu.
Jefferson diz ainda que o PTB deve ter candidatura própria no ano que vem, e orienta as lideranças do partido a convidarem o vice-presidente Hamilton Mourão (PRTB) para disputar a presidência da República, contra o atual mandatário.
— Vamos convidar o Mourão. O PTB terá candidatura própria, quem sabe apoiamos o Bolsonaro no segundo turno.
Nesta quinta-feira, a presidente em exercício do PTB, Graciela Nienov, disse em posicionamento à Executiva e ao diretório do partido que foi pega de “surpresa” pelo vazamento de carta escrita pelo ex-deputado federal Roberto Jefferson e afirmou que “em momento algum” falou-se em rompimento com o presidente Jair Bolsonaro (sem partido).
Jefferson chegou a convidar Bolsonaro publicamente para ingressar no PTB por diversas vezes. O presidente deu sinais de que poderia negociar com o cacique, mas as conversas de filiação não avançaram. Atualmente, o presidente está entre o PL e o PP, dois partidos do Centrão comandados por Ciro Nogueira e Valdemar da Costa Neto.
O deputado voltou a defender os atos antidemocráticos de 7 de Setembro, e diz que o presidente “fraquejou” ao não avançar nas demandas do “povo que foi às ruas”. Nos atos, os manifestantes pediam a intervenção militar e a destituição dos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF).
— Todo o povo saiu às ruas para dizer, eu autorizo, não havia volta, não havia transigência com as velhas práticas. Mas por algum motivo, Bolsonaro fraquejou. Não teve como seguir. Escrevo isso insone. Não preguei meus olhos. Esse pensamento queimou minhas pestanas, não consegui fechar meus olhos e dormir. Vamos por nós mesmos.
O ex-deputado precisou ser internado no domingo no hospital do complexo de Bangu 8 em razão de complicações em seu estado de saúde, como febre alta, taquicardia e baixa pressão.
Jefferson voltou para a prisão no último dia 14 por determinação do ministro Alexandre de Moraes, depois que o político recebeu alta hospitalar. Ele estava internado desde o início de setembro com um quadro de infecção urinária e dores na lombar e foi submetido também a um cateterismo para desobstrução de uma artéria.
Além de estar preso, ele já foi denunciado pela Procuradoria-Geral da República (PGR) por seus ataques às instituições. Na noite de domingo, ele pediu licença da presidência do PTB por tempo indeterminado enquanto durar a prisão preventiva. Em carta, o dirigente disse que não pode assinar documentos e faz ataques a parlamentares do partido que pediram seu afastamento.
Leia a carta na íntegra:
O Bolsonaro era a ruptura. Foi eleito para romper com uma velha política, que teve origem na redemocratização, toma lá dá cá, governo de coalização, cada partido recebe um naco da administração e se remunera. E o povo?
“O povo que se lasque”.
O Bolsonaro deveria ter aprofundado a ruptura, os choques seriam intensos, como o rugido das ondas nas paredes rochosas dos litorais. Mas ressaqueado até que passasse esse ciclo da lua. Quando tudo, tudo, seguiria o retorno da nova liderança. Mas ele foi cercado pelas figuras do Centrão, que o fizeram capitular frente aos rosnados das bestas famintas de dinheiro público. E o povo?
O povo gostaria de ver as bestas enjauladas ou abatidas a tiros pelos caçadores. Mas o presidente tentou uma convivência impossível entre o bem e o mal. Acreditou nas facilidades do dinheiro público, Esse vício é pior que o vício em êxtase, quem faz sexo com êxtase tem o maior orgasmo ou ejaculação que o corpo humano de Deus pode proporcionar. Gozou com êxtase, para sempre dependente dele. Desfrutou do prazer decorrente do dinheiro público, ganho com facilidade, nunca mais se abdica desse gozo paroxístico que ele proporpciona.
Bolsonaro cercou-se com viciados em êxtase com dinheiro público; Farias, Valdemar, Ciro Nogueira, não voltará aos trilhos da austeridade de comportamento. Quem anda com lobo, lobo vira, lobo é. Vide Flávio.
Nosso caminho é outro. Queremos um governo dos justos, que felicite e orgulhe o povo. Um governo que não roube e não deixe roubar. Um governo que sirva o povo, não se sirva dele. Um governo que trabalhe com o poder do amor, jamais com o amor do poder.
Reparem, quando eu quis construir um partido com bases nas expectativas honradas do povo brasileiro, abri mão de lideranças viciadas em velhas práticas; Rondon, Albuquerque, Campos, Cristiane, Benito, Armando, Arnon Bezerra, etc…
Não é fácil fazer a mudança, ela machuca até a gente, pois temos que atingir gente que amamos, mas que se recusa a compreender os novos objetivos.
Bolsonaro precisava peitar.
Se os filhos atrapalham, remova-os. Valdemar Costa Neto e Ciro Nogueira puxam para trás qualquer mudança de práticas, para uma nova vereda de austeridade e honra.
Ruptura com a corrupção tem um peso, leva gente que nós gostamos. Mas é o que o povo espera.
7 de setembro ficou imaculado. Todo o povo saiu às ruas para dizer, eu autorizo, não havia volta, não havia transigência com as velhas práticas. Mas por algum motivo, Bolsonaro fraquejou. Não teve como seguir. Escrevo isso insone. Não preguei meus olhos. Esse pensamento queimou minhas pestanas, não consegui fechar meus olhos e dormir.
Vamos por nós mesmos. Vamos convidar o Mourão. O PTB terá candidatura própria, quem sabe apoiamos o Bolsonaro no segundo turno.
Não é fácil afastar um filho, sei a dor de afastar a Cristiane. Mas o projeto político está acima das concessões sentimentais.
Não se transige à tirania. Não se transige à opressão. Não se rende homenagens à ditadura, não se curva às ameaças dos arrogantes.
Nosso edital sinalizará um novo caminho.” A candidatura própria tem precedência sobre as demais”.
Gustavo, leva a carta ao general Mourão. Convide-o para a disputa a Presidência, quem souber percorrer a terceira via, vencerá a eleição.
São 5:30 horas, não preguei meus olhos. Minha cabeça está acesa e ligada. É o fogo do Espírito Santo mostrando o caminho a se seguir.
Não visitem mais a Carminha, ela é desembargadora, ele é da turma do Supremo. Nós somos políticos, nossa gente é outra. Somos de outra tribo.
Candidatura própria tem precedência.
7 de setembro é um dia inacabado, quem souber construir o sonho de nosso povo, virará vitorioso as páginas de nossa folhinha.
Deus abençoe nossa gente. Deus proteja nosso Brasil. Deus é nossa força e vitória.
Abração.
Roberto Jefferson.
7 de setembro é dia inacabado.
O povo foi ludibriado.