Clipping 4 de novembro de 2021
Manchetes:
Total de empregos criados em 2020 cai à metade com revisão (Folha)
Leilão de R$ 50 bi do 5G ditará o futuro da tecnologia no país (Estadão)
Câmara aprova mecanismo para financiar auxílio em 2022 (O Globo)
Diminui a participação de estrangeiros em aquisições (Valor)
Automotive Business
VW Anchieta aplica lay-off a 1,5 mil e passa a operar em um só turno
Medida havia sido articulada em setembro por causa da falta de componentes na unidade
Começou na quarta-feira, 3, o lay-off para 1,5 mil funcionários da fábrica da Volkswagen em São Bernardo do Campo (SP), onde são produzidos os modelos Polo, Virtus, Nivus e Saveiro. O lay-off poderá durar de dois a cinco meses, segundo a legislação. A informação foi confirmada pelo sindicato dos metalúrgicos local.
A razão para a suspensão dos contratos de trabalho foi, novamente, motivada pelo desabastecimento de componentes. Por essa mesma razão a companhia já havia promovido paradas e concedido férias coletivas na unidade do ABC Paulista. A medida, neste caso, fará com que a fábrica passe a operar em um turno a partir de novembro.
No começo de setembro a montadora havia concedido férias para cerca de 3 mil funcionários por causa da falta de semicondutores e outros componentes que equipam os modelos produzidos ali. O retorno deste quadro estava programado para ocorrer na semana passada, mas a montadora emendou a pausa ao longo do feriado, com a volta dos trabalhadores agora prevista para ocorrer na segunda-feira, 18.
A reportagem apurou que a produção de veículos segue normal nas demais unidades VW, em São José dos Pinhais (PR), onde produz o SUV T-Cross, em Taubaté (SP), onde são fabricados os modelos Gol e Voyage, e também na fábrica de motores e transmissões de São Carlos (SP).
AutoData
funcionários da GM São José dos Campos aprovam layoff
Os funcionários da General Motors de São José dos Campos, SP, aprovaram o layoff proposto pela empresa, durante assembleia realizada na sexta-feira, 29. A partir da próxima segunda-feira, 8 de novembro, o contrato de setecentos trabalhadores será suspenso, paralisando o segundo turno de produção da S10.
A previsão é de que o layoff tenha duração de dois a cinco meses, podendo ser prorrogado por mais cinco meses, caso a falta de peças e semicondutores continue afetando o setor automotivo. Como divulgado na quinta-feira, 28, a montadora garantiu a estabilidade dos empregos enquanto durar o layoff e a contratação de trezentos funcionários temporários.
Durante o período de suspensão dos contratos também ficou garantido 100% do salário líquido e o pagamento do FGTS, com parte dos salários sendo paga com recursos do FAT, Fundo de Amparo ao Trabalhador.
Valmir Mariano, vice-presidente do sindicato, disse que só foi possível chegar a esse acordo porque houve engajamento e mobilização dos trabalhadores: “Sem essa conquista certamente haveria demissões na fábrica. Diante da crise toda negociação tem de vir condicionada à estabilidade dos empregos”.
No total a unidade de São José dos Campos emprega 3,8 mil trabalhadores e produz os modelos S10 e Trailblazer.
Automotive Business
Fornecedor de VW e GM vai demitir em Taubaté
Gestamp revela quadro excedente de 200 funcionários; Sindicato negocia lay-off na unidade
As quedas nos volumes de produção nas linhas da General Motors e da Volkswagen refletiram na operação da fábrica da Gestamp em Taubaté (SP), fornecedora de componentes estampados. A fabricante de autopeças anunciou que por causa da queda nos pedidos existe hoje um quadro excedente de 200 funcionários na unidade.
À Automotive Business, Celso Ricardo dos Santos, secretário adjunto de administração e finanças do sindicato dos metalúrgicos da região, afirmou que as demissões são inevitáveis, e que a entidade, por ora, negocia com a Gestamp a redução do número de demitidos e a aplicação de lay-off.
“Será inevitável não ter demissões por causa da demanda nos dois maiores volumes da fábrica, que são de peças para Volkswagen e General Motors. Estamos conversando sobre um número menor de demitidos e aplicação de lay-off já para novembro”, disse Santos, que também é funcionário da Gestamp.
Ele afirmou, ainda, que uma assembleia deverá ocorrer até sexta-feira, 5, na porta da fábrica, na qual serão debatidas e votadas as propostas apresentadas pela fabricante ao sindicato. Hoje trabalham na unidade 1,2 mil funcionários, e ainda não se sabe quantos deles poderiam ter os contratos suspensos no lay-off.
A fábrica opera atualmente em três turnos de segunda a sexta-feira, mas o ritmo deverá diminuir nos próximos dias, informou o representante do sindicato. A respeito de aplicação de um Plano de Demissão Voluntária (PDV) na unidade, ele afirmou que a empresa, ao contrário das montadoras, não tem caixa para isso.
Ambas as montadoras, General Motors e Volkswagen, mantém unidades produtivas na região onde a Gestamp está instalada. A VW de Taubaté ao longo do ano promoveu uma série de paradas e ajustes de produção por causa da falta de chips em suas linhas.
Já a GM de São José dos Campos (SP) anunciou na semana passada lay-off para 1,1 mil funcionários da fábrica que produz os modelos Chevrolet S10 e Trailblazer. Haverá a suspensão de um turno da unidade já este mês.
Folha de SP
Número de empregos com carteira assinada cai a metade em 2020 após revisão do Caged
Depois de passar por revisões, o saldo de empregos formais gerados no Brasil, em 2020, caiu quase pela metade se comparado ao número divulgado inicialmente pelo governo federal. É o que indicam as estatísticas do Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados).
O saldo mede a diferença entre contratações e demissões no mercado de trabalho com carteira assinada. Segundo dados divulgados em janeiro pelo Ministério da Economia, o indicador havia ficado positivo em 142.690 vagas no ano passado. O número decorreu da diferença entre 15.166.221 admissões e 15.023.531 desligamentos.
O dado positivo foi amplamente comemorado pelo governo, já que a pandemia atingiu em cheio a atividade econômica em 2020. A questão é que a diferença ficou bem mais enxuta após as revisões, mesmo que continue no campo positivo.
Após o registro das novas informações, o saldo do ano passado encolheu 46,8%, para 75.883 vagas criadas. O resultado diminuiu devido ao aumento nos registros de demissões. O número de cortes ficou 2,2% maior em relação ao divulgado inicialmente, pulando para 15.361.234. Já as contratações aumentaram 1,8%, para 15.437.117.
Empresas que perderam o prazo para declaração das informações podem enviar os dados ao governo fora do período em questão. Os atrasos costumam ser corriqueiros, mas a magnitude da revisão chama atenção, analisa o economista Daniel Duque, do FGV Ibre (Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas).
Em 2020, ano marcado pela chegada da pandemia, companhias atravessaram período de crise, e os números podem ter sido “subdeclarados” em um primeiro momento, conclui o pesquisador. “Ao longo do ano passado, muitas empresas fecharam, principalmente após a primeira onda da pandemia, outras hibernaram ou paralisaram as operações. Então, fazer a lista de contratações e demissões para o Caged virou a última tarefa da lista de obrigações.”
Além do atraso usual e da situação agravada pela pandemia, houve o impacto da adaptação à nova metodologia do Caged, que entrou em vigor em 2020, diz o professor de Economia Sergio Firpo, do Insper.
Com a mudança, a pesquisa também passou a ser alimentada por informações provenientes do eSocial, o sistema de escrituração que unificou diversas obrigações dos empregadores. “As empresas se adaptaram à mudança na metodologia com o passar do tempo”, aponta Firpo. “Com as revisões, o saldo está mais próximo do que seria esperado. As demissões não foram maiores porque houve programas do governo para manutenção de empregos”, acrescenta.
Para o pesquisador Bruno Ottoni, da consultoria IDados, as revisões nos dados eram aguardadas devido à alteração metodológica e aos efeitos da pandemia, que paralisou atividades de empresas. “O governo começou a coletar dados de uma nova plataforma [eSocial], mas nem todas as empresas estavam bem informadas sobre essa questão. Além disso, muitas estiveram paralisadas durante o ano passado. Então, o governo nem conseguia falar com elas”, aponta.
Em janeiro, ao divulgar os dados de 2020, o ministro Paulo Guedes (Economia) comemorou o saldo positivo superior a 100 mil vagas geradas, mesmo com a retração na atividade econômica causada pela Covid-19.”De um lado, o auxílio emergencial fez a maior transferência direta de renda. E, por outro lado, o programa de empregos preservou 11 milhões de empregos”, disse Guedes à época.
O Caged traz informações apenas do mercado de trabalho formal. Por isso, tem diferenças em relação à pesquisa de desemprego do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). A Pnad Contínua (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua), realizada pelo instituto, avalia tanto o setor formal quanto o informal.
Ao longo da pandemia, os dois levantamentos apontaram cenários considerados opostos. Enquanto o Caged mostrava geração de vagas com carteira, a Pnad indicava desemprego em elevação.
A diferença, segundo analistas, está relacionada ao fato de que os trabalhadores informais foram mais prejudicados logo após a chegada da pandemia. Autônomos sem CNPJ, por exemplo, não conseguiram vender produtos nas ruas e em eventos por conta das restrições.
Em julho, Guedes disse que o IBGE estava “na idade da pedra lascada”, em uma crítica à metodologia da Pnad Contínua. Em razão das restrições na pandemia, o instituto passou a usar entrevistas por telefone para calcular os números do mercado de trabalho. Para o ministro da Economia, os dados do Caged mostravam que o Brasil estava criando empregos “muito rapidamente”. As críticas de Guedes ao IBGE foram rebatidas por analistas à época.
Em 2021, o Brasil acumula saldo de 2,5 milhões de empregos criados com carteira assinada, de janeiro a setembro, conforme o Caged. Já a Pnad Contínua sinalizou taxa de desemprego de 13,2% no trimestre até agosto. O número de desempregados foi estimado em 13,7 milhões no país.
Na visão de Bruno Ottoni, da IDados, as revisões no saldo do Caged de 2020 não devem causar uma grande reversão nas expectativas para o crescimento do setor formal em 2021 e 2022. É que as revisões nos dados do ano passado já vinham sendo levadas em consideração. Mas, segundo o analista, as estatísticas do IBGE mostram que o mercado de trabalho como um todo ainda carrega dificuldades.
Em nota, o Ministério do Trabalho e Previdência, recriado em julho, atribui a queda no saldo de empregos do Caged, em 2020, às revisões provocadas pelas declarações realizadas por empresas fora do prazo.”Ressaltamos que, mesmo com a mencionada revisão, o saldo do Caged de 2020 se mantém positivo, em que pese o pior momento da pandemia da Covid-19″, aponta a pasta.
Segundo especialistas, a mudança metodológica no Caged, em 2020, inviabiliza a comparação com os anos anteriores. “A entrada de dados fora do prazo acontece quando as empresas declaram as informações de admissão e demissão após a competência em que a movimentação se realizou”, relata o Ministério do Trabalho e Previdência.
“A possibilidade de realizar esse tipo de declaração já existia no antigo Caged, havendo uma ocorrência um pouco maior neste momento devido ao processo de transição para a declaração via eSocial, que ocorreu para um número significativo de empresas ao longo de 2021”, acrescenta. A pasta afirma ainda que os dados anunciados “são reais e obedecem às informações declaradas pelas empresas, podendo ser ajustados para 2020 até o final de 2021”.
Na visão de especialistas, o saldo acumulado neste ano tende a passar por uma revisão inferior às de 2020. É que, além do impacto menor da pandemia na rotina dos negócios, as empresas estariam mais habituadas às declarações via eSocial. “Imagino que, se houver revisão em 2021, será bem menor do que a de 2020”, projeta Sergio Firpo, do Insper.
Valor (análise)
PT e Novo foram os únicos partidos com presidenciáveis a mostrar que são, de fato, oposição
Há razões distintas no comportamento do PT e do Novo, mas ambos descartam a herança fiscal maldita da PEC do calote
MARIA CRISTINA FERNANDES
O mapa da votação do primeiro turno da PEC dos Precatórios mostrou que dos partidos com candidato à Presidência da República o PT e o Novo foram os únicos a votar unidos e estrategicamente para derrotar o governo. O presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL) voltou atrás em decisão já oficializada de retorno às sessões presenciais para permitir o voto virtual de parlamentares em missão oficial. Com essa manobra, porém, estima-se que ele tenha conseguido apenas 13 votos.
Mede-se o apreço de um político pela democracia por sua capacidade de não mudar as regras do jogo contra uma derrota. O presidente Jair Bolsonaro tentou isso com a batalha contra a urna eletrônica, mas o paredão do Judiciário se levantou contra si. Agora Lira fez a mesma coisa e ainda não apareceu quem lhe pusesse freio.
Mesmo com o casuísmo do presidente da Câmara, a oposição teria condição de derrotar a PEC com folga se tivesse votado unida. A proposta passou por apenas quatro votos. O número de votos que recebeu do PSDB dos governadores João Dória e Eduardo Leite (22) superou em mais de cinco vezes essa diferença.
Se o PDT de Ciro Gomes não tivesse dado 15 votos em favor da PEC nem a chicana do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL) teria sido bem sucedida. O desempenho do partido levou Ciro ao Twitter: “A mim só resta um caminho, deixar minha pré-candidatura em suspenso até que a bancada do meu partido reavalie sua posição. Temos um instrumento definitivo nas mãos, que é a votação em segundo turno para reverter a decisão e voltarmos ao rumo certo”.
Se o Podemos no qual o ex-juiz Sergio Moro se filiará não tivesse se dividido, a proposta tampouco passaria. Mas o maior vexame de todos foi o do PSD do senador Rodrigo Pacheco: 82% dos votos do partido se destinaram à aprovação da PEC do calote.
Já o PT do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva deu a totalidade de seus 44 votos em plenário contra a PEC, movimento seguido pelo Novo do recém-lançado candidato à Presidência Luiz Felipe d’Avila, com um punhado mais modesto dos oito votos de que dispõe o partido.
Há razões distintas no comportamento do PT e do Novo, mas ambos descartam a herança fiscal maldita da PEC do calote, não cederam ao canto da sereia das benesses públicas nem à ameaça de serem identificados como oponentes do Bolsa Família.
O Globo
Ciro Gomes deixa pré-candidatura à Presidência ‘em suspenso’ após votos do PDT a favor da PEC dos Precatórios
Partido deu 15 votos pela aprovação do projeto do governo federal que posterga pagamento de dívidas e abre espaço no orçamento para Auxílio Brasil
Nome do PDT para disputar a Presidência da República em 2022, Ciro Gomes afirmou na manhã desta quinta-feira que vai deixar sua pré-candidatura “em suspenso” em razão da postura da bancada do partido durante votação da PEC dos Precatórios na Câmara, nesta madrugada. Ele disse não poder “compactuar com a farsa e os erros bolsonaristas”.
Decisivo para a vitória do governo nesta madrugada, o PDT contribuiu com 15 fundamentais votos a favor do Palácio do Planalto. Somente seis deputados, de uma bancada de 24, votaram contra a proposta, que passou por uma margem de quatro votos a mais que o mínimo necessário, de 308.
“Há momentos em que a vida nos traz surpresas fortemente negativas e nos coloca graves desafios. É o que sinto, neste momento, ao deparar-me com a decisão de parte substantiva da bancada do PDT de apoiar a famigerada PEC dos Precatórios. A mim só me resta um caminho: deixar minha pré-candidatura em suspenso até que a bancada do meu partido reavalie sua posição. Temos um instrumento definitivo nas mãos, que é a votação em segundo turno, para reverter a decisão e voltarmos ao rumo certo”, escreveu Ciro em seu perfil no Twitter.
O PDT foi convencido a votar a favor da PEC no fim da tarde da quarta-feira, quando pesou um acordo feito com o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), de que colocaria para votar um projeto de lei que destina aos professores 60% do que a categoria tem direito dessas dívidas, mas que será escalonada em três anos. Mesmo assim, os votos decisivos da bancada geraram bate-boca em plenário após a votação. Paulo Ramos (RJ), contrário à PEC, saiu gritando com André Figueiredo (CE), ex-líder da bancada.
Desde o fim da sessão, o partido começou a ser cobrado pela postura. Candidato do PT à Presidência em 2018, Fernando Haddad lembrou que, naquele ano, “três dos quatro candidatos do PDT a governador que foram para o segundo turno declararam voto no Bolsonaro”. Ele tuitou: “Hoje, o partido assinou um cheque de R$ 90 bilhões para viabilizar sua reeleição. Não sei se tem conserto. Estrago monumental”.
Nas redes sociais, usuários associaram com ironia a PEC dos Precatórios, que limita o pagamento de uma dívida para a qual o governo não pode mais recorrer, à proposta de Ciro em 2018 de quitar débitos de consumidores no SPC.
Nos grupos de WhatsApp de apoio a Ciro, militantes discutiam nesta manhã sobre a posição da bancada federal. Alguns lembraram o caso de Tabata Amaral, que, então no PDT, votou a favor da reforma da Previdência em 2019 e foi perseguida dentro da legenda até abandoná-la neste ano.
Valor
Pesquisa Ipespe mostra estabilidade em quadro eleitoral
Pesquisa Ipespe mostra que Lula segue líder na disputa pela Presidência em 2022
A evolução favorável da pandemia no Brasil pode ter servido para que a avaliação de desempenho do presidente Jair Bolsonaro parasse de piorar. Mas isso ainda não lhe garante dividendos eleitorais. É o que mostra pesquisa Ipespe encomendada pela XP divulgada ontem.
Conforme o levantamento, 54% dos entrevistados consideram o atual governo ruim ou péssimo ante 55% em setembro. Já aqueles que avaliam o governo como ótimo ou bom passaram de 23% para 24%. A desaprovação ao governo (64%) também não mostrou mudanças. Da mesma forma que aprovação, parada em 30%.
A avaliação do desempenho presidente no combate ao coronavírus não melhorou: 21% consideram ótimo ou bom; 57%, ruim ou péssimo (eram 22% e 58%, respectivamente, em setembro). Mas a preocupação com o problema caiu muito. De acordo com o levantamento, em agosto eram 39% os pesquisados que se declaravam “com muito medo” da covid-19. Hoje 23% fazem isto. Piorou a percepção do brasileiro com relação à economia, que está no caminho errado para 67% dos entrevistados. O indicador sobe desde julho, quando era 59%.
As sondagens de intenções de voto para as eleições presidenciais mostram que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) continua liderando a disputa. Lula passou de 43% para 42% no principal cenário. Bolsonaro se manteve em 28%. Nessa lista não está incluído o ex-ministro da Justiça Sérgio Moro, que vai se filiar ao Podemos na próxima semana. O candidato tucano considerado é João Doria, governador de São Paulo. Ele obtém 4%. Ciro Gomes (PDT), nessa relação, fica com 11%.
Na segunda simulação Moro é incluído e Doria substituído por Eduardo Leite, governador tucano do Rio Grande do Sul. Nesse caso, Moro fica com 8%, Ciro cai para 9% e Leite consegue somente 3%. Lula e Bolsonaro ficam respectivamente com 41% e 25%.
O ex-ministro da Saúde Luiz Mandetta (DEM) e o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD), conseguem 3% e 2% nas duas simulações. Os senadores Simone Tebet (MDB) e Alessandro Vieira (Cidadania) são incluídos na segunda lista. Vieira não pontuou e Simone conseguiu 1%.
O governador de São Paulo, João Doria, que disputa a indicação do PSDB para a disputa presidencial com o governador gaúcho, Eduardo Leite, recebeu 1%. Seu concorrente partidário não pontuou, assim como o apresentador José Luiz Datena, que está trocando o PSL pelo PSD. O ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta (DEM) marcou 1%.
O Ipespe também investigou o posicionamento ideológico dos entrevistados. Nesse capítulo, 24% se disseram de esquerda ou centro-esquerda; 35% de direita ou centro-direita. Foram ouvidas 1.000 pessoas de 25 a 28 de outubro em todas as regiões do país, em entrevistas por telefone. A margem de erro da pesquisa é de 3,2 pontos percentuais. O intervalo de confiança é de 95,5%
Folha de SP (Mônica Bérgamo)
Lideranças do PT e do PSB tentam viabilizar chapa com Lula e Alckmin para 2022
Conversas já ocorrem há um certo tempo, mas se intensificaram nas últimas semanas
Uma costura delicada entre lideranças do PT e do PSB tenta viabilizar uma chapa que una Lula como candidato a presidente da República e o ex-governador de São Paulo Geraldo Alckmin como vice.
LINHA FINA – As conversas, que envolvem nomes de primeiro escalão das duas legendas, já ocorrem há um certo tempo, mas se intensificaram nas últimas semanas.
LINHA 2 – Além dos obstáculos naturais para a junção de dois tradicionais adversários políticos, o tempo corre contra ela —daí a pressa.
PEDRAS – Para viabilizar a ideia, algumas dificuldades precisam ser contornadas. Em primeiro lugar, tanto Lula quanto Alckmin ainda precisam ser convencidos plenamente de que a chapa pode funcionar —não apenas para ganhar as eleições, mas especialmente para governar.
TODOS JUNTOS – Depois disso, ambos os partidos teriam que chegar a um acordo para que o PT formalizasse uma aliança com o PSB e guardasse a vaga de vice-presidente para a agremiação.
ASSINATURA – Alckmin então assinaria a ficha de filiação à legenda socialista e seria lançado candidato.
OLHAR – Os petistas que defendem a possibilidade afirmam que, apesar das diferenças históricas com os tucanos na área econômica, Alckmin é o último remanescente do PSDB histórico, de Mário Covas e de Franco Montoro: apegado a valores democráticos e com olhar generoso em relação aos problemas sociais do Brasil.
AMPULHETA – O tempo joga contra já que o PT e o PSB ainda não se acertaram sobre a vaga de vice.
AMPULHETA 2 – Além disso, Alckmin já está em conversas avançadas com outras legendas, como o PSD de Gilberto Kassab, que o convidou para entrar no partido e ser candidato a governador de SP.
Folha de SP
Moro chega a Brasília para tratar sobre 2022 e já vê impasse em diálogo com PSL
Cúpula do partido quer evitar gestos políticos antecipados ao ex-juiz, que se filiará ao Podemos na próxima quarta-feira (10)
A uma semana de se filiar ao Podemos, o ex-juiz Sergio Moro desembarcou nesta quarta-feira (3) em Brasília para reuniões políticas, mas um dos principais compromissos dos quais participaria, um jantar com deputados do PSL, acabou cancelado devido a impasses no partido.
Cotado para a disputa ao Palácio do Planalto em 2022, Moro também usou as redes sociais para fazer críticas ao governo do ex-aliado Jair Bolsonaro: cobrou “responsabilidade fiscal” e condenou a proposta de drible no teto de gastos em meio às negociações da PEC dos precatórios e do Auxílio Brasil lançado pelo atual presidente.
A filiação de Moro ao Podemos está marcada para a próxima quarta-feira (10). O ex-magistrado viajou à capital federal acompanhado da presidente nacional da legenda, Renata Abreu (SP).
Além do jantar que teria com parte da bancada do PSL, ele se encontrou com parlamentares do Podemos. Também reuniu-se com o senador Alessandro Vieira (Cidadania-SE), que sempre foi apoiador do ex-juiz e se lançou como pré-candidato à Presidência da República.
Moro deixou o cargo de ministro da Justiça do governo de Jair Bolsonaro em abril do ano passado, quando pediu demissão. Neste ano, sofreu uma dura derrota no STF (Supremo Tribunal Federal), que o considerou parcial em ações em que atuou contra o ex-presidente Lula (PT).
O encontro com deputados do PSL, sigla que se fundirá ao DEM para formar a União Brasil, seria resultado de movimentos feito pelo próprio Moro. Antes mesmo de confirmar que entraria no Podemos, o ex-ministro da Justiça de Bolsonaro fez contato com parlamentares do PSL para pedir apoio à sua empreitada política.
Moro não confirmou se disputará a Presidência da República ou uma vaga no Senado, mas a expectativa de siglas consideradas de centro e centro-direita é que o ex-magistrado busque brigar pelo Palácio do Planalto.
Após confirmar sua filiação ao Podemos, o ex-magistrado telefonou para o próprio presidente do PSL, Luciano Bivar, que também comandará a União Brasil, segundo o próprio dirigente. Os dois ficaram de agendar um encontro, mas uma data não foi marcada.
Deputados do partido, porém, se anteciparam e pré-agendaram um jantar nesta quarta (3), o que gerou mal-estar em parte da cúpula da União Brasil, que teme que o ato possa ser interpretado como um gesto de apoio à candidatura de Moro à Presidência da República.
“A gente ainda vai ter convenção. Não temos decisão de quem será nosso candidato. Como a gente vai jantar com esse ou aquele candidato? Não faz sentido eu almoçar com Moro ou Lula ou Bolsonaro porque pode dar a impressão de que um deles pode ser nosso candidato”, disse Bivar.
“O Sergio Moro ligou pra mim dos Estados Unidos, de uma forma gentil, para nos encontrarmos, num futuro incerto marcar esse encontro”, afirmou. “Mas ainda não tem encontro, é especulação de uma parte da imprensa. E ninguém do PSL vai para nenhum encontro porque seria um ato político”, continuou o futuro presidente da União Brasil.
Segundo Bivar, o que pode ocorrer são encontros entre Moro e parlamentares do PSL “isoladamente”. Nos bastidores, a cúpula do PSL não descarta apoiar a candidatura de Moro à Presidência da República, mas só cogita este cenário caso o ex-magistrado se filie à União Brasil.
A avaliação compartilhada por integrantes da direção do futuro partido é que o Podemos não tem estrutura para colocar o ex-ministro competitivo na disputa pelo Planalto. Isto é, a leitura de integrantes do PSL é que Moro não tem a força política que Bolsonaro tinha em 2018 para ter uma campanha sem tantos recursos partidários e fraca de alianças políticas. Para se tornar competitivo, então, o ex-juiz precisaria buscar uma legenda que tenha fundo eleitoral robusto e bom tempo de televisão.
Apesar do diagnóstico, integrantes da União Brasil tratam com cautela a possibilidade de fazer um esforço para atrair Moro ao partido para se candidatar à Presidência porque querem aguardar cenários mais claros nas pesquisas eleitorais.
A intenção é observar a popularidade do ex-juiz e de outros nomes tratados como pré-candidatos pela legenda, como o ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta. Além disso, Moro sofre resistências no DEM, partido que se juntará ao PSL, o que também poderia emperrar um eventual apoio da União Brasil ao ex-juiz.
Oficialmente, Bivar elogia a decisão de Moro de se filiar ao Podemos. “Acho que, no futuro, Moro vai avaliar o que será interessante para ele, se o ideal é ele se candidatar a esta ou àquela sigla. Mas acho que primeiro ele tem que se filiar a um partido político e se colocar”, afirma o presidente do PSL.
Antes de chegar a Brasília, o ex-juiz telefonou para diversos deputados do partido, de todas as regiões. Embora ele não tenha anunciado a qual cargo ele deverá se candidatar no ano que vem, parlamentares do PSL veem com entusiasmo a chance de ele se candidatar à presidência da República.
“Quem está no espectro que quer buscar alternativas para o país não pode interdutar o diálogo com Moro, que é quem reúne as melhores condições para tirar o Bolsonaro do segundo turno”, diz o deputado Júnior Bozella (SP).
Segundo aliados, Moro teve encontros isolados com parlamentares do PSL e de outras siglas. Uma delas, na conversa que teve com o senador Alessandro Vieira, tratou do cenário político nacional e a necessidade de romper a polarização entre Lula e Bolsonaro. “Temos um alinhamento em alguns questões, como o combate à corrupção. Ele vai ter de demonstrar conhecimento e opiniões sobre outros temas que o Brasil não conhece”, disse Vieira.
Apesar de ser admirador de Moro, o senador diz que não há razão para retirar a própria pré-candidatura ao Planalto agora e diz que, se isso ocorrer, será no ano que vem, após a avaliação de quem seria uma alternativa mais competitiva ao atual e ao ex-presidente da República. Nas conversas que teve em Brasília, Moro não afirmou se disputará mesmo o Planalto, embora tenha indicado essa intenção.
Nesta quarta, enquanto líderes na Câmara discutiam a PEC dos precatórios para abrir espaço fiscal para o novo programa social do governo Bolsonaro, Moro foi às redes sociais para criticar o drible no teto de gastos —regra que limita o aumento das despesas do governo.”Aumentar o Auxílio Brasil e o Bolsa Família é ótimo. Furar o teto de gastos, aumentar os juros e a inflação, dar calote em professores, tudo isso é péssimo. É preciso ter responsabilidade fiscal”, escreveu o ex-juiz da Lava Jato.
Mais cedo, ao desembarcar na capital federal, Moro se deparou com um ato contra a PEC da reforma administrativa do governo e foi hostilizado por manifestantes. Vídeos que circulam nas redes sociais mostram quando ele foi chamado de “lixo” e “vendido”. O grupo, que estava no aeroporto para receber parlamentares com o protesto e distribuía suco de laranja, também entregou uma garrafinha ao ex-juiz, que recusou.
A dificuldade de Moro de ter um diálogo fluido com o PSL é apenas um dos entraves que ele deverá enfrentar se decidir mesmo disputar um cargo eletivo no ano que vem. Isso porque Moro é rejeitado pela oposição a Bolsonaro, principalmente entre a esquerda, e por políticos considerados tradicionais, que viram na atuação de Moro na Lava Jato oportunismo político e o tratam como inconfiável.
Quando juiz titular da 13ª Vara Criminal de Curitiba, Moro foi o responsável pela condenação de diversos políticos da Lava Jato, entre eles o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Neste ano, o ex-magistrado viu as penas que impôs ao ex-presidente da República anuladas pelo STF (Supremo Tribunal Federal), o que configurou forte derrota à sua carreira como magistrado.
Em maio, dois meses após o Supremo rever suas sentenças, Moro apareceu no Datafolha com 7% das intenções de voto, empatado tecnicamente com Ciro Gomes (PDT), que tinha 6%. A perfomance nas pesquisas deverá ser decisiva para o ex-juiz definir seu futuro político.
Por ora, o ex-ministro da Justiça tem contrato até o final do ano com a empresa de consultoria em compliance Alvarez & Marsal, e não deve renovar o vínculo. Antes de retornar a Brasília, em novembro, no início de outubro, Moro, que vive em Washington (EUA), já havia estado no Brasil para uma rodada de conversas políticas.
A decisão do ex-magistrado de se dedicar à política é lida por integrantes do Podemos e outros apoiadores da Lava Jato como uma forma de Moro defender o legado da operação. Caso opte por disputar a presidência da República, ele se juntará a outros nomes que fazem parte da busca pela terceira via à polarização de Lula e Bolsonaro, encampada por alguns partidos. Já foram lançados no tabuleiro como pré-candidatos o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), e a senadora Simone Tebet (MDB-MS), por exemplo.
Estadão (opinião)
Com 11 nomes, terceira via tem candidatos demais
ROBERTO MACEDO
A 11 meses da eleição presidencial de 2022, é desolador o quadro das pesquisas eleitorais, embora eu tenha a esperança de que se modifique para viabilizar um único candidato da chamada terceira via, que, lutando por efetiva governança do Estado, se mostrasse capaz de tirar o País do desgoverno em que se encontra. E que, também, tirasse o Brasil do baixo crescimento econômico em que se afundou há quatro décadas, com uma saída socialmente inclusiva e sustentável do ponto de vista ambiental.
Quanto às pesquisas de intenção de voto, focarei, aqui, na mais recente do Datafolha, realizada entre os dias 13 e 15 de setembro, que ouviu 3.667 pessoas em 190 cidades brasileiras. Lideraram os resultados os candidatos Lula (PT) e Jair Bolsonaro (sem partido), que não vejo como credenciados para um novo mandato. Entre outros resultados, a pesquisa apresenta quatro cenários de candidaturas estimuladas – ou seja, uma lista é mostrada a quem vai votar –, e em todos os cenários Lula aparece em primeiro lugar, com 42% a 44% dos votos; Bolsonaro em segundo, com 24% a 26%; e Ciro Gomes em terceiro, recebendo de 9% a 12% dos votos.
Além de Ciro, os cenários incluem outros nomes da terceira via, que atualmente são 11: o próprio Ciro Gomes (PDT); João Doria (PSDB), Eduardo Leite (PSDB), Arthur Virgílio (PSDB), Sergio Moro (sem partido), Rodrigo Pacheco (PSD), Luiz Henrique Mandetta (DEM), Simone Tebet (MDB), José Luiz Datena (PSL), Luiz Felipe D’Ávila (Novo) e Alessandro Vieira (Cidadania). A estes nomes, a pesquisa somou Aldo Rebelo (sem partido), mas excluiu Virgílio, Moro e D’Ávila – os dois últimos só recentemente integrados à terceira via.
Os quatro cenários analisados sempre revelam Lula, Bolsonaro e Ciro Gomes, nesta ordem. O primeiro cenário também inclui Doria e Mandetta, e, no segundo, Eduardo Leite substitui Doria. No terceiro, Doria volta sem companhia. No quarto cenário entram Doria, Datena, Tebet, Rebelo e Vieira.
Um aspecto interessante destes cenários é que 33% é a soma dos votos recebidos, em seu melhor desempenho, pelos nove candidatos da terceira via pesquisados, superando, assim, os 26% de Bolsonaro em seu melhor número. Ou seja, há espaço para uma terceira via, mas desde que convirja para um único candidato. Seu caminho para o sucesso, obviamente, envolveria dois passos. O primeiro seria passar para o segundo turno, provavelmente com Lula, e, em seguida, vencer Lula.
Para viabilizar o primeiro passo seria indispensável, como já dito, que alcançasse uma proporção de votos maior que a prevista para Bolsonaro. Mas, mantido este quadro atual de tanta gente na terceira via, os votos se dispersariam e Bolsonaro seria beneficiado.
Portanto, o ideal seria que o processo político até a eleição consagrasse apenas o candidato mais viável da terceira via, e que os demais integrantes dela desistissem em favor dele. É fácil de escrever isso, mas as dificuldades são imensas. O caminho só poderá ser superado com muita, muita, muita conversa em busca de um entendimento. Mas é preciso tentar, e entendo que o diálogo deveria começar imediatamente.
Também seria conveniente que os atuais candidatos da terceira via, e outros que se juntassem a ela, logo começassem a apresentar seus planos de governo. Já trabalhei em campanhas presidenciais e sei que estes planos são de difícil assimilação pelos candidatos, que sempre se preocupam em verificar se os planos não têm algo que poderia levá-los a perder votos. Mas o habitual propósito de agradar todo mundo – no que Lula pontificou – acabou evidenciando que para o País crescer na linha proposta no primeiro parágrafo serão necessários alguns sacrifícios.
Candidatos que negassem isso mereceriam ser chamados de enganadores, de espalhadores de propostas fajutas que não poderão cumprir. O eleitor brasileiro, em geral, não se interessa pela apresentação e discussão de planos de governo, exceto naquilo que o afeta. Mas essa discussão daria ao grupo da terceira via maior presença na mídia, com o que ganharia espaço e, também, a oportunidade de criticar Lula e Bolsonaro nas suas fragilidades.
Vale lembrar que só falei de uma das pesquisas eleitorais e que os resultados delas costumam mudar ao longo do tempo. Quanto a isso, uma visão interessante foi apresentada em 19 de outubro deste ano pela revista Veja. Em resumo: “Desde a redemocratização do Brasil, nos anos 1980, foram oito disputas presidenciais e, em metade delas, os azarões (acrescento, nas pesquisas pré-eleitorais) viraram o jogo na eleição (ou bem próximo dela) (…) Em três das quatro vezes em que o favoritismo se confirmou, o vencedor disputava a reeleição, o que deixa o pleito do ano que vem numa situação sui generis, pois o atual mandatário, Jair Bolsonaro, não é favorito”.
Tomara que fique na terceira posição ou mais abaixo, pois há esta oportunidade para um candidato da terceira via que possa chegar ao menos em segundo lugar no primeiro turno e vitoriosamente no segundo.
Economista (UFMG, USP e Harvard), professor sênior da USP, é consultor econômico e de ensino superior
Valor
Partidos vão ao STF contra portaria sobre vacinação
No STF, a avaliação é que a medida deve ser derrubada
O PT e o Rede Sustentabilidade entraram ontem com ações, no Supremo Tribunal Federal (STF), contra a portaria editada esta semana pelo Ministério do Trabalho que proíbe a demissão, por justa causa, de quem se recusar a se vacinar contra a covid-19. No STF, a avaliação é que a medida deve ser derrubada, pois vai na contramão do que já foi decidido sobre o tema.
Reservadamente, um ministro avaliou a portaria como um novo erro do governo no enfrentamento da pandemia. Assessores acreditam que o texto será considerado inconstitucional. A portaria foi publicada na segunda-feira, pelo ministro Onyx Lorenzoni (Trabalho e Previdência).
O texto considera prática discriminatória “a obrigatoriedade de certificado de vacinação em processos seletivos de admissão de trabalhadores, assim como a demissão por justa causa de empregado em razão da não apresentação de certificado de vacinação”. Também prevê que, caso a empresa demita por ato discriminatório, deverá reparar o dano moral ao empregado.
O Supremo ainda não enfrentou o tema diretamente, mas em dezembro do ano passado os ministros definiram que a vacina contra a covid-19 era obrigatória, e que Estados e municípios tinham autonomia para estabelecer regras para a imunização. O relator do caso foi o ministro Ricardo Lewandowski, que apontou que ninguém seria obrigado a força a se imunizar, mas que a compulsoriedade da medida deveria ser implementada por meio de “medidas indiretas”, como a restrição ao exercício de certas atividades ou à frequência de determinados lugares.
Na ação apresentada ontem, o Rede pede uma decisão liminar para barrar a medida. “É preciso, assim, agir com rapidez, para impedir que se consume tamanha afronta à Constituição e ao ordenamento jurídico brasileiro. Se o governo federal segue em sua linha de desacreditar a ciência e as medidas de combate ao coronavírus, é preciso que os demais Poderes da República tragam o trem de volta ao trilho, afirmando e reafirmando, na medida do necessário, que os direitos fundamentais devem ser levados a sério”, diz.
Segundo o partido, “é sabido, há muito tempo” que o presidente Jair Bolsonaro e seus auxiliares mais diretos “nunca manifestaram real interesse na implementação de uma campanha eficiente de vacinação contra o coronavírus no Brasil”. Para a sigla, “o boicote à correta condução durante a mais grave pandemia que nos assolou no último século já é bastante claro para todos”.
No entendimento do partido, a portaria é uma “evidente reação do Poder Executivo Federal à próxima etapa do enfrentamento à covid-19”. “O governo federal, que inicialmente minimizou a pandemia (‘gripezinha’) e depois atrasou o início da vacinação (diversos fatos já denunciados pela CPI da Pandemia, inclusive a ausência de resposta às propostas de comercialização da vacina da Pfizer e o boicote à vacina Coronavac), agora tenta incentivar a atuação de grupos antivacina por meio da limitação das medidas indiretas tendentes à compulsoriedade de vacinação.”
A legenda lembra no pedido que diversos órgãos, incluindo o STF e o Tribunal Superior do Trabalho (TST), estão adotando como regra a apresentação do chamado “passaporte da vacina” para o retorno aos trabalhos presenciais. Também apontou que o próprio TST tem decisões reforçando a compulsoriedade de vacinação via medidas indiretas.
Já o PT afirma, na ação, que a nova portaria “usurpa a competência da União para legislar a respeito de direito do trabalho e saúde e viola o direito coletivo à saúde e o direito ao ambiente de trabalho seguro e saudável”. Procurado pelo Valor, o Ministério do Trabalho e Previdência não quis se manifestar.
Valor
Com covid em alta, Europa volta a cogitar restrições
Número de novos casos cresceu 6% na semana passada em toda a Europa, sendo a única região no mundo onde as infecções continuam em alta, segundo a OMS
Os novos casos de covid-19 subiram pela quinta semana seguida em toda a Europa, sendo a única região no mundo onde as infecções continuam em alta, segundo dados divulgados ontem pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Na Alemanha, autoridades alertam para uma epidemia entre não vacinados, enquanto a Holanda retoma o uso obrigatório de máscaras e outras restrições.
O número de novos casos na Europa cresceu 6% na semana passada. Em outras regiões, segundo a OMS, o número semanal de novas infecções caiu ou ficou estável.
Vários países europeus estão enfrentando novos surtos. Na República Tcheca, o número de casos chegou a 9.902 ontem, um aumento de quase 60% em relação à semana anterior e o maior número desde o dia 23 de março, segundo o Ministério da Saúde tcheco. A Polônia confirmou 10.400 novos casos de covid-19 nas últimas 24 horas, o maior número desde abril – alta de 20% em relação à semana passada. Segundo os dados oficiais, mais 120 pessoas morreram da doença ontem.
A Rússia voltou a estabelecer novos recordes de casos e mortes por covid-19 ontem. Algumas regiões decidiram prorrogar por mais uma semana o recesso decretado pelo governo como forma de conter a disseminação do vírus. Mas a onda de casos não está concentrada apenas no leste europeu.
Por causa de um recente aumento nas hospitalizações, a Holanda retomou a obrigatoriedade do uso de máscaras em lojas e espaços públicos. Além disso, ampliou a exigência do certificado de saúde – que mostra se uma pessoa já se vacinou ou se apresentou resultado negativo em um exame recente – para a entrada em locais como museus e academias. Embora 84% dos holandeses estejam totalmente vacinados contra a covid-19, os casos voltaram a subir após o relaxamento das medidas de distanciamento social.
No Reino Unido, que sedia a COP26 em Glasgow, as principais autoridades médicas pressionam o governo a tomar medidas como as adotadas pela Holanda para conter as infecções. Mas o governo britânico afirma que o sistema de saúde é capaz de lidar com o número crescente de casos.
A Alemanha está passando por uma “massiva” epidemia de não vacinados, afirmou ontem o ministro da Saúde, Jens Spahn. “Em algumas regiões da Alemanha, os leitos de terapia intensiva estão se esgotando novamente”, alertou. Cerca de 66% da população alemã está totalmente vacinada, mas o governo encontra dificuldade para estimular o restante da população a tomar a vacina. Segundo Spahn, uma proporção significativa de alemães de 18 a 59 anos continua não vacinada.
A Alemanha, país mais populoso da Europa, enfrenta uma quarta onda de casos de covid-19, com a taxa de sete dias atingindo os níveis mais altos desde maio. “Infelizmente, a quarta onda está se desenvolvendo exatamente como temíamos”, disse Lothar Wieler, presidente do Instituto Robert Koch, agência de controle de doenças do país, citando a flexibilização das restrições e um número ainda alto de não vacinados.
Segundo dados do Centro Europeu de Controle de Doenças (ECDC), mais de 75% das pessoas acima de 18 anos na União Europeia (UE) estão totalmente vacinadas. Mas os números variam na região. Na Bulgária, a taxa é inferior a 30%, em Portugal, supera 90%.
Valor
Surto na China é o mais amplo desde o início da pandemia
Restrições para controle da pandemia afetam a economia chinesa
Apesar das medidas cada vez mais agressivas para suprimir a covid-19, mais de 600 infecções transmitidas localmente foram registradas em 19 das 31 províncias da China. Trata-se do maior número de províncias afetadas desde que o país detectou a doença pela primeira vez, em dezembro de 2019, na cidade de Wuhan.
A China relatou ontem 93 novos casos de transmissão local até 2 de novembro, mais do que os 54 do dia anterior e o maior número diário desde 9 de agosto, o auge do último grande surto do país. O vírus chegou a outras três províncias: Chongqing, Henan e Jiangsu. Outros 11 contágios assintomáticos foram detectados no período, mas esse número não é incluído no balanço oficial.
A média móvel de sete dias de novos casos também vem subindo rapidamente desde a metade de outubro. Mais medidas restritivas são esperadas, especialmente sobre as viagens. Muitos dos casos foram detectados em pessoas que visitaram recentemente áreas turísticas usando o sistema ferroviário.
Pequim detectou nove casos de covid-19 nas últimas 24 horas, elevando para 38 o total de contágios confirmados na capital desde o início do novo surto. Embora o número seja pequeno em relação ao observado em outros países, ele é o maior registrado desde o início do ano, quando a variante delta ainda não havia chegado à China.
Como resposta, as autoridades interromperam a venda de passagens de trem em 23 regiões para a cidade. Em Chongqing, o governo iniciou um programa de testagem em massa da população durante a noite como parte da estratégia de “covid zero” adotada pela China. Já em Changzhou, cidade da província de Jiangsu, as escolas ficarão fechadas por pelo menos três dias, com aulas virtuais.
Na terça-feira, o governo chinês alertou seus cidadãos para estocar alimentos e outros itens essenciais em casos de emergência. O pedido foi feito em um momento em que as autoridades reforçam as medidas de controle das infecções.
As restrições, no entanto, estão afetando o crescimento econômico, especialmente depois da chegada da variante delta ao país. Já o principal especialista em saúde da China, Zhong Nanshan, afirmou que o país poderá conter o surto atual em um mês. Ontem, as bolsas de ações da China caíram, refletindo o aumento de casos de covid e o alerta do premiê Li Keqiang dando conta de que a segunda maior economia do mundo sofre pressões negativas. A bolsa de Xangai caiu 0,20% e a bolsa de Shenzen recuou 0,07%.