Clipping 9 de agosto de 2021
Manchetes
Blindados vão às ruas em dia crucial para voto impressa (Folha de SP)
Planeta esquentará 1,5°C até 2040, com forte efeito no Brasil (Estadão)
Crise do Clima pode se tornar irreversível na próxima década (O Globo)
Precatórios e novo auxílio arriscam credibilidade fiscal (Valor)
Grandes Construções
Célula a combustível com uso de etanol deve ser o caminho da eletrificação no Brasil
Durante o BW Talks, especialista explicou que tecnologia produz energia com liberação de água pelo escapamento
A China está na vanguarda dos veículos elétricos no mundo, com algumas marcas ofertando diversos modelos de carros com essa tecnologia. Os países europeus, Japão e Estados Unidos também são destaques nessa área.
No caso do Brasil, segundo o jornalista Boris Feldman, uma proposta difundida é o uso do etanol em células a combustível a hidrogênio, produzindo energia para movimentação do carro e liberando água pelo escapamento.“É um caminho interessante para a realidade de nosso país”, disse durante o BW Talks “Veículo Elétrico: Vai Pegar?”, promovido pelo Movimento BW, iniciativa da Associação Brasileira de Tecnologia para Construção e Mineração (Sobratema), no dia 5 de agosto.
De acordo com o produtor e apresentador do programa Auto Papo, existem montadoras brasileiras que estão realizando parcerias com universidades para o desenvolvimento de célula a combustível com etanol. Ele ponderou sobre os benefícios trazidos pela produção da cana, como por exemplo, estar em locais onde antes havia áreas degradadas e distantes do bioma amazônico. “A Índia tem interesse em desenvolver um carro flex nos moldes feitos pelo Brasil”.
Uma das questões que precisam ser sanadas quanto ao veículo elétrico, explicou Feldman, é a autonomia, ou seja, a necessidade de uma infraestrutura básica com eletropostos e/ou locais para recarga de veículos, além do desenvolvimento de baterias ainda mais leves e com potências específicas.
Ele avaliou que diversos fatores influenciam na autonomia estimada pelos fabricantes, como a topografia irregular, o uso do ar-condicionado e de faróis, entre outros. O recarregamento da bateria varia de acordo com a voltagem, podendo ser de 30 minutos para 80% da bateria em um eletroposto, e até 8 horas para a recarga completa em um domicílio.
Sobre a questão ambiental, Feldman ponderou que o veículo elétrico pode poluir menos, mas é importante olhar o ciclo completo, isto é, qual é o tipo de energia que vai abastecer o carro ou recarregar a bateria. “O veículo em si pode não poluir, mas se a fonte energética for poluidora, o ponto de emissão estará apenas mudando de local e o planeta continuará sofrendo”, ressaltou.
Para Feldman, o desenvolvimento dos elétricos é um caminho sem volta, ainda mais com as montadoras incentivando essa rota. Além da questão ambiental, o motor elétrico tem uma eficiência entre 90% a 95%, enquanto o motor a combustão chega a 45%. “É uma nova era e a indústria está se adaptando”, pontuou. Uma tendência trazida por ele foi que o veículo migrar de posse para uso, especialmente, pela nova geração que possui outro comportamento de consumo. “Nos Estados Unidos, houve uma redução entre 30% a 40% de jovens em busca de habilitação”, exemplificou. “As alternativas são imensas para essa nova era do automóvel”, finalizou.
Automotive Business
Por falta de peças, Marcopolo suspende toda sua produção
Empresa concedeu férias coletivas nas duas fábricas de Caxias do Sul e na unidade do Espírito Santo
A Marcopolo vai paralisar produção em todas as suas três fábricas a partir de 23 de agosto por falta de semicondutores e outros insumos. Serão concedidas férias coletivas aos funcionários da produção das unidades de San Marino e Ana Rech, ambas instaladas em Caxias do Sul (RS), e na unidade de São Mateus, localizada no Espírito Santo.
De acordo com a fabricante, o retorno às atividades na fábrica de San Marino está programado para ocorrer em 13 de setembro. A volta à produção nas demais fábricas ocorrerá, segundo planejamento da empresa, no dia 22 de setembro.
Em nota enviada à Automotive Business, a empresa afirmou que os prazos de entregas dos ônibus “estão sendo renegociados com os clientes visando o menor impacto possível ao setor”. A companhia informou, ainda, que as atividades seguem nas áreas administrativas das três fábricas.
A Marcopolo, assim, passa a integrar uma lista expressiva de empresas que tiveram de paralisar suas linhas por causa da falta de chips. A medida já afetou os números de produção e de vendas de veículos no país, além de travar a recuperação que o setor vinha ensaiando ao longo do primeiro semestre .
A paralisação da Marcopolo torna ainda mais crítico o cenário no setor de ônibus, o mais afetado pela pandemia. A produção nacional de chassis de ônibus, por exemplo, foi de 1.533 unidades em julho, queda de 5,5% em relação ao volume registrado em junho. Este foi o pior resultado para o mês de julho desde 1999, reflexo não apenas da falta de semicondutores, mas também de um mercado desaquecido.
A pausa também interrompe momento de crescimento da companhia, que vinha aumentando o volume de produção em ritmo sustentado pelas exportações. Produziu 3.456 unidades no segundo trimestre, volume que representou crescimento de 4,7% sobre o resultado registrado em igual período no ano passado.
Folha de SP
Ford confirma que irá encerrar a produção do jipe Troller em setembro
Montadora anunciou em janeiro que fecharia fábricas no Brasil
A Ford vai seguir o cronograma desenhado em janeiro e encerrar a produção do jipe Troller no Ceará. A montagem dos carros será finalizada em setembro, enquanto a fabricação de peças será estendida até o fim de novembro. A montadora americana negocia a venda da fábrica localizada na cidade de Horizonte, bem como do ferramental. Contudo, não pretende se desfazer dos direitos sobre a marca.
A Ford deve seguir o mesmo caminho adotado com as linhas de caminhões e de carros de passeio que deixaram de ser produzidos no Brasil. A venda se resume aos espaços físicos, não dando ao comprador o direito de produzir o carro.
A montadora ainda não definiu se irá retomar a produção de modelos Troller em algum outro país. A geração atual do modelo compartilha peças com a picape Ranger, que é montada na Argentina. Com a proximidade do fim da produção, aumentam as especulações sobre compra das instalações cearenses. Contudo, segundo a Ford, ainda não há uma definição sobre o negócio. A unidade de Horizonte emprega 470 funcionários.
CIMM
Mercedes-Benz e GROB lançam cooperação de baterias
Parceria com a GROB-WERKE expande capacidade de produção e know-how no campo da tecnologia e fabricação de baterias.
A produção de baterias é um diferencial importante para a Mercedes-Benz e seu impulso elétrico. A rede global de produção de baterias da empresa incluirá nove fábricas em três continentes, ressaltando a ambição da marca de se tornar totalmente elétrica antes do final da década – sempre que as condições de mercado permitirem. Para ajudar a industrializar a produção de baterias das próximas gerações, a Mercedes-Benz está intensificando sua cooperação com seu parceiro de longa data GROB-WERKE GmbH & Co. KG, um líder no mercado mundial de produção de baterias e sistemas de automação altamente inovadores.
“A rede global de produção de baterias da Mercedes-Benz é um pilar fundamental da ofensiva do modelo Mercedes-EQ e a base de nossa mudança estratégica de ‘primeiro elétrico’ para ‘somente elétrico’. Por meio de nossa parceria com a GROB-WERKE, queremos alavancar ainda mais o potencial na área de tecnologia de fabricação em termos de eficiência, digitalização e sustentabilidade e, assim, expandir ainda mais nossa capacidade de produção de baterias “, disse Jörg Burzer, membro do Conselho de Administração da Mercedes-Benz AG, Produção e Gestão da Cadeia de Abastecimento.
O foco da cooperação está no desenvolvimento e construção conjunta de instalações de produção de baterias altamente eficientes, incluindo a montagem de módulos e conjuntos de baterias. A Mercedes-Benz está, assim, fortalecendo sua capacidade de produção de baterias e know-how no campo da tecnologia de fabricação inovadora. Os sistemas de produção da GROB-WERKE já estão em uso nas fábricas de baterias da Mercedes-Benz. No futuro, os parceiros trabalharão em conjunto no desenvolvimento e construção de instalações de produção altamente especializadas no espírito de “Design for Manufacturing”.
“A Mercedes-Benz e a GROB-WERKE trabalham juntas com sucesso há muitos anos. Com esta cooperação, queremos continuar a ser um parceiro forte da Mercedes-Benz no futuro, com conceitos de planta inovadores para módulos e pacotes de bateria”, destaca German Wankmiller, Presidente do Conselho da GROB-WERKE GmbH & Co. KG. A cooperação se concentrará na tecnologia das futuras gerações de sistemas de bateria Mercedes-Benz a serem usados em veículos Mercedes-EQ a partir de 2025.
Rede global de produção de baterias Mercedes-Benz
As baterias para os veículos elétricos Mercedes-EQ serão fornecidas por uma rede global de produção de baterias no futuro com nove fábricas em sete locais de três continentes. A Mercedes-Benz já fabrica sistemas de bateria em suas instalações em Kamenz (Saxônia), Hedelfingen (Stuttgart), bem como em Bangkok (Tailândia), Pequim (China) e Jawor (Polônia). Os colegas em Brühl (Stuttgart) e Tuscaloosa (EUA) já estão se preparando para o início da produção em 2022. Além disso, uma fábrica de baterias também será construída em Sindelfingen, perto de Stuttgart.
Folha de SP
Bolsonaro tenta enterrar marca petista com MP do novo Bolsa Família e PEC dos precatórios
Texto do Auxílio Brasil traz formato do programa, objetivos e diretrizes, mas sem estabelecer valores nem explicitar recursos
O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) apresentou nesta segunda-feira (9) o substituto do Bolsa Família. A MP (medida provisória) do Auxílio Brasil, com as regras do programa, tenta pôr fim a uma marca do PT.
Para abrir caminho para o programa driblando o teto de gastos, o governo também entregou ao Congresso uma PEC (proposta de emenda à Constituição) para parcelar dívidas da União reconhecidas pela Justiça (os precatórios) previstas para 2022.
O texto estabelece que esses valores serão corrigidos apenas pela Selic, enquanto hoje há possibilidade de correção também pela inflação acrescida de juros. Voltado às eleições de 2022, Bolsonaro reformulou o programa de transferência de renda e promete aumentar o valor médio dos benefícios em pelo menos 50% (para R$ 283,50).Em média, são transferidos hoje R$ 189 por mês no Bolsa Família. O aumento não alcançaria a promessa anterior do presidente de elevar o valor para ao menos R$ 300.
O texto da MP foi entregue pessoalmente por Bolsonaro ao presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL). O presidente da República foi acompanhado pelos ministros Flávia Arruda (Secretaria de Governo), Ciro Nogueira (Casa Civil), Paulo Guedes (Economia), João Roma (Cidadania), Luiz Eduardo Ramos (Secretaria-Geral), e general Augusto Heleno (Gabinete Segurança Institucional).
A ampliação dos gastos na área social faz parte de uma estratégia do governo de tentar interromper a queda de popularidade de Bolsonaro e ampliar as chances de reeleição do presidente. O novo programa, pelos planos do Palácio do Planalto, deve começar a ser executado em novembro, logo após a última parcela do auxílio emergencial.
No entanto, o governo ainda não conseguiu garantir uma forte ampliação da verba para o Auxílio Brasil a partir de 2022. Para isso, precisará ajustar contas na elaboração do Orçamento do próximo ano. Lançado em meio às incertezas que rondam as contas de 2022, o texto chega a condicionar parte do programa à real existência de recursos. Em certo trecho, explicita que o número de benefícios e beneficiários dependerá da verba disponível.
O teto de gastos tem apenas R$ 30 bilhões de espaço, segundo contas mencionadas pelo Tesouro. Com aperto, isso seria suficiente para um pagamento médio de R$ 300 para cerca de 17 milhões de famílias, embora ainda haja outras despesas a serem colocadas nesse espaço (como um reajuste para servidores).
A classe política pressiona por um pagamento maior no Auxílio Brasil e chega a citar nos bastidores um valor de R$ 400. Hoje, a principal aposta para dar espaço ao programa é a PEC que adia o pagamento dos precatórios. Apesar disso, com a PEC pendente de aprovação, a MP do Auxílio Brasil estabelece o formato do programa, seus objetivos e diretrizes, mas sem valores ou detalhes sobre as fontes orçamentárias.
O valor médio da transferência de renda e o número de famílias beneficiárias serão definidos apenas em setembro, segundo o governo, pois dependem do dinheiro liberado para o novo programa
“Sabemos que a pandemia trouxe uma inflação para os alimentos para o mundo todo. Então não podemos deixar desassistidos os mais vulneráveis”, afirmou Bolsonaro. “Já [está] decidido por nós uma proposta mínima de 50% para o Bolsa Família, que agora chama-se Auxílio Brasil aqui”, disse.
As propostas do governo foram entregues em reunião com o presidente da Câmara, um dos principais aliados de Bolsonaro. Lira falou que a pandemia deixou os vulneráveis mais expostos à inflação e citou preocupação ao mencionar a PEC dos precatórios. “Uma PEC que visa a um ordenamento de uma questão que nos preocupa muito, essa questão dos precatórios, para que não tenhamos nenhum tipo de narrativa a prejudicar a imagem do Brasil e do ordenamento das contas públicas”, disse Lira.
O presidente da Câmara quer tentar aprovar as duas propostas em menos de um mês. “Essa matéria tem urgência, como também a PEC dos precatórios, que tem que ser apreciada antes do envio da proposta do Orçamento [no fim de agosto], para que haja previsibilidade e uma perenidade nas ações do Executivo para 2022”, afirmou Lira.
Uma MP entra em vigor imediatamente, mas precisa do aval do Congresso em 120 dias para não perder a validade. Uma PEC, porém, tem rito longo na Câmara e no Senado, além de depender do apoio de 60% de cada Casa. “Vamos tentar. Se o Congresso nos ajudar, priorizar essas pautas, é possível”, afirmou o ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira.
João Roma, ministro da Cidadania, pasta que comanda o Bolsa Família, disse que a reformulação do programa permitirá aumentar o número de beneficiários dos atuais 14,6 milhões para mais de 16 milhões. Até semana passada, técnicos do governo diziam que o objetivo era chegar a uma cobertura próxima de 17 milhões de famílias no novo programa social.
Roma lembrou que isso depende do tamanho do Orçamento do programa, que, segundo ele, será contabilizado dentro do teto de gastos —regra que limita o crescimento das despesas públicas acima da inflação.
O programa manterá as premissas do antecessor ao atender famílias em situação de extrema pobreza (renda mensal de até R$ 89 por pessoa, segundo o padrão atual do governo) e pobreza (entre R$ 89 e R$ 178). Isso não é corrigido desde 2018.
Os ministérios chegaram a traçar cenários para elevar esses patamares, por exemplo, para R$ 100, no caso de extrema pobreza, e R$ 200, para a linha de pobreza. Com isso, mais famílias poderiam pedir para entrar no programa de transferência de renda. No entanto, por causa das indefinições orçamentárias, esse reajuste seguirá em discussão, segundo técnicos do governo.
Guedes afirmou que a MP do Auxílio Brasil e a PEC dos precatórios são decisivos para o futuro do Brasil. “A PEC dos precatórios cria a previsibilidade dos gastos. Os Poderes são independentes, porém a capacidade de pagamento e a pressão que isso exerce sobre o governo precisa ser disciplinada”, disse o ministro da Economia.
Mais cedo, o ministro da Economia afirmou ainda que a PEC teria um mecanismo que destina valores obtidos com privatizações de estatais para os mais pobres. Conforme fora explicado por membros da equipe econômica nos últimos dias, a proposta instituiria um fundo alimentado com recursos da privatização de estatais e da venda de ativos.
Dos recursos que chegassem ao fundo, 60% seriam destinados ao abatimento da dívida pública. O restante da divisão iria de 20% para pagamento de precatórios e 20% para a área social. “Ele [Bolsonaro] vai começar a transferir o que é do povo para o povo. Os recursos com dividendos sociais, com os desinvestimentos, de forma que aconteça transferência não só de renda mas transferência de riqueza para os mais frágeis”, disse Guedes nesta segunda.
Na PEC, porém, o governo não incluiu os repasses sociais. Segundo fontes da equipe econômica, a ideia ainda está de pé, mas o objetivo é dar protagonismo ao Congresso. Portanto, o dispositivo deve ser incluído no texto por parlamentar da base aliada.
Segundo Roma, da Cidadania, o desenho elaborado vai respeitar as regras fiscais. “Isso deverá ser alcançado dentro do teto de gastos”, disse ele, que atrelou a definição do valor à versão final da PEC dos precatórios, o que deve acontecer também até setembro.
Folha de SP
Beneficiário poderá usar até 30% do novo Bolsa Família com crédito consignado
Desconto será feito diretamente do benefício para pagamento de empréstimos e financiamentos
A MP (medida provisória) que reestrutura o Bolsa Família, agora batizado de Auxílio Brasil, permite que os assistidos pelo programa comprometam até 30% do valor do benefício com crédito consignado. O texto foi enviado pelo governo Jair Bolsonaro ao Congresso nesta segunda-feira (9).
O consignado é um mecanismo comum para cobrança direta na folha salarial ou no pagamento de aposentadorias. O modelo não era regulamentado para programas sociais, que são direcionados à subsistência de pessoas mais pobres e costumam ter valor baixo.
A medida apresentada nesta segunda ainda extrapola o Auxílio Brasil e autoriza o uso mecanismo para todos os programas federais de assistência social ou de transferência de renda. A modalidade poderá ser usada, por exemplo, no BPC (Benefício de Prestação Continuada), pago a deficientes e idosos em situação de miséria.
De acordo com o texto, os beneficiários dos programas poderão autorizar a União a proceder descontos diretos no benefício para pagamento mensal de empréstimos e financiamentos na modalidade de microcrédito.
O valor médio do novo Bolsa Família não foi estabelecido pela MP e será definido posteriormente. O presidente Jair Bolsonaro informou que o reajuste será de ao menos 50%, o que levaria o benefício a um valor de aproximadamente R$ 300 por família. Isso significa que, em média, cada lar beneficiário do novo programa poderá comprometer até R$ 100 mensais com o pagamento de empréstimos.
O Ministério da Cidadania ainda editará regulamentos para definir os detalhes sobre a habilitação das instituições financeiras e os benefícios elegíveis. Também serão regulamentados posteriormente os prazos, valores dos encargos e limite para a taxa de juros dessas operações. A pasta ainda poderá estabelecer exigência de participação prévia do beneficiário em curso de educação financeira.
Segundo pessoas que elaboraram a medida, a ideia é permitir que qualquer banco ofereça o consignado aos atendidos por programas sociais. A percepção do governo, no entanto, é que a Caixa Econômica Federal tem mais conhecimento e capacidade para oferecer o serviço.
“Ainda que o consignado implique em taxas de juros menores, poderá estimular o endividamento das pessoas mais pobres junto ao mercado financeiro. O resultado poderá ser diferente daquele que se espera”, disse o professor Nelson Marconi, coordenador do Centro de Estudos do Novo Desenvolvimentismo da FGV Eaesp (Escola de Administração de Empresas de São Paulo da Fundação Getulio Vargas)
Na avaliação de Marconi, seria mais importante fortalecer mecanismos de microcrédito e crédito solidário, com direcionamento para atividades e pequenos negócios desenvolvidos por essas pessoas. O economista ainda acredita que pessoas de renda baixa, muitas vezes com pouco conhecimento em tecnologia, são mais sujeitas a fraudes.
No caso de aposentados, por exemplo, são comuns as reclamações de pessoas que são influenciadas a cadastrar em programas de consignado ou são vítimas inscrições fraudulentas. “A oferta desse tipo de consignado para população desinformada amplificará o problema. Muitas vezes o consignado é oferecido como salvação para um endividado, o que só piora a sua situação”, afirmou.
O economista José Márcio Camargo, economista-chefe da Genial Investimentos, que colaborou com o governo na reformulação dos programas sociais, concorda com o dispositivo da MP. “Não vejo problema quanto a isto. Acho que as pessoas conseguem fazer conta e tomar decisões sobre endividamento. É claro que vai ter alguma inadimplência, como em qualquer nível de renda”, disse.
Valor
Variante delta afeta a economia e torna incertas as previsões
Para o economista-chefe da OMC, Robert Koopman, acelerar a imunização contra a covid-19 é essencial para a recuperação do comércio e da economia global, especialmente diante da ameaça da variante delta
A quebra de patentes não deve acelerar a produção de vacinas contra a covid-19 no curto prazo. Mesmo que países ricos cheguem a um acordo na Organização Mundial do Comércio (OMC), levará até três anos para os países em desenvolvimento conseguirem produzir a vacina em escala, diz Robert Koopman, economista-chefe e diretor da divisão de pesquisa econômica e estatística da OMC.
Em entrevista por vídeo ao Valor, Koopman diz que acelerar a imunização contra a covid-19 é essencial para a recuperação do comércio e da economia global. Mas não acredita que derrubar direitos de propriedade intelectual possa resolver a assimetria das campanhas de imunização. “No curto prazo isso teria pouco impacto. Há muito mais para produzir vacinas do que apenas a propriedade intelectual, que é essencialmente uma receita, uma lista de ingredientes”, diz ao se referir a insumos, logística e armazenamento. “As próprias companhias de países em desenvolvimento nos dizem que levará de dois a três anos [para conseguirem fabricar a vacina].”
Ele argumenta que a variante delta é um dos maiores fatores de risco à recuperação sustentada do comércio e à economia global. “A variante delta pode resultar em mais lockdowns e, portanto, limitar a recuperação econômica, o que tem impacto no comércio global. Só não sabemos ainda o quanto”, diz. “É [um cenário] muito complexo e faz com que qualquer projeção econômica seja incerta.”
Ex-diretor de operações do Escritório do Representante de Comércio dos EUA (USTR), o economista afirma que a covid-19 somou-se às tensões entre EUA e China e aprofundou um processo de diversificação das cadeias de suprimento, o que pode ser uma oportunidade para países em desenvolvimento como Brasil e México ampliarem suas exportações.
Koopman participou no dia 3 da terceira edição do seminário International Chamber of Commerce (ICC) Leadership Talk, no qual debateu a importância do comércio no pós-pandemia. No evento, falou sobre exemplos bem-sucedidos de reorganização nas cadeias de valor e abertura econômica, que levaram a maior desenvolvimento e dinamismo de países como a Costa Rica. Leia a entrevista:
Valor: O comércio global teve recuperação recorde no primeiro trimestre do ano, crescendo 10%. Mas o cenário atual é incerto. A variante delta pode desacelerar isso?
Robert Koopman: De fato, é algo que nos preocupa muito. Tivemos uma recuperação muito forte do comércio de maneira geral, apesar de desigual. Vemos algumas regiões com crescimento muito forte em comércio e outras áreas, e regiões que têm tido uma recuperação relativamente fraca no comércio. A delta é uma preocupação e pode resultar em mais lockdowns e, portanto, limitar a recuperação econômica, o que tem impacto no comércio global. Só não sabemos ainda o quanto. Mas é um grande risco para a recuperação econômica e o fortalecimento do comércio.
Valor: Mesmo antes da pandemia, já havia problemas nas cadeias de suprimento. Com a delta, a normalização das cadeias de produção no fim do ano parece difícil. Quando veremos isso acontecer?
Koopman: Muito tem de ser feito em uma área que não sou especialista, que é epidemiologia. De uma perspectiva não técnica, parece que precisamos fazer um trabalho melhor com a vacinação. Há uma distribuição desigual das doses, e tudo o que eu entendo é que as vacinas são muito eficazes. Estamos vendo que lugares que fizeram um bom trabalho ao conter variantes anteriores da covid-19 agora não estão conseguindo conter a delta. Então há reaberturas que pareciam OK baseadas nas variantes anteriores e no ritmo de vacinação naquele momento, mas agora fica claro que a variante delta é muito mais contagiosa.
Talvez precisemos pensar quais políticas serão efetivas contra a delta e fazer as vacinas chegarem a quem precisa. É [um cenário] muito complexo e faz com que qualquer projeção econômica seja incerta. Se olharmos projeções econômicas do FMI, Banco Mundial, OCDE ou OMC, há riscos significativos à baixa. Com a disseminação da delta, estamos vendo aumentar a probabilidade desses riscos e cenários negativos.
Valor: Devemos ser pessimistas com a recuperação, frente à delta?
Koopman: Não podemos relaxar, mas veremos cenários otimistas adiante. Estava vendo dados que sugerem que, fora do Reino Unido, a disseminação do vírus estava diminuindo. Isso é algo para acompanhar. Pode ser um alívio a autoridades de políticas econômicas, mas não sabemos. Há muita incerteza em como lidar com esse vírus e suas implicações, e é por isso que muitos ministérios da saúde estão muito cautelosos com as diretrizes. A população alemã, por exemplo, está ficando cansada dessas restrições e pressões políticas para reduzi-las surgirão. Uma questão crítica é a vacina. Tornar a distribuição mais equitativa. Vimos países desenvolvidos iniciar a vacinação de maneira razoável, não perfeita. Temos de fazer com que países com baixo nível de vacinação que subam ao topo [do ranking] do mundo vacinado.
Valor: E como chegar lá? Negociações sobre quebra de direitos de propriedade intelectual, chave para isso acontecer, avançam?
Koopman: No curto prazo isso teria pouco impacto. Vou dar um exemplo do porquê disso. Mando a você uma receita de um prato muito complexo. Mando uma lista de ingredientes, e isso é o que a propriedade intelectual te dá. Não te dá a cozinha, não te diz como fazer, misturar todas essas coisas, não te dá os ingredientes, apenas uma lista deles. Há muito mais para produzir vacinas do que apenas a propriedade intelectual, que é essencialmente uma receita. E as próprias companhias em países em desenvolvimento nos dizem que levará de dois a três anos [para conseguirem fabricar a vacina]. ‘Nos dê a propriedade intelectual, mas teremos de aprender a fazer essa receita e buscar os equipamentos para fabricar os ingredientes. Muitas dessas coisas terão de ser importadas. Depois, teremos de saber como distribuir e estocar’. São, portanto, coisas complexas.
Temos visto avanços, mas não é algo que se possa aprender da noite para o dia. Se você quer ser bom em uma receita, tem de praticá-la repetidamente, sendo que em alguns casos é preciso ir à escola de culinária. É isso o que ouvimos de empresas nos países em desenvolvimento que acham que poderiam produzir vacinas. E é bem diferente dos governos dizerem ‘vamos liberar a propriedade intelectual’ e essa produção acontecer de maneira mágica. As próprias empresas dizem que será um desafio. Temos de solucionar o problema imediato, produzir o máximo de vacinas que podemos no curto prazo. Claro que temos de ter capacidade de produzir essas vacinas globalmente, mas isso levará mais tempo e não resolverá o problema nos próximos meses. Talvez solucione o problema nos próximos dois anos. Enquanto isso, quem sabe como produzi-las, precisa produzir o mais rápido possível e precisamos ser capazes de entregá-las globalmente. Há muito em jogo, e a solução não virá no curto prazo.
Valor: Se a recuperação global depende do avanço da vacinação e este problema só será resolvido no longo prazo, não veremos recuperação completa tão cedo?
Koopman: Até o fim do ano as empresas esperam chegar à marca de 12 bilhões de doses. Um ano atrás, a expectativa era de 2 bilhões. Isso é surpreendente! Mas temo que não ajudará a resolver o problema. É preciso achar maneiras para se produzir o máximo possível e distribuir as doses em todo o mundo. Precisamos de capacidade de produção garantindo que as lacunas sejam preenchidas, eliminar restrições às exportações, remover regulações que precisam ser retiradas, facilitar as cadeias.
Valor: Podemos ver novas restrições com a variante delta?
Koopman: Até agora o que temos visto são mais medidas liberalizantes. Governos tomaram medidas restritivas e boa parte delas foi removida. Algumas continuam, mas nas últimas semanas não vi nenhum governo indicando que lançará alguma política para restringir o comércio. Esforços de governos, organizações internacionais e do setor privado ajudaram a restringir tipos de políticas governamentais que podem impedir o comércio de bens necessários para se produzir vacina. Os governos se deram conta de que se tomarem essas ações, podem afetar de forma adversa sua habilidade em ter as vacinas que querem. Estão mais cautelosos em impor restrições.
Valor: Antes da chegada de Joe Biden à Presidência dos EUA, esperava-se que as tensões entre EUA e China diminuiriam, mas não estamos vendo isso. Quais implicações disso para o comércio?
Koopman: No governo dos EUA anterior, dado o número de medidas e ações tomadas, essas tensões minaram as relações comerciais EUA-China. No geral, o efeito foi um desvio de comércio, em que companhias basicamente começaram a produzir e exportar de outros países. O novo governo dos EUA não parece ter pressa em remover nenhuma delas. Este governo tem uma visão mais multilateralista do mundo. Mas negociadores na arena comercial não abrem mão de vantagem, e o governo anterior proporcionou ao governo Biden vantagem.
O que ouvimos na OMC é que os países estão (negociando) nas bases bilaterais, então acho que precisará de mais negociação para resolver isso. Enquanto isso, o restante do mundo tenta se adaptar. Temos visto aumento dos fluxos comerciais de outros países para os EUA, que tentam lidar com os desafios que a relação EUA-China impõe. Em outras regiões onde o governo anterior impôs ou ameaçou impor restrições comerciais, acho que veremos Biden engajado em negociar. Não que não esteja engajado em negociar com a China. É que tem sido mais exitoso em chegar a acordos com outros países, enquanto com a China não parece ter chegado a ponto comum.
Valor: Na sua opinião, continuaremos a ver um esforço de duplicação das cadeias de valor, especialmente em aliados dos EUA na Ásia?
Koopman: Sim. O que vimos mesmo antes dessas tensões escalarem é uma saída do fluxo de investimento direto da China para países vizinhos. O custo para se fazer negócio na China estava subindo, e a China viu que seria melhor produzir alguns produtos em outros países e ser mais competitiva globalmente. Isso foi visto particularmente com brinquedos e têxteis, e em paralelo foram mudadas as cadeias de suprimento de itens eletrônicos complexos, como componentes de automóveis e aeroespaciais.
Já havia uma mudança na China, de produção de bens intensiva em mão-de-obra de baixa qualificação para produção intensiva em capital e alta qualificação. Então vem o governo anterior dos EUA e levanta uma série de incertezas sobre custos crescentes na China e isso acaba encorajando empresas a buscar oportunidades em outros países. Empresas ocidentais começaram a se dar conta que, para evitar riscos políticos, precisam diversificar sua cadeia de suprimento. E o que se vê agora com a covid, e com eventos climáticos como furacões, é que talvez seja preciso mais que só uma produção de baixo custo, mas uma produção de custo relativamente baixo de fontes diversificadas. O que estamos vendo é uma combinação de incerteza política, mas também reconhecimento das companhias de que talvez tenhamos nos tornando muito dependentes de uma fonte de produção.
Muitas firmas estão examinando cadeias de produção e seus diferentes níveis de fornecedores e se dando conta que talvez sejam muito dependentes de um único fornecedor e podem estar sujeitos, por exemplo, a congestionamento de portos. Precisam, portanto, de equilíbrio para reduzir a dependência em relação a uma única companhia específica. E isso é muito natural e consequência de choques de políticas e eventos naturais como covid e clima. O interessante nisso é que não vemos muitas empresas trazendo de volta suas fábricas para seus países de origem. Até agora se vê mais diversificação. Pode ser que vejamos as companhias tendo parte da produção longe, mas preocupadas em ter parte dela perto.
Valor: Desde o início do ano o Brasil aumentou as exportações de manufaturados para seus vizinhos. Isso é consequência dessa disruptura das cadeias, com o Brasil ocupando o lugar deixado pela China? Ou tem mais a ver com a covid-19?
Koopman: Provavelmente é um pouco dos dois. Algumas pessoas falam em desglobalização, eu falo em reglobalização. E isso se refere à reorganização da globalização. Quando olhamos isso e não vemos as empresas trazendo a produção de volta para casa, vemos mais diversificação e provavelmente uma realocação das cadeias para perto. Ainda iremos ver mais diversificação do comércio global. Acho que a ascensão da China e seu foco em ser fonte de bens manufaturados teve impactos em outros países em desenvolvimento.
O México foi afetado porque sob o Nafta tinha uma estratégia de desenvolvimento econômico envolvendo comércio para competir com a China. Mas a China fez melhor ou mais barato. Mas agora com essa preocupação sobre dependência em um só fornecedor, vemos essa diversificação. Isso oferece oportunidades para Brasil, México, Índia, Bangladesh e outros países asiáticos como Indonésia, Malásia. Isso é resultado das incertezas políticas, do conflito entre China e EUA, mas também desse reconhecimento das companhias de que é preciso maior diversificação das cadeias. E isso oferece oportunidades para países em desenvolvimento.
Valor: Vivemos um momento em que muitos países se mostram protecionistas e priorizam suas empresas. Organizações como a ICC Brasil defendem a abertura econômica como necessária para o desenvolvimento. Como um país como o Brasil pode continuar perseguindo isso?
Koopman: Uma das coisas que observo na OMC é que os membros concordam em alguns princípios e isso é ótimo. Mas não é discutido nesses princípios qual o papel do comércio no desenvolvimento. Há uma série de visões entre membros de que o comércio é meio de terem acesso à demanda de países ricos e, portanto, completar o crescimento econômico que não conseguem apenas de forma doméstica, além de ser um modo de aumentar a competitividade e o padrão de vida com a importação de bens e serviços que ajudam empresas locais a serem mais competitivas. Há outras que focam apenas na primeira parte, de que deveríamos ter maior acesso ao mundo rico, mas limitar o acesso do mundo rico e outros países em desenvolvimento a nossos mercados domésticos, para fortalecermos negócios e empresas locais.
De um ponto de vista de um economista, acho essas importações criarão concorrência com algumas dessas empresas, mas fortalecerão outras. Mas não há um entendimento ou acordo sobre o papel da abertura para fortalecer a competitividade, e isso é um desafio para os membros da OMC. O Brasil pode ser uma voz desse amplo entendimento do papel do comércio no crescimento e desenvolvimento.
Valor: O preço de commodities agrícolas está alto e deve aumentar nos próximos anos pela demanda da China e de biocombustíveis. Trata-se de um novo superciclo?
Koopman: Temos de ter cuidado ao olhar essa alta de preços do curto prazo, pós-covid. Tivemos muitos países e empresas esperando grande queda na demanda. E isso, portanto, reduziu sua produção e oferta. Tivemos uma pequena surpresa com a demanda sendo mais forte do que o esperado. Vemos a demanda se recuperando muito mais rápido, em parte por causa das políticas governamentais, em parte porque grandes estímulos vistos nos EUA e na Europa sustentaram a demanda além do que as empresas estavam esperando. Então as empresas cortaram sua capacidade pensando em uma grande recessão global, que passou rápido. E agora a demanda está lá no alto.
Não dá para aumentar a oferta da noite para o dia, isso leva um tempo. Se você começa a parar a produção de computadores ou plástico, antecipa a demanda fraca e começa a enviar sinais para a cadeia de produção de que não encomendará componentes. Se, então, começa a ver uma demanda maior do que o esperado, leva um tempo para que seja novamente hábil para reerguer a produção novamente e retornar a um equilíbrio. Então não pense que a alta que vemos nos preços sugerem um superciclo de longo prazo. Pode ser que seja. Mas eu acho que deveríamos ser cautelosos e pensar que se tratam de desequilíbrios de oferta e demanda de curto prazo.
Folha de SP
Bolsonaro ensaia discurso de derrota do voto impresso na Câmara e diz que Barroso apavorou deputados
PEC sobre tema foi rechaçada em comissão na semana passada e tem nova votação prevista, agora em plenário
O presidente Jair Bolsonaro acusou nesta segunda-feira (9) o ministro Luís Roberto Barroso, do STF (Supremo Tribunal Federal), de “apavorar” parlamentares contra o voto impresso e disse que a PEC (Proposta de Emenda à Constituição) sobre o tema, caso não haja negociação, será derrotada no plenário da Câmara.
A PEC do voto impresso, uma bandeira bolsonarista, foi derrotada na semana passada numa comissão especial da Câmara. Mas o presidente da Casa, deputado Arthur Lira (PP-AL), deve realizar uma nova análise do tema desta vez em plenário, em votação prevista para os próximos dias.
“Se não tivermos uma negociação antes, um acordo, vai ser derrotada a proposta. Porque o ministro Barroso apavorou alguns parlamentares, e tem parlamentar que deve alguma coisa na Justiça, deve no Supremo. Então o Barroso apavorou”, disse o presidente, em entrevista a uma rádio bolsonarista.
No fim do dia, ao chegar ao Palácio do Alvorada, o presidente voltou a tocar no assunto em conversa com apoiadores e disse ter “outros mecanismos” para evitar “suspeita” nas eleições, sem especificar quais seriam essas ações.” Amanhã o Congresso decide [a PEC do voto impresso], mas tem outros mecanismos para a gente colaborar para que não haja suspeita. Está prevista amanhã a votação. Não sei o que vai acontecer. Vamos em frente aí”, disse.
Reportagem da Folha desta segunda-feira mostrou que líderes do Congresso, integrantes do governo e ministros do STF e do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) articulam estratégias para reduzir a tensão entre os Poderes após a análise do voto impresso na Câmara.
Lira deve abordar o tema em almoço marcado com líderes da base governista nesta segunda-feira. A expectativa da cúpula do Congresso é que o plenário derrube o texto. Com isso, a ideia em costura é criar um ambiente que possibilite a Bolsonaro conter as críticas ao atual sistema eleitoral (as urnas eletrônicas), para permitir uma trégua na relação do Planalto com o Supremo. Reconhecem, porém, a dificuldade de controlar o presidente.
Nesta segunda-feira, à mesma rádio Bolsonaro voltou a chamar Barroso, que é presidente do TSE, de “mentiroso”. “Parece que o poder de persuasão, de intimidação do Barroso, está fazendo a diferença dentro do Parlamento brasileiro”, disse Bolsonaro na entrevista.
Bolsonaro também alimentou mais teorias da conspiração contestadas pelo TSE ou sem comprovação para alegar que, na verdade, ele teria recebido mais votos do que os computados no pleito de 2018. O presidente venceu o segundo turno das eleições de 2018, numa disputa com Fernando Haddad (PT). O resultado final foi 53,13% para o atual presidente contra 44,87% para o petista.
O presidente também disse, mais uma vez, que em um inquérito da Polícia Federal teria reconhecido que um racker invadiu o sistema do TSE em 2018. O TSE rebateu Bolsonaro na semana passada. Disse que o episódio foi divulgado na época em vários veículos de comunicação e não representou nenhum risco à integridade das eleições.
Em sua defesa voto impresso, Bolsonaro desencadeou uma série de declarações golpistas que colocaram em dúvida a realização das eleições no ano que vem. “Sem eleições limpas e democráticas, não haverá eleição”, disse Bolsonaro em 1º de agosto.
As falas contra as instituições do país abriram uma crise com o Judiciário. Em 4 de agosto, o ministro Alexandre de Moraes, do STF, decidiu incluir Bolsonaro como investigado no inquérito das fake news em tramitação na corte. Em reação, Bolsonaro acusou o inquérito de ilegal e ameaçou atuar fora de preceitos constitucionais.
“Ainda mais um inquérito que nasce sem qualquer embasamento jurídico, não pode começar por ele [pelo Supremo Tribunal Federal]. Ele abre, apura e pune? Sem comentário. Está dentro das quatro linhas da Constituição? Não está, então o antídoto para isso também não é dentro das quatro linhas da Constituição”, declarou Bolsonaro naquele mesmo dia. Após reiterados ataques de Bolsonaro a integrantes do STF, o presidente da corte, Luiz Fux, cancelou uma reunião prevista entre os chefes dos três Poderes.
Folha de SP
Lira diz que Bolsonaro queimará pontes se não recuar após derrota do voto impresso
Presidente da Câmara passou o fim de semana conversando com parlamentares e autoridades para pedir um voto de confiança em sua capacidade de fazer acordo com o presidente
O presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), passou o fim de semana conversando com parlamentares de oposição a mudanças nas urnas eletrônicas e com autoridades do Judiciário para pedir um voto de confiança em sua capacidade de fazer acordo com Jair Bolsonaro.
RECUO
Lira garantiu a todos que, uma vez derrotado o voto impresso, Bolsonaro vai recuar de seus ataques às eleições e aos tribunais. A votação em plenário está marcada para esta terça (10).
RECUO 2
O presidente neste mês já chamou o presidente do Tribunal Superior Eleitoral, Luís Roberto Barroso, de “filho da puta”, disse que a hora do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes vai “chegar” e afirmou que o Brasil não terá eleições caso elas não sejam “limpas”, o que só seria possível com a impressão do voto. Participou de motociatas e ameaçou engrossar um protesto “na avenida Paulista” com “um milhão de pessoas” para pressionar pela alteração do sistema eleitoral eletrônico.
INCÊNDIO
Questionado sobre a possibilidade de Bolsonaro não honrar o acordo, Lira afirmou que, se fizer isso, o presidente acabará queimando ainda mais pontes com o universo político, complicando o andamento de projetos no Congresso e a rearticulação de seu governo.
CORDA
Para se reorganizar para a eleição de 2022, Bolsonaro dependeria do Parlamento na aprovação de projetos populares como o que prevê o aumento do Bolsa Família, entre outros. E também aprovar reformas econômicas que agradam o mercado. Desacreditar o próprio presidente da Câmara dos Deputados e passar a contar com a sua animosidade, ainda que não explícita, não seria, portanto, um bom negócio para ele.
Folha de SP
PEC do voto impresso traz risco à democracia e DEM é contra, diz ACM Neto
Presidente do partido diz que bancada orientará votação contrária à proposta na Câmara
O presidente do DEM, ACM Neto, diz que a bancada do partido na Câmara será orientada a votar contra a PEC do voto impresso, que deve ir a plenário nesta terça-feira (10). O partido tem 27 deputados federais. “É óbvio que deputados podem pensar de maneira distinta e haverá divisões internas, mas a orientação do DEM é contra o voto impresso, entendendo que neste momento a matéria traz muito mais insegurança ao sistema eleitoral, e eu diria que até risco à democracia, do que qualquer outra coisa”, afirma ao Painel.
Sobre o desfile de blindados em frente ao Palácio do Planalto, em Brasília, ACM Neto minimiza sua importância. “É um desfile completamente sem sentido, mas que não tem nenhuma força intimidatória sobre o Congresso Nacional ou as lideranças políticas do país”.
O evento, organizado pelo Ministério da Defesa, acontece no mesmo dia da votação da PEC do voto impresso na Câmara. A PEC precisa de 308 votos para ser aprovada, cenário que os líderes partidários veem como improvável.
Valor
PT faz roteiro para reverter denúncias contra Lula
Nova ordem no partido é partir para um discurso mais assertivo
Na tentativa de sair das cordas quando o assunto é corrupção, tema que ainda deverá ser bastante explorado por seus adversários em 2022, o PT fechou um roteiro para amplificar a defesa do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e reverter a imagem desfavorável de parte do eleitorado. A nova ordem no partido, depois da recuperação dos direitos políticos de seu principal líder, é abandonar a postura defensiva e partir para um discurso mais assertivo. “Estamos prontos para enfrentar esse debate”, afirmou ao Valor a presidente do partido, deputada Gleisi Hoffmann (PR).
O Supremo Tribunal Federal (STF) declarou a incompetência da 13ª Vara Federal de Curitiba nos casos do tríplex no Guarujá, do sítio em Atibaia e do Instituto Lula. O plenário entendeu que elas não tinham correlação com desvios de recursos da Petrobras e, portanto, com a Lava-Jato. Em outra frente, declarou suspeição do ex-juiz Sergio Moro nas ações sobre o petista. Isso não significou, entretanto, a absolvição do ex-presidente. Os processos contra ele que foram examinados por Moro tramitam hoje nas mãos de outros juízes, e retrocedeu à fase inicial.
Lula responde a acusações de corrupção passiva e lavagem de dinheiro. Peça-chave do esforço petista é o lançamento, na quinta-feira, do “Memorial da Verdade”, livro que reconta a trajetória da Operação Lava-Jato e das acusações feitas ao ex-presidente sob a ótica do PT. Mais do que um livro, segundo seus próprios organizadores, trata-se de um guia para rebater, ponto por ponto, as “mentiras que envenenaram o país” e devem estar no centro de duelos verbais nas próximas eleições.
De olho também no convencimento da opinião pública internacional, o livro terá versões em três idiomas estrangeiros – inglês, francês e espanhol. Há menções a avanços institucionais e legais nos governos petistas, como a criação da Controladoria-Geral da União (CGU) e do Portal da Transparência, a Lei de Acesso à Informação e a Lei Anticorrupção.
São compilados pontos de sentenças judiciais contrárias aos argumentos do Ministério Público, depoimentos de colaboradores da Lava-Jato que desmentem suas delações premiadas e até trechos das memórias escritas pelo ex-procuradorgeral Rodrigo Janot – que reconheceu, segundo a versão de Gleisi, que discordaria da tese de “quadrilhão do PT” e só a transformou em denúncia à Justiça por pressão de Deltan Dallagnol. Lula e a ex-presidente Dilma Rousseff foram absolvidos pela Justiça Federal do Distrito Federal dos processos gerados pela denúncia de Janot.
Para contestar a afirmação recorrente de que quebrou a Petrobras, o partido lembra que a contabilização de perdas de R$ 6 bilhões no balanço de 2014 foi calculada com base em uma suposta propina de 3% em contratos da estatal nos dez anos anteriores.
O “memorial” a ser lançado na quinta-feira argumenta que Pedro Barusco, exgerente de engenharia da Petrobras e um dos primeiros delatores da Lava-Jato, jamais teria comprovado a existência desse percentual e nem especificou em quais obras teria sido aplicado. Para obter redução de pena, Barusco devolveu R$ 182 milhões desviados da Petrobras, que tinham sido enviados ao exterior.
No total, a Operação Lava-Jato proporcionou a devolução de R$ 4,2 bilhões de dinheiro desviado no esquema que teria beneficiado políticos, além de agentes privados e funcionários da empresa. Um total de R$ 14,7 bilhões está previsto para ser devolvido, resultante dos acordos de recuperação e leniência.
Interlocutores de Lula não esperam que o livro tenha a faculdade de convencer imediatamente o eleitorado de centro, insatisfeito com o presidente Jair Bolsonaro, mas ainda resistente a votar no petista em eventual segundo turno. A intenção maior, segundo eles, é botar a tropa no ataque e resgatar gradualmente a imagem do PT como partido intolerante com a corrupção. Será que vai certo? “Leva um tempo, mas é possível desfazer essa narrativa. Se a gente não começar, não muda essa percepção equivocada”, afirma Gleisi.
Valor (análise)
Alerta dos EUA joga água na fervura no delírio bolsonarista de intervenção militar
Assessor de segurança nacional reiteira preocupação americana com ameaças as eleições
Por Maria Cristina Fernandes
Na véspera da votação da proposta de emenda constitucional do voto impresso e do desfile de blindados pela Esplanada dos Ministérios, o diretor sênior para o Hemisfério Ocidental do Conselho de Segurança Nacional do governo americano, Juan González, fez questão de expressar sua preocupação com o tema: “Fomos muito diretos em expressar nossa confiança na capacidade de as instituições brasileiras conduzirem uma eleição livre e limpa e enfatizamos a importância de não ser minada a confiança no processo, especialmente uma vez que não há indício de fraude nas eleições passadas”.
Ele foi além: “Podemos nos engajar na cooperação para a segurança, na cooperação econômica e ainda assim sermos muito claros em relação ao apoio a que os brasileiros sejam aqueles que determinam o resultado de suas próprias eleições”.
González falou durante entrevista, em Washington, sobre a visita feita a América Latina na semana passada pelo Conselheiro de Segurança Nacional da Casa Branca, Jake Sullivan, que também teve sua participação. No Brasil, Sullivan encontrou o presidente Jair Bolsonaro. Foi a maior autoridade a visitar o país desde a posse do presidente americano Joe Biden.
A declaração de González tem dois efeitos. O primeiro é o de revelar o tamanho do estrago provocado pelo governo Bolsonaro nas relações internacionais: o país volta a ser tratado como uma república das bananas que precisa ser alertada pela maior democracia do mundo para não sair dos trilhos. É bem verdade que González reconheceu que o bananal tupiniquim tinha inspiração americana: “Fomos sinceros sobre nossa posição, especialmente em visa dos paralelos em relação a tentativa de invalidar as eleições antes do tempo, algo que, é óbvio, tem um paralelo com o que aconteceu nos Estados Unidos”.
Tal reconhecimento, porém, não o impediu de assumir as gestões contra a Huawei e o apoio a entrada do Brasil na Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan). González, porém, repetiu reiteradas vezes que o governo americano não condiciona uma coisa à outra.
Se a declaração do burocrata americano mostrou o dano provocado por Bolsonaro sobre as relações externas do país, por outro, mostrou, indiretamente, o quão reduzidos são hoje os riscos de uma intervenção das Forças Armadas brasileiras na institucionalidade democrática, temor que ontem invadiu Brasilia com a iminência do desfile de blindados. Este é o segundo efeito da declaração de Gonzalez, colocar água na fervura das inquietações sobre uma intervenção militar no Brasil.
González não poderia ter sido mais claro em relação a posição a ser tomada pelo governo Biden numa quebra de institucionalidade no Brasil. Daí porque nunca uma eleição nos Estados Unidos importou tanto para os brasileiros. O fato de Bolsonaro ter perdido o apoio do ex-presidente Donald Trump, visitado na tarde de ontem pelo deputado Eduardo Bolsonaro e sua família no escritório do ex-presidente americano em Nova York, foi condição necessária, mas não suficiente para garantir a democracia no Brasil. O resto é com as instituições civis brasileiras.
Folha de SP (Tendências/Debates)
Brasil rumo à ditadura?
É preocupante o ensurdecedor silêncio dos militares da ativa
FREI BETTO
Onde há fumaça, há fogo, reza o ditado popular. A maioria dos brasileiros e a opinião pública mundial sabem que o Brasil é governado por um homem de convicções fascistas. Jair Bolsonaro sempre exalta torturadores da ditadura militar implantada no Brasil em 1964 e lamenta que não tenham sido fuzilados “ao menos 30 mil subversivos”.
Eleito presidente na onda do moralismo desencadeado pela fraudulenta Operação Lava Jato, Bolsonaro nomeou para importantes funções civis no governo mais de 6.000 militares; desencadeou orquestrada veiculação de fake news; ignorou a gravidade da pandemia, que qualificou de “gripezinha”; recomendou medicamentos sem comprovação científica; demorou a importar vacinas e, apesar de quase 600 mil mortos pela Covid-19, o Ministério da Saúde até hoje não adotou um protocolo de testagem e imunização nacional; e, agora, é investigado pelo Senado como antro de corrupção na compra de vacinas superfaturadas, na qual haveria militares envolvidos.
Bolsonaro repete: “Só Deus me tira do poder”. Isso apesar de 15 milhões de desempregados, 30 milhões de pessoas na miséria, 19 milhões padecendo fome crônica e uma inflação de mais de 8% ao ano.
Haverá eleições presidenciais em 2022. Todas as pesquisas apontam o ex-presidente Lula (PT) como candidato preferido dos eleitores. Embora muitos deles se arrependam de ter votado em Bolsonaro em 2018, e outros continuem a recusar voto ao PT, o fato é que, até agora, não se encontrou um candidato alternativo à polarização Lula x Bolsonaro. Há vários nomes em pauta, mas nenhum que angarie suficientes votos para ameaçar um dos dois candidatos e representar uma alternativa entre a esquerda e a direita.
Ao prever que Lula pode derrotá-lo em 2022, como indicam as pesquisas, Bolsonaro passou a defender o voto impresso. Há 25 anos o Brasil adota urnas eletrônicas, e jamais houve qualquer suspeita de fraude. O passado eleitoral brasileiro ensina que o voto impresso, este sim, é vulnerável à fraude.
Eleitores de baixa escolaridade e renda costumam ser pressionados por “coronéis” (milicianos, policiais, fazendeiros, patrões, pastores e padres) para dar seu voto a determinado candidato em troca de dinheiro, favores ou por medo de ameaças. É o voto de cabresto.
No voto eletrônico não há como comprovar o voto do eleitor. Mas o voto impresso passa recibo. Há comprovação no papel se o eleitor votou de fato no candidato indicado. E isso favorece a fraude eleitoral —o único recurso com o qual Bolsonaro conta para tentar evitar uma derrota no próximo ano.
Para o retorno do voto impresso, que se somaria ao eletrônico (à urna seria acoplada uma impressora), é preciso de emenda constitucional aprovada pelo Congresso Nacional. A questão deveria ter sido votada pela Câmara dos Deputados na primeira metade de julho. Quando os deputados bolsonaristas perceberam que seriam derrotados, fizeram uma manobra que transferiu a decisão para agosto, após o recesso parlamentar.
A democracia brasileira não estaria ameaçada se dependesse do Supremo Tribunal Federal e do Tribunal Superior Eleitoral, contrários ao voto impresso. Ocorre que, a 9 de julho, o comandante da Aeronáutica, Carlos Baptista Junior, declarou ao jornal O Globo que cabe às Forças Armadas tutelarem a democracia brasileira. Na mesma entrevista, afirmou: “Não abriremos mão disso”. E pontificou: “Homem armado não ameaça”.
Lembro-me do Brasil às vésperas do golpe de 1964, que implantou 21 anos de ditadura militar. Líderes da esquerda, na qual eu militava via movimento estudantil, diziam não temer golpe, as instituições democráticas eram sólidas, o presidente Jango contava com forte respaldo militar contrário à violação da Constituição.
Agora ouço o mesmo discurso de solidez das instituições democráticas e de falta de condições conjunturais para uma volta à ditadura, inclusive de vozes da direita. Contudo, nenhum militar da ativa ousou discordar da ameaça golpista do comandante da Aeronáutica. Nenhum jamais se manifestou perante as repetidas bravatas golpistas de Bolsonaro. E, a 8 de julho, o ministro da Defesa, que comanda as três Armas, general Braga Netto, teria comunicado ao presidente da Câmara dos Deputados que “se não houver voto impresso e auditável em 2022, não haverá eleições”. No mesmo dia, Bolsonaro declarou em público: “Ou fazemos eleições limpas no Brasil ou não temos eleições”. O presidente teme que o Parlamento rejeite a emenda constitucional que visa a permitir o voto impresso.
Autoridades civis receberam as manifestações golpistas como “blefe”, na opinião de um ministro do Supremo que não quis se identificar. Mas, repito, onde há fumaça, há fogo. É preocupante o ensurdecedor silêncio dos militares da ativa. Nenhum ousa discordar.
O povo brasileiro tem ocupado as ruas em massivas manifestações contrárias ao governo Bolsonaro. Este é o recurso que temos para salvar a democracia. Mas, se os militares optarem pelo golpe, institucionalizando Bolsonaro como ditador, basta rever o passado entre 1964 e 1985 para se ter ideia do futuro que nos aguarda.