Com 100 dias, governo Dilma mostra continuidade e méritos, segundo Diap
Neste domingo (10), completam-se 100 dias da posse da presidenta Dilma Rousseff. O período foi marcado por uma “apresentação” do estilo de ela governar, mas é de uma gestão de continuidade, segundo Antônio Augusto Queiroz, diretor do Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap). Há ajustes pontuais e diferenças relacionadas à personalidade e ao – relativamente baixo – nível de capital político de Dilma.
A primeira centena de dias é emblemática e marca os primeiros balanços de uma gestão no Executivo, em decorrência de uma relativa trégua da oposição no tom das críticas. O apoio popular decorrente da exposição da posse e da proximidade da eleição dificulta o trabalho dos adversários políticos. Mas a calmaria nos ataques a Dilma tem um outro componente, pelo menos no que diz respeito à imprensa, ator que, durante os últimos oito anos, assumiu um papel de oposição, na visão de analistas e críticos.
A cobertura predominantemente favorável a medidas relacionadas a questões internacionais e às contas públicas mostra diferenças entre a administração atual e a anterior, do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Queiroz critica a hipervalorização das diferenças, e garante que se trata de uma gestão claramente de continuidade. A maior parte dos jornais e revistas destaca apenas o que consideram como divergências em relação ao mandato anterior, para opor Dilma a seu principal padrinho político. “O elogio a Dilma é para criticar Lula”, resume.
O analista político explica que a Presidência da República implica três dimensões: chefe de governo, chefe de Estado e líder da nação. No primeiro, segundo ele, Dilma vai bem, por conhecer a máquina pública e saber decidir. No segundo, há um aprendizado, visto na visita do presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, ao Brasil, na ida a Portugal e, brevemente, à China. É no terceiro aspecto que há mais dificuldades.
A liderança da nação foi o que permitiu que a população atendesse o pedido de Lula para que consumisse mais mesmo após a eclosão da crise econômica internacional, qualificando-a como “marolinha” diante do “tsunami” mundial. “Nesse aspecto, ela tem de se expor mais, interargir com movimentos sociais e agentes econômicos para adquirir segurança”, opina.
Além disso, há menos resistência a Dilma em setores da classe média que, por preconceito, não aceitavam a figura de Lula. “Por ver a presidente como integrante dessa classe, com formação superior, que estudou em boas escolas, que se expõe menos do que Lula na mídia, ela tem agradado extratos da mídia, da oposição e da classe média”, diagnostica.
“Todo dia surge uma nota plantada para provocar intriga entre eles”, acusa. O problema para Dilma é que seu capital político é derivado de Lula e do PT. Uma crise ou um racha entre eles pode abalar a relação da presidenta com a própria base social que a elegeu e que sustenta sua popularidade.
Diferenças
Apesar do caráter de continuidade, Queiroz vê Dilma com méritos próprios. Na lista, ela inclui episódios como o enquadramento do Comando do Exército que se manifestava contrário à instalação da Comissão de Verdade. Um documento de uma das Forças Armadas causou desconforto junto a ministros e a organizações de direitos humanos. A presidenta convocou o ministro da Defesa, Nelson Jobim, para barrar futuras manifestações que evidenciassem arestas dentro do governo.
“As diferenças em relação ao governo Lula não são tão importantes, a linha é continuidade”, afirma. “É preciso considerar ainda os movimentos táticos, especialmente nas relações internacionais”, pondera.
O fato de um dos primeiros chefes de Estado a ser recebido por Dilma ter sido Obama foi apontado por analistas como uma mudança em relação à conduta anterior do Itamaraty, que priorizava países emergentes e a chamada relação Sul-Sul. Outro exemplo relaciona-se a posições no Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU) contrárias ao Irã.
Queiroz entende que a aproximação do governo Lula com a China tinha relação com o contexto da época, em que se buscava frear o ímpeto dos EUA. A pressão da Casa Branca em 2003 era a de negociar a Área de Livre Comércio das Américas (Alca), além de barrar o suco de laranja brasileiro e criar subsídios ao algodão e outros produtos. Ao mesmo tempo em que se superou essas contendas na Organização Mundial do Comércio (OMC), o avanço chinês precisa ser barrada.
Em relação à ONU, o analista lembra que Lula apenas adotou uma postura menos alinhada nos organismos internacionais no segundo mandato. “Questões como direitos humanos, democracia e liberdade de expressão sempre foram defendidas por Lula e continuam sendo. O problema é que a imprensa bateu o tempo inteiro no governo e não gostava que ele reagisse”, alfineta.
Da Rede Brasil Atual