Com auxílio menor, cresce o endividamento das famílias durante a pandemia
De acordo com o Dieese, aumento do endividamento tem relação com redução do auxílio emergencial e aumento da inflação dos alimentos. Inadimplência deve ser mais um entrave para retomada da economia no pós-pandemia
Uma em cada quatro famílias brasileiras possui alguém com dívidas em atraso, de acordo com sondagem realizada pelo Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (Ibre-FGV). Mais da metade dos endividados afirmam que o problema está relacionado à pandemia, principalmente perda de emprego e redução de salário. O percentual de endividamento das famílias é mais alto nas residências de baixa renda. Segundo a pesquisa, 26% dos entrevistados vivem em lares em que há pelo menos uma pessoa com dívida. Esse percentual sobe para 44% para famílias com renda de até R$ 2.100.
Para o diretor técnico do Dieese, Fausto Augusto Junior, trata-se de um cenário esperado, na medida em que a economia não cresce e a pandemia segue fora de controle. Nesse sentido, a ajuda do Estado às famílias, que deveria se ampliar, acabou reduzido. O auxílio emergencial voltou a ser pago, mas com valor menor e um público mais restrito.
“Na verdade, as pessoas estão com muita dificuldade para fechar o mês. Uma parcela bastante grande da população está com renda próxima a zero. Estamos falando de mais de 14 milhões de desempregados. Mais 10 milhões que saíram do mercado de trabalho”, destacou Fausto, em entrevista ao Jornal Brasil Atual, nesta segunda-feira (19).
Sem emprego e sem renda, as famílias ainda enfrentam o avanço dos preços dos alimentos, o que reduz ainda mais o poder de compra da população. Outro agravante é a elevação da taxa básica de juros, a Selic, impactando no aumento do custo do financiamento dessas dívidas.
Consequências e alternativas
O diretor do Dieese ressalta que o endividamento das famílias será também um entrave para a retomada da economia no pós-pandemia. Segundo ele, os bancos públicos deveriam auxiliar no refinanciamento dessas dívidas, com prazos maiores e juros mais baixos. No entanto, essa alternativa esbarra na crença do governo de que os bancos públicos devem ter atuação similar às instituições financeiras privadas.
“Na verdade, os bancos públicos estão em processo acelerado de privatização indireta. Seja com a venda de ativos ou com abertura de mercado. De alguma forma, vão se equivalendo aos bancos de mercado”, criticou Fausto.