Com BNDES, compra de ônibus é retomada
Empresas de transporte rodoviários fazem encomendas para ampliar a frota
A Auto Viação 1001, a Itapemirim e a Águia Branca/Salutaris, três dos maiores grupos de transporte rodoviário de passageiros do país, estão desembolsando, juntos, R$ 112,6 milhões para comprar quase 260 ônibus. O investimento está sendo realizado após o setor ter colocado em compasso de espera, no início do ano, planos de renovação de frota por causa da indefinição das novas regras para a licitação de linhas interestaduais. A permissão para as empresas operarem tem 15 anos e venceu em outubro de 2008.
A Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) havia fixado para junho a conclusão dos estudos das normas para a licitação, mas o prazo foi estendido para agosto de 2010, diz o presidente da ANTT, Bernardo Figueiredo. Segundo ele, o edital deverá ser publicado em novembro de 2010, após a realização de uma audiência pública e avaliação do Tribunal de Contas da União (TCU).
Apesar desses investimentos em ampliação de frota, com o apoio do BNDES, as compras de ônibus rodoviários para linhas interestaduais estão sendo, em média, 50% menores, calcula a Associação Brasileira das Empresas de Transporte Terrestre de Passageiros (Abrati).
“Há uma grande indefinição por parte das empresas em função do cenário regulatório. Então, as compras atrasaram um pouco. Agora, de última hora, todo mundo resolveu comprar um pouco porque interessa manter a qualidade dos serviços e a capacidade operacional no período de alta temporada”, afirma o presidente da Abrati, Renan Chieppe.
A 1001 vai investir R$ 32,6 milhões para comprar 96 ônibus, conta o diretor-executivo da empresa fluminense, Heinz Kumm Júnior. O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) vai financiar R$ 26 milhões com taxa fixa de juros de 7% ao ano, por meio do Programa de Sustentabilidade do Investimento.
Essa linha foi criada em julho deste ano como parte da política do governo federal de estimular investimentos em diversos setores. Ela deverá ser fechada em dezembro. O BNDES informa que, apenas para ônibus e caminhões, esse programa tem em carteira R$ 2,1 bilhões de pedidos em análise e recursos já concedidos no período de julho a 13 de outubro.
Em 2008, a 1001 havia aplicado R$ 29 milhões para a aquisição de 75 veículos. Embora o investimento este ano seja maior, a quantidade de ônibus para linhas interestaduais recuou de 20, em 2008, para 10, neste ano. A maior parte dos ônibus comprados são para transporte municipal e intermunicipal.
“Estamos aumentando a nossa capacidade para nos preparar para a demanda que será gerada pela Copa do Mundo de Futebol (em 2014), e pelas Olimpíadas, (em 2016)”, afirma Júnior. Atualmente, a 1001 tem 800 ônibus e seu faturamento, em 2008, foi de R$ 296 milhões. O executivo estima uma receita 10% maior em 2009. Em 2001, a Viação Cometa foi adquirida pelo controlador da 1001, o grupo JCA.
A Águia Branca/Salutaris, por sua vez, está investindo R$ 30 milhões para comprar 60 ônibus. No ano passado, o desembolso conjunto haviam sido de R$ 50 milhões para 100 veículos. “Este ano as compras ficaram prejudicadas”, afirma Chieppe, da Abrati. Ele também é diretor da Águia Branca/Salutaris, que atua no Espírito Santo, Minas Gerais, Bahia, Rio de Janeiro e São Paulo, entre outros Estados.
A Itapemirim, com forte atuação nas regiões Sudeste e Sul, principalmente, confirmou o investimento de R$ 50 milhões este ano para comprar 100 ônibus. A empresa só opera linhas interestaduais e tem uma frota de 1,2 mil ônibus. Seu faturamento, em 2008, foi de R$ 470 milhões, o maior do setor.
A gaúcha Marcopolo testemunhou a suspensão de investimentos no início do ano, conta o diretor de operações comerciais para o mercado brasileiro da montadora de ônibus, Paulo Corso. A retomada das compras começou a acontecer em setembro, disse ele.
“Nós caminhamos até setembro, na linha de ônibus rodoviário, com vendas e produção cerca de 40% menores do que no mesmo período do ano passado”, afirma Corso. Com a volta dos pedidos, acrescenta ele, a Marcopolo vai garantir um ritmo de produção no último trimestre deste ano de 20 veículos por dia, ou o mesmo patamar alcançado em todo o segundo semestre de 2008. Mesmo assim, a montadora não deverá repetir a produção do ano passado, devendo ficar com um desempenho 15% inferior.
As empresas de transporte rodoviário interestadual de passageiros tinham uma permissão para operar esse serviço por 15 anos, que venceu no dia 8 de outubro de 2008. No dia seguinte, a ANTT, por meio de duas resoluções, concedeu uma autorização especial para manter a atividade que vale até o próximo dia 31 de dezembro. Segundo Bernardo, como houve um atraso no cronograma, as autorização deverão ser renovada até o prazo de publicação do edital da disputa.
“A licitação vai ter uma forte exigência de qualificação para as empresas. Deve contemplar algum tipo de benefício tarifário para o passageiro e, com certeza, não será por valor de outorga”, diz o presidente da ANTT.
Do Valor Econômico