Com lucros bilionários, bancos fazem proposta sem aumento real
Comando Nacional rejeitou, convoca assembleia para o dia 12 e propõe greve por tempo indeterminado a partir do dia 19, se a proposta não mudar
Após três rodadas de negociação, a federação dos bancos (Fenaban) apresentou proposta para o Comando Nacional nesta quinta-feira (05), em São Paulo. O reajuste apresentado foi de 6,1%, diante de uma inflação projetada de 6,22% para a data base da categoria. Como a Fenaban informou que essa é a proposta final, haverá assembleia em São Paulo na próxima quinta-feira (12). E, se a proposta não mudar, greve nacional a partir do dia 19.
“Os bancários estão sofrendo com as metas que adoecem os trabalhadores. Modo de gestão que leva os clientes a ter de comprar produtos desnecessários. Além do fim das demissões, os bancos também não apresentaram nada para mudar essa realidade”, disse Juvandia Moreira, presidenta do Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e região. “Foram mais de 21 mil bancários afastados no ano passado, sendo mais de 50% por transtornos mentais e doenças como LER/Dort,” causados por um ritmo de trabalho estressante e abusivo.
Reivindicações – A categoria bancária entregou para a Fenaban, dia 30 de julho, a pauta de reivindicações da categoria. Entre os itens principais estão o índice de 11,93% (reposição da inflação mais aumento real de 5%), o piso salarial no valor de R$ 2.860,21 e a PLR (três salários base mais parcela adicional fixa de R$5.553,15). Os bancários também pedem a valorização dos vales refeição e alimentação (um salário mínimo, R$ 678,00). E reivindicam ainda melhores condições de trabalho, com o fim das metas individuais e abusivas. (ver principais itens abaixo).
Adoecimento – A categoria bancária está entre as que mais sofrem com doenças ocupacionais relacionadas à forma de gestão dos bancos que apostam numa rotina de metas abusivas, extrema pressão e assédio moral como forma de aumentar sua produtividade. Mais de 21 mil bancários (21.144) foram afastados no ano passado, de acordo com dados do INSS, em todo o país – sendo 27% por LER/Dort e 25,7% por transtornos mentais e comportamentais (como stress, depressão, síndrome do pânico). Somente nos três primeiros meses de 2013, 4.387 pessoas se licenciaram pelos mesmos motivos (25,8% transtornos mentais e 25,4% por LER/Dort). Em 2011, o número de bancários afastados foi de 20.714.
Acionistas x trabalhadores – Os principais responsáveis pelo excelente resultado dos bancos no Brasil recebem cada vez menos retorno por esse trabalho. Apesar dos reajustes salariais desde 2004, que acumulam 85,32%, bancários viram cair a parcela que recebem do valor adicionado (DVA) dos bancos. DVA são todas as receitas do banco, já subtraídas as despesas. É distribuído entre acionistas (dividendos e lucros retidos); governo (impostos) e trabalhadores (remuneração, vales, auxílios, FGTS). Entre 1999 e 2005, em média, os acionistas ficavam com 25,9%, os impostos, 24%, e os bancários, 50,1%. Entre 2006 e 2012, uma inversão: o governo continua em 23%, mas acionistas passaram a receber quase 40% e aos trabalhadores restaram 37%. E isso num cenário em que os bancários trabalham cada vez mais. Os balanços dos seis maiores bancos mostram que o lucro gerado por trabalhador subiu 19,4%; cada bancário ampliou em 13,6% a receita com tarifas; o número de contas correntes por bancário aumentou 6,9%. Só caiu a quantidade de trabalhadores por agência: – 5% (comparação entre o primeiro semestre deste ano e o mesmo período de 2012).
Emprego – Se em 1990 havia mais de 730 mil bancários no país, atualmente são cerca de 500 mil, para atender demanda crescente. Em um ano (junho de 2012 a junho de 2013) foram mais de 10 mil postos de trabalho extintos pelos bancos privados.
Auxílio-creche/babá – Atualmente, o valor do auxílio é de R$306,21. A categoria reivindica R$ 678. A Fenaban destacou que é um auxílio, não tem objetivo de cobrir despesa totais.
Lucro dos bancos – O lucro líquido dos seis maiores bancos no Brasil (Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal, Bradesco, Itaú-Unibanco, HSBC e Santander), nos seis primeiros meses do ano, foi de R$ 29,6 bilhões.
Dados da Categoria – Os bancários são uma das poucas categorias no país que possui Convenção Coletiva de Trabalho (CCT) com validade nacional. Os direitos conquistados têm legitimidade em todo o país. São cerca de 500 mil bancários no Brasil, sendo 142 mil na base do Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e Região, o maior do país. Nos últimos nove anos, a categoria conseguiu aumento real – acumulado entre 2004 e 2012 – de 16,22%. Sendo 2009 (1,50%); 2010 (3,08%); 2011 (1,50%) e 2012 (2,00%).
Principais reivindicações:
• Reajuste Salarial de 11,93%, sendo 5% de aumento real, além da inflação projetada de 6,6%
• PLR – três salários mais R$ 5.553,15
• Piso – Salário mínimo do Dieese (R$ 2.860,21)
• Vales Alimentação, Refeição, 13ª cesta e auxílio-creche/babá – Salário Mínimo Nacional (R$ 678)
• Emprego – Fim das demissões em massa, ampliação das contratações, combate às terceirizações e contra o PL4330 (que libera a terceirização e precariza as condições de trabalho), além da aprovação da convenção 158 da OIT (que inibe dispensa imotivada)
• Fim das metas abusivas e assédio moral – A categoria é submetida a uma pressão abusiva por cumprimento de metas, que tem provocado alto índice de adoecimento dos bancários
• Mais segurança nas agências bancárias, com a proibição do porte de chaves de cofres e agências por bancários
• Igualdade de oportunidades, com contratação de pelo menos 20% de trabalhadores afro-descendentes.
Do Sindicato dos Bancários de São Paulo