Com organização no local de trabalho nível de sindicalização é maior, diz presidente da CNM
Com um debate na Câmara Municipal de São Bernardo do Campo (SP), a Fundação Perseu Abramo divulgou na noite da última segunda-feira (29), os resultados de pesquisa que analisa a evolução da sindicalização no Brasil nos últimos 10 anos. O estudo completo ‘Densidade sindical e recomposição da classe trabalhadora no Brasil’ está no terceiro número da publicação FPA Comunica e foi elaborado para avaliar a relação dos trabalhadores com suas entidades de classe na última década, período em que o país expandiu consideravelmente o nível de emprego, com elevação do padrão de vida do conjunto da população.
O debate foi coordenado pelo presidente da FPA, economista Marcio Pochmann, e contou com a participação do prefeito de São Bernardo, Luiz Marinho, do presidente da Confederação Nacional dos Metalúrgicos da CUT, Paulo Cayres, e do presidente da Câmara Municipal, vereador Tião Mateus.
Segundo Pochmann, o Brasil é um país que tem mais experiência com a ditadura do que com a democracia. “A ditadura militar impediu que o crescimento econômico fosse distribuído. A partir dos anos 2000, já estávamos na fase democrática, com crescimento e distribuição de renda. O Brasil gerou muitos novos postos de trabalho. O que resta responder é: por que não gerou maior sindicalização também?”.
A partir do estudo, Pochmann afirma que é preciso aprofundar o conhecimento sobre as mudanças no mundo do trabalho, lembrando que o setor de serviços deverá ser uma base importante de investimento do sindicalismo para conseguir organizar os novos trabalhadores. E também alerta que o mundo sindical precisa entender as mudanças ocorridas no capitalismo: “As grandes corporações, muitas vezes, são mais importantes que os países. Vivemos um outro tipo de capitalismo, que se prepara para o futuro. E os sindicatos? Como irão lidar com o futuro?”, questionou.
Paulo Cayres entende que não há sindicalização sem trabalho de base: “Mais do que sortear apartamentos ou fazer shows, é preciso estar nos locais de trabalho. Só isso garante uma relação mais próxima dos trabalhadores com o Sindicato”. Cayres lamenta o fato de que, mesmo com a eleição de um presidente operário por duas vezes, depois uma mulher, o nível de sindicalização não tenha aumentado. “Falta democracia no mundo do trabalho. Isso sem dúvida atrapalha a procura pelos sindicatos. Os trabalhadores têm medo de perder o emprego caso se sindicalizem”, disse o dirigente, que também se preocupa com o fato de os novos trabalhadores terem mais anos de estudo mas sem que isso signifique aumento na consciência de classe.
O presidente da CNM/CUT destacou ainda que a organização no local de trabalho – bandeira histórica da CUT e seus sindicatos – é fundamental para estreitar a ligação do trabalhador com o seu sindicato. “Isso é fato: onde há OLT, o grau de sindicalização é maior. Com a atuação direta das entidades dentro das fábricas – como os Comitês Sindicais de Empresa existentes no ABC e em outras bases dos metalúrgicos – os trabalhadores entendem a importância de se associar aos sindicatos para fortalecê-los e, assim, garantir e avançar em direitos”.
Luiz Marinho, por sua vez, avaliou que hoje “os sindicatos são mais fortes, com maior possibilidade de negociação”. Para Marinho, formação política continua sendo essencial assim como o respeito e estímulo às negociações sindicais. Ele também concorda que sem organização por local de trabalho a sindicalização será sempre baixa.
FPA Comunica 3
A publicação está dividida em quatro partes: indicação da trajetória recente da sindicalização em países selecionados no mundo; evolução da densidade sindical, conforme as características principais dos ocupados; movimento de afiliação sindical conforme os postos de trabalho; e sinais de recomposição da classe trabalhadora no Brasil.
Em cinco anos (2006 a 2011), a taxa de sindicalização no Brasil permaneceu relativamente estável em relação ao total dos ocupados. Com mais de 13,4 milhões de novas ocupações geradas no período, os sindicatos conseguiram absorver o adicional de 2,8 milhões de afiliados. De acordo com o estudo, a cada grupo de dez novos trabalhadores ocupados no Brasil, dois terminaram se sindicalizando em suas entidades de categoria. Com isso, a taxa de sindicalização passou de 16,4% para 17% do total dos ocupados entre 2005 e 2011.
Mas esse crescimento não foi homogêneo. A taxa se diferencia segundo as características dos ocupados e postos de trabalho. Enquanto houve crescimento de filiação sindical entre trabalhadores de origem indígena, jovens, menores escolarizados e remunerados, observa-se uma queda entre os trabalhadores pardos, com mais idade, maior escolaridade e rendimento.
Da CNM/CUT