Com política interna instável e risco de moratória, Bélgica se torna novo foco da crise na Europa
Os investidores e economistas voltaram suas atenções para o pequeno reino da Bélgica, a vigésima economia do mundo, que passou para o centro da crise da zona do euro. Pela primeira vez em oito anos, a dívida pública belga superou os 100% do PIB (Produto Interno Bruto) e o risco de o país declarar moratória ultrapassou o risco da Itália na manhã desta terça-feira (11/1). O índice que mede a probabilidade do país não conseguir pagar os juros subiu para 20,2%, ante o número italiano, de 19,72%, segundo dados da agência de monitoração de risco CMA (Credit Market Analysis).
A Bélgica tem uma dívida pública de cerca de 500 bilhões de dólares, uma das maiores dívidas em relação ao PIB da zona do euro, atrás apenas da Itália e da Grécia. O economista-chefe do Banco Fator, José Francisco de Lima Gonçalves, afirmou em entrevista ao Opera Mundi que a a dívida é, de modo geral, historicamente alta em todo a Europa. Segundo ele, os endividamentos podem ser explicados com investimentos em educação, saúde e aposentadoria, e os elevados números absolutos da dívida não são o principal foco da crise.
“O nível alto da dívida não é em si um problema. A questão é se o governo está em condição de pagar ou não os juros. Na Itália, por exemplo, [a dívida] sempre foi superior à 100%, desde a década de 80, e eles sempre pagaram”, explicou o economista.
Em sua avaliação, a economia belga não dava sinais de que entraria em colapso. “A Bélgica estava escondidinha e de repente apareceu como caloteira”, afirmou Gonçalves.
Além da dificuldade para pagar os juros da dívida, o país enfrenta uma incerteza política há quase nove meses, sem governo permanente. Desde abril do ano passado, quando foram realizadas as eleições legislativas, os dois principais grupos políticos do país, flamengos e francófonos, não conseguem encontrar um consenso para compor o governo. A Bélgica, monarquia parlamentar, está sob administração de um primeiro-ministro interino, Yves Leterme.
A instabilidade política começou a prejudicar a economia porque o impasse na formação do governo atrasa a implementação de reformas de medidas de austeridade.
“Na Bélgica, a peculiaridade é que saiu o governo e não tem governo”, disse o economista, referindo-se às dificuldades para aprovar medidas.
Déficit fiscal
Em uma atitude pouco comum para um monarca constitucional, o rei Alberto II da Bélgica pediu a Leterme que elabore um orçamento para 2011 o mais rápido possível, prevendo corte no déficit fiscal para menos de 4,1% do PIB.
Um acordo com a Comissão Europeia prevê que o déficit fiscal da Bélgica (diferença entre o que o país arrecada e o que gasta) deve ficar abaixo de 4,1% neste ano e deve ser menor do que 3% em 2012. Em 2010, o número chegou a 4,6% do PIB, abaixo dos 6% de 2009.
Em maio do ano passado, a Grécia recebeu ajuda financeira da União Europeia e do FMI (Fundo Monetário Internacional). Em novembro, a Irlanda aceitou uma ajuda bilionária para tentar tirar o país da crise fiscal.
Do Opera Mundi