Combate à exploração sexual começa com mudança cultural
Em entrevista à Tribuna, a deputada Maria do Rosário, relatora da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito da Exploração Sexual, diz que o combate a esse tipo de crime começa com a mudança do comportamento cultural do brasileiro.
Qual a importância do relatório da Comissão de Inquérito?
Ele é mais uma etapa do trabalho no enfrentamento da exploração e abuso sexual e, apesar da nossa vontade, o relatório não vai colocar um ponto final nessa grave questão.
Por quê?
As causas da violência são profundas e estão enraizadas na nossa cultura. A desvalorização da mulher é a raiz dessa violência, ainda mais se ela for pobre ou negra. Também contribui nossa cultura sempre se relacionar com o tráfico humano, tanto que somos o segundo maior país exportador de meninas para exploração sexual.
Como o relatório pode mudar essa cultura?
O relatório é uma peça de enfrentamento de todos esses aspectos. Nós assumimos no Parlamento a prioridade que Lula deu em seu governo a esse grave problema. É a primeira vez que o governo federal e o Parlamento se unem para combater essa violência.
Qual a situação das vítimas?
As vítimas têm dificuldade de sair da situação sozinha. Elas precisam de ajuda. E a sociedade tem obrigação de defender quem não tem condições.
Como será o relatório da comissão de inquérito?
Nosso relatório vai tratar da impunidade, analisando os inquéritos e as decisões que deixam livre os criminosos. Vai fazer denúncias de muitos casos investigados envolvendo políticos, empresários e pessoas públicas. Vai propor mudanças importantes no Código Penal, transformando o crime sexual em crime contra a pessoa e não contra os costumes, e vai também propor políticas públicas.
A CPMI é um avanço na luta contra a discriminação?
A CPMI só saiu porque mais mulheres estão no Parlamento, assim como também estamos cada vez em maior número na vida pública e em outros centros de decisão. Nós não podemos continuar repetindo o projeto de exclusão que existe hoje. Queremos desenvolver uma política mais feminina, que tenha valores como solidariedade, família e filhos. Esse modelo de poder que queremos imprimir está dentro de uma perspectiva de mudança cultural e passa por um convencimento dos homens. E é isso que estamos fazendo.