Comissão de Igualdade Racial promove debate para marcar mês da Consciência Negra
Atividade será no dia 18, com debate e apresentação cultural. Registros de denúncias de racismo no Brasil vem aumentando nos últimos anos
A luta contra o racismo, uma batalha diária a ser enfrentada por negros e negras e por todos aqueles que têm uma conduta antirracista, ganha ainda mais visibilidade no mês de novembro por conta do Dia da Consciência Negra, celebrado no dia 20.
Para marcar da data, a Comissão de Igualdade Racial e Combate ao Racismo dos Metalúrgicos do ABC promove uma atividade no próximo dia 18, às 10h, na Sede, com debate e apresentação cultural do grupo “Netos de Bandim”, da Guiné-Bissau.
A atividade, segundo o coordenador da Comissão, Clayton Willian, o Ronaldinho, trabalhador na Mercedes, visa discutir o aumento de denúncias de casos de racismo no Brasil e a necessidade urgente de uma educação antirracista.
“Vivemos uma explosão de casos de racismo no país que vem numa crescente, as pessoas não têm mais vergonha de ser racistas. E o atual presidente incentiva esse comportamento. Chegamos ao ponto de ver manifestações nazistas escancaradas. Muitos casos vêm à tona porque são gravados, como no futebol, no metrô, em prédios. Mas quantos outros ficam escondidos?”.
Ronaldinho lembrou o caso do ex-deputado Roberto Jefferson que recebeu a polícia a tiros em sua casa e foi tratado com toda dignidade pelos profissionais da segurança, enquanto um homem negro foi morto pela polícia pelo fato de estar sem capacete, no Sergipe. Além de tantos outros casos como o de Rafael Braga, negro, preso em 2013, durante um protesto por portar uma garrafa de desinfetante.
“Precisamos combater esse racismo estrutural. Acredito na educação antirracista como forma de transformação, é preciso promover nas escolas palestras e debates sobre o tema. Além da necessidade da manutenção e ampliação das políticas afirmativas”.
Racismo no trabalho
O coordenador da Comissão relatou uma situação, quando trabalhava em outra empresa, em que não conseguiu subir de cargo por conta do racismo.
“Eu era a pessoa mais experiente e qualificada no setor, mas trouxeram uma pessoa nova de pele branca, olho claro e cabelo liso. Depois tive certeza que não subi de cargo por conta do racismo, o chefe não gostava de preto perto dele. É muito difícil passar por isso, quando tive a oportunidade de uma ascensão social foi me negado pelo tom de pele, é uma luta desigual”.
Resistir para existir
A secretária de combate ao racismo da CUT-SP, Rosana Aparecida da Silva, que participa da atividade no dia 18, destacou a importância do mês da Consciência Negra.
“Somos mais de 50% da população, somos maioria sendo tratados como minoria. Vivemos tempos sombrios com o atual governo. Com a eleição do presidente Lula, vamos voltar a sonhar com tempos de justiça e igualdade, com políticas públicas de saúde, educação e segurança pública”.
“No local de trabalho, temos a pirâmide da desigualdade, homens brancos no topo ganham mais e as mulheres negras na base ganham quase 70% a menos. Resistir para poder existir, a luta é constante no enfrentamento ao racismo”, afirmou.
Além da atividade no Sindicato dia 18, Rosana convida todos e todas para a caminhada no dia 20 de novembro, às 10h, com concentração no vão livre do Masp, em São Paulo.
Casos notificados
Os casos de discriminação racial registrados pela Secretaria de Justiça e Cidadania do estado de São Paulo no 1º semestre de 2022 já superaram o total de casos dos dois anos anteriores.
Nos seis primeiros meses do ano já foram registrados 265 casos de discriminação pelos canais de denúncia da secretaria. O número já é maior do que o total registrado entre 2019 e 2021, quando foram 251 casos.
A secretaria avalia que o aumento de casos aconteceu por algumas razões: a divulgação dos canais de acesso para denúncia e a consciência das pessoas de que racismo é crime e precisa ser denunciado e punido.
O racismo em números
84% dos mortos pela polícia são negros;
77,9% das mortes violentas intencionais (homicídio doloso, latrocínio, lesão corporal seguida de morte) são de homens negros;
67,7% dos policiais civis e militares alvos de mortes violentas também são negros;
62% das vítimas de feminicídio são mulheres negras.
Fonte: 16º Anuário Brasileiro de Segurança Pública