Companheiros na Mercedes, em São Bernardo, já estão mobilizados em defesa do emprego
Os trabalhadores na Mercedes, em São Bernardo, seguem hoje para segundo dia de mobilizações intensas contra as demissões dos 500 companheiros em layoff (suspensão temporária de contrato de trabalho) anunciadas pela montadora na última segunda, dia 25. Uma nova assembleia acontece na portaria central a partir das 9h.
“É essencial a participação de todos. Não podemos aceitar essa política de terror”, declarou o diretor Administrativo do Sindicato, Moisés Selerges. Ontem, 1.500 metalúrgicos cruzaram os braços na área de agregados – eixos, motores e câmbio – após assembleia que ratificou a decisão dos trabalhadores.
“Todos sabem a difícil situação do setor, mas não vamos deixar a empresa dividir os trabalhadores”, destacou Moisés. “Se hoje são estes os trabalhadores ameaçados, amanhã podem ser vocês”, prosseguiu o dirigente se referindo aos metalúrgicos hoje na produção.
A montadora oficializou, por meio de telegramas enviados na última segunda, a demissão de 500 companheiros que estão em layoff há um ano e deveriam retornar dia 15 de junho. O IG Metall, sindicato nacional dos metalúrgicos da Alemanha, apoia o movimento e enviou carta em solidariedade aos trabalhadores. A partir da próxima segunda, 1º de junho, 7.500 trabalhadores ligados a produção entram em férias coletivas, com volta prevista para 16 de junho.
“A empresa quer conduzir este processo como se tivesse razão em agir assim, apresentando as demissoes como a única saída”, afirmou o coordenador geral do CSE na Mercedes, Ângelo Máximo de Oliveira Pinho, o Max. “A categoria é solidária por princípio e trabalhador não vai rifar trabalhador, como quer a Mercedes. Estamos juntos até a vitória”, concluiu o dirigente.
Todos os trabalhadores também devem ocupar amanhã as ruas no entorno do Sindicato, às 8h, pela manutenção dos empregos; adoção da fórmula 85/95, proposta pela CUT como alternativa ao fator previdenciário; pela rejeição do Senado ao Projeto de Lei da Câmara, o PLC 30 [antigo PL 4.330], que precariza as relações de trabalho; e pelo Programa de Proteção ao Emprego, o PPE.
Carta de apoio do IG Metall
O QUE DIZEM OS TRABALHADORES EM LAYOFF
“Em quatro anos de Mercedes, este é o meu terceiro layoff. Acredito que nossa representação vai alcançar mais esta vitória, que é ter nossos empregos de volta. A sensação para quem está vendo essa luta de fora é que a gente não trabalhava o suficiente e merecíamos estar aqui. É exatamente o contrário. Estamos aqui graças a suspensão temporária de contrato de trabalho, que garante os empregos em momentos de crise no setor. Acredito nos Metalúrgicos do ABC. A gente pode ser soldado ferido, mas aqui não tem soldado morto.” Sônia Batista dos Santos, na montagem de caminhão
“O Sindicato está fazendo o que pode, com unidade e organização, e mantém a disposição de luta com o apoio de todos nós para reverter esta situação. Estava cheio de planos e agora estou há 11 meses na incerteza do layoff. Trouxe o meu filho na assembleia para me acompanhar e ele acabou virando um símbolo do movimento, ao identificar que todos nós aqui temos uma família que depende da gente, com contas para pagar, saúde para manter, força e coragem para continuar trabalhando. Queremos nossos empregos de volta.” Rafael Simão, na montagem final
“Depois de 27 anos na montadora, fui presenteado com um layoff há 30 dias e esta semana com um telegrama de demissão em casa. A minha vida inteira me doei para esta empresa e nunca medi esforços para desempenhar um trabalho de qualidade. Moro em Salto, interior paulista, e sempre fiz um trajeto de 260 km por dia, ida e volta, até São Bernardo. Com essa dispensa, cancelei meu fretado e não tenho condições financeiras para estar aqui todos os dias, mas venho mesmo assim. A solução tem que ser debatida em conjunto.” Genival Brito Lima, na montagem de cabina