Compromissos contra a violência
Um balanço do Mutirão, publicado pelo DGABC em 19/06/2002
O Estado não tem cumprido sua obrigação no combate a violência. Foi este o tom de todas as manifestações realizadas no decorrer do Mutirão Contra a Violência, realizado na última sexta-feira por iniciativa de várias entidades do ABC. A sociedade brasileira não admite outras mortes, como a do jornalista Tim Lopes ou de quem quer que seja, por mais pobre e anônima que seja a vítima.
É este o recado das entidades que se mobilizaram na realização deste Mutirão que alcançou cerca de 80 mil pessoas em toda a região. E foram muitas: sindicatos de trabalhadores como o nosso, o dos químicos, dos bancários, da construção civil, das costureiras, Apeoesp, sindicatos patronais como o do comércio varejista, dos contabilistas, a OAB, a Rádio ABC e jornais da região, inclusive este Diário do Grande ABC, associações de moradores e outros grupos populares. Com o esforço de todas estas entidades, cerca de 40 eventos, assembléias, debates em escolas e associações, tribunas livres foram realizados durante todo o dia em todas as sete cidades da região.
Também é preciso mencionar a colaboração dos prefeitos de Diadema, Santo André, Mauá, Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra que se mobilizaram, bem como a atriz Tássia Camargo que se deslocou do Rio de Janeiro, todos reunidos no mesmo esforço de dizer um basta à violência em nossa região. O depoimento do ministro da Justiça, Miguel Reale, presente a uma das mesas do Mutirão ao lado de Dom Décio Pereira, bispo diocesano do ABC, também foi uma contribuição importante ao debate do problema.
Neste balanço, cabe destacar as principais propostas surgidas como alternativas de combate à violência. Grande parte dos pronunciamentos apontou a necessidade de garantir distribuição de renda, escola, bolsa educação, orientação familiar, lazer, cultura, esporte, preparação para uma vida profissional e oferta de emprego para a infância e juventude.
Também não faltaram intervenções apontando a necessidade de mudanças na polícia, construindo instrumentos de cooperação e atuação conjunta das polícias Federal, Militar, Civil, com salários dignos, fim dos bicos e punição aos casos de cumplicidade com o crime e priorização do trabalho preventivo e de investigação. A reforma radical do sistema penitenciário também foi defendida pelos muitos palestrantes que se espalharam pela região.
Entre as iniciativas que estão sendo adotadas na região, vale destacar o projeto do prefeito de Santo André, João Avamileno, de construir até o fim deste ano uma escola de ensino integral para a Vila Luzita e Cata Preta. Com o conceito de atender a criança desde a educação básica fornecendo-lhe a oportunidade de passar o dia todo na escola, com lazer, esporte, formação cultural e de cidadania, o projeto tem potencial para mobilizar o apoio da sociedade, inclusive das empresas e transformar-se em referência de educação para o ABC. A idéia central é que não há outro caminho para disputar a juventude com o narcotráfico e com o crime organizado que não passe pela formação do cidadão desde a infância.
Sementes como esta foram plantadas. Grandes e pequenas, como, por exemplo, a decisão de mobilização permanente adotada por lideranças populares da Vila Luzita, em Santo André. A continuidade está garantida em nova reunião agendada para as 19,30 do próximo dia 16 de julho, na igreja Nossa Senhora do Rosário.
Da nossa parte, enquanto trabalhadores, ficou um compromisso: de continuar trabalhando para ajudar na mobilização da sociedade em torno das bandeiras de paz e justiça social. Para isto, manteremos organizada em nosso Sindicato, sob responsabilidade do nosso Secretário de Organização, Francisco Duarte de Lima, o Alemão, uma comissão encarregada de acompanhar estas ações. Nós temos consciência de que a solução dos problemas do Brasil e da região também passa pelo combate ao crime organizado e ao narcotráfico.