Concessionárias desovam estoques das montadoras
O consumidor brasileiro está cada vez mais ávido por novidades. E para acompanhar esta sede, as montadoras acabam antecipando a chegada dos modelos 2012. Resultado: as linhas do ano vigente acabam lotando os pátios das concessionárias.
Assim como as roupas – que acabam ficando mais baratas na entressafra das estações primavera-verão e outono-inverno – com os automóveis a situação não é diferente. A fim de passar os modelos 2011/2011 para frente, as revendas estão recheadas de promoções.
Esta é a hora de comprar. E, segundo Edimar Vieira de Lima, gerente geral de vendas da concessionária Savol, em Santo André, o grande argumento para desovar o estoque antigo é baixar o preço. “Para valorizar o veículo, negociamos com os bancos taxas especiais de juros, que podem chegar a 1,29% ao mês (a taxa praticada hoje é de 1,57% a.m.)”, diz.
“Além disso, para quem prefere dar o carro usado na troca, a revenda proporciona uma valorização de até 5% acima do preço de tabela”, esclarece Lima. Até o fechamento desta edição, a concessionária tinha apenas duas unidades do Voyage ainda no estoque. Completo, o veículo baixou de R$ 36,9 mil para R$ 35,7 mil. Os descontos para o SpaceFox 2011/2011 chegam a R$ 2.500.
O mesmo acontece na Conshop, também em Santo André. Os descontos, que oscilavam entre R$ 400 e R$ 1.500 (dependendo do modelo), reduziram o estoque em quase 100% nos últimos três meses, contou à equipe do Diário o gerente comercial da revenda, Nilson Simões Pinheiro Júnior. “Modelos como Gol, por exemplo, já acabaram há meses”, enfatiza. Isso denota o sucesso do popular da marca, que vendeu 26.981 só no último mês, conforme apontam os dados da Fenabrave (Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores), mantendo-se no topo do ranking há 24 anos – agora, ameaçado pelo Fiat Uno, que abocanhou o segundo lugar, com 24.264 emplacamentos.
Falando na montadora italiana, o sucesso de vendas da linha desatualizada também é fruto de ações como feirões (o último abrangeu as cidades do Grande ABC no fim de semana), divulgação na mídia, malas-diretas enviadas a clientes e bônus, que podem variar entre R$ 500 e R$ 1.000, dependendo do veículo.
A Sinal de Diadema, por exemplo, está com uma média de 50 modelos 2011/2011 no estoque, entre eles Palio Fire, Linea e Bravo, que têm como principal atrativo a redução da taxa de juros, “Financiados pelo Banco Fiat, a taxa fica em 0,99% ao mês com 50% de entrada. Para clientes que optam por não dar entrada no ato da compra, os juros partem de 1,49% a.m.”, explica o gerente de vendas, Ricardo Mello. E vale lembrar que o 500 (que virá importado do México a partir de setembro, com preço reduzido), não foi encontrado nas revendas consultadas.
De olhos abertos
O fato é que, hoje, o cliente está mais cauteloso em relação à desvalorização e, mesmo com as promoções, prefere esperar pela chegada dos novos modelos.
É o caso do Civic, que passará por mudanças no próximo ano e, mesmo com o preço reduzido em cerca de R$ 8.000 para a versão LXL (que acopla itens da versão topo de linha EXS, como faróis de neblina, ar-condicionado digital e câmera de ré), teve queda nas vendas. “Há consumidores que ainda preferem esperar a versão 2012 para não terem o carro depreciado em questão de meses”, aponta Marcelo Vilas Boas, supervisor de vendas da concessionária Honda André Ribeiro, de São Bernardo.
O mesmo acontece com o Chevrolet Vectra, que, ainda com o futuro incerto (devido à chegada do substituto, o Cruze, até o fim do ano) estacionou na linha 2011 e busca compradores. “Estamos focando em anúncios e redução de taxas, que podem chegar a 0% ao mês, com 50% de entrada e o saldo restante dividido em até 24 vezes”, exemplifica Fabiano Guimarães, supervisor de vendas da Chevrolet Vigorito, em Santo André.
Especialistas dão dicas sobre melhores opções de compra
Segundo Vitor Meizikas Filho, especialista no setor automotivo, o consumidor não deve fugir dos veículos zero-quilômetro que ainda carregam o ano vigente no documento. “A dica é exatamente garimpar estes modelos, pois eles rendem oportunidades de negociação e descontos que podem chegar a até 12% do valor de tabela”, defende.
Meizikas ainda afirma que, com o desconto obtido na hora da compra, além de manter a depreciação estável, em alguns casos o cliente ainda pode pagar um preço inferior ao de carros usados. “O consumidor deve focar nas vantagens oferecidas na hora de fazer negócio, prezando a qualidade e o custo-benefício”, acrescenta.
Para a consultora automobilística Letícia Costa, a tática das concessionárias de aumentar os descontos e diminuir os juros nem sempre é garantia de venda, pois não é possível generalizar a clientela. “Quem compra o primeiro veículo dificilmente foca na desvalorização e acaba abraçando o desconto oferecido pela linha 2011/2011, por outro lado, quem está trocando de carro põe na balança a depreciação e acaba rejeitando modelos do ano decorrente”, ressalta.
“Este assunto é um dilema para as montadoras, pois as versões 2012, ao mesmo tempo em que roubam os clientes da linha atual, trazem na bagagem a euforia da novidade e acabam despertando a necessidade de compra do consumidor”, completa Letícia.
Do Diário do Grande ABC