Conforja, uma vitória definitiva

Trabalhadores receberam todos os direitos trabalhistas da massa falida, fato raro no Brasil


Créditos: Rossana Lana / SMABC

Os metalúrgicos da falida Conforja, em Diadema, receberam integralmente seus direitos trabalhistas. O fato é raro no País em se tratando de uma empresa que quebrou.

A categoria é testemunha de um sem número de empresas quebradas que deixou milhares de companheiros e companheiras na mão.

O engenheiro João Luis Trofino, presidente da Uniforja, central administradora das três cooperativas que assumiram a Conforja há 12 anos, disse que o pagamento integral a todos era a meta inicial na formação das cooperativas.

“Estamos fazendo história. A legislação não consegue fazer as empresas pagarem os trabalhadores. Nosso caso é um marco porque conseguiu honrar os direitos de todos”, comemorou.

Alívio
Para o dirigente, o pagamento tirou um grande peso em cima das costas e o estresse dos cooperados. “Tudo isso é novidade. Abre uma porta não só para a Uniforja, mas para todos os empreendimentos da economia solidária” previu.

Outra conquista, segundo ele, é o pagamento garantir ainda mais respeito e credibilidade à Uniforja. “Afinal partimos do zero e chegamos a um faturamento de R$ 250 milhões em 2008”, prosseguiu.

O pagamento inclui 600 trabalhadores e ex-trabalhadores. Destes, 100 são os cooperados desde o início e continuam em atividade. A média salarial dos cooperados atinge os R$ 2,5 mil mensais. A Uniforja emprega ainda 170 metalúrgicos contratados.

Caso é raro no Brasil
Marcelo Mauad, assessor Jurídico da Unisol, entidade que reúne empreendimentos da economia solidária, diz se tratar de um caso
inédito no País. “Os trabalhadores não só receberam tudo como ainda são donos da fábrica”, comentou.

“É uma referência internacional, iniciativa de sucesso. Prova que os trabalhadores têm capacidade de administrar”, analisou Mauad.

Incentivo
Para o presidente da Unisol, Arildo Mota, a Uniforja incentiva outros empreendimentos. Ele informa que dos 800 empreendimentos filiados a Unisol, 25 são de fábricas em recuperação.

Como foi o processo
A Conforja era uma das maiores forjarias do Brasil e quebrou em 1997 por ineficiência do patrão. O comum seria os trabalhadores ficarem na mão. Mas a história tomou outro rumo.

O Sindicato percebeu a oportunidade de mostrar ao mundo que os trabalhadores têm competência para gerir o próprio negócio e desde o início defendeu a formação da cooperativa.

Parte dos trabalhadores assumiu a proposta e a fábrica foi arrendada por eles. Todo mês depositavam um dinheiro na Justiça pelo arrendamento.

Em 2003 compraram o parque fabril com um empréstimo do BNDES. O dinheiro também foi para a Justiça. Com esse bolo guardado foi paga a primeira parcela dos direitos, cerca de 70%.

Ano passado, a Universidade Federal de São Paulo comprou o prédio da administração e um terreno de 45 mil metros onde ficava o antigo grêmio. Essa grana quitou o restante dos direitos.

Uma vitória pela coragem


Bigode

“Para muitos de nós será um Natal supimpa. 12 anos atrás uma parte dos trabalhadores não botou fé. Hoje, já estamos numa segunda geração de trabalhadores. Nossos filhos estão entrando aqui”, festejou Geraldo dos Santos, o Bigode, torneiro ferramenteiro.

A frase dele traduz o orgulho de todos os fundadores pelo sucesso da luta e do empreendimento.


Epifânio

José Epifânio da Silva, mecânico de manutenção, sempre acreditou no pagamento, pois sabia que tinha uma entidade de peso (o sindicato) ao lado. “Era pegar ou largar a cooperativa, porque não tínhamos nada” confessou.


Nelson

“Fiquei contente. Mas o que me deixou mais contente foi conseguirmos reerguer a fábrica”, salienta Nelson Rosa dos Santos, torneiro mecânico.


Célia

Para Célia Regina de Oliveira, programadora de produção, foi difícil enfrentar a falência. “Se não fosse encarar essa tarefa, dificilmente a fábrica estaria de pé e receberíamos”, emendou.


José

“Quando surgiu a idéia da cooperativa estávamos dispostos a qualquer coisa, menos sair daqui sem o dinheiro”, lembra José Cavalieri coordenador de produção.


Toninho

Antonio Soncella, o Toninho, mecânico de manutenção e membro do CSE, compara o processo da ex-Conforja com outras empresas falidas. “É uma vitória. Não temos noticia de trabalhadores receberam em processos semelhantes”.

Da Redação