Consenso do FMI
A economia mundial está melhor. Passado o pior período da crise, os países desenvolvidos ensaiam uma retomada mais firme. O resultado será benéfico para todos, apesar de ser esperada uma alta dos juros globais. Alguns emergentes terão problemas diante desse cenário, mas estão, em média, mais bem preparados que no passado.
Tal foi o diagnóstico predominante entre acadêmicos, autoridades e banqueiros reunidos em Washington para o encontro anual do Fundo Monetário Internacional.
O FMI estima que a economia mundial crescerá 3,6% em 2014 (contra 2,9% neste ano), com impulso dos EUA e da zona do euro.
Deve facilitar essa recuperação um menor aperto nas contas públicas. No caso americano, por exemplo, a contenção de gastos do governo subtraiu dois pontos percentuais do crescimento em 2013 — impacto que cairá a menos da metade no ano que vem.
Quanto à Europa, o tom dominante foi de alívio. Verdade que permanecem as dificuldades – especialmente o alto desemprego – nos países mais afetados pela crise. Mas a discussão centrou-se na implantação do que já foi decidido: a supervisão bancária comum e o roteiro de liquidação de bancos insolventes, entre outras ações para reforçar as instituições que sustentam a moeda única.
Otimismo à parte, não faltou espaço para debater os principais riscos. O impasse legislativo nos EUA apresentou-se como problema mais óbvio de curto prazo — mesmo que quase ninguém acredite na hipótese de haver, de fato, um calote da dívida americana.
No longo prazo, a principal preocupação diz respeito a eventuais desequilíbrios gerados pela esperada alta das taxas de juros e pelo fim das vultosas injeções de dinheiro na praça, aplicadas por bancos centrais de países desenvolvidos.
Em seu relatório de estabilidade financeira, o FMI mostrou que o fluxo de capitais para os emergentes desde 2008, por exemplo, foi US$ 470 bilhões superior ao que seria normal considerada a tendência histórica. A inversão no rumo dos dólares deverá agravar as dificuldades.
Os bancos centrais da Europa e dos EUA certamente serão cautelosos na extinção dos estímulos -foi o que demonstrou o Fed, aliás, ao adiar no mês passado o início da redução de suas intervenções.
Os emergentes, por sua vez, têm reservas internacionais maiores, taxas de câmbio flutuantes e bancos mais fortes, entre outras diferenças marcantes em relação à década de 1990, repleta de crises.
Nem por isso a transição será trivial. A julgar pelo histórico, problemas de monta em alguns países serão efeito colateral inevitável.
Ressalte-se, porém, que o sucesso ou o fracasso dessa travessia depende primordialmente das decisões domésticas. O Brasil, assim como a maioria dos países, está hoje melhor que no passado. O rumo tomado nos últimos anos, contudo, inspira pouca confiança.
Da Folha de São Paulo