Contra a corrente, BNDES vê investimento de 19% do PIB
Entre outras as razões para o menor impacto da crise sobre parte do investimento, estão as descobertas de petróleo na camada pré-sal, a situação mais sólida da economia brasileira, a recuperação dos investimentos em energia elétrica e as novas tecnologias (3G) no setor de telecomunicações
O Brasil vai repetir, em 2009, a robusta (na comparação com o passado recente) taxa de investimento de 19% do Produto Interno Bruto (PIB) alcançada no ano passado. A projeção é do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e destoa de todas as estimativas feitas por consultorias privadas, departamentos econômicos dos bancos e mesmo pela academia. Para chegar a esta otimista e polêmica conclusão, a Área de Pesquisa Econômica (APE) do banco consultou a própria instituição (e a lista de desembolsos previstos e novos projetos apresentados), os planos estratégicos de grandes empresas (como Petrobras, Vale, CSN, entre outras) e projeções setoriais (como a da construção civil).
Pelas contas do BNDES, a crise vai atrasar em dois anos a conquista de uma taxa de investimento equivalente a 21% do PIB – nível alcançado pela última vez na década de 70. A projeção anterior à quebra do Lehman Brothers em setembro, os gastos em máquinas e equipamentos e também na construção civil e de infraestrutura alcançariam 20,9% do PIB em 2010. Agora, essa projeção foi parar em 2012.
Mesmo com este atraso de dois anos para alcançar a taxa de 21%, o BNDES acredita que 2009 cai repetir 2008. “A taxa de investimento, hoje no Brasil, é mais resiliente do que no passado”, resume Gilberto Rodrigues Borça Junior, um dos autores do estudo do BNDES. Fernando Pimentel Puga, chefe da área de pesquisa econômica e o outro autor do estudo, acrescenta que essa resistência também está baseada em uma mudança na composição do investimento. Nos últimos anos, explica, infraestrutura e petróleo e gás responderam por uma parcela crescente do investimento, enquanto o peso proporcional da indústria (cujos anúncios de projetos de novas fábricas ou de ampliação de unidades existentes impactam mais a opinião pública) encolheu.
Em 2001, 5% do investimento feito no País veio do setor de petróleo e gás. No ano passado, apenas sete anos depois, esse segmento já respondeu por 12% dos desembolsos feitos para criar capacidade de produção no País, participação que em breve vai alcançar 15%. Na mesma comparação, o peso dos investimentos feitos pela indústria recuou de 15,8% do total para 13,7%. E para os próximos anos, diz Puga, petróleo e gás e infraestrutura terão peso crescente em detrimento da indústria. Juntos, os dois segmentos responderão, se forem confirmadas as projeções do BNDES, a quase um terço de tudo que será investido no país para aumentar a capacidade produtiva ou a eficiência da economia em 2012.
Entre outras as razões para o menor impacto da crise sobre parte do investimento, Borça Junior e Puga listam as descobertas de petróleo na camada pré-sal, a situação mais sólida da economia brasileira, a recuperação dos investimentos em energia elétrica após uma definição clara do marco regulatório do setor e as novas tecnologias (3G) no setor de telecomunicações.
“As análises de investimentos costumam ficar muito concentradas na indústria”, critica Puga. Ele admite que muitos setores estão operando com capacidade ociosa superior a 10 pontos percentuais e que isso vai postergar novas decisões de investimento nestes setores. “Mas há muitos projetos que guardam pouca relação com a crise internacional”, argumenta ele. Levantamento feito pelo banco em dezembro (e já divulgado) mostra que entre o antes e o depois da crise, o setor automotivo reduziu seus projetos para o quadriênio 2009-2012 de R$ 35 bilhões para R$ 23 bilhões; a indústria de celulose cortou os planos de R$ 27 bilhões para apenas R$ 9 bilhões, e o setor siderúrgico encolheu seus planos em mais de 50%, passando de planejados R$ 60 bilhões para 24,5 bilhões.
Em 2009, detalham Borça Junior e Puga, o setor elétrico será responsável por um aumento importante do investimento. Pelas contas do BNDES, esse setor respondeu por um investimento equivalente a 2 pontos percentuais do PIB em 2008 e vai elevar essa participação para 2,7 pontos este ano. O incremento virá de uma parte dos R$ 35 bilhões a serem desembolsados na construção de hidrelétricas concedidas nos últimos leilões do setor, mais R$ 10 bilhões em termelétricas e R$ 5 bilhões em pequenas centrais hidrelétricas (PCHs), estes dois últimos tudo em 2009.
Puga e Borça Junior também sustentam que a carteira de projetos do BNDES é outra “garantia” de uma taxa robusta de investimento este ano. Os desembolsos, dizem eles, vão passar de R$ 100 bilhões, sem incluir os R$ 25 bilhões reservados à Petrobras.
Do Valor