Contra deflação, Banco Central Europeu adota juros negativos

O Banco Central Europeu lançou uma série de medidas nesta quinta-feira (5) para combater a inflação baixa e impulsionar a economia da zona do euro.

O banco cortou taxas, adotou juros negativos de 0,1% sobre depósitos “overnight” e ofereceu crédito longo prazo a bancos, de modo a estimular empréstimos para aquecer a economia.

É a primeira vez que o banco implementa uma taxa de depósito negativa. Na prática, a instituição cobrará juros, de 0,10%, dos bancos que depositarem recursos no banco central de um dia para o outro (o “overnight”). Até então, o BCE pagava juros para os bancos que fizessem a operação.

Além disso, as principais taxas do BCE foram cortadas para valores mais baixos já vistos. A principal taxa de refinanciamento caiu para 0,15%, e a taxa de empréstimo, para 0,40%.

Previamente, o BCE já havia baixado sua taxa de juros para o mínimo histórico de 0,15%.

O esforço para estimular os bancos a emprestarem dinheiro a empresas e famílias, injetando recursos na economia, visa combater o risco de deflação e diminuir a taxa de câmbio do euro.

O cenário, combinado a uma atividade fraca de empréstimos na zona do euro, ameaça arrastar o bloco a uma difícil situação econômica.

O BCE vai oferecer neste ano duas operações de crédito barato aos bancos, totalizando 400 bilhões de euros (US$ 544,86 bilhões), condicionadas a que as instituições concedam empréstimos a empresas e famílias.

A linha oferecida pelo BCE vence em quatro anos. A primeira operação será em setembro, e a segunda, em dezembro.

O pacote, aprovado de forma unânime, foi direcionado para aumentar os empréstimos à “economia real”, disse o presidente do BCE, Mario Draghi.

Outras medidas incluem a ampliação da duração de liquidez barata e ilimitada para bancos da zona do euro, injetando cerca de 170 bilhões de euros ao parar ofertas que retiravam fundos gastos em compras de ativos governamentais anteriores.

Assim, o BCE se prepara para possíveis compras futuras de títulos lastreados em ativos para apoiar as pequenas empresas.

Inflação baixa

“Agora estamos em um mundo completamente diferente”, disse Draghi, citando “inflação baixa, recuperação fraca e dinâmicas monetárias e de crédito fracas”.

As projeções publicadas pelo BCE mostraram que a inflação será de apenas 0,7% neste ano. Para 2015, espera 1,1%, e para o ano seguinte, 1,4%, uma revisão para baixo e muito longe da meta, próxima de 2%.

Em termos de crescimento, as projeções apontam a zona do euro crescendo 1,8% em 2016, após 1,7% em 2015 e 1% neste ano. Isso marcou uma revisão levemente para baixo à sua projeção anterior para 2014, mas uma estimativa revisada para cima sobre 2015.

As novas projeções de médio prazo da equipe do banco são mais baixas do que as publicadas em março, quando a projeção era de 1,5% para 2016.

“Se necessário, vamos agir rapidamente com mais afrouxamento da política monetária”, disse Draghi, acrescentando que o conselho do órgão, que define as políticas, foi unânime em seu compromisso de usar instrumentos não convencionais se necessário “para tratar ainda mais dos riscos de um período prolongado demais de inflação baixa”.

Questionado sobre quanto tempo demorará para que as medidas cheguem à economia, ele disse: “O mais provável é que vejamos efeitos imediatos nos mercados monetários e que vejamos efeitos defasados na economia real atribuíveis à este programa. Provavelmente isso levará de três a quatro trimestres”.

Draghi disse que as taxas de juros vão permanecer baixas por um período prolongado “em vista de nossas perspectivas de inflação”. Após o corte de hoje, no entanto, ele omitiu uma fala anteriormente regular de que elas podem ser reduzidas ainda mais.

Decisão esperada

A decisão de cortar os juros do depósito era amplamente esperada depois de Draghi dizer, no mês passado, que o conselho estava “confortável em agir da próxima vez”, mas que primeiro queria ver projeções econômicas atualizadas da equipe do banco.

“Este é um corte de juros pequeno –um ajuste à postura de política”, disse Richard Barwell, economista do RBS.

Em março, as projeções mostraram que levaria dois anos e meio para que a inflação chegasse perto da meta do BCE. Uma perspectiva mais fraca dará sustentação a ações mais robustas do Banco Central Europeu.

Com informações da Folha de São Paulo