´Contra nós vale tudo´, critica assessor de Lula sobre preconceito contra Marta
Gilberto Carvalho afirma ser absurda repercussão sobre estado civil de Kassab, lembra que a candidata petista já teve sua separação explorada à exaustão e que PT quer que eleitor conheça candidatos em todas as suas dimensões; imprensa
Em entrevista publicada nesta quarta-feira no jornal Folha de S.Paulo, o chefe-de-gabinete do presidente Lula , Gilberto Carvalho, que está na campanha da candidata Marta Suplicty à Prefeitura de São Paulo declarou que o PT continuará a mostrar a história do prefeito Gilberto Kassab “em todas as suas dimensões, pessoais e políticas”.
Carvalho afirma ter considerado “absurda” a repercussão na imprensa sobre o comercial do PT que faz alusão ao fato de Kassab (DEM, ex-PFL) não ser casado e não ter filhos e questiona a declaração do prefeito insinuando ligação de Marta com o mensalão, já que ela trabalhou com a mulher de Delúbio Soares (ex-tesoureiro do PT), Mônica Valente.
“Isso é que é preconceito.” Carvalho confirmou a última participação de Lula na campanha de Marta -uma reunião com movimentos sociais na Casa de Portugal (centro), no sábado.
FOLHA – O comercial com indagações sobre a vida privada de Gilberto Kassab foi um deslize?
GILBERTO CARVALHO – Eu não chego a achar que é um deslize não. Na verdade, acho que houve um superdimensionamento na interpretação. Nós sabemos muito bem o que que é a devassa da vida privada. Nada a ver com o que aconteceu com o Kassab, ninguém fez nenhuma acusação a ele. É muito pior a atitude que o Kassab teve no debate, em que ele acusa a Marta falando da Mônica Valente. Quem é Mônica Valente? É uma cidadã contra a qual não há uma única acusação, salvo o fato de ser esposa do Delúbio [Soares]. Isso é que é preconceito. Verbal, nem é da propaganda, é dita pelo candidato. Acho estranho que a imprensa não ter registrado isso. Contra nós vale tudo. E quando ousamos levantar uma pergunta, que é uma pergunta natural, se faz esse escarcéu.
FOLHA – Há exagero então?
CARVALHO – Absoluto, absurdo. Absurdo. Tanto que as pessoas com quem tenho conversado, do povo, nem sequer se dão conta de que tem alguma a ver com o Kassab.
FOLHA – Mas não há uma alusão a homossexualismo?
CARVALHO – Eu não conversei com o João Santana [marqueteiro da campanha] sobre isso. Não tenho como te dizer. Primeiro, li na imprensa. Chegando aqui fui ver o comercial. E fiquei assustado com a interpretação que se deu na imprensa, fiquei meio que impressionado. Quando se bisbilhotou a vida da Marta do jeito que se fez, nunca vi a indignação que se viu hoje, inclusive em seu jornal. Mas, no que depender da coordenação da campanha, hoje que estou me inteirando, esse assunto é página virada. O comercial tinha sido programado para ter dois dias de duração. Teve. Hoje [ontem] entraram outros. Agora, nós vamos sim continuar na campanha convidando a população a conhecer melhor os dois candidatos. Em todas as suas dimensões, pessoais e políticas. Entendemos que quando você entra na vida pública sua vida fica exposta, evidente, é muito difícil a distinção entre o privado e o público. Eu trabalho ao lado de uma pessoa cuja vida é devassada diariamente, que é o presidente Lula.
FOLHA – O sr. fala em dimensão pessoal e política.
CARVALHO – Claro, é natural. É natural que você saiba o que a Marta faz, com quem ela… com quem ela… Está exposta a vida da Marta. Foi importante, aparentemente, na última eleição.
FOLHA – O fato de ela ter se separado, casado de novo?
CARVALHO – Isso foi explorado à saciedade, e nós nunca nos insurgimos. Quando você entra na vida política, pública, você sabe que está sujeito a isso. A gente não apóia a exploração, mas é um pouco do ônus nosso.
Da Folha de S.Paulo