Cooperados da Uniforja inauguram biblioteca

Cooperativa de trabalhadores em Diadema é mais uma a receber o projeto Leitura nas Fábricas

Junto a gigantes anéis, flanges e conexões, os trabalhadores da Uniforja começam a conviver com com livros de Lima Barreto, José de Alencar, Rachel de Queiros, Guimarães Rosa, Cecilia Meireles, Raquel de Queiroz e outros gigantes da literatura.

Isso porque a  cooperativa de trabalhadores em Diadema é a quinta na cidade a receber o Leitura nas Fábricas, projeto que visa a instalação de bibliotecas nos locais de trabalho e incentivar o hábito da leitura.

“É uma vitória porque nosso sistema educacional acha que nós trabalhadores não temos de ter cultura”, comemora Antonio Aparecido Soncella, o Toninho, membro do Comitê Sindical.

Vitória, para Toninho, tem também o significado de somar o espaço a tantas outras conquistas daqueles trabalhadores que lutaram muito para transformar uma fábrica falida num exemplo de autogestão.

A Uniforja é uma central que administra três cooperativas de trabalhadores, formadas após a falência da antiga Conforja, em 1997. Na época, todos eles ficaram na mão sem receber nada e as cooperativas foram a alternativa para manter trabalho e renda.

João Luís Trofino, presidente da Uniforja afirma que o Ponto de Leitura é mais um instrumento para o esforço de formação dos metalúrgicos. “Por sermos um empreendimento de autogestão, temos de fortalecer a formação e cultura da autogestão e a biblioteca vem ao encontro desse objetivo”, observou.
Escolhido com o agente de leitura, o auxiliar administrativo Rodrigo Ferreira, acredita que tem uma responsabilidade redobrada na nova função. “Por eu ser um cooperado o trabalho é maior porque terei de incentivar a leitura a outros cooperados como eu”, antevê.

Acesso
Eliana Marques, diretora de Bibliotecas de Diadema, vê no Ponto de Leitura inaugurado na Uniforja como o mais próximo da comunidade dos já abertos até agora. “Por ser uma cooperativa, acredito que a Uniforja tenha essa compreensão e rapidamente abra o acesso para as pessoas de fora”, comentou.

O coordenador da Regional Diadema do Sindicato, David Carvalho, reforçou a ideia de Eliana ao constatar que o índice de acesso à leitura de livros no Brasil é limitado pelo custo do livros. “Mas acho que o baixo índice de leitura não reflete na vontade das pessoas que querem ler um livro”, emendou.

Conheça o programa
O Leitura nas Fábricas é uma atividade que leva o mundo da literatura aos trabalhadores.  A iniciativa pioneira no país é resultado da parceria entre a Prefeitura de Diadema e o Ministério da Cultura e conta com o envolvimento de sindicatos de trabalhadores e empresas. As primeiras indústrias cadastradas foram encaminhadas ao projeto por meio do nosso. Os Sindicatos dos Químicos do ABC e Construção Civil também participam.

O primeiro ponto começou a funcionar no dia 28 de julho dentro da  IGP. Ao todo, dez fábricas já aderiram ao programa nesta primeira etapa.

Para a realização do Leitura nas Fábricas foram investidos cerca de R$ 200 mil, recursos vindos do Ministério da Cultura. A Prefeitura, por sua vez, cuida da implantação e acompanhamento do programa, o que significa, entre outras coisas, a formação dos agentes de leitura, que são indicados entre os trabalhadores.

Para montar o espaço de leitura cada fábrica recebeu um kit com cerca de 650 livros, duas estantes, uma mesa, uma cadeira, três puffs, um computador completo e uma impressora. O acervo é formado de literatura brasileira, estrangeira, infantil e juvenil, além de DVDs, livros didáticos e enciclopédias.

Os pontos de leitura já foram implantados nas empresas IGP, Legas Metal, Uniferco e Delga. Outras empresas que aderiram à iniciativa  e estão para receber os kits são: Apis Delta, Autometal, Grupo Papaiz, Uniforja, TRW e Metalpart. A expectativa é que até o final do ano todas as dez salas de leitura estejam em funcionamento e que mais de 20 mil pessoas, entre trabalhadores e familiares, sejam atendidas pelo programa.

O Sindicato conseguiu outros 25 kits do Ministério da Cultura para trabalhadores de outras cidades.

Da Redação