Copa do mundo: Em campo, a esperança dos trabalhadores

Metalúrgicos do ABC sofrem e vibram com o jogo de estreia que acompanharam em telões na Sede e na TRW, em Diadema. Eles também criticaram o desempenho da seleção.

Nos telões metalúrgicos sofrem e vibram

Seleção pena, mas estreia com vitória
O Brasil estreou na Copa do Mundo vencendo a Coreia do Norte por 2×1 no sufoco.

O time iniciou o jogo amarrado, preso na marcação dos asiáticos. Só furou o bloqueio aos 10 minutos do segundo tempo com um chute sem ângulo de Maicon.

A equipe melhorou, mas o jogo continuou travado.

Aos 25, Elano concluiu bela jogada de Robinho e fez o segundo gol.

A seleção ficou mais aliviada e passou a jogar mais solta. Mas vacilou. Aos 43 os norte-coreanos marcaram com Yun Nam, numa bobeira geral da defesa.

O próximo confronto será contra a Costa do Marfim do atacante Drogba, no domingo, às 15h30, no estádio Soccer City, em Johanesburgo.

Produção parada e torcida animada na TRW
A animação da torcida no refeitório da TRW em Diadema era para um grande espetáculo. Calorosa, vibrante e barulhenta. Com o decorrer do jogo, o placar de zero a zero e as poucas jogadas ofensivas da seleção brasileira a animação foi se perdendo e o silêncio se instalando.

“A Coreia está perdendo o respeito”, disse um trabalhador.

“Se não fizer um gol logo, a situação complica” respondeu outro.

No intervalo, os comentários esperavam por um outro jogo, de uma seleção mais ofensiva e produtiva.

“Foi um primeiro tempo morno, espero mais jogadas individuais” comentou Roseli Amélia Leôncio.

“Início de Copa é sempre assim, nervoso”, respondeu Antonio Carlos Pequim.

Perguntada sobre o que faltou naquele primeiro período, Sueli Barbosa dos Santos foi na lata: “Gols”.

Repeteco – Início do segundo tempo, a animação é retomada pela torcida e a expectativa de um jogo à altura da nossa tradição.

Pouca coisa muda nos momentos iniciais e o pessimismo quase volta a abater.

“O Brasil nunca foi eliminado na primeira fase”, adianta um metalúrgico.

“Não empata, não” grita outro no fundo do refeitório.

Aos 10 minutos do segundo tempo, primeiro gol do Brasil, início de um jogo melhor e de mais ânimo na torcida.

“Olha que golaço”, vibra um trabalhador ao parar para ver a repetição do gol de Maicon.

Dali pra frente, a cada bola que passava do meio de campo, o pessoal na TRW encarnava uma outra torcida, mais alegre e mais confiante.

Nos dois a zero, aquele grito que todos tinham a certeza de soltar pela segunda vez e, assim por diante, apoiando o técnico nas substituições.

Mesmo o gol da Coreia, para aquela torcida, não representou um risco para o resultado final.

Depois do jogo, uma outra peleja. Todo mundo estava convocado para voltar ao trabalho.

Na partida da sexta-feira da semana que vem contra Portugal será a vez da companheirada no turno da manhã ver o jogo na fábrica.

Muita torcida na Sede
Famílias e grupos de amigos torceram na Sede vestidos de verde e amarelo, com suas cornetas e vuvuzelas.

Acompanhe seus palpites para o jogo e veja quem acertou:
“Marquei 3×0 para o Brasil no bolão lá da fábrica”, comentou Jefferson Zanuto, ferramenteiro na Volks, que assistiu à partida com três companheiros na montadora.

João Maia, metalúrgico na Mercedes, levou a companheira Maria Elisabete e o filho João Vitor. Apostava em goleada. “Vai ser uns 4×0”, disse.

Antônio Batista, trabalhador na mesma empresa, esteve na Sede com a companheira, os filhos e os sobrinhos. “Não passa de 1×0. O jogo tá difícil”, afirmou no intervalo da partida.

Cícero Mariano da Silva, desempregado, foi o único que acertou. “Vai ser 2×1”, previu antes do jogo. No final, ele vibrava. “Não disse? Acertei em cheio!”.

Como eles analisam a seleção
“O Brasil foi bem superior. O importante é que ganhou”.
Antonio Carlos Pequim

“A Coreia facilitou muito para o Brasil e o time poderia ter jogado melhor”.
Maria Aparecida

“Melhorou no segundo tempo em relação ao primeiro, mas ainda não apresentou futebol
produtivo”.
Edson José Barbosa

“O time foi melhor no segundo tempo, mas apresentou um futebol burocrático”.
Fábio Morales do Nascimento