Copom eleva taxa de juros a 13,25%. Selic completa três anos com um patamar acima de dois dígitos

Metalúrgicos do ABC alertam categoria contra índice e que não há justificativa para uma taxa tão alta, já que a inflação do Brasil não é a mesma da Argentina

Foto: Adonis Guerra

A taxa básica de juros brasileira, a Selic, completou em fevereiro três anos em um patamar acima de dois dígitos. Na última reunião, em 29 de janeiro, o Copom (Comitê de Política Monetária) elevou o índice novamente em um ponto percentual, ou seja, chegou a 13,25%. Este foi o quarto ajuste consecutivo e a autarquia já prometeu um novo aumento na mesma magnitude à reunião que acontece nos dias 18 e 19 de março. 

O presidente dos Metalúrgicos do ABC, Moisés Selerges, alerta que toda vez que começa o ano, o Sindicato projeta as lutas que terá no decorrer do período. “E em 2025 não será diferente. Estou me convencendo que o problema não é nem matar um leão por dia, o problema são as antas que aparecem no caminho”, falou o dirigente em alusão à figura do Banco Central que, novamente, manteve a alta dos juros no país.

“A quem interessa esse aumento de juros? A quem interessa uma taxa tão grande a esse patamar? Os primeiros que ganham são aqueles que não produzem nada, que é o pessoal do mercado, da tal da Faria Lima. Essas pessoas são as que ganham. Aliás, são as únicas que ganham porque, se olharmos, o resto só perde. É difícil ter um investimento com essa taxa, os preços crescem e os mais pobres são os que pagam por isso”.

Moisés lembrou ainda que não há justificativa para uma taxa tão alta, já que a inflação do Brasil não é a mesma da Argentina. “A inflação da Argentina é um exemplo extremo de descontrole econômico, com efeitos devastadores para a população. O governo imprimiu muito dinheiro sem lastro, houve perda de confiança na moeda [o Peso argentino] e uma crise econômica profunda. Além disso, a dívida pública elevada e o déficit fiscal constante agravam a situação”.

Na Argentina

Em 2023, a inflação no país vizinho chegou a 211,4%, uma das mais altas do mundo. Isso significa que, em média, os preços mais que triplicaram em um ano. No mesmo período, no Brasil foi 4,62%, um nível relativamente controlado. “Precisamos nos mobilizar para demonstrar o nosso descontentamento. A taxa de juros inviabiliza um futuro melhor para nós e para os nossos filhos. Esse Sindicato não vai se calar diante de uma alta exorbitante que vem sendo praticada pelo Banco Central. Vamos à luta!”.

Em 2024, a Argentina registrou uma taxa de inflação anual de 117,8%, uma redução significativa em relação aos 211,4% observados em 2023. Para combater a inflação galopante, o governo do presidente Javier Milei implementou medidas de austeridade fiscal e monetária, conhecidas como ‘Plano Motosserra’. Essas ações incluíram cortes drásticos nos gastos públicos e desregulamentações econômicas.

No entanto, essas políticas tiveram consequências sociais significativas. A taxa de pobreza aumentou de 41,7% no segundo semestre de 2023 para 52,9% no primeiro semestre de 2024, afetando mais da metade da população argentina. “A combinação de inflação elevada e cortes nos gastos públicos resultou na redução do poder de compra dos salários e aposentadorias, agravando a situação econômica das camadas mais vulneráveis da sociedade”.