Cresce a troca de emprego no período de experiência

Segundo especialistas, saídas antes do término do contrato de experiência se devem ao aquecimento econômico que favorece busca por vagas mellhores

Em 2010, quase 168 mil trabalhadores da região metropolitana de São Paulo não chegaram a completar o período de três meses de experiência na vaga. Saíram antes. O número representa aumento de 22,15% em relação ao mesmo período do ano passado e é o mais alto da década.

A estatística, à primeira vista, pode causar estranhamento. Afinal, o mercado de trabalho anda aquecido, as empresas já reclamam de falta de mão de obra qualificada, os salários estão em alta e o nível de desemprego na Grande São Paulo (7,8%) está próximo dos patamares mais baixos da história. Seria natural então supor que não há razões para a dispensa dos trabalhadores.

“Mas quando a economia está aquecida, a rotatividade dos trabalhadores, que já é muito alta, sempre cresce”, diz José Dari Krein, professor de Emprego e Renda da faculdade de Economia da Unicamp. “Esse aumento se justifica, em parte, pela estratégia das empresas de adotarem uma contratação formal em vez de optarem pela criação de vagas temporárias, que requerem um procedimento mais burocrático”, opina.

O modelo formal é menos complexo, explica Krein, porque não envolve por exemplo a necessidade de negociação sindical e nem requer que a empresa esteja em dia com as contas da Previdência. “Em funções que requerem pouca qualificação, pode ser vantajoso para empresa fazer um contrato formal e trocar de funcionário ao fim do período de experiência, se necessário. Ela não vai ter prejuízo, porque não precisará pagar nem aviso prévio nem rescisão contratual”, diz Krein.

Porém, a principal razão apontada pelos especialistas para o crescimento do número de pessoas que não ultrapassam os três meses de experiência no emprego é extremamente positiva – para os trabalhadores. Os empregados estariam abandonando as vagas precocemente por encontrarem oportunidades melhores.

“Com o mercado muito aquecido, o trabalhador sai em vantagem, pois fica com mais chances de escolher. Não precisa aceitar o que aparece”, afirma Márcia Pedroza, professora da disciplina de Emprego da PUC-SP. “Assim, se ele é chamado para uma vaga com um salário melhor, por exemplo, ele abandona o emprego atual mesmo que tenha sido contratado recentemente.”

A professora ressalta que, quando está procurando emprego, é natural que o trabalhador contate várias empresas, distribua currículos. “As respostas dos empregadores podem vir em momentos diferentes. Só nessa hora então o funcionário pode decidir se fica ou não onde está”, comenta.

Para Sérgio Amad, professor de Relações Trabalhistas da FGV-SP, o fenômeno atual é positivo para os trabalhadores apenas no curto prazo. “Enquanto o mercado estiver aquecido, o número de trabalhadores que deixa o emprego por outro melhor deve continuar crescendo. Mas, lá na frente, isso pode ser complicado para a economia, pois gera insegurança e instabilidade nas relações trabalhistas.”

O professor lembra que trocar de vaga antes mesmo de cumprir o período de experiência na função pode depor contra o trabalhador numa próxima entrevista de emprego. “Mesmo assim, o empregado deve aceitar a oportunidade que for melhor para ele”, salienta Amad. “Depois, quando chegar à próxima entrevista, aí ele pode explicar quais foram as razões que o levaram a aceitar a outra vaga.”

Transparência
Na opinião de Amad, o que conta nessa hora é a honestidade do trabalhador. “Ele deve sempre jogar limpo com o empregador, expondo suas motivações, agradecendo a oportunidade e sempre preservando a ética nas relações”, aconselha o professor.

“Mas é sempre importante lembrar que o período de experiência não serve apenas para que a empresa avalie se o funcionário tem o perfil adequado para executar aquela função.

Esse tempo é também do trabalhador, que pode usá-lo para saber se a empresa atende às suas expectativas e se é mesmo o emprego que ele gostaria”, diz Amad. “É um teste para os dois lados.”

Da redação com JT