Cresce apoio a semana de trabalho de quatro dias, aponta pesquisa

Redução da jornada de trabalho sem perda salarial abre espaço para novas contratações, melhora produtividade dos trabalhadores e reduz adoecimentos

Foto: Divulgação

Mais de 80% dos trabalhadores concordam que a jornada de trabalho poderia ser cumprida em quatro dias na semana e não em cinco. Esse é o resultado de uma pesquisa do portal de vagas Emprego.com.br. A proposta de redução traz em seu escopo a importância da qualidade de vida do trabalhador, avalia o secretário de Relações do Trabalho da CUT, Ari Aloraldodo Nascimento.

“Algumas categorias, trabalham sábado e domingo e ficam aguardando a boa vontade, vamos dizer assim, do empresário para ter uma folga em um dia da semana. O que está de certa forma muito embutido nisso (de redução da jornada) é a qualidade de vida do trabalhador. Ou seja, ele ter tempo para lazer e para a sua família. Então a qualidade de vida é um dos principais pontos quando a gente discute a redução da jornada de trabalho”, observa ao repórter Jô Miyagui, do Seu Jornal, da TVT.

Há países da Europa que já adotam semana de quatro dias ou outras formas de redução da jornada. E outros, como Portugal, e também a Nova Zelândia, na Oceania, debatem o tema. Mas, por aqui, ainda são poucas as empresas que apoiam – apenas 5%, diz a pesquisa. No entanto, experiências de adoção dessa medida apontam que resultados obtidos com a redução da jornada, como profissionais mais produtivos e menos doentes, também beneficiam o empregador.

Experiência em São Paulo

Um desses casos está no município de Rio das Pedras, interior de São Paulo, onde a empresa Solpack Agronet reduziu a jornada de oito para seis horas diárias, sem cortar os salários. Em contrapartida, a companhia obteve 25% de aumento na produtividade.

O pesquisador Marcelo Manzano, do Instituto de Economia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), destaca que a redução da jornada “é fundamental sob diversas óticas”, inclusive para o empresariado.

“A Europa tem um movimento grande atualmente de ‘a sexta será o novo sábado’, com vários países tentando esse modelo. Então você elimina um dia de funcionamento das empresas, de atividades produtivas. O que significa uma redução de custos indiretos, redução de custos de aluguel, de eletricidade, redução de custos de transporte para as pessoas se deslocarem. As cidades ficariam mais aliviadas, menos sobrecarregadas, porque as pessoas se revezariam em horários diferentes para ir trabalhar. Quer dizer, essa redução da jornada é fundamental”, defende.

Bom para todos

A avaliação é que a economia como um todo pode sair ganhando com a redução da jornada de trabalho. Pode haver contratação de mais empregados e a economia tende a ficar mais aquecida pela circulação de dinheiro e demanda de produtos e serviços. “Eventualmente, um trabalhador que reduz a sua jornada de 40 horas semanais para 30, talvez a empresa se sinta estimulada para contratar um outro para essas 10 horas a menos que estão sendo realizadas. Trabalhar menos para que trabalhem todos. Se todo mundo trabalhar menos horas por semana, vai haver emprego para mais gente”, sugere o economista.

Não é nova, contudo, a ideia de redução da jornada de trabalho sem corte de salários. As centrais sindicais querem agora aproveitar que o próximo governo, recém-eleito, de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), é mais atento às demandas dos trabalhadores, para discutir as prioridades do mundo trabalhista, inclusive a redução da jornada laboral ou a semana de quatro dias. De acordo com o dirigente da CUT, as entidades preparam um documento unitário ao futuro presidente com as propostas.

“Tem vários pontos que foram duramente atacados nas reformas, tanto a da Previdência, como a trabalhista, com a reforma sindical, a terceirização na atividade fim. Então, esse debate vem sendo construído dentro das centrais para apresentar ao novo governo vários pontos, inclusive sobre esse ponto (da redução da jornada) que está combinado com a redução do desemprego”, ressalta Ari Nascimento.

Da CUT Nacional