Cresce pressão para corte de até 2 pontos da Selic
Reunião do Copom que define o índice da taxa de juros termina nesta quarta-feira (11)
A retração de 3,6% do Produto Interno Bruto (PIB) no quarto trimestre de 2008 aumentou a pressão pela derrubada da taxa básica dos juros (Selic). O clamor inclui até alguns economistas tidos como conservadores, como o ex-presidente do Banco Central (BC) Affonso Celso Pastore. Muitos defendem cortes de 1 a 2 pontos porcentuais na Selic – que hoje está em 12,75% – na reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) que termina nesta quarta-feira (11).
“Como a atividade está fraca, o BC deveria cortar os juros em 2 pontos porcentuais. Mas isso não deve ocorrer porque o BC diria que tal medida é politicamente incorreta. Mas, se o Copom diminuir a Selic em 1,5 ponto porcentual, mando rezar uma missa ecumênica”, disse o ex-ministro da Fazenda Delfim Netto. Na avaliação dele, a retração do PIB mostra que os efeitos da crise mundial são “piores do que se imaginava”.
Para o ex-ministro, o recuo da economia foi tão forte que deve provocar um “efeito carregamento” (carry-over) de -1,5% para o PIB em 2009. “É uma herança muito ruim, que nos levará a ter a necessidade de crescer o máximo possível nos próximos trimestres para atingir uma taxa razoável neste ano em meio à forte recessão mundial.”
Ex-diretor do BC e hoje economista-chefe do banco Santander, Alexandre Schwartsman, prevê um corte de 1,5 ponto na taxa Selic. “É difícil fazer diferente.” Integrante do grupo mais conservador da primeira equipe de Henrique Meirelles no BC, Schwartzman considera defensável um corte mais agressivo da Selic, dada a conjuntura de forte desaceleração da economia brasileira.
Apesar de considerar aceitável uma política monetária mais agressiva neste momento, Schwartsman alertou para o fato de que, historicamente, a demanda interna responde em cerca de dois trimestres à queda nos juros, e destacou que a taxa real, com base nos juros de mercado, já vem caindo e hoje está abaixo de 6%. Esse efeito dos juros em queda na demanda interna, explicou, pode levar a um aumento importante nas importações no segundo semestre que, em um ambiente de desempenho fraco das exportações, deve levar a uma desvalorização adicional do câmbio. Ele calcula que o dólar deve fechar o ano na casa de R$ 2,60.
O ex-presidente do Banco Central Afonso Celso Pastore também defende um corte expressivo, de 1,5 ponto. “Se o BC acelerar desse jeito, ele não estará cedendo à pressão política, mas simplesmente fazendo a coisa tecnicamente correta”, disse, em entrevista publicada ontem no Estado.
Para a economista-chefe da Rosenberg & Associados, Thaís Marzola Zara, a queda no nível da atividade justifica uma política monetária mais agressiva. “O Brasil está e continuará sendo afetado pela crise mundial e, como mostra o PIB do quarto trimestre, houve uma ruptura na atividade econômica e o PIB de 2009 pode beirar o zero.” Para ela, o superávit primário será afetado pela perda de arrecadação. “Isso reduz o espaço da política fiscal como propulsor da economia. Resta à política monetária ser mais agressiva.”
Da Agência Estado