Crescimento gerou riqueza e também problemas

A instalação das montadoras a partir da década de 1950 e a consolidação de um grande parque industrial foram o estopim da explosão populacional no ABC. A região que, em 1945, tinha 90 mil moradores, passou a abrigar mais de 2 milhões de pessoas no início da década de 1990.
Foi assim que o ABC, com o crescimento industrial e a expansão populacional, comprovou a teoria da “popularização”, do economista inglês Harry Ward Richardson.

Para ele, a popularização resulta, num primeiro momento, numa série de benefícios em termos de competitividade em relação a outras regiões, como a aproximação de fornecedores, mercado consumidor, oferta de mão-de-obra e menores custo de transporte.
Mas, por outro lado, no médio e longo prazos, os problemas econômicos e sociais começam a surgir.

Com o crescimento desordenado do ABC, o poder público não conseguiu atender as demandas do crescente aumento da população. As periferias incharam, apresentando problemas de toda ordem que persistem e se agravam.


Crescimento sem política habitacional gerou uma periferia populosa, sem infraestrutura básica

Sufoco puxa reação social

Foi exatamente essa crise que impulsionou alguns atores sociais, liderados pelo então prefeito de Santo André, Celso Daniel, a constituírem, em 1991, o Consórcio Municipal do ABC, que reúne as sete prefeituras; e, anos mais tarde, a Câmara Regional do ABC e o Fórum de Cidadania, que reúnem a sociedade civil.

“O objetivo destes organismos foi discutir a regionalidade, ou seja, problemas e saídas em comum”, lembrou Carlos Alberto Grana, presidente da CNM-CUT. Nessa hora, abriu-se a lacuna para uma nova forma de organização e atuação dos trabalhadores, que assumiram o desafio de discutir a reestruturação. É daqui por diante que a nossa história continua na próxima edição.


Recessão e desemprego provocaram a criação de entidades regionais
para debater saídas para a crise

Globalização, abertura econômica, reestruturação e guerra fiscal. O ABC em xeque

Na década de 1990, o Brasil entrou num período de forte queda da taxa de investimento e de expansão do desemprego. Junto a isso, o País convivia com a ausência de uma política industrial.

As contradições na história do ABC continuaram até mesmo no momento de crise. A região vivenciou a reestruturação industrial, com desnacionalização do capital, a desativação ou fusão de várias fábricas e a redução de cerca de 50% dos postos de trabalho em nossa categoria.
Outro aspecto da a-bertura econômica foi a pressão para as empresas aumentarem a competitividade, com redução de preços e aumento na qualidade do produto final.

Mais problema

Este cenário foi perfeito para o surgimento da chamada guerra fiscal, na qual os Estados brigavam por meio de incentivos em impostos e concessão de créditos, doação de terrenos e obras de infra-estrutura. Os investimentos do setor automotivo

foram o maior objeto em disputa nessa guerra.
Para piorar, as montadoras estimularam o conflito entre regiões, pois consideravam a imposição ou a negociação de contrapartidas aos trabalhadores ou à sociedade como ponto negativo.