Criador da Tribuna conta a história do jornal

 

Raquel Camargo / SMABC

O criador da Tribuna Metalúrgica, Antonio Carlos Félix Nunes (foto), foi convidado a trabalhar no Sindicato em 1971, quando já respondia por 12 publicações sindicais diferentes. No começo recusou por achar que não daria conta do recado. Hoje, sente-se orgulhoso da experiência, como conta na entrevista abaixo:

Como foi o iní­cio do jornal?
Levei um susto quando cheguei por­que não existia nada, nem nome o jornal tinha. Bolei Tribuna Metalúrgica e ficou.

E depois?
O pessoal pergun­tou: como se faz um jornal? Falei que preci­savam me trazer infor­mações e eles foram atrás. Não acontecia muita coisa, os traba­lhadores estavam tolhi­dos pela ditadura mili­tar, mas era suficiente para montar o jornal.

A categoria acei­tou bem a novidade?
Ao contrário. A diretoria entregava a Tribuna nas portas das fábricas e os trabalha­dores rasgavam o jor­nal, jogavam fora. Eles achavam que era coisa do governo e não que­riam saber.

Aí surgiu o João Ferrador?
Isso. Criei o per­sonagem para manter contato direto com o metalúrgico falando a linguagem dele. Como o João Fer­rador criticava o go­verno, não havia mais confusão. Seus bilhetes passaram a ser obriga­tórios em todas as edi­ções. Se não tivesse, o pessoal não aceitava o jornal na porta da fábri­ca. Aí a Tribuna tornou-se indispensável para o trabalhador. Quando ele não recebia vinha até a Sede pegar.

Os patrões recla­mavam?
Sem dúvida. O jor­nal circulava nas portas das fábricas. Só entrava dentro delas escondido nos uniformes dos me­talúrgicos na hora do almoço, do jantar.

Qual foi a im­portância da Tribuna para o movimento sindical?
Sem falsa modés­tia, o jornal foi decisivo para o movimento sin­dical brasileiro. Até ho­je serve de modelo para muitos jornais sindicais e, na época, quando ela começou a circular firme, a gente sentia que a ditadura já estava mesmo morrendo.

Da Redação