“Crise da falta de energia acontece porque decisão de privatização não levou em consideração áreas estratégicas para o país”
Até o fechamento desta edição, 250 mil residências ainda continuavam no escuro desde a última sexta-feira, 11, após forte temporal que atingiu a região
Em menos de um ano, a população da capital paulista, ABC e toda a região metropolitana sofreu uma série de apagões causados pelo descaso da Enel, empresa concessionária do setor de distribuição de energia em São Paulo. Pelo menos, 4 milhões de pessoas ficaram sem luz em novembro de 2023. Em março deste ano, vários locais voltaram a sofrer com apagões, chegando a ficar cinco dias sem luz e, até o fechamento desta edição da Tribuna, 250 mil residências ainda continuavam no escuro desde a última sexta-feira, 11, de acordo com nota publicada no site da empresa, após forte temporal que atingiu a região.
“A crise da falta de energia em São Paulo acontece porque a decisão de privatização da companhia de energia elétrica não levou em consideração as áreas estratégicas para o país, não só na questão da economia, mas da saúde, hospitais, educação e bem-estar da população. A energia elétrica jamais deveria ser deixada na mão da iniciativa privada”, alertou o presidente do Sindicato, Moisés Selerges.
“Se fala tanto em deixar tudo com a iniciativa privada porque o Estado é deficiente ou por não saber fazer a gestão, mas o que está acontecendo hoje é o exemplo mais claro da forma de como não se deve fazer. Não vou dizer que não se pode privatizar nada, mas as questões estratégicas para a população e para o Estado não se deve abrir mão. Isso é papel do Estado sim”.
“Na hora que a gente mais precisa, o prefeito da cidade de São Paulo, por exemplo, diz que vai encerrar o contrato, mas não encerra o modelo. Ou seja, a questão da energia elétrica é estratégica, assim como o petróleo é estratégico e como a questão dos minérios, das commodities. Questões estratégicas têm que ser mantidas na mão do Estado, está aí a prova às claras, ou melhor, às escuras. Inclusive agora, no período de eleições, é preciso estar atento em quem realmente está preocupado com os interesses de toda a população. Nosso povo trabalhador não precisa passar por isso”, analisou Moisés.
Histórico
Criada em 1981, a Eletropaulo foi privatizada em 1998 com a ideia de melhorar a infraestrutura de distribuição de energia elétrica, que enfrentava dificuldades financeiras e operacionais. O consórcio que adquiriu a companhia era formado pela AES Corporation (11,46%), Houston Industries Energy (11,46%), Électricité de France (EDF) (11,46%) e Companhia Siderúrgica Nacional (7,32%) foi o vencedor.
Em 2001, alguns grupos do consórcio venderam suas participações acionárias para a AES, que assumiu a Eletropaulo e passou a ser chamada de AES Eletropaulo até 2018, quando foi comprada pelo Grupo Enel.
A Enel faz parte de um grupo multinacional que já atuava no setor elétrico, na gestão e operação de sistemas. No Brasil, possui também operações de distribuição de energia no Rio de Janeiro e no Ceará. Somente em São Paulo, a companhia que atua no lugar que era antes da Eletropaulo atende 7,5 milhões de unidades consumidoras, em 24 municípios da região metropolitana, respondendo por 70% da energia distribuída no estado.