Crise lá fora une as lutas contra bancos e ditaduras


Manifestação em Nova Iorque. Foto: Reprodução

No dia 15 de outubro, manifestantes colocaram fogo no Ministério da Defesa, destruíram vitrines de lojas e incendiaram carros durante o protesto dos “indignados” em Roma. As manifestações fizeram parte de um movimento mais amplo que começou na Espanha, influenciou os protestos em Nova York (Ocupe Wall Street) e ganhou o mundo.

No mesmo dia, vários protestos foram realizados em dezenas de lugares no mundo. O que há de comum entre eles? Qual é sua relação com os protestos que deram vida à Primavera Árabe? Qual poderá ser seu impacto sobre os rumos da economia e da política?

A crise econômica, com seus efeitos sobre a população (jovens em particular) é o ponto de convergência entre as lutas contra ditaduras nos países árabes e as manifestações contra a primazia do sistema financeiro no Ocidente.

Há outro traço comum nessas manifestações. As pessoas redescobriram a rua e a praça como espaços de manifestação, onde podem expressar idéias, fazer críticas, levantar bandeiras, reivindicar, protestar.

Nos regimes autoritários este efeito foi mais visível, quando as pessoas perceberam que era possível mobilizar multidões e enfrentar a repressão. Não demorou muito para que o exemplo da Líbia fosse seguido no Egito e, em seguida, se alastrasse por outros países do mundo árabe.

Nos países democráticos, as pessoas estão experimentando um sentimento de enorme frustração. Sabem que há um governo, que podem manifestar, mas de que pouco adianta. Este “transbordamento de frustrações” leva as pessoas à rua.

Protestos tendem a continuar
Para além desses traços comuns, o que diferencia esses movimentos? O sucesso dos levantes na Tunísia, Egito e Líbia deve-se a três fatores fundamentais: uma identidade clara, um adversário definido e um horizonte a ser alcançado.

O sistema financeiro, contra o qual os manifestantes protestam em Nova York e em outras cidades dos Estados Unidos, não é um adversário definido, mas um conceito ainda difuso.

Fazer parte dos 99% dos que pagam impostos (e que financiaram a ajuda aos bancos e empresas em crise) não confere aos manifestantes uma identidade clara.

A noção de “democracia real” pela qual brigam os indignados da Espanha não fornece, igualmente, um horizonte preciso a ser perseguido.

Os movimentos reagem a um grande evento mundial (crise) ou contra regimes opressivos e a crise econômica dá sinais de que está longe de ser resolvida.

Parece não haver saída no horizonte para os jovens desempregados e os segmentos empobrecidos dos países industrializados. Isto tende a alimentar um período mais longo de protestos. 

Da Redação