Crise reduz à metade o crescimento dos salários no mundo, diz OIT. Brasil foi na contramão
Aqui, remunerações continuaram crescendo de forma estável, mesmo na crise
Um relatório divulgado nesta quarta-feira (15), em Genebra (Suíça), pela Organização Internacional do Trabalho aponta que a crise econômica e financeira global reduziu à metade o crescimento dos salários no mundo.
A pesquisa revela, porém, que as remunerações no Brasil continuaram crescendo de forma estável mesmo durante a crise.
O Relatório Global sobre Salários 2010/11 – Políticas Salariais em Tempos de Crise indica que o crescimento dos salários passou de 2,8% antes da crise, em 2007, para 1,5% em 2008 e 1,6% em 2009.
No Brasil, a taxa, de 3,2% em 2007, elevou-se para 3,4% em 2008 e retornou aos 3,2% em 2009.”A crise foi dramática não apenas para milhares de pessoas que perderam seus trabalhos, mas ela também afetou aqueles que mantiveram seus empregos, reduzindo drasticamente seu poder de compra e bem-estar geral´, afirmou Juan Somavia, diretor-geral da Organização Internacional do Trabalho.
Exceção
O relatório analisou dados de 115 países, que englobam 94% dos quase 1,4 bilhão de trabalhadores assalariados no mundo.
Segundo a pesquisa, o Brasil foi uma exceção na América Latina, ao aumentar o salário mínimo acima da inflação durante a crise.
O estudo da OIT cita o programa Bolsa Família como uma iniciativa de sucesso no país.
“Este relatório salienta a necessidade de políticas que ajudem a reduzir os riscos que os trabalhadores com baixos salários correm de cair na pobreza”, disseram os autores, que classificam como baixo salário um valor equivalente a dois terços do salário médio.
Para a OIT, um em cada cinco brasileiros está nessa situação.
Discriminação
Estima-se que apenas 37,5% dos trabalhadores que ganham baixos salários possam melhorar seus rendimentos, enquanto 18,3% correm o risco de ficar desempregados.
“O nosso relatório também afirma que os baixos salários e as disparidades salariais estão associados a fortes elementos discriminatórios”, acrescenta a pesquisa, a segunda publicada pela OIT desde 2008.
O relatório indica que, no Brasil, mulheres, jovens entre 15 e 24 anos, pessoas com menos de três anos de escolaridade, empregados de serviços domésticos e trabalhadores que atuam na informalidade têm muito mais chance de receber baixos salários.
“A estagnação dos salários foi um importante desencadeador da crise e continua a afetar a recuperação de muitas economias”, diz o presidente da organização, Juan Somavia.
Para a OIT, o ritmo da recuperação econômica vai depender, pelo menos em parte, de como as famílias vão poder aumentar o consumo.
“Antes da crise, alguns países conseguiram manter o consumo das famílias graças ao endividamento. No entanto, ficou demonstrado que esse modelo é insustentável”, afirma o relatório, que defende um crescimento econômico por meio do consumo baseado mais no rendimento do trabalho do que no aumento da dívida.
Do G1