Cronologia

Era uma vez uma inflação que viveu camuflada por muito tempo entre as pessoas. Todo mundo sentia sua incômoda presença nos salários que diminuíam e nos preços que subiam. Mas o general de plantão e seu ministro (nesta história estes papéis cabem a Médici e Delfim) negavam a existência de tal bicho em tamanhas proporções. Até que um dia o rabo aparece e, pelo tamanho do rabo, dava pra se ver o tamanho do bicho. Em 77, o Banco Mundial publica em uma nota ao pé de página de seu relatório, que a inflação no Brasil, de 73 a 74, havia sido de 23,5% e não de 15,4% como haviam divulgado à população, que até saber da verdade, estava crente no milagre. A notícia se espalhou e chegou no ABC. Os metalúrgicos resolveram cobrar o prejuízo acumulado (34,1%, segundo cálculos do DIEESE), daí, era uma vez um milagre. Começava um novo sindicalismo, que iria ser decisivo na recondução do País à democracia.

1978
A história do novo sindicalismo no Brasil começa aqui, quando os trabalhadores da Scania, uma montadora de veículos em São Bernardo do Campo, ABC Paulista, realizam uma greve por reajuste salarial. O movimento desafia a Lei de Greve, imposta pelo regime militar. É um gesto corajoso. O regime responde com dureza a ousadia dos metalúrgicos. Depois disso, muita coisa começa a mudar no País.

1979
O general João Batista Figueiredo assume o comando e, em seu discurso de posse, promete fazer do País uma democracia. E quem fosse contra, ele arrebentava e mandava prender. Dito e feito ao contrário. A ditadura baixa a repressão em cima dos metalúrgicos, que lutam justamente por democracia. O governo intervém no sindicato pela Segunda vez depois do golpe de 1964.

1980
O sindicato volta para as mãos dos trabalhadores, que reiniciam a luta. O governo intervém novamente. Lula, principal líder dos metalúrgicos e vários diretores do sindicato são presos. Os confrontos de trabalhadores e policiais transformam São Bernardo em campo de batalha. Cresce o movimento por anistia ampla geral e irrestrita no País. Para tentar conter o avanço da democracia, a extrema-direita apela para o terror. Fruto da luta dos metalúrgicos do ABC, nasce o PT, Partido dos Trabalhadores, que marcaria de forma definitiva o cenário político do País, defendendo as questões sociais do trabalhador.

1981
As bombas da extrema-direita continuam a explodir. Dessa vez o tiro sai pela culatra. No dia 1º de maio, uma bomba explode no colo de um sargento do Exército dentro de um carro no estacionamento do Riocentro (RJ), onde se realizava um show de comemoração ao 1º de maio. Os trabalhadores reassumem novamente o sindicato. Na Ford, surge a primeira comissão de fábrica dos trabalhadores. Nos Estados Unidos, surgem os primeiros casos de AIDS.

1982
As novas tecnologias chegam em algumas fábricas do ABC trazendo a automação para as linhas de produção e aumentando o número de desempregados na categoria. Em novembro acontecem as primeiras eleições livres para governadores, prefeitos e vereadores depois do golpe militar de 1964. Para um partido estreante e contando apenas com o apoio de sua militância, o PT obtém expressivo número de votos. Inglaterra e Argentina entram em guerra pela posse das ilhas Falklands/Malvinas.

1983
Este é o ano em que o governo do general Figueiredo usa e abusa dos decretos-lei (2.012, 2.036, 2.045, 2.064, 2.065…) Todos surgem as medidas recessivas impostas pelo FMI à economia do País. Os metalúrgicos realizam greves por reposição salarial e contra as medidas do governo. O sindicato sofre sua quarta intervenção. A CUT (Central Única dos Trabalhadores) é fundada em 28 de agosto.

1984
Os metalúrgicos do ABC colocam em prática a Operação Tartaruga dentro das fábricas. A operação consiste em desacelerar a produção para obrigar os patrões a negociarem reajustes salariais. Liderad