Cultura|A graça está aqui

O tradicional e o moderno se encontram sob as lonas dos circos por todo o Brasil. Alguns aprendem a arte nas escolas que se espalham pelo país. Outros nascem com ela

Por Xandra Stefanel

A enorme lona colorida não passa despercebida, nem seu contorno de luzes. O circo chegou e trouxe a trupe da alegria. Palhaços, mágicos, equilibristas, acrobatas, dançarinos, contorcionistas e animais exóticos. O mais sisudo espectador não consegue conter o riso quando o palhaço desajeitado faz graça, nem a emoção quando a bela trapezista finge despencar. A alegria não tem idade. A psicóloga Márcia Malverdi, de 46 anos, que não ia ao circo desde criança, se diverte tanto quanto a filha Andressa, 9, no espetáculo Stapafúrdyo, do Circo Roda Brasil, em São Paulo. “Nem lembrava mais o quanto é bom.” Andressa, que já tinha ido ao circo Orlando Orfei, passou em frente ao Roda Brasil e pediu à mãe que a levasse. “Gostei dos dois circos, mas eles têm estilos bem diferentes. No Roda Brasil achei muito engraçadas a dança das águas e as palhaçadas. Os malabaristas também são muito legais”, contou a menina, de olhos fixos nas alturas do trapézio.

Nas capitais ou nas pequenas cidades do interior, o circo continua sendo um grande astro no cenário cultural brasileiro. Depois de passar por altos e baixos com a chegada do cinema e a da televisão, a arte circense se renovou e conseguiu manter um público fiel. É o que garante o pesquisador Mario Fernando Bolognese, membro da Câmara Setorial de Circo da Funarte, ligada ao Ministério da Cultura. “Em muitos lugares ele é a única opção diferenciada, além da benedicta telinha. Transformou-se numa espécie de centro cultural temporário em cidades pequenas, médias e grandes.”

Bolognese foi trapezista do grupo Tenda Tela Teatro na década de 70. Viajou por quase todo o país atrás de circos para escrever o livro Palhaços (Ed. Unesp, 2003). Encontrou pequenos e médios apresentando espetáculos mistos, com habilidades, teatro, shows musicais e de calouros; e os grandes, com os novos grupos teatrais utilizando muita tecnologia, cores e plasticidade, roupagem moderna e luxuosa. Mas a diferença entre os pequenos, médios e grandes está além da estética e da infra-estrutura. Para atender a todos os gostos e bolsos, há espetáculos de 50 centavos a 250 reais, como é o caso do Saltimbanco, do Cirque du Soleil, companhia canadense que está no Brasil até o final de novembro.

Para poder atender um público que o Soleil não contempla, a chilena Sonia Fatima Beltran Diaz cobra de 3 a 8 reais por ingresso do Míni-Circo Condor. “Sempre tive o desejo de ter um circo pequeno para trabalhar em lugares aonde os grandes não vão. Há muitas crianças que nem sabem o que é um circo. Por isso cobro preço popular”, afirma a empresária, que veio parar no Brasil para trabalhar no show do Beto Carrero World. Depois de sair, passou pelo Circo Stancovich e há um ano resolveu investir os 50 mil reais que ganhou por aqui e erguer a própria lona. “Minha família é circense há seis gerações e, mesmo com todas as dificuldades, é muito gostoso mostrar nossa arte.”

Escolas de arte

Não importa se são pequenos, médios ou grandes, tradicionais ou “modernos”. O segredo de qualquer circo é a qualidade dos artistas, construída à base de muito treino, carisma e dedicação. Fabiano Nogueira Coelh