Cultura|A rima feminina do rap

/ Antônia é o nome do grupo de rap formado por quatro garotas que vivem na Vila Brasilândia, periferia de São Paulo

A história de Antônia leva a força do hip-hop e da periferia para o cinema e a TV

Por Karen Santos

A cena hip-hop volta ao cinema e à TV. Depois de longas-metragens como Uma Onda no Ar, de Helvécio Ratton, e séries de TV como Cidade dos Homens, a rima da vez vem da zona norte de São Paulo: Vila Brasilândia. Sai a voz grave de Mano Brown e entra o gingado feminino de quatro garotas que buscam o sucesso no mundo do rap. Essa é a batida forte de Antônia, título que retrata a imagem da mulher da periferia e conduz o enredo do filme de Tata Amaral.

Fruto de uma pesquisa de três anos da cineasta, o filme Antônia acabou de ser rodado, a muito custo e com problemas de orçamento. A trama: quatro jovens negras da periferia tentando vencer na vida por meio da música, cantando rap. Antônia, o filme, inspirou e veio primeiro, mas vai estrear depois da minissérie que a TV Globo começa a passar este mês. A produção da TV tem a parceria da 02 Filmes, do cineasta Fernando Meirelles.

Tata foi convencida por Meirelles de que o produto televisivo vai impulsionar o lançamento do longa-metragem e estimular sua distribuição – o filme esteve na recente programação da 30ª Mostra Internacional de Cinema e deve estrear no circuito comercial no início do ano. “Digamos que a história vai começar pelo fim na TV e depois vem o início no cinema”, conta a diretora, que já lançou o filme em festivais internacionais, como o de Toronto. “Na série, o grupo de rap das meninas tenta se reerguer. Já o filme conta como o grupo surgiu.”

Outro espelho

O compromisso da produção em mostrar a busca da valorização dos jovens da periferia por meio do hip-hop em meio à dura realidade que eles enfrentam começa pelas protagonistas, ligadas a esse universo na vida real. As rappers Negra Li (Preta), Quelynah (Mayah) e MC Cindy (Lena) e a cantora de rhythm and blues Leilah (Barbarah) são as protagonistas. Antônia é o nome do grupo de rap formado por elas na história. Nenhuma é atriz profissional. A espontaneidade das cantoras encantou Tata Amaral.

“Conhecemos essa realidade de perto. Fica mais fácil na hora de fazer algumas cenas, parece que já passamos por aquilo ou já vimos alguém passar”, diz Negra Li. Figura já conhecida no cenário da black music nacional, Negra saiu direto dos hinos da igreja evangélica, religião de sua família, para cair no rap participando dos shows e CDs do RZO (Rapaziada da Zona Oeste), um dos fortes movimentos do rap em São Paulo. As dificuldades enfrentadas por ela combinam com o trajeto de sua personagem na trama.

“Rap era um tipo de música dominado por homens. Tive sorte de ter ajuda de amigos do meio, mas vejo muita gente na correria, implorando para deixarem tocar sua música em um show por uns minutinhos”, conta Negra Li. Ela já participou em CDs de grupos famosos como Charlie Brown Jr, mas seu universo é o hip-hop. É nele que quer seguir carreira solo, sem se mostrar deslumbrada com a oportunidade na TV.

“Acho o máximo as meninas negras terem outro exemp