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Por Cláudia Motta

Copa, ditadura e Bom Retiro
Cao Hamburger, criador de Castelo Rá-Tim-Bum, é diretor do excelente O
Ano em Que Meus Pais Saíram de Férias, lançado em DVD. É o ano de 1970
pelo ponto de vista de um garoto apaixonado por futebol que é obrigado
a deixar sua vida para trás para viver com o avô, enquanto seus pais,
militantes clandestinos perseguidos pelo regime militar, tiram “férias”
forçadas. Sob os cuidados da comunidade judaica do bairro paulistano do
Bom Retiro, Mauro (Michel Joelsas) segue lance por lance a campanha da
seleção brasileira tricampeã no México. A fotografia e as atuações de
Joelsas, da menina Hanna (Daniela Piepszyk) e do velho Shlomo (Germano
Haiut), guardião do garoto, são primorosas. O filme merece ser visto e
revisto.

Caminhada de 640 quilômetros
Roberto Buzzo começou na Estrada dos Romeiros, em Santana do Parnaíba
(Grande SP), e terminou em Fernandópolis, cruzando o estado no sentido
sudoeste-nordeste. “Fiz o Caminho do Sol, de 270 quilômetros, e no
final resolvi esticar e visitar meus pais”, conta. O que viu, ouviu e
sentiu está relatado no bem-humorado Diário de um Bandeirante
Ligeiramente Atrasado e Totalmente Desarmado, cujo prefácio anuncia:
“Deixai toda a frescura, ó vós que entrais”. Nada de metáforas de
auto-ajuda: o livro traz 85 crônicas das experiências vividas por um
andarilho que se vestia como astronauta, recusou caronas, tomou café em
delegacia de polícia, enfrentou cachorros, cruzou culturas e desafios.
Por duas vezes, atravessou 32 cidades e 17 povoados em 14 dias, três
dormidos em hotéis e 11 na beira da estrada. Patrocinado pelo programa
Cultura da Gente, do Banco do Nordeste, o livro foi produzido pela
editora-laboratório da
ECA/USP. Vendas: sambuz@uol.com.br. R$ 15.

Orfeu, o primeiro encontro
Poucos espetáculos foram tão importantes para a cultura brasileira
quanto Orfeu da Conceição. Essa adaptação para os morros cariocas do
mito grego Orfeu – aquele que foi esquartejado pelas Bacantes por ciúme
de seu devotado amor por Eurídice – é fundamental para a música
brasileira. Representa o primeiro encontro da poesia de Vinicius de
Moraes com a música de Tom Jobim. O resultado são clássicos como Se
Todos Fossem Iguais a Você e Lamento no Morro, interpretados pelo bom e
pouco lembrado Roberto Paiva. Ainda vale a pena conferir Vinicius
recitando o marcante Monólogo de Orfeu. Finalmente, a peça musical saiu
em CD (EMI). Em média, R$ 24.

Cem horas com Fidel
Fidel Castro: Biografia a Duas Vozes (Boitempo, 624 páginas), do
escritor e jornalista Ignacio Ramonet (Cien Horas con Fidel, em
espanhol), é resultado da mais longa entrevista já concedida pelo líder
cubano. Fala de globalização, Tony Blair, George W. Bush, terrorismo,
meio ambiente, Alca, América Latina e planos para o futuro. As
conversas com Ramonet foram gravadas antes do adoecimento do líder
cubano. “O volume de informações é uma referência permanente para quem
quiser entender melhor a história desse homem e de sua revolução”,
destaca Fernando Morais, na apresentação. R$ 66.

Pop e erudito na trilha
O filme de Sofia Coppola, que conta a história da menina austríaca que
virou rainha da França, não é grande coisa, mas a trilha sonora de
Marie Antoinette é. As 26 faixas do CD duplo trazem, entre outros,
Cure, Gang of Four, New Order, Malcolm McLaren (Sex Pistols), Strokes,
Siouxsie and The Banshees. Os artistas fora do mundo pop também são de
grande qualidade, como a cravista norte-americana Patricia Mabee e o
pianista Dustin O’Hallopran. A partir de R$ 40.

Tom Zé nas telas
Chega aos cinemas em maio documentário que retrata a vida e a obra de
um dos mais controversos artistas brasileiros. Fabricando Tom Zé tem
como fio condutor sua turnê pela Europa em 2005, alternando narrativas
das diversas fases de sua vida: do início de sua carreira