CUT e centrais marcham por Jornada Mundial pelo Trabalho Decente

A manifestação defende o princípio fundamental da OIT, que uniu, de forma inédita no País, as duas centrais internacionais: CSI e a Federação Sindical Mundial

Dino Sani

Trabalhadores pedem trabalho decente

A CUT e as demais centrais sindicais marcharam juntas pelas ruas de São Paulo nesta sexta-feira para promover a Jornada Mundial pelo Trabalho Decente, princípio fundamental da OI (Organização Internacional do Trabalho), que uniu de forma inédita no País as duas centrais internacionais, a Central Sindical Internacional (CSI) e a Federação Sindical Mundial.

Entoando palavras de ordem em defesa da ampliação de direitos e pela redução da jornada, os manifestantes saíram da frente do Teatro Municipal, na Praça Ramos e seguiram em passeata até a Delegacia Regional do Trabalho, sob aplausos da população.

“Nesta semana, no mundo todo, foram realizadas passeatas e mobilizações em defesa do trabalho decente. Em nosso país, apesar dos avanços no último período, temos trabalhadores massacrados pela brutalidade nos canaviais, temos mulheres que recebem salários inferiores aos dos homens por trabalho igual, temos negros submetidos ao preconceito do mercado e jovens que não conseguem seu primeiro emprego e nem qualificação”, declarou o secretário de Relações Internacionais da CUT, João Antonio Felício, um dos coordenadores do ato na capital paulista.

 Felício saudou a combatividade do sindicalismo brasileiro no exemplo de categorias em luta, como os bancários e metalúrgicos, em greve por melhores condições de vida e salário. Neste momento, sublinhou, as centrais se unem contra os neoliberais que querem impor o retrocesso nas relações trabalhistas, e ampliam a pressão para que o Congresso Nacional aprove a ratificação das Convenções da OIT, a  151 – que garante o direito de negociação aos servidores públicos e a 158 – para que não haja dispensa imotivada. “É preciso também reduzir a jornada, profundamente excessiva, diminuir a intensidade do ritmo de trabalho, fortalecendo nossa ação unificada por um país mais justo, com democracia no local de trabalho, mais empregos e distribuição de renda”, ressaltou.

 A proposta indecente do governo estadual de “transformar os 10 minutos de intervalo entre as aulas em jornada extraclasse, para que o professor prepare aulas e corrija provas é um atentado contra a qualidade do ensino”, denunciou João Felício, ao exemplificar o “desprezo tucano pela educação pública.”

O secretário de Relações Internacionais da CUT condenou ainda o neoliberalismo e a irresponsabilidade do sistema financeiro, “que agora tenta jogar sua crise sobre os ombros da classe trabalhadora” e sublinhou o papel da unidade das centrais internacionais para a defesa dos direitos da classe em todo o planeta.

Para a secretária Sobre a Mulher Trabalhadora da CUT Nacional, Rosane Silva, “é preciso aproveitar o momento de crescimento econômico para avançar na pauta da classe que tem no trabalho decente uma importante reivindicação, para que sejam respeitados os direitos e sejam ratificadas e colocadas em prática as Convenções da OIT”. Ao lutar por trabalho decente para as mulheres, acrescentou Rosane Silva, “defendemos salário igual para trabalho igual com os homens e o fim da discriminação nos locais de trabalho.”

Contra a indecência – Entre as “indecências” denunciadas pelos manifestantes está a super exploração a que são submetidos os taxistas de frota, que já saem devendo ao dono dos táxis entre R$ 80,00 a R$ 100,00 todos os dias, necessitando trabalhar até 18 horas para obterem seu sustento. O desrespeito ao trabalho doméstico e os abusos contra os trabalhadores do telemarketing também foram lembrados.

O presidente da Força Sindical e deputado federal Paulo Pereira da Silva destacou a importância da luta contra o trabalho infantil e escravo, frisando que foi “graças à ação dos sindicatos e da mobilização dos trabalhadores que temos avançado, tanto no setor público como no privado, para combater as injustiças e desigualdades”. Paulinho lembrou ainda a importância da eleição de Marta Suplicy e Aldo Rebelo para derrotar a direita e dar resposta aos graves problemas da capital paulista.

De acordo com Carlos Alberto Pereira, secretário geral da CGTB, “a unidade da CSI e da FSM na manifestação, bem como a integração do conjunto das centrais sindicais brasileiras, aponta para a construção de jornadas de lutas vitoriosas, pois somam capacidade e potencialidade de enfrentamento para avançar nas conquistas”.

Não aos bancos de horas! – Em nome da NCST, Chico Bezerra, destacou que a passeata até a Delegacia Regional do Trabalho “representou um pontapé inicial para acabar com a indecência dos bancos de horas e com as terceirizações”.

Segundo Carlos Rogério, da CTB, “a união das centrais é decisiva para garantir trabalho decente e respeito aos direitos, enfrentando os abusos do sistema financeiro que
quer ampliar seus lucros à custa da exploração de quem produz”.

Canindé Pegado da UGT disse que “a jornada é um passo unitário para que o trabalhador não continue sendo vilipendiado, pois muitas vezes a riqueza de algumas empresas é resultado de sangue, suor e lágrimas de seus funcionários”.

O presidente do Sindicato Nacional dos Trabalhadores Aposentados, Pensionistas e Idosos (Sintapi-CUT), Epitácio Luiz Epaminondas, manifestou o compromisso do segmento com a luta pelo fim do fator previdenciário, “mecanismo de arrocho tucano das aposentadorias”, e exortou as lideranças das centrais a ampliarem a pressão pela valorização  dos benefícios.

Integrante do coletivo de Juventude da CUT, Sílvia Rezende, citou recentes pesquisas da Confederação Nacional dos Trabalhadores na Educação (CNTE) em que se comprova o envelhecimento da categoria, devido à falta de condições mínimas de trabalho. Lembrou também uma pesquisa do setor químico, onde comprova que os jovens de 20 a 29 anos são os que têm sua saúde mais afetada pelas doenças profissionais como lesões por esforço repetitivo (LER) e síndromes. “Esta ação conjunta das centrais fortalece nossa pressão para mudar esta situação”, declarou.

DRT – Na Delegacia Regional do Trabalho, o Secretário de Relações do Trabalho do MTE, Luiz Antonio de Medeiros, e o superintendente em exercício da DRT, Makoto Sato, receberam das mãos dos dirigentes das centrais um documento com as reivindicações da jornada.

“A luta das centrais é também a luta do governo, que vê como prioritárias esta parceria com os trabalhadores”, declarou Medeiros, comprometendo-se a encaminhar o documento ao ministro Carlos Lupi. “Estamos juntos no combate ao trabalho precário, ao trabalho escravo e infantil, lutando contra as falsas cooperativas, contra a terceirização feita para baixar salários e reduzir direitos”, concluiu.

Entre outras lideranças, participaram da passeata a secretária nacional de Organização da CUT, Denise Motta Dau; a secretária nacional de Comunicação da CUT, Rosane Bertotti e Expedito Solaney, da executiva nacional cutista; a presidente da Apeoesp, Maria Izabel Azevedo Noronha; o presidente do Sinergia, Jesus Francisco Garcia e o secretário-geral da CUT-SP, Adi dos Santos Lima.

Da CUT