CUT está presente no 9º Fórum Social Mundial

Cerca de três mil trabalhadores representam a Central, em Belém

ABR

Mais de dez mil pessoas participaram da caminhada que abriu o Fórum

Cerca de três mil cutistas representam as mais diversas categorias e ramos de atividade no 9º Fórum Social Mundial, que começou na terça-feira (27), em Belém, no Pará. Na avaliação do presidente nacional da CUT, Artur Henrique, a complexidade da crise emanada dos países capitalistas centrais aumenta a responsabilidade do evento em dar respostas ágeis e coletivas.

“Esta crise foi provocada pelas receitas do FMI e do Banco Mundial de privatização e desregulamentação da economia. Está claro que precisamos fortalecer o mercado interno, nossa soberania, com investimento em políticas públicas, em geração de emprego e renda. É preciso mudar o modelo de desenvolvimento, tanto ambiental, como energético e alimentar”, sublinhou Artur.

O secretário de Relações Internacionais da CUT, João Felício, elencou algumas das prioridades da Central para focar o debate no evento: “além de propostas concretas contra os impactos da crise da globalização neoliberal, para defender empregos e salários, como o controle do sistema financeiro, vamos elevar a voz contra a guerra e pela paz, em defesa dos direitos sociais e de uma agenda positiva para nossos países e povos”.

FSM: o mundo parece se inverter a nosso favor
Em seu primeiro contato oficial com jornalistas de diversos países, realizado na terça-feira (27) durante a coletiva de imprensa de abertura do Fórum Social Mundial 2009, os organizadores do evento ressaltaram que o momento ímpar da conjuntura internacional, sobretudo com o agravamento das crises financeira e ambiental, pode dar um novo impulso ao movimento por um outro mundo possível.

Diretor geral do Ibase e membro do Comitê Internacional do FSM, Cândido Grzibowsky falou sobre o momento de confirmação do ideário do Fórum: “Nós surgimos contra a globalização neoliberal e ela está derretendo. Há nove anos atrás, nós éramos chamados de arautos do impossível, por pregar um outro mundo, mas as mudanças que se operaram na conjuntura mostram que estávamos no caminho certo. Hoje, a junção das diversas crises – ambiental, financeira, etc – e esse contexto de desmonte que revela a não sustentabilidade da economia real só dão razão à necessidade urgente e incontornável e mudar o mundo”, disse.

Grzibowsky criticou o Fórum Econômico de Davos, principal ponto de discussão e difusão do pensamento neoliberal: “Os jornais noticiam o desânimo que ronda aquela estação de esqui tão famosa onde os ricos do planeta se locupletavam em dias de discussão e muita festa. Agora, a orientação para muitos executivos de bancos e de grandes multinacionais é não comparecer a Davos para não demonstrar ostentação nesse momento de crise. Aqui no FSM continuamos em festa, com a alegria de viver e de construir um novo mundo. Portanto, no momento em que estamos vivendo, o mundo parece se inverter a nosso favor.”

Para Oded Grajew, que é presidente do conselho do Instituto Ethos e também membro do Comitê Internacional do FSM, a crise financeira derrubou a argumentação daqueles que acusavam os militantes por um outro mundo possível de fazerem propostas economicamente inviáveis: “Com a crise financeira, de repente apareceram trilhões de dólares que estavam aí e que poderiam ter sido usados para reduzir a pobreza, para investir em energias renováveis, para promover educação, saúde e habitação de qualidade para toda a humanidade”,disse.

A vontade política, segundo o empresário, é determinante para tornar viáveis as propostas: “Esses recursos estavam escondidos no sistema financeiro e, quando apareceram, foi exatamente para socorrer o sistema financeiro, as montadoras de automóveis e as empresas falidas. Portanto, não digam que não existem alternativas. Segundo os estudos feitos pela ONU, esses trilhões de dólares são mais do que suficientes para mudar o mundo. Ou você coloca os recursos públicos a serviço de quem tem mais, ou coloca a serviço da sociedade e da justiça social”, disse.

Grajew afirmou que o FSM deve estar preparado a fornecer respostas para as crises enfrentadas pela humanidade: “Queremos criar a consciência sobre a doença que hoje contamina o mundo pelas idéias de competição e do consumo sem limite. Temos que nos descontaminar dessa doença e mostrar que existem alternativas e outras escolhas”, disse.

Movimentos Sociais
Dirigente da Associação Brasileira de ONGs (Abong) e integrante do comitê organizador local do FSM 2009, Aldalice Otterloo falou da importância do evento de Belém para os movimentos sociais da Amazônia: “Para nós dos movimentos sociais é um grande desafio acolher o FSM, pois temos a oportunidade de dar visibilidade às questões amazônicas. Nosso trabalho foi aglutinar as propostas e, principalmente, trazer para o centro do processo as organizações indígenas, quilombolas, ribeirinhos, de mulheres pescadoras, de quebradeiras de coco e trabalhadores rurais. Queremos fazer do FSM muito mais que um evento episódico, mas articular as lutas dos movimentos da Pan-Amazônia por uma nova integração regional”, disse.

Aldalice falou sobre a importância da Assembléia dos Povos Indígenas, que reuniu neste primeiro dia de Fórum 1.980 indígenas, representando 85 etnias de todos os países amazônicos: “A participação das organizações indígenas trouxe algo fundamental para o debate, que é a luta pelo bem viver, a reflexão sobre a crise civilizatória e a construção de novos paradigmas em que eles também sejam protagonistas, e não apenas objetos de políticas nem sempre eficientes”.

Coordenadora italiana do FSM e do Fórum Social Europeu, Rafaela Bolini afirmou que o mundo inteiro espera pelas alternativas propostas no evento de Belém: “A crise atual foi causada por aqueles que defendem a globalização neoliberal, e a solução real para esta crise não partirá desses mesmos setores. Temos que garantir a pluralidade e a diversidade, superar o perigo da fragmentação e sermos capazes de construir uma resposta”, disse.

Rafaela pediu também que o FSM 2009 tire propostas para as regiões marginalizadas do planeta: “Gaza está sitiada, e o silêncio do mundo sobre isso é preocupante. Mesmo na Europa, na Rússia, os movimentos sociais não têm voz e sofrem dura repressão”, exemplificou, para acrescentar; “Espero que os ativistas de Gaza e da Rússia, assim como de outros lugares, possam participar das discussões travadas no âmbito do FSM”.

Alfinetada
Durante a coletiva de imprensa, os membros do Comitê Internacional do FSM dirigiram-se aos jornalistas da grande imprensa para pedir uma cobertura séria do Fórum; “É muito importante cobrir os namoros no Acampamento da Juventude ou saber se a ministra Dilma mudou a cor do cabelo. Isso é muito importante, mas aqui vão se realizar milhares de debates com gente da mais alta qualificação nas áreas de saúde, educação, na área social e na área econômica. Aqui tem gente com história de vida, com muito conteúdo. Todos os diagnósticos no FSM serão de altíssimo nível, portanto dispensem alguns minutos para conhecer esse conteúdo”, disse Oded Grajew.

Da Redação com informações da Carta Maior e da CUT