CUT participa do Congresso da COSATU, maior central sindical da África do Sul

“Fortalecer a COSATU para emanciapação total” foi o tema do 11º Congresso Nacional da maior central sindical da África do Sul – Congress of South African Trade Unions(COSATU), realizado de 17 a 20 de setembro em Joanesburgo.

O Congresso destacou em seu debate de conjuntura as transformações sociais ocorridas no Brasil a partir do Governo Lula, apresentando a experiência brasileira como um modelo positivo a ser seguido pela África do Sul e por outros países do mundo.
 
João Felício, secretário de Relações Internacionais da CUT concorda e destaca

que “a experiência brasileira se deve em grande parte aos movimentos sociais, que tiveram participação ativa na construção de todo o processo que resultou em um governo democrático-popular, não apenas no Brasil, mas em vários países da América Latina”.

Segundo João Felício, a CUT sempre participa dos congressos da COSATU, e vice-versa, por haver uma identidade política histórica muito grande entre as duas centrais.

O secretário-geral da COSATU, Zwelinzima Vavi, disse que apesar de o governo sul-africano ser um avanço pós Apartheid, ainda é preciso progredir muito em políticas públicas voltadas para a geração de empregos, distribuição de renda, reforma agrária e em outras questões fundamentais para o desenvolvimento, incluindo mudanças profundas nas políticas industriais e de comércio, temas que a COSATU tem insistido em suas reivindicações. Segundo o secretário, o movimento sindical sul-africano é parte importante nesse processo, rumo ao desenvolvimento que a África do Sul precisa.

Foram muitas as menções positivas sobre o Brasil, com citações no texto-base do Congresso e em várias falas,  referindo-se às transformações conquistadas em nosso país como lições políticas a serem seguidas.  

“O movimento sindical tem papel fundamental no processo de desenvolvimento de um país, porque tem propostas”, afirmou João Felício. “Em 2008, no auge da crise econômica mundial, o governo brasileiro adotou uma série de medidas de enfrentamento à crise para que a economia continuasse a crescer. A CUT exigiu do governo que as medidas adotadas deveriam ter como prioridade a manutenção dos empregos e dos direitos dos trabalhadores e trabalhadoras. Deixamos claro que os trabalhadores não pagariam pela crise”, relatou João Felício. “O resultado é que o Brasil conseguiu enfrentar a crise sem graves consequências, se compararmos com o que ainda vem ocorrendo em outros países. Para nós esse o papel do Estado, o de indutor do desenvolvimento”, disse.

O prof. Somadoda Fikeni, recorreu a uma metáfora para falar sobre a atual situação da África do Sul: ”Os negros ficaram com a coroa e os brancos ficaram com as joias”, dizendo que os negros ficaram com o país, mas foram os brancos quem ficaram com a economia, ou seja, com o poder. Explicou que cerca de 40% da economia na África do Sul é controlada por 20 famílias brancas. Segundo o professor, o grande desafio da COSATU é fazer com que a maioria negra tenha influência no poder econômico.  

O movimento sindical tem papel fundamental no desenvolvimento de um país, porque tem propostas

Para João Felício, “a África do Sul precisa avançar para a construção de uma classe média composta por trabalhadores e trabalhadoras, a exemplo do que vem ocorrendo no Brasil. O presidente da COSATU, Sidumo Dlamini, em uma de suas falas, foi muito feliz ao dizer ‘nunca lutei para ser pobre’. E é isso,

ninguém luta para ser pobre. Lutamos por condições dignas de vida, por justiça social; por trabalho decente, por empregos de qualidade e salários dignos; por distribuição de renda, por igualdade de tratamento a todos os trabalhadores e trabalhadores”.

 

Sobre a COSATU

A COSATU- Congress of South African Trade Unions- é a maior central sindical da África do Sul e, assim como a CUT, também é filiada à CSI – Confederação Sindical Internacional.

Foi fundada em 1985, se opondo ao Apartheid, lutando contra o racismo, contra o sexismo e na defesa da democracia. Tem cerca de 1,8 milhões de trabalhadores associados.

Sobre o APARTHEID

O Apartheid foi um regime de segregação racial que perdurou na África do Sul de 1948 a 1994, por sucessivos governos do Partido Nacional , onde os direitos da maioria dos habitantes foram cerceados pelo governo formado pela minoria branca.

A segregação racial na África do Sul teve início ainda no período colonial, mas o apartheid foi introduzido como política oficial após as eleições gerais de 1948. A nova legislação dividia os habitantes em grupos raciais (“negros”, “brancos”, “de cor”, e “indianos”), segregando as áreas residenciais, muitas vezes através de remoções forçadas. A partir de finais da década de 1970, os negros foram privados de sua cidadania, isolados em pseudoestados de base criados pelo regime – os chamados bantustões – áreas fora dos bairros e de terras onde habitavam os brancos, mas suficientemente perto delas, onde serviam de mão de obra barata.Nessa altura, o governo já havia segregado a saúde, a educação e outros serviços públicos, fornecendo aos negros serviços inferiores aos dos brancos.

O Apartheid trouxe violência e um significativo movimento de resistência interna, bem como um longo embargo comercial contra a África do Sul. Uma série de revoltas populares e protestos causaram o banimento da oposição e a detenção de líderes anti-apartheid. Conforme as revoltas se espalhavam e tornavam-se mais violentas, as organizações estatais respondiam com o aumento da repressão e da violência.

Reformas no regime durante a década de 1980 não conseguiram conter a crescente oposição, e em 1990, o presidente Frederik Willem de Klerk iniciou negociações para acabar com o regime, o que culminou com a realização de eleições multirraciais e democráticas em 1994, que foram vencidas pelo Congresso Nacional Africano, liderado por Nelson Mandela, que assume a presidência do país.

Da Cut