CUT propõe ao governo fundo para proteger empregos
Projeto que começou a ser desenvolvido pelo Sindicato, foi entregue nesta segunda-feira ao governo federal pelo presidente da Central, Vagner Freitas
Vagner Freitas, José Lopez Feijóo e Gilberto Carvalho. Foto: Floriano Rios
O presidente da CUT, Vagner Freitas, e representantes da CTB, UGT, Nova Central Sindical e Força Sindical entregaram nesta segunda-feira (6) ao governo federal uma proposta para criar um fundo com o objetivo de garantir a manutenção dos empregos em épocas de crise econômica.
O projeto entregue ao ministro Gilberto Carvalho, da Secretaria Geral da Presidência da República, propõe que os 10% da multa do FGTS financie o fundo. A proposta surgiu após a experiência que os metalúrgicos passaram na crise econômica de 2008, como a categoria que mais perdeu empregos no Brasil.
Entre setembro daquele ano e julho de 2009, ocorreram 212 mil demissões no setor, o que mostra que o País não tem um sistema de manutenção de empregos em momentos de dificuldade econômica.
Para evitar a repetição do problema, Sindicato e CUT coordenaram um grupo de trabalho que debateu com as demais centrais, governo e empresários uma forma de enfrentar as crises sem que o trabalhador pague a conta com seu emprego.
“Se existisse no País um fundo como o alemão e esse fundo financiasse 50% do custo para proteger o emprego destes 212 mil companheiros, seriam necessários apenas R$ 1,5 bilhão para que nenhum metalúrgico fosse demitido”, afirma Sérgio Nobre, presidente do Sindicato e secretário-geral da CUT.
“Se o governo quiser ele cria o fundo amanhã, basta baixar uma medida provisória com este objetivo ou tirar o dinheiro de outro lugar. Mas acredito que os Ministérios resolvam primeiro fazer estudos técnicos para medir o impacto que a medida trará”, prosseguiu o dirigente.
“Independente do resultado da reunião, eu acredito que nós temos uma grande possibilidade de construir esse acordo. A proposta conta com o apoio de grande parte do empresariado que entende o problema”, completou o presidente do Sindicato.
A experiência alemã
Sérgio Nobre conta que há 40 anos a Alemanha juntou trabalhadores e patrões e constituiu um fundo parecido com o nosso FAT (Fundo de Amparo ao Trabalhador) para ser utilizado em momentos de crise e subsidiar a manutenção do emprego.
Gerido pelos trabalhadores e patrões, seu funcionamento é simples. Quando surgem as dificuldades econômicas, as empresas reduzem a jornada de trabalho ou interrompem totalmente a produção.
Por dois anos o fundo custeia essa paralisação ou redução de jornada e evitam demissões durante o período. Como as crises não costumam durar mais que um ano e meio, quando os problemas são superados a produção e a jornada voltam ao ritmo normal, sem prejuízos para qualquer parte.
Representantes das Centrais durante o encontro. Foto: Floriano Rios
O modelo brasileiro e a mudança que a Central quer
Ao contrário da Alemanha, nosso País não criou um sistema de proteção ao emprego. Criou uma penalidade para quem demitir, que é a multa de 40% sobre o FGTS (Fundo de Garantia do Tempo de Serviço).
O principal problema com essa multa é que ela já foi assimilada pelas empresas como custo e não impede mais qualquer demissão.
A CUT propõe que o fundo seja financiado pelo adicional de 10% que passou a incidir sobre a multa de 40% do FGTS a partir de 2001. “Esses 10% geram R$ 3 bilhões por ano. Isto significa que em apenas cinco anos o fundo teria um caixa de R$ 15 bilhões, dinheiro mais que suficiente para enfrentar qualquer crise. Com essa quantia, não teria sido fechado nenhum dos 212 mil postos de trabalho de metalúrgicos em 2008”, diz Sérgio Nobre.
Esses 10% surgiram há 11 anos, quando um acordo entre o governo e as centrais sindicais adicionou o percentual para cobrir as perdas que os trabalhadores tiveram com os expurgos salariais impostos por planos econômicos dos governos Sarney e Collor.
Pelo acordo, quando déficit fosse zerado a cobrança dos 10% seria interrompida. Acontece que o déficit foi zerado, mas o governo continua a cobrar a multa.
Esse fato já provoca ações de empresários na Justiça e protestos no Congresso Nacional exigindo o fim da cobrança. Por isso a CUT quer dar um novo destino à multa, criando o fundo.
Fundo dará confiança para trabalhador projetar futuro
Uma das grandes vantagens do fundo é ser de longo prazo e assim corrigir o principal problema dos programas extraordinários de garantia de emprego no Brasil, todos de curto prazo, enquanto uma crise econômica dura de um ano a um ano e meio.
“A falta de estabilidade no emprego prejudica o crescimento do País porque deixa o trabalhador com medo do futuro. E o companheiro que não sabe se terá emprego amanhã não compra”, diz Sérgio Nobre.
“Ele estabilizaria o mercado de trabalho, permitindo ao trabalhador ter confiança para projetar seu futuro por um espaço maior para poder comprar e consumir”, finaliza.
Da Redação