Daslu é só a ponta do iceberg
A acumulação de dinheiro no Brasil passa por outros meios que não sejam necessariamente o resultado do trabalho ou da produção. É o que mostram as recentes operações da Receita e Polícia Federal, como a que prendeu a dona da Daslu. Por isto, a reação irada da elite brasileira contra o governo Lula. Para o jurista Dalmo Dallari, as operações da PF mostram que os privilégios estão acabando.
A reação à operação na Daslu só ocorre porque o foco da investigação atinge a elite econômica, social e política do País. Para o presidente da Associação dos Juízes Federais, Jorge Antonio Maurique, a elite demonstra revolta ao se ver atingida pela Justiça, mas não manifesta a mesma indignação quando o preso é o pobre.
“Quando um pobre é acusado de algum crime, a foto dele é colocada no jornal e a imagem dele aparece na TV e nunca vi a Fiesp reclamar”, afirma. “A reação é um completo absurdo, pois é justamente o Estado Democrático de Direito que propicia que os três poderes cheguem a todos da mesma maneira”, diz.
Endinheirados sentiram o golpe
A elite brasileira sentiu o golpe quando Eliana Tranchesi, dona da Daslu, a loja mais cara do Brasil, foi presa por sonegação. Sua reação foi uma demonstração da má-vontade com um governo de trabalhadores.
A ação da Polícia Federal não foi diferente das dezenas já realizadas este ano. É que na Daslu, ela mexeu com o símbolo do capitalismo contemporâneo.
O que a operação mostrou, e as reações da elite também, é que a acumulação de dinheiro no Brasil passa por outros meios que não sejam necessariamente o resultado do trabalho.
A União por exemplo, é credora de R$ 185 bilhões de reais de impostos não pagos. Segundo a Receita Federal, a maior parte desta dívida está concentrada em alguns poucos devedores. Cita o caso do Rio de Janeiro.
Do total de R$ 28 bilhões devidos por dezenas de milhares de pessoas físicas e jurídicas no Estado, apenas os duzentos maiores devedores respondem por R$ 17 bilhões, isto é, por 60% dos créditos fluminenses não pagos à União.
Especialistas estimam que essas dívidas, junto com a sonegação em esquemas como o da Daslu, cheguem perto de R$ 750 bilhões.
As investigações sobre as fraudes na Shincariol mostraram que a empresa deixou de recolher ao cofres públicos cerca de R$ 1 bilhão a cada ano.
As recentes apreensões de dinheiro nas malas da Igreja Universal ou na cueca do assessor petista podem ser nós desse imenso tricô que se tornou a economia informal.
Ação
Toda essa roubalheira não é novidade. O que é novo é a ação do governo federal desde que Lula assumiu a Presidência.
Isto é, rigorosa investigação amparada pela Justiça e, nos casos em que foi encontrada irregularidade, prisão dos envolvidos.
Assim, o governo mostra que trata igualmente a todos. Este é o caso da dona da Daslu.
Polícia Federal, Ministério Público e Receita Federal descobriram que, na Daslu, um vestido vendido por R$ 45.000,00 pagava impostos como se custasse R$ 100,00 e uma bolsa comercializada por R$ 2.500,00 descontava imposto como se seu preço fosse R$ 2,00.
Ou seja, a loja sonegava descaradamente. Isto é, declarava milhares de vezes menos imposto que um trabalhador declara ou tem descontado diretamente em seu holerite.
E a polícia ainda não descobriu quanto Eliana Tranchesi sonegava de impostos pelos colares que vende por R$ 380.000,00 ou pelas lanchas que custam sete milhões de reais.
Investigação começou há dois anos
Os endinheirados, acostumados a não serem pegos por suas falcatruas, não aceitaram esses fatos. Preferem caluniar o governo dizendo estar ocorrendo perseguição aos ricos e a tentativa de usar a detenção para tentar desviar os holofotes da crise política.
Tolices como essa foram ditas com indignação por gente como os senadores Antonio Carlos Magalhães, o ACM, e o u