De mulher entendo eu

De mulher eu entendo, nasci uma. Lembro-me com clareza das diferenças quando vovó dizia:

– Ele pode. Ele é um menino.

De mãe eu também entendo Sou filha e agora sou mãe
E me vejo falhando nas mesmas coisas que mamãe falhou.
As falhas fizeram plástica, é verdade, mas continuam as mesmas.

14 anos, hora de trabalhar, hora de sangrar.
De trabalhadora eu também entendo, agora sou uma.
Batom nos lábios, blush no rosto
E lá vou eu, cheia de sonhos, pois não existe ninguém
melhor do que eu neste mundo.
Pois agora sou uma trabalhadora.
Aí vem a primeira cantada
Nem sei como, mas consegui me safar.
Soube de algumas que dançaram.

E o salário?
Ele faz o que faço e ganha o dobro!
Por quê?

E nas reuniões?
Ah! Nas reuniões eu escrevo as atas
Pois meus palpites normalmente não são ouvidos
E quando ouvidos, são ignorados.

Faço uma descoberta
O mundo foi feito para os homens.
Choro, grito, esperneio, queimo sutiãs
Mas ninguém me ouve, ninguém me vê.
Riem de mim.

Mudo de tática
Vou de mansinho, mostro meu valor, mostro que posso
e aos poucos vou rompendo
com todas as amarras do mundo.

Nova descoberta
Não se nasce mulher, torna-se!