Defensiva, indústria de transformação planeja investir 4,7% menos em 2011
A indústria de transformação planeja investir menos neste ano do que em 2010, em decorrência das dificuldades impostas pela combinação da maior concorrência do produto importado, dos juros em alta e da carga tributária elevada. Segundo pesquisa realizada pela Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) com 1.220 empresas no Estado de São Paulo, das quais boa parte tem atuação também em outros Estados, os investimentos em máquinas e equipamentos, instalações, inovação, gestão e pesquisa e desenvolvimento (P&D) devem atingir R$ 167,1 bilhões em 2011, 4,7% a menos do que o registrado no ano passado.
O levantamento de 2010 apontou aumento de 26,4% das inversões sobre o ano anterior, número em parte inflado pela fraca base de comparação, uma vez que a crise global derrubara o investimento em 2009. A queda nas intenções de investimento neste ano é maior nas empresas de grande porte, de 5,6%, para R$ 127,2 bilhões. As médias, por sua vez, devem investir R$ 26,3 bilhões, ou 3,3% a menos que no ano passado. Só nas pequenas deve haver aumento, de 1,1%, para R$ 13,7 bilhões.
Além da queda no volume a ser investido, a pesquisa deste ano indica uma estratégia mais defensiva da indústria de transformação: o investimento deve focar principalmente em redução de custos, aumento da eficiência e diferenciação dos produtos, e não em elevar a produção, diz o diretor titular do Departamento de Competitividade e Tecnologia (Decomtec) da Fiesp, José Ricardo Roriz Coelho.
O investimento na economia brasileira deve crescer nos setores de petróleo e gás, infraestrutura e construção, mas, na indústria de transformação, a situação é mais difícil, afirma Roriz. Segundo ele, a perspectiva de que o câmbio siga valorizado por muito tempo afeta a competitividade das exportações brasileiras e facilita a entrada de produtos importados. Também atingidas pelo novo ciclo de alta dos juros e pelos pesados custos tributários, as empresas manufatureiras deverão deixar em segundo plano o aumento dos volumes de produção, afirma Roriz.
Numa enquete com respostas múltiplas, em que é possível assinalar mais de um item, a diminuição de custos aparece como o principal objetivo do investimento em 2011, citado por 58% das empresas entrevistadas, um avanço considerável em relação aos 50% de 2010. Em segundo lugar, aparece a intenção de aumentar a produtividade, que subiu de 45% no ano passado para 52% neste ano. Já o aumento do faturamento e da rentabilidade, apontado em 2010 como o principal objetivo da indústria, citado por 61% dos entrevistados, aparece como uma das prioridades apenas para 49% neste ano.
Dos R$ 167,1 bilhões que as indústrias consultadas planejam investir neste ano, a maior fatia, de R$ 122,4 bilhões, será destinada a máquinas e equipamentos e instalações, que compõem a formação bruta de capital fixo (FBCF) na economia. Esse valor, porém, é 7,3% inferior ao registrado no levantamento de 2010. O resultado indica que a FBCF, que avançou 21,8% no ano passado, não contará com o impulso da indústria de transformação em 2011, diz Roriz.
A pesquisa mostra que também recuaram as intenções de investimento em gestão e P&D. A única área em que as inversões devem ser maiores que no ano passado é na de inovação – alta de 16,6%. Para Roriz, a elevação dos investimentos em inovação sugere que as empresas deverão tentar diferenciar produtos, estratégia importante para competir com os importados.
Entre os fatores que mais limitam o investimento, três se sobressaem. Três quartos das empresas reclamam da carga tributária elevada, oito pontos percentuais a mais que os 67% de 2010. A taxa Selic, em alta neste ano, é motivo de queixas de 45% das companhias consultadas, um forte aumento em relação aos 31% do ano passado. A perda de mercado para produtos importados, por fim, prejudica as inversões de 31% das indústrias – em 2010, eram 22%.
Para Roriz, os números apontam para a importância de o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) voltar-se preferencialmente à indústria de transformação. Empresas ligadas a commodities, como de petróleo, precisam menos de recursos do banco do que as empresas manufatureiras, diz ele. Com isso, o banco ajudaria a indústria de transformação a atender o consumo da classe média em ascensão.
Apesar da queda de 4,7% nas intenções totais de investimento, a pesquisa mostra que a demanda das empresas por recursos públicos para financiar as inversões subiu de R$ 29,5 bilhões em 2010 para R$ 37,1 bilhões em 2011. Ele também aponta como prioritário tornar permanente o Programa de Sustentação do Investimento (PSI), que financia as inversões a taxas mais baixas e foi importante para a recuperação da FCBF, especialmente a partir da metade de 2009.
Para o presidente da Fiesp, Paulo Skaf, a pesquisa dá números ao que a indústria diz há muito tempo: Diante dos constantes aumentos da Selic e da valorização do câmbio, a indústria de transformação deverá reduzir seu investimento em 2011. Temos que reverter esse quadro, caso contrário haverá perda de capacidade de produção futura da economia, o que comprometerá o crescimento e a geração de empregos nos próximos anos. Para Skaf, também é importante aproveitar o momento e desengavetar a reforma tributária. Na semana que vem, a Fiesp deve apresentar aos ministérios da Fazenda e do Desenvolvimento uma proposta detalhada de desoneração da folha de pagamentos.
Do Valor Econômico