Deformação e banditismo na agressão à doméstica
Banditismo, preconceito e ausência da família na formação de valores éticos são os motivos que levaram um grupo de jovens brancos e de classe média a espancar empregada doméstica no Rio
Rodrigo, Júlio, Rubens,
Leonardo e Felippe são vizinhos
no condomínio de luxo
Parque das Rosas, na Barra
da Tijuca, na cidade do Rio
de Janeiro. Todos são estudantes
universitários. Os cinco
são acusados do espancamento
da empregada doméstica
Sirlei Dias Carvalho Pinto,
de 32 anos, num ponto de
ônibus na madrugada do último
sábado. Todos estão
presos.
Muito mais que chocar
as pessoas, o crime criou um
ambiente de indignação pela
forma como foi executado e
pela crueldade. “Pensávamos
que fosse uma prostituta”,
tentou justificar-se um
dos acusados. Os jovens que
queimaram e mataram o índio
Galdino num ponto de
ônibus em Brasília, acreditavam
que estavam queimando
um mendigo, como que se a
subordinação de classes fosse
motivo para a barbárie.
Carência – A psicoterapeuta de jovens
Vilma Giroto presume
que esses rapazes sintam a necessidade
de se mostrar socialmente
através da força.
“O caso tende a revelar que
todos eles têm uma psicopatia
(um desvio ou doença
psíquica), que se caracteriza
por uma conduta antisocial
que se traduz na agressividade”,
afirma a psicóloga.
Segundo ela, os motivos
para essa conduta podem
ser muitos. Quase todos, assegura
Vilma, se desenvolvem
a partir da infância. Fatores
externos, como a boa
condição econômica dos jovens,
só vem a agravar a
inconsequência de seus atos.
“O ambiente familiar de
violência em qualquer grau e
carência afetiva são fatores
que podem desenvolver traços
de agressividade nas pessoas.
Muitas vezes essa tendência
não é vista pela família
na infância das pessoas”
explica Vilma.
Outras vezes, observa a
psicóloga, para superar a carência
afetiva e suas próprias
ausências, os pais oferecem
uma super atenção material
aos filhos. “A criança é tida
como boazinha, mas chega
uma hora, no decorrer da sua
vida, em que ela faz uma ruptura
com a pai e com a mãe.
É aí que a pessoa se revela socialmente
e, no casos dos cinco
jovens cariocas, essa revelação
se deu pela agressão à
empregada doméstica”, destaca
Vilma.
Alienação – O coordenador do Movimento
Nacional de Direitos
Humanos, Ariel de Castro,
atribui à precarização
das relações familiares como
uma das responsáveis pela
violência praticadas por
aqueles jovens.
“A gente pensa que um
jovem de classe média tem
mais oportunidades, mas
muitas vezes são abandonados
por sua família em seus
condomínios de luxo ou em
frente à televisão. Embora
não tenham necessidades
materiais, são carentes de afeto
de pai e de mãe. Valorizam
muito o ter e não o ser”,
observa Castro, procurando
responder o que leva um jovem
a praticar uma atrocidade
como aquela.
Ele também afirma que
o consumo excessivo e a alienação
exaltados pelos meios
de comunicação de massa
contribuem para a alienação.
“Além da possível falta de diálogo
familiar, há sim a falta
do diálogo social e político
com os jovens, por parte dos
poderes públicos, que possam
contribuir para a conscientização
dos jovens”, analisa
Castro.
Comportamento premeditado
Segundo o jornal O Dia, do Rio de Janeiro,
em suas páginas pessoais no site de
relacionamento Orkut, os jovens definem-se
como playboys. Freqüentadores de festas
de música eletrônica (as raves), alguns
deles participam de comunidades que exaltam
a irresponsabilidade e a inconseqüência
como “Fui tomar juízo e só tinha vodka”
Ainda no Orkut um deles afirma ser
marrento e beber excessivamente. É membro
da comunidade “Bon Vivant”, criada
para “malandros que gostam da vida mansa,
vagabundagem e acham muito bom torrar
dinheiro na boate com álcool”.
Pai acha que jovens não merecem prisão
Ludovico Bruno, pai de um dos jovens
acusados de agredir a empregada
doméstica Sirley, alega que, se o filho participou
do crime, deveria estar drogado
ou alcoolizado.
Mesmo admitindo o crime do filho,
ele disse que existe